COLUNA DO TIMM
Editorial Cultural FM Torres RS – 19.03. 24
Diminuiu número de pessoas com fome ano passado
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13 milhões de brasileiros deixaram de passar fome em 2023 ... YouTube · Rádio BandNews FM- https://www.youtube.com/watch?v=jU3bDo6VHIw
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Brasil, uma economia forte desde tempos coloniais, uma sociedade injusta mas que resiste, uma democracia difícil e fugidia. Não obstante, cresceu e se multiplicou. Comparado ao México, por ocasião do “Descobrimento”, que já detinha uma civilização com cerca de 20 milhões de habitantes originários, o Brasil, extrapolou o que poderiam ser previsões daquela época: Hoje somos 213 milhões de habitantes falando uma língua comum, sob um Estado unificado com instituições que começam a dar sinal de resiliência aos golpes tutelares, uma das dez maiores economias do mundo, na qual se destaca a potência do agro, a suficiência energética, e uma indústria capaz de produzir e exportar aviões, produto de excelência no mercado mundial. De certa maneira, pois, demos certo mas como aquele homem ilustrado que não frequentou a escola: tropeça na bagunça do método e nas lacunas de formação. O Brasil
O Fome Zero é um programa do Governo Federal, que visa o direito de alimentação da população brasileira. É uma maneira de garantir cidadania às populações vulneráveis à fome. No Brasil, existem mais de 10 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, o que significa que nem o acesso a alimentação é saudável.
INSTITUTO FOME ZERO
MANIFESTO DE FUNDAÇÃO DO INSTITUTO FOME ZERO
Durante todo o século passado a sociedade brasileira se acostumou a conviver com a fome como um fenômeno natural e a intervenção dos governos acontecia sempre de forma pontual ou emergencial, quando a situação chegava a níveis críticos. Iniciativas de políticas públicas foram desencadeadas sob inspiração do Dr. Josué de Castro – professor, pesquisador e ativista brasileiro contra a fome – que presidiu o Conselho Executivo da FAO de 1952 a 1956. Também devemos muito aos avanços decorrentes da mobilização das forças sociais em busca da justiça e do respeito aos direitos humanos, como nos ensinou a campanha contra a fome comandada por Herbert de Souza, o Betinho, entre outros tantos. Todavia, em um país com elevada pobreza e desigualdade social, como o Brasil, o combate à fome não pode ser episódico, deve ser permanente.
Na esfera da produção de conhecimento, as universidades, as instituições de ensino e pesquisa e capacitação profissional formaram milhões de cientistas que disseminaram tecnologias para o combate à fome e treinaram profissionais que foram a campo, identificaram carências e propuseram soluções imediatas para o flagelo da fome.
No campo das instituições, a Constituição Federal de 1988, nos deu o aparato jurídico promovendo o direito à vida. Conquistamos também a saúde universal gratuita, a seguridade social, a alimentação escolar para crianças e jovens e a aposentadoria integral para importantes categorias de trabalhadores.
Na arena internacional, a proximidade da chegada do século XXI levou os países a estabelecerem um mapa de rota para equacionar o problema da insegurança alimentar que estava afetando 1 em cada 6 habitantes do planeta. Como resultado desse esforço, os 185 países participantes da Cúpula Mundial da Alimentação assinaram a Declaração de Roma em 1996 e se comprometeram com metas de redução dos níveis de insegurança alimentar. O Brasil, que tinha um contingente de quase 16 milhões habitantes em situação de subnutrição (10% da população brasileira) representando a quantidade mais expressiva entre todos os países da América Latina (FAO – SOFI, 2000), foi participante ativo dessa reunião.
No entanto, diante do imobilismo do governo federal em atacar de frente o problema da fome, o Instituto Cidadania reuniu um grupo de quase 100 pesquisadores e estudiosos do tema da alimentação para uma avaliação e elaboração de propostas no ano 2000. Resgatou-se os princípios básicos do 1º PNSA (Política Nacional de Segurança Alimentar) coordenado pelo Agrônomo José Gomes da Silva e partiu-se do diagnóstico de que o contingente de pessoas em insegurança alimentar no Brasil era muito maior do que os dados da FAO apontavam. Estimava-se, com base nos critérios de renda disponível para a alimentação, que 44 milhões de pessoas, ou 27,8% da população, estariam em situação de vulnerabilidade (a partir dos dados do Censo Demográfico IBGE 2000). O resultado foi o Projeto Fome Zero – Uma Proposta de Política de Segurança Alimentar para o Brasil – apresentado ao Congresso Nacional em outubro de 2001. O projeto colocava sobre a mesa um conjunto de mais de 30 programas, muitos deles já existentes em nível local e outros reformulados e inovadores, para erradicar a fome, muito além da proposta de reduzí-la pela metade até 2015, como era o compromisso da Declaração de Roma e dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) da ONU.
Com a eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, que levou para o governo federal o conhecimento acumulado anteriormente com a elaboração técnica e com experiências locais, esses programas começaram a ser implementados e perseguiu-se incansavelmente e de forma massiva a proposta de erradicação da fome. Com isso, os resultados começaram a aparecer imediatamente e, menos de 10 anos depois o Brasil já estava fora do Mapa Mundial da Fome, segundo reconhecimento de especialistas e relatórios dos principais organismos internacionais, entre eles a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) da ONU.
O sucesso do Projeto Fome Zero ultrapassou as fronteiras nacionais e serviu de inspiração para iniciativas similares em vários outros países da África, Ásia e América Latina. Mais ainda, o Brasil mostrou ao mundo que era possível erradicar a fome no prazo de uma geração e ajudou a redefinir as metas mundiais a respeito, de modo que a meta Fome Zero passou a ser referência para o segundo dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU adotado em 2015.
Infelizmente, a situação de alívio no que diz respeito à SAN – Segurança Alimentar e Nutricional – brasileira começou a ser revertida em meados da década passada. A mudança abrupta do governo federal em 2016, a crise econômica e a volta da orientação neoliberal impactaram diretamente na gestão da Política de SAN com o desmantelamento de programas, redução de participação da sociedade civil, extinção do CONSEA – Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional –, corte de gastos e recursos destinados à proteção social e ao combate à fome.
Dados da aplicação da EBIA – Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – levantados juntamente com a POF – Pesquisa de Orçamentos Familiares – do IBGE 2017-18 demonstram que a Insegurança Alimentar atingia quase 85 milhões de brasileiros, cifras maiores que aquelas observadas em 2004 em termos absolutos e níveis equivalentes em termos relativos (40 % da população em 2004 contra 41% da população em 2017-18). A insegurança alimentar grave, situação equivalente à fome do ponto de vista nutricional, já em 2018 atingia mais de 10 milhões de pessoas ou quase 5% da população.
Nesse contexto de retrocesso da segurança alimentar e nutricional, o Instituto Fome Zero está sendo criado por um grupo de ativistas, estudiosos e pesquisadores que participou na elaboração do Projeto Fome Zero, há exatamente 20 anos, e acompanhou de perto a jornada que logrou erradicar a fome no Brasil.
Esse é um momento de reflexão para o qual convidamos toda a sociedade brasileira a participar. Com a marca permanente da pandemia de Covid-19, o atual quadro de esgarçamento social somente deverá se agravar e soluções paliativas não colocarão o país de volta na trajetória da segurança alimentar e nutricional. Mais além de renovar esforços e a mobilização já feita, o Brasil precisa discutir novas ideias e novas propostas para o combate à fome, bem como garantir o Direito Humano à Alimentação Adequada.
Nesse contexto, a defesa, manutenção e ampliação do Programa Bolsa Família, a retomada de programas consagrados, como o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA –, o reforço e incremento de iniciativas fundamentais como o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE – com compras da agricultura familiar e o reestabelecimento do mecanismo de diálogos com a sociedade civil são temas que precisam estar de volta à pauta. Políticas públicas relacionadas à contenção da obesidade, que já atinge um quinto da população brasileira, também devem ser igualmente tratadas com absoluta prioridade, com base em evidências científicas sólidas e na valorização da alimentação saudável.
Para tanto, queremos nos somar à mobilização de milhões de pessoas que continuam lutando para que os objetivos do Fome Zero e suas conquistas sejam preservadas, valorizadas e renovadas.
São Paulo, 16 de outubro de 2020, Dia Mundial da Alimentação
Editorial Cultural FM Torres RS – 18.03. 24
O paraíso gaúcho que quer deslanchar como destino turístico
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Ernani Campelo, especial para o JC*- https://www.jornaldocomercio.com/cadernos/empresas-e-negocios/2024/03/1146117-o-paraiso-gaucho-que-quer-deslanchar-como-destino-turistico.html
Em mais uma temporada de verão, os holofotes do turismo no Estado se voltaram para o Litoral Norte e as concorridas praias de Torres, Capão Canoa, Xangri-lá, Tramandaí e Cidreira. São centenas de milhares de gaúchos que dividem um lugar ao sol nestes municípios. Não muito distante dali, há um cenário de encantos e belezas, entre a lagoa dos Patos e o mar, com águas cristalinas, parque nacional, berçário de aves, faróis e muita história. Apesar dos atrativos, com uma estrutura modesta, a região engatinha como destino turístico.
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Enquanto as principais cidades praianas do Litoral Norte gaúcho superlotam no verão, perto dali há um lindo pedaço de terra, entre a lagoa dos Patos e o mar, com águas cristalinas, parque nacional, berçário de aves, faróis e muita história. É o Litoral Médio do Rio Grande do Sul, uma península que separa a lagoa dos Patos do oceano Atlântico, localizada nos municípios de Mostardas e Tavares, onde estão situados verdadeiros paraísos como as lagoas de Bacupari, com suas dunas intocadas, praias lacustres e marítimas e o incrível Parque Nacional da Lagoa do Peixe. Com estradas e acessos totalmente asfaltados e fácil deslocamento, as cidades de Mostardas e Tavares ficam distantes 201 e 228 quilômetros de Porto Alegre, respectivamente.
A região compõe a Bacia Hidrográfica do Litoral Médio, localizada na Região Hidrográfica das Bacias Litorâneas, com área de 6.113 km² e população estimada de 81.986 habitantes (2020), sendo 56.850 habitantes em áreas urbanas e 25.135 habitantes em áreas rurais.
O litoral gaúcho tem 638 quilômetros de extensão e é dividido em Litoral Norte, de Torres ao balneário de Dunas Altas, com 140 quilômetros de extensão; litoral médio, até a barra de São José do Norte, com 273 quilômetros; e Litoral Sul, com 225 quilômetros, entre a praia do Cassino e Chuí. Por tanto, apenas 140 quilômetros de orla estão localizados no badalado Litoral Norte gaúcho, enquanto que o Litoral Médio é uma faixa de terra pontilhada de dunas, lagoas e charcos que dificultam o acesso de pessoas e veículos às praias, tornando a região um trecho com pontos ainda intocados.
Paraíso das aves, com cisnes, flamingos e garças, o Parque Nacional Lagoa do Peixe está localizado em uma extensa planície costeira arenosa e tem uma paisagem composta por mata de restinga, banhados, campos de dunas, lagoas de água doce e praias banhadas pelo Oceano Atlântico. Baixas temperaturas e hábitos reprodutivos empurram, todos os anos, milhares de aves em longas jornadas entre o Norte e o Sul do planeta. Nesta viagem, uma das paradas é o Parque Nacional da Lagoa do Peixe. Localizado nos dois municípios, está debruçado em uma faixa com mais de cem quilômetros de areia, alagados e matas, entre o oceano Atlântico e a gigante lagoa dos Patos, sendo uma área protegida federal com 36.721 hectares e um dos melhores pontos nacionais para a observação de aves como o rosado flamingo.
O local é conhecido como o paraíso das aves migratórias e anualmente, em outubro ou novembro, recebe o Festival Brasileiro de Aves Migratórias. Com 15 edições realizadas, o evento atrai interessados no turismo ecológico e no avistamento de aves, movimentando a região em alguns dias da primavera. Na área do parque, já foram catalogadas 275 espécies de pássaros, sendo 35 migratórias.
Apesar da denominação, a Lagoa do Peixe é uma laguna, por causa da comunicação com o mar. É relativamente rasa, com 60 centímetros de profundidade em média. Possui 35 quilômetros de comprimento e dois quilômetros de largura, sendo formada por uma sucessão de pequenas lagoas interligadas, caracterizando, assim, um reservatório natural de água salobra.
A lagoa é também um berçário para o desenvolvimento de espécies marinhas, entre eles encontram-se camarão-rosa, caranguejos, tainha e linguado, além de atrair variadas espécies de aves em virtude de sua água salobra e farta em alimentação. Capivaras, lontras e jacarés também habitam a área do parque, que foi criado em 1986 e, conforme dados da administração do ICMBio no local, conta atualmente com cerca de seis mil visitantes de fora da região por ano, sendo um local para o turismo ecológico, de contemplação e para fotografar o meio ambiente e as aves.
Os atrativos naturais desse território, no entanto, não ficam restritos ao Parque Nacional da Lagoa do Peixe. O turista que busca a região saindo de Porto Alegre percorre a rodovia RS-040 até a cidade de Capivari do Sul, onde dobra a direita para seguir, no rumo Sul, pela BR-101.
Ao percorrer 40 quilômetros chega-se a Bacupari, povoado perto do mar que multiplica sua população no verão graças à beleza de suas três lagoas de águas quentes e transparentes e de suas dunas extensas e desertas, formando um cenário deslumbrante e incomum na geografia gaúcha.
Faróis históricos, praias marítimas e lacustres completam o deslumbrante rol de atrativas belezas da região. Datados de 1849 e 1861, respectivamente, os faróis Capão da Marca, em Tavares, e Cristóvão Pereira, em Mostardas, ambos às margens da exuberante Lagoa dos Patos, são os mais antigos do Estado do Rio Grande do Sul. Há ainda, à beira-mar, o icônico Farol da Solidão e o Farol Mostardas, localizado na área municipal de Tavares.
Estradas vicinais de terra, trilhas, dunas, caminhos à beira-mar ou pela areia da costa da Lagoa dos Patos fazem a alegria dos turistas aventureiras que buscam a região. Cenários com extensos e verdejantes campos completam um visual bucólico de rara beleza em que a paz não é interrompida, muitas vezes, nem pelo trilhar de smartphones, pois há extensas áreas sem sinal de internet ou telefone móvel na região. Com tantas belezas, o Litoral Médio do Rio Grande do Sul tem enorme potencial turístico a ser desenvolvido. Um manancial de possibilidades e desafios para empreendedores, profissionais do setor e gestores públicos.
Especialistas apontam caminhos para o desenvolvimento turístico da região
Aves migratórias vêm do Hemisfério Norte para se beneficiar da riqueza da Lagoa do Peixe, mas a maioria dos gaúchos ainda não conhece essa região
ROBERTO FUKUDA/DIVULGAÇÃO/CIDADES
As belezas, atrações e o potencial turístico da região são pontos convergentes para especialistas na área do turismo. Marcelo Fonseca, professor titular da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos e Coordenador do Instituto de Pesquisa de Mercado (IPM-Unisinos), coordenou o projeto "Posicionamento e estratégias para o turismo na Costa Doce Gaúcha", financiado pelo Sebrae-RS em 2019. Ele destaca que considera um fenômeno interessante o fato de a região não deslanchar como polo turístico. "As aves migratórias vêm do Hemisfério Norte para se beneficiar da riqueza da Lagoa do Peixe, mas a maioria dos gaúchos não conhece essa região", afirma Fonseca.
"Se o ecossistema natural é extremamente rico, o mesmo ainda não pode ser dito sobre o ecossistema turístico. Apesar de haver algumas iniciativas importantes (e ambientalmente responsáveis, o que é crucial para essa região), essas são dispersas, sem integração ou complementaridade. Uma região não desenvolve seu turismo apenas pela existência de rotas/roteiros, mas sim pela construção de um ecossistema pensado na perspectiva da experiência completa para o turista", explica Marcelo.
Jussara Argoud, gestora de projetos da agência Regional Sul do SebeW, concorda com Fonseca em relação à necessidade de um maior sincronismo nas ações turísticas da região. "O turismo é desenvolvido pela inciativa privada e o poder público deve apoiar e orientar nas políticas públicas para um crescimento coordenado do turismo na região. Acredito que em Tavares precisa haver uma maior união dos empresários e de todos os atores locais para o desenvolvimento do turismo na cidade, que tem tudo para se desenvolver turisticamente, pois tem o parque nacional, as praias de mar e de lagoa com uma distância de menos de 20 km entre elas e uma beleza natural incrível", pondera Jussara.
"O destino Tavares é um grande destino de observação de aves do Brasil, com um roteiro criado há duas décadas que incrementou e sedimentou isso. Mas a região ainda tem um enorme potencial turístico para ser desenvolvido", acrescenta a gestora do Sebrae, que atua também em vários projetos de incremento turístico em outros municípios da Costa Doce do Estado.
O Festival Brasileiro de Aves Migratórias, evento anual que já soma 15 edições, acontece sempre na primavera atraindo turistas para a contemplação do show dos pássaros. O evento movimenta a região e na edição de 2022, durante quatro dias de novembro, atraiu mil participantes, incluindo pesquisadores do Uruguai, da Argentina e de outros cinco estados brasileiros. No entanto, a edição de 2023, que seria realizada em outubro, teve de ser cancelada em virtude de contaminações de animais marinhos com influenza aviária em áreas próximas ao Parque Nacional, onde é realizado o evento.
O economista, consultor na área do turismo e ex-diretor de turismo do Estado Abdon Barretto Filho entende que o investimento em um robusto calendário de eventos pode ser uma solução para o crescimento turístico da região. Ele destaca a realização anual do Festival Brasileiro de Aves Migratórias e que "o projeto do turismo de observação de aves desenvolvido há 20 anos foi um avanço e gerou a criação do festival anual, mas o problema é a falta de continuidade de projetos e programas". "É preciso ter planejamento e gestão para o desenvolvimento contínuo da região", acrescenta Barretto.
"Em 2003, começamos um trabalho com empreendedores locais e com a prefeitura", lembra Jussara. "É uma região com belezas incríveis e um lugar ainda pouco explorado, mas que já tem um roteiro definido e que vem sendo feito por uma agência receptiva local", pondera, ao destacar que o Sebrae, em parceria com a prefeitura de Tavares, desenvolveu coletivamente um plano municipal de turismo em 2022. "O crescimento vem com investimentos em infraestrutura, sinalização e educação para o turismo, mostrando o potencial de trabalho para as novas gerações permaneceram na região", acrescenta Jussara.
Fonseca aponta um caminho demonstrado pelo trabalho realizado em 2019 pelo Instituto de Pesquisa de Mercado (IPM) da Unisinos, que identifica as evidentes potencialidades da região e propõe o posicionamento estratégico para consolidar a sua identidade territorial. Conforme o estudo, as oportunidades estão relacionadas ao desenvolvimento de um turismo que valoriza características únicas, autênticas e distintivas da região, como sua biodiversidade, a cultura entre-mares (mar de fora e mar de dentro) e os horizontes sem-fim (estética que caracteriza aquela área do RS).
"É justamente essa definição de posicionamento, construída de forma colaborativa, que deve orientar o desenvolvimento da oferta turística de forma a produzir e reproduzir o posicionamento e a identidade territorial. Isso passa, claro, pela qualificação da estrutura (de hospedagem, gastronomia, acesso e serviços aos turistas) e pelo desenvolvimento sustentável dos atrativos, pensados na perspectiva do turista em busca de experiências autênticas de contemplação e imersão na natureza", complementa Fonseca.
Empreendedores atestam crescimento no movimento turístico nos últimos anos.
Editorial Cultural FM Torres RS – 13.03.24
A violência no Brasil
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W.Waack: Segurança pública é preocupação central do brasileiro - www.youtube.com ›
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A violência explícita, seja no mundo, sobretudo com a emergência de graves conflitos armados na Ucrânia e em Gaza, seja com o relevo do narcotráfico em escala internacional, com sua sequela de crimes, seja no Brasil, com seus quase milhão de apenados em Escolas do Crime controlados por organizações criminosas, vem preocupando crescentemente a sociedade. Estaríamos às bordas de um colapso civilizacional? Sob esta violência visível, viceja, ainda a barbárie da miséria de grande parte da humanidade, onde a insegurança e a fome forçam a saída de milhares de imigrantes favelizados em países da África, América Central e Caribe e Asia, em busca de sobrevivência mais digna na Europa Ocidental e Estados Unidos. Neste país, a questão migratória está no centro da disputa eleitoral entre Biden, democrata, que insiste em “não demonizar os imigrantes” e Trump, republicano, que promete fechar a fronteira com o México se reeleito. Assistimos, nestes dias, a explosão de violência no Haiti, um país de cerca de 10 milhões de pessoas assolado por terremotos, pobreza estrutura e ação de gangues armadas, que hoje controlam o país, a maior delas, atuante na capital sob o controle de um traficante recém liberado da prisão nos Estados Unidos e que é candidato a Presidente do país. Já avisou que não aceita qualquer transição pacífica interna, nem intervenção internacional. Lá vive-se a realidade descrita teoricamente por um dos grandes teóricos do Estado Moderno, que o comparou ao monstro Leviatã, J. Hobbes: a guerra de todos contra todos. O Estado sumiu, ficou apenas a violência com um índice recorde de mortes de 40 pessoas por 100.000. No Brasil, a questão da violência, quer explícita nas ruas, a que se soma um tipo de intervenção policial igualmente violenta, vista, nestes últimos dias, na ação da PM de São Paulo no litoral, produzindo 60 mortes, seja na violência implícita da injusta distribuição de ativos e renda também preocupa. Sobre este último aspecto é alvissareira a notícia de que 13 milhões de brasileiros teria escapado do mapa de fome no ano passado, mercê da retomada dos Programas Sociais sob o Governo Lula III. Mas o cenário estrutural de pobreza e violência ainda preocupa. O Monitor da Violência divulgou ontem Relatório que mostra terem os assassinatos caído 4% no ano passado, frente ao ano anterior. No dia internacional da mulher, semana passado, tomamos ciência que uma mulher é assassinada a cada seis horas no país. Um barbarismo! Sobre este cenário a extrema direita, cujos modelos mais assustadores são El Salvador e Filipinas, onde seus respectivos presidentes adotam políticas sumárias de extermínio de supostos criminosos e ganham popularidade, aos quais parece se aliar o atual Governador de São Paulo, propõe a política de mano dura contra o crime, enquanto a esquerda propugna pelo combate aos fatores geradores do crime, através de Políticas de Combate à Pobreza e respeito aos Direitos Humanos. Não há, portanto, consensos universais no combate à violência e enquanto isso dissemina-se a insegurança.
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Monitor da Violência: assassinatos caem 4% no Brasil em 2023, mostra edição final do levantamento periódico
Foram 39,5 mil mortes violentas em 2023, contra 41,1 mil em 2022. Índice nacional criado em 2017 pelo g1 em parceria com o FBSP e o NEV-USP chega ao fim após cumprir objetivo de aumentar a transparência na divulgação de dados sobre segurança pública. Monitor seguirá com outras iniciativas.
Por Marina Pinhoni, Gustavo Petró — g1- https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2024/03/12/monitor-da-violencia-2023.ghtml
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Assassinatos caem 4% no Brasil
O número de assassinatos no Brasil caiu 4% em 2023 na comparação com 2022, mostra a edição final do levantamento periódico realizado pelo Monitor da Violência.
O levantamento contabiliza as vítimas de homicídios dolosos (incluindo feminicídios), latrocínios (roubos seguidos de morte) e lesões corporais seguidas de morte. Mortes decorrentes de violência policial não entram na conta.
A queda é a terceira consecutiva e, novamente, a menor da série histórica (iniciada em 2007) do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), parceiro do g1 no Monitor.
A redução foi disseminada: a maioria (21) das unidades da federação registrou menos assassinatos em 2023 do que em 2022. Cinco (Amapá, Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Maranhão) tiveram alta e uma (Ceará), estabilidade (leia mais abaixo).
O índice de assassinatos por 100 mil habitantes do país – indicador usado internacionalmente para medir a violência – também caiu, passando de 20,3 em 2022, para 19,4 em 2023. O número foi calculado com base na população brasileira de 2022, e pode mudar quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar as estimativas oficiais de população para 2023.
Apesar da melhora, o país ainda tem um dos maiores índices mundiais de homicídios (em 2021, tínhamos a maior do mundo, segundo um estudo da Organização das Nações Unidas divulgado em 2023), e grandes desafios regionais no combate à violência – há mais unidades da federação (19) com índices piores que a média brasileira do que melhores (8).
Após a publicação da reportagem, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, que comandou o Ministério da Justiça em 2023, comentou os dados:
"O SUSP [sistema único de segurança pública, criado por lei em 2018] é o caminho: operações integradas, inteligência, uso eficiente e proporcional da força. O país não precisa de novos 'planos' de papel, nem de medidas demagógicas oriundas do 'Direito Penal do Terror'."
Levantamento periódico é encerrado
O levantamento periódico dos assassinatos é um dos projetos do Monitor da Violência, criado em 2017 pelo g1 em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP).
Naquela época, o governo federal não tinha uma ferramenta que permitisse à sociedade – jornalistas, pesquisadores, gestores públicos e demais cidadãos – acompanhar, de forma atualizada, os dados sobre homicídios do país. O único levantamento nacional era o do FSBP, divulgado no segundo semestre de cada ano.
A divulgação dos dados pelos estados também não era padronizada, e não havia uma frequência definida.
A partir da parceria, as centenas de jornalistas do g1 espalhados pelo país passaram a levantar junto aos estados dados sobre as mortes violentas ocorridas mês a mês, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) e das assessorias de imprensa dos governos.
Esse trabalho contribuiu para aumentar a transparência e a precisão das informações sobre segurança pública divulgadas no Brasil e, em 2024, o governo federal passou a publicar os dados de crimes violentos em um painel interativo com informações de todos os estados.
Os dados do governo federal, embora usem uma metodologia diferente da do Monitor (por incluir, por exemplo, mortes suspeitas e encontro de corpos e ossadas, que podem não ser homicídios), apontam para um cenário semelhante, de redução de 4% nas mortes violentas em 2023.
Esse aumento na transparência levou o g1 e os parceiros a decidirem encerrar o levantamento periódico das mortes violentas.
"O Monitor da Violência teve e tem um papel estratégico para a discussão de vários temas sensíveis da agenda da segurança pública, a exemplo dos dados sobre redução e esclarecimento de homicídios, letalidade e vitimização policial, sistema prisional, violência contra mulheres, entre outros. Afinal, a experiência internacional revela que é a partir da ação intensa de disseminação de informações fidedignas e qualificadas que políticas públicas são provocadas e gestores se mobilizam", afirmam Renato Sérgio de Lima e Samira Bueno, diretores do FBSP.
A decisão não significa o fim do Monitor da Violência – apenas do levantamento periódico de assassinatos, diante de um cenário em que dados nacionais e atualizados sobre esses crimes estejam disponíveis para a população.
A parceria seguirá em outras iniciativas, como tem acontecido desde 2017. Nesse período, entre outras coisas, o Monitor da Violência realizou reportagens sobre
Solução de investigações de homicídios;
Letalidade policial e mortes de policiais militares;
Feminicídios;
Roubos de carro no Estado de SP;
Impacto da decisão do STF que permitiu a substituição da prisão preventiva por domiciliar de grávidas e mulheres com filhos pequenos;
Propostas para a segurança pública de candidatos à Presidência da República.
Em 2023, Brasil teve 1.648 mortes a menos que em 2022
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Monitor da Violência: Mais polícia nas ruas não significa menos violência, diz pesquisador
Em 2023, o Brasil registrou 39.492 homicídios dolosos (com intenção de matar), feminicídios, latrocínios (roubos seguidos de morte) e lesões corporais seguidas de mortes, o que representa média de mais de 108 vítimas por dia. Em 2022, o total havia sido de 41.135 mortes violentas, ou 113 por dia.
A queda foi puxada pelos estados de São Paulo, Pará e Bahia – que, juntos, respondem por 53% das 1.648 mortes a menos registradas em 2023 – mas foi disseminada pelo país. Das 27 unidades da federação, 21 tiveram queda nos assassinatos (veja no infográfico abaixo).
Com 6,7 mortes por 100 mil habitantes em 2023, São Paulo segue com menor índice do país, e registrou recuo em relação ao 7,1 registrados em 2022 (veja todos os índices no infográfico ao final desta reportagem). A Bahia, apesar da queda, tem o 5º maior índice, com 34,3 (o índice nacional é de 19,4).
Já as maiores quedas percentuais aconteceram nos estados de Sergipe (22,6%), Tocantins (19,8%) e Rondônia (14,5%) – todos têm índices de mortes por 100 mil habitantes superiores ao nacional.
O Rio de Janeiro teve o maior peso entre os 5 estados que tiveram alta – das 654 mortes a mais nesse grupo, 35% (233) aconteceram em terras fluminenses – e o aumento absoluto de 7,4% das mortes representa a inversão de uma tendência de cinco anos de queda no estado (leia mais aqui).
O segundo maior peso é o de Pernambuco, que teve 183 mortes a mais em 2023 em relação a 2022 (28% das mortes a mais no grupo que teve alta). O estado, que abriga menos de 5% da população brasileira, respondeu por 9% das mortes violentas ocorridas em todo o país em 2023.
O Amapá teve a maior alta percentual – com 110 mortes a mais, os homicídios no estado saltaram 49,5% em 2023. Assim como acontece com Pernambuco, a fatia do estado no total de assassinatos do país é maior (0,8%) que sua representatividade na população total (0,4%). Os dois estados ostentam os piores índices de mortes por 100 mil habitantes do país, com 45,3 e 38,8, respectivamente.
Bruno Paes Manso, pesquisador do NEV-USP, destaca que a presença de mais polícia na rua não ajuda, necessariamente, a diminuir a violência. Tanto Amapá como Rio de janeiro têm mais policiais militares por habitante do que a média nacional, que é de 2 por habitante.
"Muitas vezes, pode ser inversa: mais polícia, mais violência. O Amapá, por exemplo, estado que registra proporcionalmente o maior efetivo policial do Brasil (4,2 policiais militares para cada mil habitantes), lidera o ranking dos homicídios brasileiros (45,2 mortes por 100 mil). Santa Catarina fica no extremo oposto: tem o menor efetivo policial do Brasil (1,3 PMs por mil habitantes) e a segunda menor taxa nacional de homicídios (7,9 por 100 mil)", diz o pesquisador.
Participaram desta publicação:
*Gustavo Petró e Gabriel Croquer (g1); Geisy Negreiros (g1 AC), Cau Rodrigues (g1 AL), Josi Paixão e Rafael Aleixo (g1 AP), Daniel Landazuri (g1 AM), Joao Souza (g1 BA), André Teixeira e Ranniery Melo (g1 CE), Walder Galvão (g1 DF), Vitor Ferri (g1 ES), Vitor Santana, Michel Gomes e Gabriela Macêdo (g1 GO), Rafaelle Fróes (g1 MA), Débora Ricalde, Gabrielle Tavares e José Câmara (g1 MS), Pedro Mathias (g1 MT), Rafaela Mansur (g1 MG), Taymã Carneiro (g1 PA), Dani Fechine (g1 PB), Caio Budel (g1 PR), Bruno Marinho e Pedro Alves (g1 PE), Maria Romero (g1 PI), Henrique Coelho (g1 Rio), Fernanda Zauli (g1 RN), Janaína Lopes (g1 RS), Jonatas Boni (g1 RO), Samantha Rufino e Valéria Oliveira (g1 RR), John Pacheco e Caroline Borges (g1 SC), Carlos Henrique Dias (g1 SP), Joelma Gonçalves (g1 SE), Vilma Nascimento, Patrício Reis e Stefani Cavalvante (g1 TO).
Editorial Cultural FM Torres RS – 05 de março de 2024
Você pode ajudar assinando essa petição? Contra a Censura à Literatura de Jeferson Tenório - https://chng.it/Fp4KngTW
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Queimar Livros Nunca Mais!
Vencedor do Prêmio Jabuti, em 2021, o Livro “O Avesso da Pele”, do autor Jeferson Tenório, primeiro patrono negro da Feira do Livro de Porto Alegre, traz elementos fundamentais para o debate sobre o racismo estrutural no Brasil. Após a leitura de trechos descontextualizados por uma diretora de uma escola de ensino médio da cidade de Santa Cruz do Sul – RS o livro foi censurado. O que eles não sabiam era que o livro foi aprovado para compor a lista de materiais disponíveis para escolas após edital feito pelo governo anterior, bem como sua compra pelo MEC. A distribuição, exclusiva para o ensino médio, feita ainda no ano passado, ocorreu após o pedido da escola para que o livro fizesse parte de seu plano pedagógico. Censura à arte e à cultura e queima de livros são procedimentos próprios de sistemas políticos retrógrados que não se coadunam com a liberdade de expressão perseguida pela democracia vigente no Brasil. Devem ser condenadas.
Anexo
10 Razões para ler O avesso da pele nas escolas, sim! #QueimarLivrosNuncaMais
2 de março de 2024 por www.listasliterarias.com
Não é de hoje que a literatura é vista por sua capacidade de por em debate questões cruciais à sociedade, tanto para gerar reflexões ou para causar incômodo àqueles que escondem-se sob o manto da hipocrisia ou das falsas moralidades. Parece o caso da direção da Escola Ernesto Alves de Santa Cruz do Sul que por meio de um vídeo descontextualizado e desconsiderando o conjunto da obra o Avesso da Pele, de Jeferson Tenório utilizou as redes para pretensamente devolver a obra ao MEC. O vídeo é demonstração absoluta do retrocesso social que vivemos nos tempos de hoje. Mais assustador é que provavelmente os que apoiam ou concordam com tal visão são os mesmos que bajulam um certo cara aí, talquei, que a cada 10 palavras que fala, dois terços é palavrão e o restante é idiotice. Isso sem falar de que o orgulho dessa gente é p mesmo que disse "pintar um clima" para uma criança e suas recorrentes metáforas enamoradas. Mas o dito cujo não é o ponto aqui, mas sim o grave problema presente no vídeo, principalmente por vir de alguém de que espera-se intelecto suficiente para compreender tais questões e fazer jus e pertencimento ao campo da educação. É uma falência danada quando uma pessoa abdica da razão e dos compromissos com a educação e consequentemente com a leitura e a literatura seja tão rasa em nome de manter-se fiel a uma bolha de ignorância, hipocrisia e falsos moralismos. Por isso, nesse post selecionamos 10 razões para ler O avesso da pele nas escolas, sim!
1 - Antes de mais nada, precisamos contextualizar a partir do próprio vídeo. Como a própria pessoa declara, a obra trata-se de um exemplar destinado à leitura de estudantes do Ensino Médio. Ensino Médio. Sim, nessa etapa da formação imagina-se um leitor com capacidade para leituras complexas, inclusive que adentrem às questões mais íntimas e profundas da existência humana. Não há de modo algum de se falar inadequação, como na sequência deste post demonstraremos com mais argumentos. A senhora simplesmente retira uma parte da obra - diga-se que parece até mesmo haver prazer em sua narração pautada pela busca do efeito - sem sequer analisar ao conjunto e ao que se propõe Jeferson Tenório em O avesso da pele;
2 - Dito isso, e penso que nenhum professor de literatura dentro da razão e do bom senso dirá que há inadequação da obra à etapa sugerida, é preciso destacar que O avesso da pele não só e feito com esmero estético e profundidade que o torna uma das principais narrativas contemporâneas, como sua recepção pela crítica e pelos leitores (os de verdade, com capacidade de interpretação e letramento literário) tem sido excelente, inclusive recebendo o prestigiado Prêmio Jabuti;
3 - Mas esses são elementos alheios à obra, e muitas das qualidades e relevâncias da leitura de O avesso da pele o dissemos também na resenha da obra aqui no Blog. O livro aborda com uma sensibilidade incrível a problemática do racismo estrutural presente na sociedade brasileira. Não estaria aí o incômodo com tal leitura por parte dessa diretora? A escolha do trecho a reclamar, como bem sabemos nos estudos da linguagem, não é aleatória. Nesse caso, pode ao mesmo temo serviço como apito para cachorros - acho que podemos atualizar termo para berrante para gado -, como denunciar o que de fato gerou estranhamento e incômodo à leitora em questão (nesse sentido os formalistas russos confirmariam mais uma vez o sucesso literário de Tenório). O absurdo para ela, certamente está no cerne das relações étnico-raciais desse país carregado de preconceitos e na verdade, em alguma maneira a teatralização de sua narração inconformada é também mais um sucesso do livro;
4 - Além disso, tratemos aqui um pouco mais sobre o recurso recorrente dos canalhas e hipócritas que sacam sempre do card da linguagem o do vocabulário chulo para atacar este ou aquele trabalho. Basta algo incomodar aos falsos moralistas e hipócritas e lá vem aquele papinho que este ou aquele texto fere a moral e os bons costumes, que violenta a boa educação. Que visitem a casa de carvalho. Como professora, tal pessoa deveria ter a obrigação de compreender a linguagem ali utilizada e a coerência que carrega para com todo o enredo e a temática da obra. Desconsiderar isso é pura má-fé e desejo infindável de lacrar para as bolhas das pretensas famílias de bem que não resistem aos escrutínios da realidade - mesmo que essa realidade muitas vezes permaneça muito tempo às sombras;
5 - Aliás, quanto ao pretenso grande incômodo desta pessoa, a linguagem chula, seus palavrões e suas indecências, como professor de literatura pergunto-me, essa pessoa já leu alguma coisa na vida? Conhece os clássicos da literatura brasileira que habitam nossas bibliotecas? Sei que o que falo aqui carrega seus perigos, essa gente adora queimar livros, mas creio que ser importante traçarmos aqui algumas comparações para demonstrar o disparate criminoso dessa publicação. Por acaso essa escola vai retirar de sua biblioteca obras como O cortiço? Vai banir Grande sertão: veredas por certas linguagens que Rosa utiliza? Vai banir das estantes até mesmo Iracema, afinal, não seria indecente o termo "virgem dos lábios de mel"? Vão proibir Macunaíma de "Brincar", outra grande leitura recomendada para o ensino médio? O ateneu, Rubem Fonseca, prezada direção, não sobrará um...
6 - E ainda no campo do vocabulário, a escola realmente está preocupada com o vocabulário ou o incômodo é outro? Fontes ligadas ao Listas Literárias comentaram, por exemplo, quem eventos da escola se ouviram funks cuja letra continha vocabulário problemático. E não nos entendam mal, não criminalizamos aqui o gênero, há exemplos horríveis de canções tradicionalistas gaúchas que por exemplo, comparam uma mulher às éguas. Baitaca, ídolo pop de "O fundo da Grota" é o mesmo que canta "Aventuras do Tico Loco". Na música sertaneja, então, o que não falta é música apóloga ao feminicídio. Há funks capazes de alertar, de abrir para reflexão, músicas de outros gêneros também, como, por exemplo, um bom rap dos Racionais. Entretanto, nossas fontes indicam que não se trata desse tipo de música, mas sim de porcaria alienante e objetificadora, que a mesma direção que ataca uma das principais obras literatura nacional contemporânea, se mostra leniente e festiva;
7 - A partir desses dois últimos argumentos, creio, a questão mostra-se ainda mais problemática. Não tem como não vir à cabeça o questionamento: teria a cor do autor e o tema abordado pela obra influenciado a indignação da direção da escola? Afinal, certamente há na biblioteca da escola outras obras com palavrões e cenas que precisam abordar a questão sexual. Na verdade, o Naturalismo é um dos momentos literários a ser estudando no Ensino Médio, e não há obra naturalista sem essa abordagem. Ou a escola não trabalha literatura? Desconheço uma biblioteca que não tenha Jorge Amado, Rubem Fonseca, para ficar por aí, antes que esses falsos moralistas queiram queimar mais livros. Mais uma vez: O que realmente incomodou?
8 - Para além disso, essa turma realmente convive com adolescentes? Desafio qualquer pessoa a desmentir que as tais e incômodas palavras sejam desconhecidas do vocabulário dos jovens estudantes de Ensino Médio. Em que mundo vocês vivem? Até mesmo respondo, no mesmo que o nosso. Só a máscara da hipocrisia sustenta essa histeria com a referida passagem. Vivemos numa época que necessitamos cada vez mais de obras que proponham e alcançam algum grau de reflexão e que efetivamente proporcionem não apenas o letramento literário, mas também o letramento racial, pois precisamos e muito aprender e compreender as raízes estruturantes dessa abjeta chaga que é o racismo;
9 - Gostaria de finalizar justamente dessa forma, trazendo razões elementares e fundamentais de por que a leitura de Jeferson Tenório é mais que necessária nas escolas. Sua abordagem é lúcida, por vezes, até desesperançosa, diante ao estado das coisas. Sua narrativa reflete o quão profundo está enraizado o problema e o desfecho do romance é exemplar nisso. Além disso, ele passa longe de querer nos entregar soluções fáceis, e problematiza a questão sem que a narrativa torne-se mero panfleto. Demonstra no decorrer do romance que o problema é complexo e cujos caminhos ainda precisam ser tratados. Talvez a parte de desencanto que há na narrativa se justifique ainda mais com a reação acima exposta;
10 - E para finalizar, mais absurdo ainda é que talvez a voz que denuncia tenha no máximo passado o olho perdidamente por alguns palavrões que talvez lhe viessem a calhar na suma vontade de lacrar abjetamente em busca de sucesso em sua bolha ignóbil de obscurantismo e má-fé. Se realmente tivesse lido - ou ainda entendido as múltiplas possibilidades de leitura e interpretação - a obra em seu todo, talvez observasse que uma outra frente de discussão extremamente relevante presente na obra: a educação e o contexto desafiador do momento com alunos cada vez menos interessados. Impossível a um bom professor não ver-se também no protagonista do romance, também professor. Um professor que entende dos nossos desafios diários que estão longe de ser um palavrão aqui e acolá. Se tal pessoa tivesse capacidade para tal leitura, desprendida de convicções que não passam de névoa e combustível da alienação que tomou parte do país, perceberia ainda no livro, também um aliado de nós, professores. O magistério, a docência em suas questões mais desafiadoras está abordada no livro e não apenas merecem nosso respeito, como podem alertar a professores e alunos os poderes maléficos do desencanto. E não é difícil se desencantar, especialmente no poço sem fundo que estamos entrando e parece que não está fácil de sair.
Source www.listasliterarias.com
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https://www.facebook.com/notes/560490437439643/
A recepção do pensamento filosófico de Hegel na França por Kojève, Hyppolite e Koyré - e seu impacto sobre a filosofia de Derrida.
YOUTU.BE
Está online o vídeo que deveria ter ido ao ar ontem. Ele traz uma panorâmica da filosofia francesa no século XX. Infelizmente, saiu com defeito técnico (ruído), mas acho que dá para ver/escutar tranquilamente. Aos poucos, a gente vai se aperfeiçoando. Quando chegar lá pelo vídeo 5 ou 6, espero que já não tenha mais problemas :)
Mais informações (dicas bibliográficas, dados do vídeos), curtam as páginas:
Aqui: https://www.facebook.com/filosofiaemtranse/
Twitter: @filosofiatranse
Youtube: Canal Filosofia em Transe
https://www.youtube.com/watch?v=NEI1X1Mk93Y
Alexandre Almeida - Vídeo fascinaste, é um pouco longo para o face 15 minutos, mas quem ama leitura vai gostar!!!!
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https://www.youtube.com/watch?v=fhgsbkRGUKs
Anna Maria Monteiro
Uma crítica ( fundamentada) à Nietzsche!
[ Não é como muitos que o criticam simplesmente chamando Nietzsche de "comediante alemão" e não dizem em que ou onde ele estaria errado, se é que está...]
É...mas existe um mundo além da ciência! A ser visto!
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Com Leandro Karnal: historiador, doutor em história social pela USP, professor da Unicamp e autor de diversos livros.
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As palavras agradáveis são como um favo de mel; doçura para a alma e saúde para os ossos.Há caminhos que parecem retos ao homem e, contudo, o seu termo é a morte.
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Walter Benedix Schönflies Benjamin, ensaista, crítico literário, tradutor, filósofo e sociólogo judeu-alemão, se suicida na pequena cidade catalã de Portbou, em 27 de setembro de 1940, morrendo aos 48 anos.
Combinando a teologia, a filosofia da linguagem e o marxismo, foi testemunha viva de uma época em pleno caos. O que é empurrou Benjamin a se suicidar por envenenamento de morfina na noite de 26 de setembro de 1940 ma fronteira entre França e Espanha? Por que esse homem que amava tanto as palavras quanto as mulheres preferiu renunciar à vida?
Originário de uma família judia alemã, fez em Berlim e Munique estudos de Filosofia até o seu doutorado sobre o romantismo alemão. Sua tese foi mal acolhida e não lhe permitiram galgar um posto de professor na universidade.
Em 1914, quando eclode a Primeira Guerra Mundial, fica marcado pelo suicídio de diversos de seus amigos. Trava conhecimento com Gershom Scholem, que se tornaria especialista mundial da mística judaica e da cabala. Dos diálogos, Benjamin extrairia uma reflexão teológica que aplicaria à linguagem. Paralelamente se interessa pelo pensamento marxista, estimulado pelo seu encontro com a revolucionária ucraniana Asja Lacis.
Grande viajante, coleciona brinquedos, se envolve com o jogo e aprecia o haxixe. Admirador de Kafka e de Klee, percorre a Europa entre as duas guerras sem jamais parar de escrever, buscando em vão ser reconhecido, ser entendido. Malgrado as amizades com Bertold Brecht, Ernst Bloch e Hannah Arendt, mal conheceu a felicidade. Exilado e pobre, drogado e mal-amado, tentou diversas vezes se suicidar.
Quando Hitler assume o poder, seus amigos se refugiam no estrangeiro. Expulso da Alemanha se fixa em Paris, cidade de Baudelaire e Proust, autores que traduz e comenta habitualmente. Contudo, a França é ocupada. Seus amigos filósofos Adorno e Horkheimer conseguem-lhe um visto norte-americano. Tarde demais. Só lhe resta a fronteira espanhola para fugir. É preso. Aquele que sua mãe chamava de “senhor Desastrado”, não teve forças para suportar mais esta prova. Preferiu morrer a ser entregue à Gestapo.
Vítima da opressão, escolheu se matar, quando, após deixar a Paris ocupada, foi detido pelos guardas de fronteira espanhois, que recusaram a sua entrada. Preferindoa morte à Gestapo, tomou pílulas no hotel em que o grupo de judeus que acompanhava aguardava a deportação.
Foto:
Wikimedia Commons
A vida de Benjamin se constituiu numa série de mal-entendidos. Seria necessário vários anos após sua morte para que fosse reconhecido seu gênio e a modernidade da obra deste homem de múltiplos talentos.
[À esquerda: Memorial em homenagem ao filósofo em Portbou]
Ao lado de uma abordagem sociológica, desenvolveu uma filosofia da linguagem que insiste nas funções “místicas”. O crítico ou o tradutor tem por vocação de “liberar a linguagem pura cativa nas obras”. A palavra é capaz de conduzir ao divino quando é expressa em sua natureza mais pura. Assim, a palavra do poeta ou do escritor designa as coisas em sua verdade. Sua teoria se inspira no romantismo de Goethe, de Hölderlin e na tradição judaica.
Benjamin explica que com o desenvolvimento de novas formas de arte como a fotografia e o cinema, a arte pode ser reproduzida ao infinito e perde desse modo seu caráter sagrado, sua “aura”. Em contraposição, a arte torna-se mais acessível e se abre a todos. Devido a esse progresso técnico, a arte torna-se propriedade das massas e confere ao espectador uma nova responsabilidade, a de julgar a título individual a autenticidade de uma obra.
As traduções e comentários de Benjamin acerca de Baudelaire, Proust, Green, Kraus ou Kafka, as passagens parisienses que se tornaram “teatro de todos os seus combates e todas as suas reflexões”, constituem ocasiões para aprofundar suas teses sobre a História. Ele considerava que o presente só se explicava com a ruptura com o passado. Por exemplo, à luz do surrealismo, a história é compreendida de maneira diferente. Isto se aplica em particular a sua época, que ele denuncia ser de opressão e violência.
Para Benjamin, a opressão não é exceção mas a regra, uma regra que se perpetua porque pode ser apresentada como um progresso histórico – o fascismo ao seu tempo ; a globalização ou o terrorismo, nos dias de hoje. “Aqueles que não querem ver que certas coisas sejam ainda possíveis no século 20” não trilham o caminho do conhecimento. Seu espanto nada tem de filosófico, não constitui o início do conhecimento, a menos que se deem conta que a visão da história que torna possível o objeto de seu espanto – fome, guerra, etc. – seja insuportável.
Benjamin atém-se ainda ao contexto da luta de classes e da identificação clara do inimigo. Atualmente, é mais difícil identificar claramente o fascismo, porém o pensamento de Benjamin encontra sempre aplicação: o terrorismo é condenável mas ele se abriga sob o manto da libertação da opressão e da contestação ao imperialismo. A globalização é justamente condenada pelos altermundialistas, no entanto ela carrega em si uma esperança de redenção da humanidade sofredora.
Anna Maria Monteiro O que Foucault irá propor, contudo, é justamente questionar estas evidências sobre o que ele denominou como “hipótese repressiva”. O autor irá apontar que o próprio fato de falar sobre sexo enquanto forma de produção de uma verdade do indivíduo se conf...
Sexualidade e verdade em Foucault
Como a repressão sexual constitui a sexualidade do sujeito moderno? É correto dizer que o poder, no que...
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Sexualidade e verdade em Foucault
Como a repressão sexual constitui a sexualidade do sujeito moderno? É correto dizer que o poder, no que toca a questão sexual, tão somente interdita? Foucault questiona certas evidências acerca da hipótese repressiva e analisa como certos regimes de produção de verdade estão implicados no dispositivo da sexualidade.
by Beatriz Bagagli Published maio 25, 2015outubro 27, 2016 2 Comentários
Michel Foucault combate a hipótese repressiva do poder..
Foucault[1] apresenta algumas características comumente associadas à repressão sexual: condenação ao desaparecimento, injunção ao silêncio, afirmação da inexistência de modo a fazer com que, do assunto (sexual) reprimido, não haveria nada a dizer, ver ou saber. “Interdição, inexistência e mutismo”. A repressão sexual desvelaria a típica hipocrisia burguesa, que apenas faz concessões às sexualidades ilegítimas limitadas a espaços circunscritos. A própria repressão sexual está associada com o advento da ordem da dominação burguesa.
O próprio fato de falar sobre sexo concederia deliberadamente um certo estatuto de subversão às normas por parte de quem enuncia, como se o sujeito que falasse sobre sexo pudesse se colocar para fora do poder. É como se ao falar sobre a opressão sexual, se conjurasse automaticamente um discurso sobre a libertação sexual. Almeja-se assim, através do próprio discurso que afirma que há repressão, uma liberdade que se promete e se almeja, frente a esta realidade presumidamente excessivamente castradora.
O que Foucault irá propor, contudo, é justamente questionar estas evidências sobre o que ele denominou como “hipótese repressiva”. O autor irá apontar que o próprio fato de falar sobre sexo enquanto forma de produção de uma verdade do indivíduo se configura como uma prática implicada em relações de poder-saber, e não fora delas como a princípio a hipótese repressiva poderia supor. “Ironia do dispositivo da sexualidade”, pontua. Isto porque, para Foucault, qualquer forma de revelação da verdade não pode ser tomada como uma evidência de uma espécie de libertação do sujeito das relações de poder. Ao contrário, a produção da verdade é entendida já implicada nestas relações.
Não se trata, neste processo, de apenas contrapor a hipótese repressiva e dizer então que o sexo não seria reprimido. Foucault não nega que o sexo tenha sido reprimido. Não se trata para ele dizer que tudo foi uma espécie de ilusão; o que o autor propõe de novo é questionar a centralidade da interdição do sexo na constituição da sexualidade do sujeito moderno, compreendendo que o poder faz algo mais do que apenas dizer “não”.
O que o autor de fato busca estudar é o funcionamento tão peculiar e mesmo paradoxal destes discursos sobre o sexo, nos quais se afirmam simultaneamente reprimir o sexo para então criar a necessidade de libertá-lo: ao “falar prolixamente do seu próprio silêncio” e “obstinar detalhar o que não se diz”. Neste caminho, se objetiva perceber quais “caminhos o poder consegue chegar às mais tênues e individuais das condutas”. Neste aspecto, Foucault cita o exemplo da confissão religiosa como uma forma de se falar sobre o sexo de uma forma extremamente complexa: não evidentemente sem prudência, mas em todos os seus aspectos, correlações e efeitos nas mais finas ramificações. Ao dizer que não há silencio absoluto em relação ao sexo, Foucault pretende analisar como as “formas de não dizer” são administradas: haveria uma organização não completamente aleatória da partilha de quem pode ou não falar sobre sexo.
O autor aponta o funcionamento injuntivo da formulação de todo desejo enquanto discurso como típico de nossa sociedade moderna. E desta vez, não se trataria tão somente de discursar sobre o sexo tendo em vista sua moralidade (como nas práticas de confissão cristã), mas também em função de uma racionalidade científica. Assim, sexo passou a não apenas ser passível de julgamento, mas também de ser gerido ou administrado, de ser inserido num sistema que garanta sua utilidade ou bom funcionamento. Sexo se torna uma questão de Estado em um sentido forte: é preciso governar o que se entende por “população”; seus índices no que se referem à taxa de natalidade e fecundidade, por exemplo, na medida em que são tidos como passíveis de serem geridos, tocam inevitavelmente às práticas sexuais dos indivíduos.
O próprio discurso, como pontua Foucault[2], é produzido sob determinadas regras de controle de sua aparição, organização e redistribuição. Isto porque o discurso guarda em si uma potencialidade ou um caráter “perigoso”, como pontua Foucault, devido sua materialidade. Desta forma, se por um lado, em História da Sexualidade 1, Foucault nos mostra como falar sobre sexo é menos revolucionário do que se poderia a princípio achar, o discurso em si é regulado de modo a tolher alguns de seus efeitos próprios, a fim de se garantir sentido, coerência, estabilidade e mesmo a própria verdade. Regulação esta que chegaria a tal ponto a fazer Foucault afirmar a existência de uma logofobia típica de nossa civilização. Estas práticas de regulação do discurso desvelam um profundo temor em relação ao que há de mais incontrolável, desordenado, violento e descontínuo nas práticas discursivas.
Há, segundo o autor, certos mecanismos que atuam de forma externa ao próprio discurso, como os de exclusão, que incluem a interdição em que o direito ao acesso a enunciação é restringindo e a separação/rejeição, que se refere à palavra do louco que circula e é significada de formas distintas das demais pessoas. Por fim, um terceiro mecanismo externo de exclusão é em relação à distinção verdadeiro e falso que curiosamente, segundo o autor, é o menos debatido. Essa vontade de verdade é conduzida pelo modo como o “saber é aplicado em uma sociedade, como é valorizado, distribuído, repartido e de certo modo atribuído”.
Referências bibliográficas
[1] FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro. Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque e J.A. Guilhon Albuquerque. Edições Graal, 1988.
[2] ____. A ordem do discurso. Trad. Graciano Barbachan. (data da digitalização: 2004). Coletivo Sabotagem. 1970.
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