COLUNA DO TIMM
EDITORIAL - FM Torres – OPINIÕES = www.culturalfm.com
A difícil conjuntura nacional reedita o março de 1964
O arrefecimento da guerra entre Israel e Irã, a despeito da retomada dos ataques injustificáveis de Israel sobre o Norte de Gaza, elevando o número de mortos, que pode estar chegando ao lamentável número de 80 mil, maior parte mulheres e crianças, fora os feridos, deslocou as atenções da Mídia para os assuntos internos. Com efeito, a decisão da Câmara dos Deputados, logo avalizada pelo Senado, denunciando inequívoca e “sospechosa” articulação política dos Presidentes destas casas, teve um efeito bombástico na conjuntura nacional. Emparedou Lula, que depois de várias reuniões e determinada contra ofensiva, decidiu ingressar no Supremo, na expectativa de derrubar, por inconstitucional, o ato do Congresso. Com isso acabou transferindo a decisão final do caso para, nada mais, nada menos do que o Ministro Alexandre de Moraes, já estigmatizado pela Oposição como o algoz dos bolsonaristas. Daí sua proposta de tentar uma negociação entre Congresso e Poder Executivo, na expectativa de escapar à mais uma crise institucional. De qualquer forma, os ânimos estão exaltados embora Hugo Motta, Presidente da Câmara dos Deputados insista na tese de que “não traiu” o Planalto e o Senador Alcolumbre, Presidente do Senado insista que não se trata de uma guerra, apenas um episódio. Tudo poderia passar em branco, porém, não estivéssemos num ano crítico: final de Lula III e véspera de eleições gerais. Lula acusou o golpe e parece disposto a deflagrar um discurso eleitoral, reeditando o “nós x eles”. Para tanto, retoma os ataques a Bolsonaro, justificando, inclusive os altos juros como o resultado da “admistração anterior”. Já Bolnaro, em nítido refluxo em suas mobilizações, que veem caindo das multidões superiores a 50 mil para os últimos 12mil no último domingo em São Paulo, começa a admitir que poderá não ser candidato, ao propor a seus seguidores o voto em deputados e Senadores com vistas ao controle das decisões estratégicas sobre o país. Tanto ele, aliás, como o próprio Lula, parece que começam a avaliar com cuidado cada vez maior seus possíveis candidatos ao Senado, pois aí poderá recair a possibilidade não só de cassação de Juízes do Supremo, ou Diretores do Banco Central, como o sopro capaz de introduzir o parlamentarismo no Brasil.
Como a história costuma se reproduzir, nunca é demais lembrar o epílogo do regime da Constituição de 1946, nos idos de 1964. O Presidente João Goulart, também emparedado por um Congresso conservador, a despeito de uma popularidade medida na época pelo IBOPE em torno de 70% , diante da rejeição formal de sua proposta de Reforma Agrária, decide decretá-la em praça pública, no comício da Central no 13 de março. A 31, capitulava sob as armas da sublevação golpista. Hoje como ontem, a propósito, a mídia corporativa, ecoa o conservadorismo e levanta sua voz contra o Presidente de República. Já não vivemos sob o império da Midia, mas as Redes Sociais, enfim, reverberam seus editoriais inflamando o ambiente político. Eis o Editorial de ontem, por exemplo, de O GLOBO:
No embate com o Congresso em torno do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT optaram mais uma vez pela tática do “nós contra eles”. Em vídeos feitos para redes sociais, o “povo” carrega pesados fardos nas costas (os impostos), enquanto personagens bem vestidos, representando os “ricos”, levam pequenas sacolas simbolizando taxação leve. Mais uma vez, o governo tenta justificar sua tentativa de promover um ajuste fiscal aumentando receitas, em vez de cortar gastos. A tática usada para fustigar o Congresso é um equívoco tanto do ponto de vista econômico quanto do político.
É verdade que a estrutura de impostos brasileira é regressiva (em termos proporcionais, as faixas de renda mais alta arcam com carga menor de impostos). Pode fazer sentido, por isso, corrigir a base de cálculo do Imposto de Renda em benefício das faixas de menor renda. Mas é absurdo acreditar que a alta do IOF afete apenas os mais ricos. O tributo recai sobre empréstimos, cartões de crédito e outras operações financeiras. Seu aumento nas transações cambiais encarece importações, alimentando a inflação e punindo os mais pobres. O empréstimo rotativo do cartão, usado sobretudo pelos pobres, também fica mais caro. E saem perdendo os microempreendedores individuais (MEIs), que buscam crédito para financiar equipamentos como carrinhos de venda ou máquinas de costura.
Diante disso, Roberto Amaral, ex Ministro de C&T do Governo Lula II, conclui em recente artigo:
A ordem político-institucional herdada da reconstitucionalização de 1988 foi posta em recesso com o impeachment de Dilma Rousseff. Morria ali a Nova República anunciada por Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. O golpe de Estado de 2016 se consolidou com o regime-tampão do vice perjuro, ponte para a ascensão do neofascismo, pela vez primeira no Brasil a escalar o poder pela via eleitoral.
O presidencialismo espatifa-se como bola de cristal caída ao chão e, com seus estilhaços, a direita concerta o quebra-cabeça como novo Leviatã: poderoso mostrengo que devora as instituições republicanas e impõe a ingovernabilidade como estágio preparatório do caos, indispensável para a revogação do que ainda podemos chamar de “ordem democrática” – frágil, nada obstante sua permanente conciliação com o grande capital, no que se esmera o atual Congresso, implacável no desmonte do que quer que seja que possa sugerir um Estado de bem-estar social.
Esta é a circunstância que nos domina: um Poder Executivo acuado, impedido de exercer o dever da governança; um Legislativo que não arrecada, mas é senhor dos gastos; uma democracia representativa que prescinde da soberania popular. Um Executivo se esvaindo numa sangria de poder que parece não ter fim, prisioneiro de um Congresso abusivamente reacionário, na tocaia contra qualquer sinal de avanço civilizatório. Em seu nome fala e age sua escória, chorume poderosíssimo que não cessa de crescer em número de militantes, em ousadia e em chantagens contra o governo. O quadro funesto se completa com uma Faria Lima descolada do país e de seu povo: seus interesses deitam raízes em Wall Street.
Lição dos dias que demoram a passar: no Brasil de hoje, em cenário no qual o centro e a social-democracia (depois da falência dos liberais) aderiram ao conservadorismo larvar, a direita e a extrema-direita governam independentemente do resultado das eleições que ainda se realizam – as quais, assim, deixam de ser decisivas, e sobretudo deixam de ser instrumento de mudança, pois qualquer mudança que não aprofunde a exploração de classe será vista como subversiva da ordem na qual a classe dominante (que também atende pela alcunha de “mercado”) se alimenta.”
Quem viver, verá...
EDITORIAL - FM Torres – OPINIÕES = www.culturalfm.com
A “besta” nazista foragida em Atibaia-
A “besta” nazista foragida em Atibaia | Outras Palavras
Ensaio histórico sobre um facínora do Reich. Protegido e auxiliado por um bispo em
Roma, fugiu ao Brasil. Virou fazendeiro, mas se matou, temendo ser assassinado.
Suas atrocidades em Sobibor, campo de extermínio que matou 250 mil judeus, estão
insepultas
OutrasPalavras -por Daniel Afonso da Silva - Publicado 26/06/2025 às 18:48
Foi no Brasil. No 3 de outubro de 1980. Na pequena Atibaia. Interior de São Paulo. Que adormeceu, à tout jamais, o
último facínora de Sobibor. Gustav Franz Wagner (1911-1980). Por alcunha, “besta”. Por verdade, “demônio”.
“Besta” e “demônio” de Sobibor. Que, no Brasil, suicidou-se. E o fez pelo receio de ser assassinado. Pois um medo
intenso que rondava o seu espírito. Feito materialização da lei do retorno. Trazendo de volta e contra ele todo o ódio
que ele aplicara no extermínio de judeus nos tempos do Reich.
O mundo inteiro desejava-o vivo ou morto. Agora, 1978-1980, mais que nunca. Ele havia cometido crimes
abomináveis em favor de Hitler e do Reich. Infringindo todos os tratados, declarações e convenções disponíveis –
Declaração de São Petersburgo de 1868, Convenções de Haia de 1889 e 1907, Declaração dos Aliados de 1915
referente aos “crimes contra a humanidade e civilização” perpetrados contra os armênios, Convenção de Genebra
de 1929, Declaração da Polônia e da Tchecoslováquia de 1940, Carta do Atlântico de 1941, Declaração de Moscou
de 1943, assim como o espírito da Carta das Nações Unidas de 1945. Para, adiante, fugir dos aliados. Esconder-se
em sua Áustria natal. Seguir para Roma. De Roma ao Vaticano. Indo à Igreja e aos católicos. Localizando o bispo
Alois Hudal (1885-1963), o “anjo da guarda” dos nazistas em fuga. Que lhe faria chegar à América do Sul. No Brasil.
Em 1950. Para recomeçar a vida. Sem Hitler nem o Reich. E também sem Sobibor. Apenas com a memória de tudo.
Das vidas que se foram no inferno que ele promovera em Sobibor.
Uma vez no Brasil, foi para São Paulo. E, em São Paulo, instalou-se em Atibaia. Onde contraiu matrimônio. Fez
família. Criou filhos. Tornou-se trabalhador rural. Caseiro. Aprendeu português. Interiorizou o savoir vivre à
brasileira. Cultivou amizades. Aderiu aos cigarros fatto a mano. Palheiros. Enveredou pelos jogos. Carteado. Virou
“amigo” dos amigos. Produziu redes de confiança.
Aparentando-se sempre homem humilde, rural, do campo, campeiro. Sem passado. Nova persona. Anônimo nas
montanhas ermas de Atibaia. Mesmo figurando nas principais listas de criminosos nazistas procurados desde o fim
da guerra.
Tudo ia bem. Simon Wiesenthal (1908-2005) e o Mossad pareciam terem se olvidado dele. Até que Franz Stangl
(1908-1971), no crepúsculo da vida, em 1970, quebrou o silêncio e revelou o seu paradeiro. Em São Paulo, no
Brasil. Que, em descoberto, concorreria para o desfecho do 3 de outubro de 1980. Com suicídio.
Mas o começo de tudo foi Hitler.
Hitler, Mein Kampf, ressentimentos, animosidades e desejos implacáveis de vingança. Que desembocaram em
martírios. A superação da república de Weimar. A ascensão dos nazistas ao poder em 1933. O desmantelamento
do espírito de 1918. A mobilização de toda a sociedade alemã – população, economia e Estado – para batalhas
existenciais e guerras finais. A imposição do sentimento de fins de tempos e fins do mundo. Tudo em favor do Reich
e para o bem do império. Destruindo o que restava das tópicas liberais do presidente Wilson. Abdicando das
instituições e dos arranjos saídos de Versalhes. Saindo, assim, subitamente, da Sociedade de Nações. Projetando a
França e os franceses como inimigos magnânimos. Afirmando a anexação da Áustria como desejo ancestral.
Impondo germanizações implacáveis em todas as partes. Especialmente à Leste. Inicialmente na Polônia.
Avançando-se, também, como alternativa ao Mundo Livre. Contaminando rápido a Itália e a Espanha. Alcançado o
Japão. E, logo, estabelecendo parcerias em todas as partes do mundo.
Por esses ideais, Gustav Franz Wagner – nascido em Viena, em 1911 – ingressou no partido em 1931. Ascendeu à
SS em 1933. Viu de dentro e de perto toda a progressão do Reich. Fundiu-se a ele em 1940, quando foi tornado
assistente Franz Stangl no extermínio calculado de judeus, mediante banhos de gás. Tornando-se um dos maiores
especialistas no ofício. Merecendo, assim, a alcunha de “besta”.
Franz Stangl, seu mentor, era o homem de confiança do Reich para a construção da dimensão racial do império
alemão. Aquele da superioridade germânica vis-à-vis do extermínio e limpeza étnica de “indesejados”. Judeus à
frente. Deficientes físicos e mentais adiante. E, nessa condição, foi o diretor do sinistro Castelo de Hartheim, na
Áustria, onde iniciou Wagner. Que, sem tardar, tornou-se expert em matar rápido, sem remorso, contrição,
penitência nem perdão. Ampliando o prestígio do empreendimento nazista e o seu próprio. Sendo admirado e
respeitado pelo seu instrutor, Stangl; mas, também e sobretudo, nos altos círculos do Reich em Berlim. Que eram
atualizados diuturnamente dos feitos de Hartheim. Regozijando-se pela eficiência, pela performance e pelo volume
do extermínio de “indesejados”. Que de maio de 1940 a agosto de 1941 ultrapassariam os 18 mil judeus e
deficientes físicos e mentais assassinados. Tendo entre as vítimas a bisneta do imperador Pedro II do Brasil, a
princesa brasileira Maria Carolina de Saxe-Coburgo Braga.
Com o rompimento do pacto germano-soviético em 1941, o avanço do Reich para Leste amplificou a escala de
brutalizações. Especialmente pela modificação do modus operandi dos extermínios. Que teve os corriqueiros
fuzilamentos profissionalizados com batalhões que interceptavam, reuniam e fuzilavam judeus em números
impressionantes. Quinhentos, seiscentos, mil, três mil, cinco mil, 23 mil e seiscentos por vez. O que, após análise,
revelou-se custoso e danoso. Custoso pela logística. Que envolvia extenso quantitativo de munição empregada.
Danoso pela brutalidade da atrocidade. Que impingia desvios significativos na saúde mental dos verdugos.
Ciente disso, Himmler rogou ao Führer alternativa mais perspicaz e “humanitária”. Pois, em contrário, a “pobre
soldadesca nazista” poderia perder o seu vigor. O que sensibilizou Hitler. Que solicitou a Reinhard Heydrich (1904-
1942) – alto oficial do Reich – uma solução. Que desembocou no Programa Reinhard. Imediatamente renomeado
“Solução Final”. Com a passagem do extermínio por fuzilamento para o uso massivo de gás em campos de
concentração. [Veja-se Em uma palavra: bandidos. Em muitas: demônios, gentilmente publicado no Jornal da USP].
Nessa mudança de approach, Franz Stangl, por sua expertise, foi mobilizado para construir os campos de
concentração de Belzec, Treblinka e Sobibor. Todos no interior da Polônia. Todos à Leste de Varsóvia. De onde a
maior parte dos judeus e “indesejados” era despachada em trens da morte para jamais voltar.
Feito Sobibor, em inícios de 1942, Franz Stangl seguiu para construir Treblinka, deixando Gustav Franz Wagner
como plenipotenciário.
Uma escolha previsível. Wagner era o sucessor natural de Stangl. Mas, uma vez no comando, superou-o.
Tornando-se mais sádico, mais violento e mais temido. Adicionando terror e desespero ao cotidiano de Sobibor.
Que ceifaria a vida de mais de 250 mil pessoas nos seus 18 meses de existência. E extinguir-se-ia por descuido.
Quando das férias de Wagner em 1943.
Foi complexo.
A “besta” saiu em férias e os internos promoveram uma extensa insurreição. Emboscando guardas. Assassinando-
os. E fugindo. Pondo fim a Sobibor. (Sendo ainda hoje muito útil a leitura das memórias de Stanislaw
Szmajzner, Inferno em Sobibor, que foi o primeiro relato sobre a insurreição de Sobibor e sobre martírios impetrados
por Wagner.)
Mas nada estava garantido mesmo assim. O ano era 1943. A ofensiva soviética era importante. O desembarque
aliado na África e no Mediterrâneo tinha sido determinante. Mas a Wehrmacht resistia em todas as frentes. Impondo
aos sobreviventes de Sobibor tornarem-se recrutas das forças soviéticas, norte-americanas ou britânicas para
seguir-se o combate. Que seguiria implacável até 1945. Após imponentes batalhas. De Moscou a Berlim, da
Normandia a Berlim, da Varsóvia eterna a Berlim. (Jamais vai demais ressaltar a bravura das forças polonesas de
resistência lideradas pelo general Sikorski, que trocaram a Polônia pela França em 1939 e a França pela Inglaterra
em 1940 para seguir combatendo o nazismo até o fim.)
Vencendo-se Berlim, Hitler e o Reich, impôs-se julgá-los. Mas para tanto era preciso, antes, interceptar os
responsáveis. Que muitos fugiram. Outros morreram. Alguns seguiram anônimos. Sendo o caso dos facínoras de
Sobibor.
Franz Stangl caiu preso dos norte-americanos em 1945. Entregando-se como soldado raso. Inofensivo. Cumpridor
de ordens do Reich. Levando os aliados a ignorá-lo, a ponto de ele fugir dois anos depois. Reconquistar a sua
Áustria natal, onde ele nascera em Altmünster, em 1908. Asilar-se em Graz e aconselhar-se na Igreja Católica local.
Onde reencontrou Gustav Franz Wagner. Com quem seguiu em segurança para Roma. Onde teve com o bispo
Alois Hudal. Que facilitaria a fuga dos dois para o Brasil. Wagner em 1950. E ele, apenas em 1951, após passar
pela Síria, em Damasco, para recuperar a sua família – mulher e filhos.
No Brasil e em São Paulo, eles dois seguiram nazistas e nostálgicos de Hitler e do Reich. Encontravam-se com
frequência. Falavam alemão. Mantinham contatos com os alemães. Promoviam festas alemãs. Cultivavam a
culinária alemã. Celebravam – em todo 20 de abril – o aniversário do Führer. E acompanhavam a situação europeia
e alemã. Wagner instalado em Atibaia. Stangl morando em São Paulo e trabalhando na Volkswagen, em São
Bernardo do Campo. Tudo tranquilo e bem até a captura de Adolf Eichmann, em Buenos Aires, em 1960.
A espetacularização desse feito e, em seguida, a ostentação do julgamento em Jerusalém causaram apreensão em
todos os nazistas em fuga em todas as partes e notavelmente na América do Sul. Klaus Barbie (1913-1991) – o
açougueiro de Lyon – estava na Bolívia. Josef Mengele (1911-1979), transitando pela América do Sul. Wagner e
Stangl, em São Paulo. Mas, para todos os fins, mantiveram-se todos calmos. Até que imponderáveis começaram a
modificar o lado da sorte.
Era um dia corriqueiro de trabalhos triviais no Centro de Documentação Judaica em Viena. 22 de fevereiro de 1964.
Quando um visitante, aturdido e apressado, irrompeu no ambiente em busca de Simon Wiesenthal informando
portar informação de valor. Wiesenthal recebeu-o. A conversação foi curta, direta e franca. O cidadão – que não se
identificou nominalmente – dizia saber do paradeiro de Stangl; e que estaria disposto a revelar por US$ 7 mil.
Wiesenthal anuiu. Mas comprometeu-se a saldar o montante apenas após averiguar a veracidade e a consistência
da informação.
O visitante, de sua parte, também anuiu. Fazendo-se, assim, um trato sem garantias de parte a parte. Apenas com a
indicação dos endereços de Stangl. Todos no Brasil. Um em São Paulo e outro em São Bernardo do Campo.
Wiesenthal mandou averiguar. Mobilizou os seus informantes no país. Uns em São Paulo. Outros no Rio. Alguns em
Brasília. Todos profissionais e discretos. Que, sem dificuldades, atestaram que sim: era ele mesmo. Stangl. Que
vivia tranquilamente com sua mulher e filhos numa confortável residência num bairro nobre da capital paulista.
Ciente da situação e ciente que não seria simples, Wiesenthal iniciou manobras para levá-lo a julgamento na
Europa.
O Brasil estava conflagrado. Os militares vinham de tomar o poder. Certa euforia tomava conta das principais
capitais. Perseguições políticas, ideológicas e físicas multiplicavam-se por todas as partes. Deixando apreensivas as
comunidades de estrangeiros. Sobretudo as alemãs e alemãs nostálgicas do Reich. Que seguiam atônicas com o
andamento dos fatos. Sendo contrárias ao modelo cubano e ao modelo norte-americano. Levando Wiesenthal a
redobrar a prudência. Esperando em silêncio a composição de alguma estabilidade no Brasil. Sobretudo no campo
jurídico.
Essencialmente no plano burocrático. Com a designação de novas autoridades. Juízes, promotores, delegados,
investigadores. Para se sondar a melhor forma de interditar Stangl.
Outro movimento imprevisto ocorreu em Berlim naquele mesmo ano de 1964. No mês de outubro. Quando – na
senda do processo de Eichmann, em Jerusalém – teve início o julgamento de dez ex-SS acusados de crimes de
guerra e de crimes contra a humanidade. Frente a isso, Wiesenthal deslocou a sua atenção de Brasília e São Paulo
para Berlim. Onde percebeu, de saída, que Stangl não constava de nenhum dos processos. Evidenciando que a sua
participação na guerra era ignorada. O que para Wiesenthal beirava a ignomínia.
Diante disso, Wiesenthal voltou aos arquivos e começou a produzir um dossiê detalhado sobre a atuação de Stangl
pelo Reich. Tão logo constituído, esse dossiê seria decisivo na sensibilização das autoridades brasileiras. Que
tomariam conhecimento do assunto entre 1967 e encarregariam o delegado Romeu Tuma (1931-2010) de
investigar, prender e proceder os encaminhamentos para a extradição de Stangl.
Conduzido para julgamento em Düsseldorf, Stangl manteve a altivez de um alto funcionário do Reich e seguiu o
exemplo de Eichmann ao afirmar-se um “simples cumpridor de ordens”. Foi assim pelos mais de dois anos de
julgamento. Que terminou no dia 22 de dezembro de 1970. Com o veredito indicando a sua prisão perpétua pelo
assassinato de pelo menos 900 mil pessoas em campos de concentração nazistas.
Tudo parecia encerrado. Wiesenthal – que esteve na audiência final em Düsseldorf – respirava aliviado. Vestido da
sensação de missão cumprida. Mais um criminoso nazista na cadeia.
Mas novos imponderáveis voltaram a emergir.
Quatro meses após o fechamento do caso Stangel, Stangl aceitou conceder entrevista a Ghita Sireni (1921-2012) –
austríaca, intelectual, historiadora e jornalista em busca das razões das barbaridades do Reich. Nessa conversa,
Stangl recontou a sua vida promovendo acerto de contas consigo mesmo. Lembrando do passado, de Hitler, do
Reich, dos amigos, da causa. Mas também ressentindo de sua família fixada no Brasil. Já era do conhecimento de
todos que o delator de seu paradeiro em São Paulo fora um antigo genro seu. Um rapaz de meia idade que, após
divorciar-se litigiosamente de uma de suas filhas, cego de raiva e rancor, fora bater às portas de Wiesenthal. Sabia-
se também que sua mulher e filhas eram perseguidas em todas as partes. Mesmo sob o amparo das comunidades
alemãs em São Paulo. Stangl sentia-se impotente. Arruinado. Exangue. Perto do fim da partida. O que o levou – por
lapso ou por razão – a mencionar que o seu discípulo, Gustav Franz Wagner, estava vivo e bem vivo. Vivendo
confortavelmente no Brasil.
Essa informação tornou-se logo pública. Estarrecendo o mundo inteiro. Trazendo ao Brasil e a São Paulo a imagem
de refúgio de nazistas. Colocando Wiesenthal na senda de Wagner. Voltando, assim, novamente, a focar no Brasil.
Novamente em São Paulo. Mas, agora, sem endereço nem pistas precisas.
Após muito investigar, foi encontrada uma cópia do passaporte que Wagner utilizara ao ingressar no Brasil em 1950
e nela figurava um endereço. Que, por claro, não servia mais.
As investigações se sucediam.
O tempo ia passando e o desânimo, chegando.
Passou-se, assim, a suspeitar que Wagner estivesse em fuga. Em outra cidade ou país. Quem sabe, até morto.
O que levou Wiesenthal a reduzir as esperanças.
Até que a sorte bateu novamente às portas da justiça.
Era mais um dia corriqueiro de trabalhos triviais na redação do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, quando chegou
um material – a ser publicado como classificado; portanto, matéria patrocinada – contendo um convite para a
celebração do nonagésimo aniversário de Hitler num hotel em Itatiaia. Poderia ser broma, gozação ou similar. Mas
poderia não ser. Por via das dúvidas, o responsável do setor no jornal despachou a jornalista Cyntia Brito para
averiguar. E ela foi e encontrou o local. Itatiaia, interior do Rio de Janeiro, Hotel Till. Um local tipicamente alemão.
Onde, sim, convivas alemães nostálgicos do nazismo festejavam.
Era inverossímil e inimaginável. Mas era real.
Para atestar, Cyntia Brito registrou várias fotos – de ambientes decorados com suásticas e de pessoas trajadas em
alemães de antanho homenageando o Reich –, produziu um relato e encaminhou para o jornal.
Tão logo publicado, sob a headline de Nazismo como nos velhos tempos, a matéria escandalizou o mundo inteiro.
Levando Wiesenthal, em pessoa, a ligar para a redação do Jornal do Brasil solicitando mais informações e a
integralidade das fotos. Que foram, urgentemente, encaminhadas para Viena. Onde Wiesenthal observou, cotejou e
se frustrou. Wagner não constava em nenhuma delas. Os convivas alemães de Itatiaia eram aparentemente gente
do comum. Simplórios nostálgicos do Reich. Anônimos. Sem maiores implicações. Mas significativos da presença
fervorosa de nazistas no Brasil.
O foco de Wiesenthal era Wagner. Wagner não esteve em Itatiaia. Mas Wiesenthal pressentiu que ele estava, sim,
vivo e, sim, no Brasil. Sendo, assim, importante avivar-se as investigações sobre o seu paradeiro.
Nesse sentido, entre as fotos de Itatiaia, ele apanhou uma cujo fotografado mais se assemelhava a Wagner,
inscreveu o número da matrícula da SS de Wagner no verso, compôs um relato de seus crimes em Sobibor,
mandou traduzir para o português e enviou para publicar no Jornal do Brasil.
Ainda era o mês de abril e ainda do ano de 1978.
O estarrecimento geral continuou. O proprietário do hotel de Itatiaia foi hostilizado e o alemão indicado como
Wagner, assassinado. O clima ficou pesado para alemães e para alemães nazistas no Brasil. Levando o legítimo
Gustav Franz Wagner a aparecer e apresentar-se.
Foi em fins de maio. Ainda em 1978. Numa delegacia de Atibaia. Foi lá que a “besta de Sobibor” apareceu e se
apresentou. E o fez para dizer que era, sim, Gustav Franz Wagner, mas, em contrário, que não tinha nada que ver
com o relato de Wiesenthal no Jornal do Brasil. Tanto que, seguia ele, a foto estampada no jornal era de outra
pessoa, não ele. Promovendo-se, assim, seguia ele, uma exposição indevida de seu nome. Colocando-o em perigo.
Ele queria, assim, proteção. Acreditava-se perseguido.
Mas o delegado decidiu encaminhá-lo ao 3º Batalhão de Polícia de Choque, da Polícia Militar do Estado de São
Paulo, na cidade de São Paulo, para procedimentos mais definitivos. Que, de súbito, tornaram-se nacionais e
mundiais.
Tão logo noticiada a sua aparição e presença, rumores emergiram de todas as partes indicando ser ele, ele mesmo.
Nesse ínterim, apareceu um sobrevivente de Sobibor. Stanislaw Szmajzner (1927-1989). Para dizer que sim: ele,
Wagner, era ele mesmo: Gustav Franz Wagner.
Stanislaw Szmajzner era um judeu que fora levado para Sobibor em 1942. Onde perdeu sua família, pais e irmãos,
exterminados pelas mãos de Wagner. Tendo sido poupado devido a sua qualidade de ourives, ofício muito útil ao
Reich. E, em seguida, pela sua participação na insurreição de 1943. Finda a guerra, ele migrou para o Brasil em
1947. Veio para o Rio de Janeiro. Contraiu matrimônio. Fez família. Teve filhos. Separou-se. Foi para Goiânia. Onde
esperava terminar seus dias feliz. Até que soube da prisão de Stangl em São Paulo em 1967 e, agora, da aparição
de Wagner em 1978.
Sim: Wagner era Wagner.
Atestou Stanislaw e atestaram tantos outros.
O mundo inteiro, agora, sabia quem era a “besta” e onde era o seu paradeiro. Wiesenthal, nisso, encaminhou
dossiês alentados sobre os seus crimes para os grandes jornais do mundo inteiro.
Nesses termos, Áustria, Polônia, Israel e Alemanha solicitaram a sua imediata extradição. Mas ele foi levado preso
de São Paulo para Brasília, onde seria julgado e absolvido pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro, que considerou
seus crimes todos prescritos.
Mas de que adiantava a liberdade com tanta gente querendo a sua morte?
O saudoso Carlos Heitor Cony (1926-2018), pela Manchete, foi à prisão de Brasília perguntar isso ao Wagner.
Wagner hesitou em responder. Seguindo, assim, no dilema.
Um dilema que o consumiu pelos seus últimos meses de vida. Levando-o a alucinações, manias de perseguição e
instabilidades mentais e emocionais permanentes. Que, ao cabo, impuseram-no a decisão de suicidar-se. Um
suicídio tentado várias vezes. Tendo êxito em Atibaia, naquele 3 de outubro de 1980.
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Editorial 18/06/24 – Cultural FM – www.culturalfm875.com
O Poder dividido
O Presidente Lula acompanhou com preocupação os 13 vetos do
Congresso Nacional que acabam devolvendo ao Executivo a
obrigação de mais gastos, dentre eles o que representará um
aumento nas contas de energia dos consumidores. Reintroduziu
também mais isenções sobre o Agro na Reforma Tributária que
deverá entrar em vigor no próximo ano. Outros 27 vetos ficaram para
análise no segundo semestre. O comportamento dos parlamento
neste e em outros processos empalidece, cada vez mais, o
Presidencialismo, vez que retira do Poder Executivo capacidade
orçamentária para gerenciar contas do Estado, avaliar políticas
publicas e definir rumos do processo de desenvolvimento do país. O
maior relevo do Poder Legislativo é sempre saudado com positivo no
aprofundamento da democracia. Tal relevo, porém, não deve
comprometer a capacidade do Poder Executivo cumprir o programa
para o qual foi eleito em eleições majoritárias. Os deputados e
senadores, fazendo coro com a imprensa e entidades empresariais,
alegam que devem ser rigorosos no controle das contas
governamentais, mas a cada passo, introduzem mais compromissos
financeiros sobre o Orçamento. Isso é um contra senso, que caminha
para um impasse. Ou assumimos o PARLAMENTARISMO, no qual o
Congresso é responsável pelo Executivo, ou voltamos ao
PRESIDENCIALISMO, por duas vezes preferido pelo eleitorado
nacional através plebiscito. O problema não está, como alguns
apontam no estilo tradicional de Lula que tentaria retornar aos
tempos do Lula I e Lula II. Claro que tudo mudou e o Legislativo
relevou seu protagonismo no processo político. Mas isso não pode
subverter as regras estabelecidas para o bom funcionamento da
República. No fundo, parece que a atitude do Congresso tem dois
sentidos: um, de colocar o Executivo contra a parede para liberar as
Emendas Parlamentares, as quais, além de cada vez maiores, se
oferecem como campo de malversação de recursos públicos e de
impedimento à avaliação de seus resultados; outro, de insistir no
desvio de funções legislativas do CONGRESSO transformando-o num
puxadinho de Prefeituras que ensejam a montagem de um ANEL de
interesses que podem dificultar a renovação tanto nas Prefeituras,
como no próprio Congresso. O resultado disso tudo parece se traduzir
nas pesquisas de Opinião cada vez menos favoráveis ao Governo e ao
próprio Lula, mais como resultado da camisa de força que o imobiliza.
Anexo:
O velho patrimonialismo preside as decisões fiscais do Congresso – Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense - Parlamentares têm poder para mexer no Orçamento e corrigir o que
tanto criticam, mas precisam cortar na própria carne e ser mais responsáveis em relação a
isenções e privilégios
Inicialmente, um corte linear de 2% em todas as despesas da União faria um bem danado ao
equilíbrio fiscal e à harmonia entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Resolveria o
problema do deficit fiscal de forma categórica e possibilitaria a redução acelerada da taxa de
juros, bem como da expansão da dívida pública, e ainda permitiria algum investimento, graças
ao entendimento de que os Três Poderes precisam cortar na própria carne.
O Congresso reverteria toda a expectativa negativa em relação às contas públicas, que projetam
um deficit primário de R$ 64,2 bilhões para este ano, segundo a Instituição Fiscal Independente
(IFI), mantida pelo Senado. Para 2026, a instituição avalia que as contas públicas poderão ter
um resultado ainda pior, com um deficit primário estimado em R$ 128 bilhões. O governo
precisará de pelo menos R$ 72 bilhões para tentar fechar 2026 dentro da meta (superavit de
0,25% do PIB).
CONTINUAR LEITURA
Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 08:53:00 Nenhum comentário:
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Editorial Cultural FM Torres RS - www.culturalfm875.com – 17 junho
A GUERRA ISRAEL X IRÃ
O conflito aberto entre Israel e Irã, cujo início se deu com um severo ataque dos israelenses no dia 13
último – 13.VI/2025 – se insere em dois processos: O primeiro, de caráter histórico, com a criação pelas
Nações Unidas do Estado Israel na Palestina, num território de maciça presença de palestinos. Dali foram
sumariamente expulsos, abrindo um contencioso com todo o mundo árabe que reagiu, foi à guerra, mas
acabou derrotado. O novo Estado de Israel mostrou-se militarmente vigoroso e decidido a levar a cabo
um política de expansão colonial sobre a região. Os palestinos acabaram confinados na Cisjordânia, hoje
sob controle do grupo oriundo da liderança de e na Faixa de Gaza, sob controle do Hamas. A longa luta
dos palestinos pelos seus direitos à organização de um Estado próprio, negado por Israel, projetou-se em
toda a região e vinha sendo fortemente defendida pelo Irã, antiga Pérsia, não árabe, o qual, desde 1979,
se encontra sob tutela dos ayatolás muçulmanos xiitas. O segundo processo, ligado ao ataque recente de
Israel, se situa em dois contextos, um interno, pelo relevo da extrema direita em Israel, empenhada em
varrer os palestinos da região, cujo episódio mais odioso vem sendo levado a cabo no bombardeio
indiscriminado sobre Gaza, que já matou mais de 50 mil pessoas, e colonização da Cisjordania por
colonos judeus, muitos deles religiosos radicais; outro, externo, marcado pela crise da ONU com
mecanismo de efetivação do Direito Internacional em escala global e que é incapaz de evitar intervenções
armadas, agressivas, de países mais fortes sobre mais fracos, processo inaugurado pelo Governo Busch,
depois dos atentados ás Torres Gemeas em N.Y. em 2011 e que acabou arrastando o exército americano
para as aventuras sobre o Iraque e Afeganistão. Mais recentemente, a Rússia avançou nesta iniciativa,
com a OPERAÇÃO ESPECIAL de ocupação da Ucrânia, em 2022, numa guerra cruel que já se arrasta
por mais de 3 anos. Trata-se de um colapso nas regras de convivência internacional com base no fato
consumado. Os fortes praticam, os mais fracos, padecem, isso sem entrar no mérito dos antecedentes de
cada caso. Israel, agora, assumiu a mesma posição ofensiva, na suposta defesa de sua segurança
EXISTENCIAL. Dotado de inequívoca superioridade militar na região vem se impondo de uma forma cada
vez mais insinuante. Já havia feito isso, principalmente sobre o Líbano. Agora avançou sobre Síria,
contribuindo para a liquidação do região de Al Assad, sobre Gaza e sobre o Irã. A matéria é complexa,
exige cuidado e aprofundamento em seu estudo. Daí a reprodução que trazemos, abaixo, de posts e
artigos que ajudam a melhor compreendê-la.
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O QUE O VOCÊ SABE SOBRE O IRÃ ? Marino Boeira, FB 16 JUNHO
Muitos dos que condenavam o genocídio dos palestinos por parte do estado racista e colonialista
de Israel, se omitiram na condenação da agressão ao Irã ou como fez de forma surpreendente meu
amigo Milton Ribeiro criticaram os que estariam defendendo a teocracia iraniana. Um pequeno
passeio pela História ajuda a entender quem é esse povo agora bombardeado covardemente pelos
sionistas. O Irã de hoje é a antiga Pérsia, onde se desenvolveu uma das culturas mais antigas do
mundo, existente há mais de 600 anos antes de Cristo. Em 550 AC, Ciro o Grande fundou um dos
maiores impérios da antiguidade, o chamado Império Aquemênida. Na era atual, já com a
denominação de Irã, o país se torna uma monarquia constitucional governada pela dinastia Cajar e
vai ser palco de uma grande disputa pelas imensas reservas de petróleo, envolvendo a União
Soviética, Reino Unido e Estados Unidos. Eleito em 1951 como primeiro ministro Moahmmed
Mossadegh vai promover a nacionalização do petróleo iraniano. Dois anos depois será derrubado
por um golpe de estado patrocinado por ingleses e americanos e o poder passa todo para o xá
Mohammad Reza Pahlevi, que vai reinar de forma ditatorial. Enquanto seu povo é oprimido e sua
polícia secreta, a SAVAK se torna famosa pelos seus métodos de tortura, o Xá é figura de
destaque nas revistas da moda do mundo inteiro porque sua mulher, a princesa Soraya, não pode
lhe dar um filho para herdar o trono. Durante todo esse tempo a maior resistência ao ditador vinha
dos clérigos xiitas no exílio, comandados por Ruhollah Khomeini. Em 1979 ele volta a Teerã em
meio a um movimento revolucionário para criar uma República Islâmica , enquanto o Xá fugia para
os Estados Unidos. Lamentavelmente, o Irã ainda continua sendo uma teocracia, assim como o
Vaticano, mas de qualquer forma bem melhor que a antiga monarquia do Xá.
Marcelo Zero: Alguns esclarecimentos sobre a questão do Irã
14/06/2025 - 18:12 Tempo de leitura Marcelo Zero: Alguns esclarecimentos sobre
a questão do Irã - Viomundo
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O regime atual do Irã é chefiado pelo presidente Masoud Pezeshkian e pelo aiatolá
Ali Khamenei Foto: Reprodução X/ Pezeshkian
Alguns Esclarecimentos Sobre a Questão do Irã
Por Marcelo Zero*
O programa nuclear do Irã, que tem abrigo jurídico no TNP, foi criado ainda na década de 1950, mediante
acordo entre os EUA e o Xá do Irã, no âmbito do projeto “Átomos Para a Paz”, de Eisenhower.
Antes de tudo, é preciso afirmar que qualquer país signatário do TNP, tal como o Irã, tem o direito de ter
um programa nuclear para fins pacíficos e de enriquecer urânio, como o Brasil faz.
Isso está previsto explícita e claramente no TNP:5
Artigo IV:
1. Nenhuma disposição deste Tratado será interpretada como afetando o direito inalienável de todas as
Partes do Tratado de desenvolverem a pesquisa, a produção e a utilização da energia nuclear para fins
pacíficos, sem discriminação, e de conformidade com os artigos I e II deste Tratado.
2. Todas as partes deste Tratado comprometem-se a facilitar o mais amplo intercâmbio possível de
equipamento, materiais e informação científica e tecnológica sobre a utilização pacífica da energia
nuclear e dele tem o direito de participar. As partes do Tratado em condições de o fazerem deverão
também cooperar – isoladamente ou juntamente com outros Estados ou Organizações Internacionais –
com vistas a contribuir para o desenvolvimento crescente das aplicações da energia nuclear para fins
pacíficos, especialmente nos territórios dos Estados não-nuclearmente armados, Partes do Tratado, com
a devida consideração pelas necessidades das regiões do mundo em desenvolvimento.
Os governos iranianos, desde a época do Xá, ditador brutal, queridinho do Ocidente, investiram bilhões
de dólares em seu programa nuclear, que sempre teve como principal objetivo prover o Irã de energia
elétrica, para poder exportar mais petróleo e desenvolver pesquisas médicas.
É evidente que o Irã não vai desistir de um programa nuclear que já tem mais meio século e no qual
foram investidos bilhões dólares. É óbvio também que o Irã vai opor feroz resistência a renunciar
inteiramente ao enriquecimento de urânio, algo que não é vedado pelo TNP.
É preciso que se entenda que o programa nuclear iraniano tem grande apoio da opinião pública interna.
Trata-se um programa que, como já salientado, foi iniciado ainda na década de 1950, no regime do Xá
Reza Pahlevi, com o apoio decidido dos EUA.
O primeiro reator nuclear iraniano, inteiramente construído pelos EUA, começou a operar em 1967, com
urânio medianamente enriquecido (urânio enriquecido a cerca de 20%). Posteriormente, o Xá firmou um
acordo para que os EUA construíssem no Irã 23 usinas nucleares até 2000.
Outras potências se juntaram a esse esforço. A Alemanha firmou, em 1975, acordo com Teerã para a
construção de duas grandes centrais nucleares baseadas em água pressurizada, um investimento de
US$ 6 bilhões.
A França criou com o Irã a Sofidif (Société franco–iranienne pour l’enrichissement de l’uranium par
diffusion gazeuse), mediante um investimento de US$ 1 bilhão. Com a sociedade criada, o Irã teria o
direito de usar 10% do urânio enriquecido produzido.
Mas não ficou só nisso. Em 1976, os EUA ofereceram ao Irã uma usina de reprocessamento de material
radioativo, que permitiria aos iranianos o domínio de todo o ciclo nuclear e a fabricação de
plutônio, material com o qual se pode construir uma bomba atômica.
O objetivo manifesto do programa nuclear iraniano da época era, como afirmamos, gerar energia a partir
do uso de urânio, de modo a permitir que o Irã exportasse grandes excedentes de petróleo e produtos
petroquímicos. O Xá, líder de um país rico em petróleo, virou garoto-propaganda da indústria nuclear
internacional.
Evidentemente, os EUA, com todas essas ofertas, estavam, inclusive, começando a criar as condições
para um possível armamento nuclear do Irã, na época grande aliado dos norte-americanos no Oriente
Médio, região historicamente conturbada e instável.
Relatório da CIA de 1974, já “desclassificado”, indicava claramente essa possibilidade. Segundo o
relatório, se o Xá ainda estivesse vivo em meados da década de 1980, e se outros países da região se
armassem (notadamente a Índia, como de fato aconteceu) o Irã, “sem dúvida”, seguiria o mesmo
caminho. Entretanto, isso não parecia inquietar muito Washington.
Tudo mudou, evidentemente, com a queda do regime de Reza Pahlevi. Todos os acordos e contratos
foram cancelados ou revistos, mesmo sendo instrumentos jurídicos de Estados, e não de governos.
Em alguns casos, o dinheiro dos investimentos iranianos sequer foi totalmente devolvido, como
aconteceu com a sociedade francês-iraniana para o enriquecimento de urânio.
Os reatores que estavam sendo construídos pela Alemanha tiveram de ser abandonados e os EUA
pararam de fornecer urânio para o reator operante desde 1967.
Obviamente, essa forte inflexão política provocou intensa desconfiança dos iranianos, em relação às
grandes potências ocidentais.
Eles consideram que não podem confiar nesses países como fornecedores de combustível para seus
reatores. Por isso, resistem à ideia de simplesmente renunciar ao enriquecimento de urânio.
Volte-se a frisar o TNP não proíbe o enriquecimento de urânio. O Brasil, por exemplo, já enriquece urânio
a 20%.
Já sob o regime islâmico, o Irã voltou a investir em seu programa nuclear, mediante esforço próprio e
ajuda moderada de países como Paquistão.
Desde então, o programa nuclear iraniano, antes tão estimulado pelo Ocidente, passou a ser
demonizado, especialmente por Israel (que já tem armas atômicas) e pelos EUA.
Justiça seja feita, apesar das inúmeras sanções impostas pelos EUA e outros países, o Irã tentou
diversos acordos com o Ocidente para resolver a questão.
Pois bem, o Brasil e a Turquia, com o apoio explícito das grandes potências, inclusive dos EUA, como
comprovava cabalmente a carta enviada ao presidente Lula por Obama, chegaram, em 2010, a um
acordo com Teerã, plasmado na hoje famosa “Declaração de Teerã”.
Esse acordo conseguido pelo Brasil era praticamente idêntico ao acordo que tinha sido tentado meses
antes, sem sucesso, pelos EUA, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), a França, a Rússia
e a Alemanha.
Naquela ocasião, por motivos políticos internos do regime iraniano e pela desconfiança entre as Partes, o
acordo não frutificou.
É que o governo dos EUA anunciou que, com o acordo, o Irã renunciava ao enriquecimento de urânio,
como tenta fazer agora.
A oposição iraniana protestou. O grande rival do então presidente Ahmadinejad, Hossein Mousavi,
perdedor da eleição de 2009 e queridinho da mídia ocidental, foi quem mais se opôs ao acordo.
Tal acordo previa o envio de 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido iraniano (cerca de 60% do
total disponível) para o exterior, e tinha dois efeitos imediatos: a) impossibilitava a construção de qualquer
artefato nuclear por parte do Irã, pois para isso seria necessário enriquecer a mais de 90% cerca de
2.500 quilos de urânio levemente enriquecido, sendo que os iranianos ficariam com apenas cerca de 800
quilos, e b) abria as portas para uma cooperação pacífica entre o Irã e as potências ocidentais.
Por isso mesmo, o acordo foi bem recebido por quem entendia do assunto. El Baradei, ex-diretor da
AIEA, uma das maiores autoridades mundiais no tema, deu pleno apoio ao acordo.
A maior parte dos países também. Aliás, se houvesse uma votação na Assembleia das Nações Unidas
sobre o acordo, Brasil e Turquia seriam aclamados. Diga-se de passagem, a própria Resolução do
Conselho de Segurança que impôs, pouco depois, novas sanções ao Irã, em virtude do bombardeio do
acordo por parte dos EUA, elogiava o entendimento conseguido por Brasil e Turquia e o considerava uma
importante medida para a “construção de confiança”.
O próprio Comandante-em-Chefe da OTAN na EUROPA, general James Stavridis, afirmou, na época,
que o acordo era um exemplo do que todos buscávamos, um sistema diplomático que visasse um “bom
comportamento” por parte do regime iraniano.
Gary Sick, que foi membro do Conselho de Segurança Nacional dos EUA durante uma década,
considerado um dos maiores especialistas norte-americanos em Irã, afirmou que “ter o Brasil e a Turquia
trabalhando ativamente para desenvolver uma nova abordagem da questão iraniana era uma enorme
vantagem para os EUA”.
Essa ação, segundo Gary Sick, tinha “valor incalculável para progressos futuros”. Com o malogro do
acordo em razão da oposição dos EUA, Gary Sick lamentou que essa “grande oportunidade tivesse sido
perdida”.
As principais razões para que os EUA tivessem inviabilizado o grande acordo conseguido pelo Brasil e
articulado novas sanções contra o Irã, dificultando muito a continuidade das negociações, eram duas.
A primeira tangia ao fato de que o acordo (que eles tanto haviam procurado) foi conseguido por duas
potências médias (Brasil e Turquia), sem histórico de intervenção no assunto.
Assim, o acordo turco-brasileiro retirou protagonismo dos EUA (e das outras grandes potências) numa
região estrategicamente sensível. Eles ficaram melindrados com o êxito alheio e receosos quanto a
manter o controle absoluto do processo de negociação.
A segunda, e mais preocupante, dizia respeito ao fato de que o Departamento de Estado norte-americano
estava dividido quanto ao que fazer com o Irã.
Havia uma forte vertente, aparentemente hegemônica, que preferia apostar na desestabilização do
regime iraniano. Por isso, a preferência pelas sanções, pela manutenção de uma pressão contínua
e pelo crescente isolamento de Teerã.
Como já tinha acontecido no Iraque, o “desarmamento” seria usado como elemento essencial
nesse processo. A política interna também pesava: a “demonização” do Irã tornava populares medidas
de força contra esse país.
Todo esse cínico cálculo político mudou um pouco com a eclosão do Estado Islâmico, grupo que havia
sido financiado e incentivado pelos EUA, e com o grande recrudescimento do terrorismo
fundamentalista sunita no Oriente Médio, especialmente no Iraque e na Síria.
O Irã, de maioria xiita, é inimigo mortal desse terrorismo sunita (tanto da Al-Qaeda, quanto do Estado
Islâmico), que chegou a representar a maior ameaça aos interesses ocidentais no Grande Oriente Médio.
Assim, em 2015, o Irã passou a ser visto como um possível aliado tático para a estabilização daquela
região. O acordo que fez Obama naquele ano resultou dessas mudanças geopolíticas. Não resultou das
sanções e das pressões.
Esse plano chama-se Plano de Ação Conjunto Global (em inglês: Joint Comprehensive Plane of Action –
JCPOA) e foi negociado pelos EUA, a União Europeia, a Rússia, a China, a Alemanha, a França e Reino
Unido.
Mas, apesar de alguns poucos progressos feitos, Trump resolveu, em 2018, sair do acordo, e tudo votou
à estaca zero, especialmente após o assassinato de Suleimani.
Os EUA voltaram a fazer o máximo de pressão e a impor sanções draconianas contra o Irã.
Hoje, a desconfiança é muito grande. Diplomatas de Teerã e o chefe do programa nuclear iraniano,
Mohammad Eslami, criticaram a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e seu diretor, Rafael
Grossi, por se recusarem a condenar veementemente as repetidas ameaças israelenses e os ataques
noturnos de sexta-feira. Eles disseram que a agência nuclear global, que aprovou sua mais forte
resolução de censura contra o Irã em quase duas décadas na quinta-feira, tornou-se uma “ferramenta” de
pressão por parte de Israel e seus aliados ocidentais.
O fato é que nem Israel e nem os EUA querem acordo nenhum com o Irã. Usam do programa nuclear do
Irã, assim como usaram do suposto programa de “armas químicas” do Iraque, para impor “pressão
máxima” sobre Teerã.
Querem, na realidade, a mudança do regime político do Irã. Acham que o aumento da pressão e os
ataques vão provocar a queda do regime dos aiatolás. As instalações nucleares iranianas, como a
de Natanz, estão fora do alcance das bombas israelenses. O real objetivo dos bombardeios é levar
pânico à população e induzir mudanças políticas internas.
Isso é ridículo. O Irã tem 5 mil anos civilização e não vai, é claro, apoiar um regime pró-EUA e pró-Israel,
depois de tudo o que aconteceu. O regime atual do Irã, chefiado por Masoud Pezeshkian e pelo aiatolá
Khamenei é bastante moderado. Mas achar que os bombardeios e as agressões vão levar a população
iraniana a se “rebelar contra o regime” é o cúmulo da estupidez. Isso é fruto de muita ignorância.
Ocorrerá, provavelmente, o contrário, como aconteceu, no caso da Rússia. A guerra na Ucrânia só
aumentou a solidariedade interna e fortaleceu Putin.
Essa questão do programa nuclear iraniano poderia já estar resolvida desde 2010, com a iniciativa
brasileira.
A questão é que não querem resolver, assim como não deixaram o nosso embaixador Bustani resolver a
fictícia questão das armas químicas do Iraque.
A coisa tende a ficar feia, caso Israel insista na guerra, a qual não poderá ser, evidentemente, uma guerra
de ocupação. O Irã não é Gaza.
Os EUA, embora finjam não apoiar a guerra que se inicia, vão apoiar Netanyahu em tudo que precisar.
Mas uma civilização de 5 mil anos não se extinguirá em alguns dias. O Irã já demonstrou ter resiliência
extrema.
É mais fácil Trump e Netanyahu caírem.
*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.
Ricardo Queiroz FB 16 junho 25
Em janeiro de 2025, a New Left Review publicou um texto extenso e meticuloso de
Tariq Ali: Terras Conquistadas (Conquered Lands). O que ele faz ali não é exatamente
uma denúncia — é um mapeamento de guerra. Um mapa sujo, rabiscado a sangue,
feito de tratados, pactos e alianças nas costas dos povos que sangram. Cada guerra,
cada tratado, cada rearranjo territorial aparece como parte de uma engrenagem que
não para de girar. Girando sempre na mesma direção: contra qualquer forma de
soberania árabe ou muçulmana que não se ajoelhe diante do mercado, da doutrina
estratégica e das armas do Ocidente.
O artigo parte da derrota do Império Otomano e acompanha a sequência de cirurgias
imperiais feitas no corpo da região — primeiro por britânicos e franceses, depois por
norte-americanos. Um século depois, o corte ainda está aberto. O que se vê hoje, com
Gaza transformada em ruína ao vivo, é simplesmente a consequência mais visível
daquilo que foi meticulosamente instalado desde o início do século XX.
Mas antes de Gaza, antes de Oslo, antes mesmo das imagens de 1967 e das fotos em
preto e branco da Nakba de 1948, há uma palavra: mapa.
A expressão “Oriente Médio” não é geografia, é uma invenção pusilânime. Nasceu nos
gabinetes de oficiais britânicos, franceses norte-americanos como categoria
estratégica para nomear uma zona de vigilância, contenção e, se preciso, aniquilação.
Não se trata de uma região com coerência interna, mas de um espaço desenhado
conforme os olhos e os interesses imperiais. Um nome funcional, conveniente, neutro
apenas na aparência — uma ficção com consequências muito concretas.
Ao final da Primeira Guerra, com o Império Otomano em ruínas, o espólio foi repartido
entre cavalheiros com gravata e uniformes militares. O Acordo Sykes-Picot, assinado
antes mesmo da paz, já estabelecia a lógica do loteamento: aqui fica com a França, ali
com a Grã-Bretanha. O que havia — cidades, tribos, línguas, tradições, convivências
— virou obstáculo técnico. Daí em diante, tudo pôde ser desenhado: países,
monarquias, minorias convenientes e religiões de estimação.
O Iraque nasceu como um Frankenstein colonial, com xiitas, sunitas e curdos
costurados sob um trono emprestado à monarquia hachemita. O Líbano virou uma
bomba-relógio sectária criada por engenheiros franceses para manter cristãos
maronitas no comando e o resto do povo na fila. A Arábia Saudita foi concebida como
peça-chave do tabuleiro — um pacto selado em 1945, a bordo do USS Quincy, entre
Roosevelt e Ibn Saud, garantiu à monarquia wahhabita proteção militar em troca de
petróleo barato e alinhamento absoluto. Desde então, a dinastia Saud administra
repressão, doutrina religiosa e veto político com selo de aprovação ocidental. Os
pequenos emirados do Golfo, por sua vez, foram moldados como postos de
abastecimento e logística — refinarias cercadas de shopping centers.
Tariq Ali não adorna o diagnóstico e nem usa meio termo. Os países não foram feitos
para durar, nem para se desenvolver. Foram feitos para conter. E para conter melhor,
deviam ser frágeis, dependentes, fraturados por dentro. Quando algum escapou desse
molde — como o Egito de Nasser, o Irã de Mossadegh, a Síria antes da guerra —, o
castigo veio rápido: sabotagem, golpe, bombardeio, embargo, guerra por procuração.
As poucas tentativas de soberania popular que surgiram na região foram esmagadas
com método. O Egito de Nasser, o Irã de Mossadegh, o Iraque do Baath — todos
foram neutralizados antes que amadurecessem como alternativa real. O nacionalismo
árabe, laico e popular, foi apresentado como ameaça à estabilidade. E eliminado como
tal. O que restou no lugar: ditaduras domesticadas, guerras intestinas e Estados
vigiados. Um manual de instruções que os impérios seguem à risca, sem pressa e
sem remorso.
O século XXI só aperfeiçoou a operação.
Iraque: desmontado com base em um PowerPoint do Pentágono.
Líbia: esmagada por uma coalizão que jurava defender direitos humanos com aviões
da OTAN.
Síria: transformada em laboratório para rebeldes terceirizados, drones e jornalistas
embedded.
Tudo em nome da democracia, claro. Ou da liberdade. Ou da estabilidade. O nome
muda, a lógica não.
É nesse cenário que se encaixa a tensão entre Israel e Irã. Não como uma anomalia,
mas como ponto focal de uma arquitetura muito bem montada. De um lado, Israel:
potência nuclear não declarada, blindada pelos Estados Unidos, com licença
permanente para bombardear qualquer um sob a desculpa de sempre. Do outro, o Irã:
um regime clerical, autoritário, cercado por sanções e sabotagens, mas com
capilaridade regional suficiente para incomodar quem se julga proprietário da ordem.
Israel diz que o Irã ameaça sua existência. Difícil conter o espanto. O país que de fato
tem ogivas, submarinos nucleares e apoio irrestrito de Washington — esse é o que
precisa se defender. E o Irã, que tenta manter alianças frágeis com vizinhos semi-
destruídos, é o inimigo existencial. É assim que se constrói a moral geopolítica:
chamando segurança aquilo que é supremacia.
Tariq Ali mostra como os EUA, ao invadirem o Iraque, acabaram fortalecendo o Irã ao
empoderar a maioria xiita. O que era para ser contenção virou catalisador. Desde
então, toda movimentação iraniana na região — no Líbano, no Iêmen, no Iraque — é
enquadrada como ameaça. E qualquer reação, mesmo a mais tímida, como
provocação intolerável.
E enquanto essa disputa se desenha no campo da intimidação diplomática, Gaza vira
o campo de testes. Israel testa armas, testa limites, testa o silêncio das nações e a
tolerância da opinião pública. E tem passado em todas as provas. Nenhuma
consequência. Nenhum recuo. Nenhuma ruptura. O Egito guarda a fronteira como
quem guarda segredo. A Jordânia balbucia lamentos. A Arábia Saudita gerencia
interesses. O Qatar se indigna, mas não rompe com nada.
E o Irã? Até outro dia observava, calculava, absorvia ataques e reagia dentro dos
limites que lhe restavam. Agora está no centro da guerra. Generais, cientistas e líderes
políticos vêm sendo sistematicamente eliminados — em casa e fora. Como em
Damasco: explosões cirúrgicas, sabotagens internas, divisão operada com bisturi. As
respostas continuam calibradas, quase didáticas — como se avisassem que podem
muito, mas ainda não. Porque sabem: o tabuleiro não é apenas militar. É político,
econômico, narrativo. E Gaza continua no centro da equação.
A estratégia é simples: manter a região sob tensão , impedir qualquer redistribuição
real de poder, garantir que nenhum país árabe ou muçulmano exerça soberania fora
dos trilhos. E para isso, vale tudo. Cerco, mentira, fome, massacre. O custo, como
sempre, é jogado no colo dos civis.
Ali sugere que, apesar da passividade dos Estados árabes, há uma raiva subterrânea
crescendo. As ruas se calaram, mas não esqueceram. Talvez não faltem revoltas —
falte escuta. Faltam palavras que escapem dos governos e voltem a pertencer aos
povos.
A história contada por Tariq Ali não quer explicar Gaza. Quer mostrar por que Gaza
sempre volta. Porque o mapa desenhado em 1916 nunca foi apagado. Ele apenas
mudou de formato. E hoje é sobreposto por outro mapa, feito de satélites, checkpoints,
cercas e algoritmos. Mas a lógica segue: controlar, dividir, castigar.
O que se vê em Gaza hoje não é uma tragédia nova. É o resultado de um script que
ninguém quis interromper. Um século de devastação cuidadosamente administrada. A
modernização da barbárie. A democracia liberal ocidental — tão incensada quanto
cúmplice — tem suas digitais cravadas nesse estado de coisas.”
Para quem anda espalhando islamofobia e clichês orientalistas nas redes —
chamando povos inteiros de bárbaros, rotulando religiões como ameaça ou reduzindo
uma região inteira a conflitos com povos bárbaros e fanáticos — recomendo a leitura
atenta do texto de Tariq Ali. Não vai limpar o preconceito, mas talvez exponha o
constrangimento de opinar com arrogância sobre mapas que não conhece, povos que
nunca ouviu, histórias que nunca estudou.
Link para o texto de Tariq Ali no primeiro comentário.
#GazaGenocide #GazaPalestine
Ricardo Queiroz
Em janeiro de 2025, a New Left Review publicou um texto extenso e meticuloso de Tariq Ali: Terras
Conquistadas (Conquered Lands). O que ele faz ali não é exatamente uma denúncia — é um
mapeamento de guerra. Um mapa sujo, rabiscado a sangue, feito de tratados, pactos e alianças nas
costas dos povos que sangram. Cada guerra, cada tratado, cada rearranjo territorial aparece como parte
de uma engrenagem que não para de girar. Girando sempre na mesma direção: contra qualquer forma de
soberania árabe ou muçulmana que não se ajoelhe diante do mercado, da doutrina estratégica e das
armas do Ocidente.
O artigo parte da derrota do Império Otomano e acompanha a sequência de cirurgias imperiais feitas no
corpo da região — primeiro por britânicos e franceses, depois por norte-americanos. Um século depois, o
corte ainda está aberto. O que se vê hoje, com Gaza transformada em ruína ao vivo, é simplesmente a
consequência mais visível daquilo que foi meticulosamente instalado desde o início do século XX.
Mas antes de Gaza, antes de Oslo, antes mesmo das imagens de 1967 e das fotos em preto e branco da
Nakba de 1948, há uma palavra: mapa.
A expressão “Oriente Médio” não é geografia, é uma invenção pusilânime. Nasceu nos gabinetes de
oficiais britânicos, franceses norte-americanos como categoria estratégica para nomear uma zona de
vigilância, contenção e, se preciso, aniquilação. Não se trata de uma região com coerência interna, mas
de um espaço desenhado conforme os olhos e os interesses imperiais. Um nome funcional, conveniente,
neutro apenas na aparência — uma ficção com consequências muito concretas.
Ao final da Primeira Guerra, com o Império Otomano em ruínas, o espólio foi repartido entre cavalheiros
com gravata e uniformes militares. O Acordo Sykes-Picot, assinado antes mesmo da paz, já estabelecia a
lógica do loteamento: aqui fica com a França, ali com a Grã-Bretanha. O que havia — cidades, tribos,
línguas, tradições, convivências — virou obstáculo técnico. Daí em diante, tudo pôde ser desenhado:
países, monarquias, minorias convenientes e religiões de estimação.
O Iraque nasceu como um Frankenstein colonial, com xiitas, sunitas e curdos costurados sob um trono
emprestado à monarquia hachemita. O Líbano virou uma bomba-relógio sectária criada por engenheiros
franceses para manter cristãos maronitas no comando e o resto do povo na fila. A Arábia Saudita foi
concebida como peça-chave do tabuleiro — um pacto selado em 1945, a bordo do USS Quincy, entre
Roosevelt e Ibn Saud, garantiu à monarquia wahhabita proteção militar em troca de petróleo barato e
alinhamento absoluto. Desde então, a dinastia Saud administra repressão, doutrina religiosa e veto
político com selo de aprovação ocidental. Os pequenos emirados do Golfo, por sua vez, foram moldados
como postos de abastecimento e logística — refinarias cercadas de shopping centers.
Tariq Ali não adorna o diagnóstico e nem usa meio termo. Os países não foram feitos para durar, nem
para se desenvolver. Foram feitos para conter. E para conter melhor, deviam ser frágeis, dependentes,
fraturados por dentro. Quando algum escapou desse molde — como o Egito de Nasser, o Irã de
Mossadegh, a Síria antes da guerra —, o castigo veio rápido: sabotagem, golpe, bombardeio, embargo,
guerra por procuração. As poucas tentativas de soberania popular que surgiram na região foram
esmagadas com método. O Egito de Nasser, o Irã de Mossadegh, o Iraque do Baath — todos foram
neutralizados antes que amadurecessem como alternativa real. O nacionalismo árabe, laico e popular, foi
apresentado como ameaça à estabilidade. E eliminado como tal. O que restou no lugar: ditaduras
domesticadas, guerras intestinas e Estados vigiados. Um manual de instruções que os impérios seguem
à risca, sem pressa e sem remorso.
O século XXI só aperfeiçoou a operação.
Iraque: desmontado com base em um PowerPoint do Pentágono.
Líbia: esmagada por uma coalizão que jurava defender direitos humanos com aviões da OTAN.
Síria: transformada em laboratório para rebeldes terceirizados, drones e jornalistas embedded.
Tudo em nome da democracia, claro. Ou da liberdade. Ou da estabilidade. O nome muda, a lógica não.
É nesse cenário que se encaixa a tensão entre Israel e Irã. Não como uma anomalia, mas como ponto
focal de uma arquitetura muito bem montada. De um lado, Israel: potência nuclear não declarada,
blindada pelos Estados Unidos, com licença permanente para bombardear qualquer um sob a desculpa
de sempre. Do outro, o Irã: um regime clerical, autoritário, cercado por sanções e sabotagens, mas com
capilaridade regional suficiente para incomodar quem se julga proprietário da ordem.
Israel diz que o Irã ameaça sua existência. Difícil conter o espanto. O país que de fato tem ogivas,
submarinos nucleares e apoio irrestrito de Washington — esse é o que precisa se defender. E o Irã, que
tenta manter alianças frágeis com vizinhos semi-destruídos, é o inimigo existencial. É assim que se
constrói a moral geopolítica: chamando segurança aquilo que é supremacia.
Tariq Ali mostra como os EUA, ao invadirem o Iraque, acabaram fortalecendo o Irã ao empoderar a
maioria xiita. O que era para ser contenção virou catalisador. Desde então, toda movimentação iraniana
na região — no Líbano, no Iêmen, no Iraque — é enquadrada como ameaça. E qualquer reação, mesmo
a mais tímida, como provocação intolerável.
E enquanto essa disputa se desenha no campo da intimidação diplomática, Gaza vira o campo de testes.
Israel testa armas, testa limites, testa o silêncio das nações e a tolerância da opinião pública. E tem
passado em todas as provas. Nenhuma consequência. Nenhum recuo. Nenhuma ruptura. O Egito guarda
a fronteira como quem guarda segredo. A Jordânia balbucia lamentos. A Arábia Saudita gerencia
interesses. O Qatar se indigna, mas não rompe com nada.
E o Irã? Até outro dia observava, calculava, absorvia ataques e reagia dentro dos limites que lhe
restavam. Agora está no centro da guerra. Generais, cientistas e líderes políticos vêm sendo
sistematicamente eliminados — em casa e fora. Como em Damasco: explosões cirúrgicas, sabotagens
internas, divisão operada com bisturi. As respostas continuam calibradas, quase didáticas — como se
avisassem que podem muito, mas ainda não. Porque sabem: o tabuleiro não é apenas militar. É político,
econômico, narrativo. E Gaza continua no centro da equação.
A estratégia é simples: manter a região sob tensão , impedir qualquer redistribuição real de poder,
garantir que nenhum país árabe ou muçulmano exerça soberania fora dos trilhos. E para isso, vale tudo.
Cerco, mentira, fome, massacre. O custo, como sempre, é jogado no colo dos civis.
Ali sugere que, apesar da passividade dos Estados árabes, há uma raiva subterrânea crescendo. As ruas
se calaram, mas não esqueceram. Talvez não faltem revoltas — falte escuta. Faltam palavras que
escapem dos governos e voltem a pertencer aos povos.
A história contada por Tariq Ali não quer explicar Gaza. Quer mostrar por que Gaza sempre volta. Porque
o mapa desenhado em 1916 nunca foi apagado. Ele apenas mudou de formato. E hoje é sobreposto por
outro mapa, feito de satélites, checkpoints, cercas e algoritmos. Mas a lógica segue: controlar, dividir,
castigar.
O que se vê em Gaza hoje não é uma tragédia nova. É o resultado de um script que ninguém quis
interromper. Um século de devastação cuidadosamente administrada. A modernização da barbárie. A
democracia liberal ocidental — tão incensada quanto cúmplice — tem suas digitais cravadas nesse
estado de coisas.”
Para quem anda espalhando islamofobia e clichês orientalistas nas redes — chamando povos inteiros de
bárbaros, rotulando religiões como ameaça ou reduzindo uma região inteira a conflitos com povos
bárbaros e fanáticos — recomendo a leitura atenta do texto de Tariq Ali. Não vai limpar o preconceito,
mas talvez exponha o constrangimento de opinar com arrogância sobre mapas que não conhece, povos
que nunca ouviu, histórias que nunca estudou.
Link para o texto de Tariq Ali no primeiro comentário.
#GazaGenocide #GazaPalestine-Tariq
Editorial CULTURAL FM -Torres RS – www.culturalfm875.com -13
junho
Pesquisas demonstram fase mais crítica da liderança de Lula
Duas pesquisas de Opinião foram, ontem, divulgadas: Datafolha e IPEC/IPSOS.
Ambas avaliam, tanto o Governo de Lula III, quanto sua margem de confiança e
são coincidentes em assinalar o que é a fase mais difícil na trajetória do Presidente
desde que assumiu, por vez primeira, o Governo em 2003. As entrevistas IPEC
com os eleitores foram feitas entre 5 de junho e a última terça-feira
(9). Foram ouvidos 2 mil eleitores em 132 cidades. Veja-se os
resultados:
PESQUISA IPEC , 12 junho
• Ruim ou péssimo: 41% (eram 34% em setembro);
• Regular: 30% (eram 30%);
• Ótimo ou bom: 27% (eram 34%);
• Não sabe/não respondeu: 1% (eram 2%).
Saiba mais:
• Ipsos-Ipec: 58% dos brasileiros não confiam no presidente Lula
• Ipsos-Ipec: 55% dos brasileiros desaprovam maneira como Lula
administra o país
• Quaest: 49% desaprovam trabalho de Lula, pela primeira vez o
índice é superior à aprovação
• Datafolha: 24% aprovam o governo Lula e 41% reprovam
A última pesquisa IPEC, divulgada em 13 de março, mostrou que 41%
avaliavam o governo Lula como ruim ou péssimo, uma alta em relação
ao levantamento anterior. Os que avaliavam com bom ou ótimo eram
27%, uma queda. A pesquisa de março também apontou que 58% dos
brasileiros não confiavam no presidente Lula (40% confiavam), e 55%
desaprovavam sua forma de governar (40% aprovavam).
Há quem não dê grande crédito às Pesquisas, mas, sabe-se que o
próprio governo também as faz, denominadas “tracking”, e que,
embora confidenciais, também apontariam para a perda de
popularidade de Lula III. Até teria havido, em abril, uma certa
recuperação, depois da substituição do responsável pela
comunicação, com o deslocamento de Paulo Pimenta. Os indicadores,
econômicos, enfim, são todos animadores, apesar do grande zumbido
em torno da crise fiscal, que nem é percebida pela população e
parecia que o governo reencontrava seu rumo. O escândalo do INSS,
entretanto, que levou à queda do Ministro da pasta, Carlos Lupi, e
afastamento da bancada federal na Câmara do seu Partido, o PDT, da
base de apoio ao Governo, reacendeu a crise de popularidade
governamental. Destaque-se que, nas pesquisas, Lula está mais
vulnerável que seu próprio Governo. Indicadores da Pesquisa
demonstram, ainda, que as faixas de renda mais baixa da população e
idosos, são os que mais confiam nele e no Governo. Finalmente,
somados os que têm uma visão não negativa do Governo, a saber, que
o vêm como regular, bom e ótimo, apesar da perda de sete pontos
deste último, são mais do que os que o vêm negativamente:
A) Ruim ou péssimo: 41% (eram 34% em setembro);
B)Regular: 30% (eram 30%);
C)Ótimo ou bom: 27% (eram 34%); B + C= 57%
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Anexo
Ipsos-Ipec divulga pesquisa de avaliação do governo Lula nesta quinta (12) | Política |
G1.Ipsos-Ipec: 41% avaliam governo Lula como ruim ou péssimo, e 27% como ótimo ou
bom
É a primeira vez no terceiro mandato do petista que o instituto aponta que a avaliação
negativa supera a positiva.
Por Arthur Stabile, Felipe Turioni
13/03/2025 21h11 Atualizado há 2 meses
Instituto Ipsos-Ipec: 41% dos brasileiros consideram o governo Lula ruim ou péssimo
Pesquisa Ipsos-Ipec divulgada nesta quinta-feira (13) aponta que 41% dos
brasileiros avaliam o governo do presidente Lula (PT) como ruim ou péssimo e 27%
como ótimo ou bom. É a primeira vez no terceiro mandato do petista que o instituto
aponta a que a avaliação negativa supera a positiva.
Outros 30% consideram o governo Lula 3 como regular e 1% não sabe ou não
respondeu.
Veja os números:
Ruim ou péssimo: 41% (eram 34% em setembro);
Regular: 30% (eram 30%);
Ótimo ou bom: 27% (eram 34%);
Não sabe/não respondeu: 1% (eram 2%).
Foram ouvidas 2.000 pessoas de 16 anos ou mais entre os dias 7 e 11 de março e a
margem de erro é de 2 pontos para mais ou para menos.
Houve crescimento de 7 pontos entre os insatisfeitos desde a última pesquisa, realizada
em dezembro de 2024. Por outro lado, caiu os mesmos 7 pontos aqueles que avaliam bem
a administração petista.
Saiba mais:
Ipsos-Ipec: 58% dos brasileiros não confiam no presidente Lula
Ipsos-Ipec: 55% dos brasileiros desaprovam maneira como Lula administra o país
Quaest: 49% desaprovam trabalho de Lula, pela primeira vez o índice é superior à
aprovação
Datafolha: 24% aprovam o governo Lula e 41% reprovam
A avaliação negativa de Lula se dá entre quem:
tem renda mensal familiar superior a 5 salários mínimos (59% deste público);
mais instruídos (48%);
evangélicos (48%);
votou em Jair Bolsonaro na eleição de 2022 (72%).
Já a avaliação positiva está mais presente entre:
moradores da região Nordeste (37%);
menos escolarizados (36%);
quem tem renda familiar de até 1 salário mínimo (34%);
católicos (34%);
votou em Lula em 2022 (52%).
Aprovação ou desaprovação de como Lula administra
O Ipsos-Ipec também questionou como o brasileiro avalia a maneira como o presidente Lula está
governando: 55% desaprovam o trabalho, enquanto 40% aprovam. Não sabe ou não
responderam somam 4% dos entrevistados.
Veja os números:
Aprova: 40% (eram 47% em setembro);
Desaprova: 55% (eram 46%);
Não sabe/não respondeu: 4% (eram 7%).
Houve alta de 9 pontos entre aqueles que têm visão negativa da gestão Lula desde a última
pesquisa, em dezembro, enquanto a visão positiva caiu 7 pontos no período.
A aprovação é maior entre moradores da região Nordeste (53%), os que têm o ensino fundamental
(51%), os que possuem renda familiar mensal de até 1 salário mínimo (50%), os católicos (50%) e
pessoas com 60 anos ou mais (49%).
A desaprovação à forma como o presidente Lula vem governando é maior entre aqueles com
renda mensal familiar superior a 5 salários mínimos (72%), os evangélicos (66%), os mais
instruídos (64%), quem tem de 25 e 34 anos (63%) e aqueles com outra religião, que não a católica
ou evangélica, ou sem religião (63%).
Confiança no presidente
O Ipsos-Ipec avaliou a confiança em Lula pelo eleitor: 58% disseram não confiar no presidente,
enquanto 40% disseram confiar.
Veja os números:
Confia: 40% (eram 45% em setembro);
Não confia: 58% (eram 52%);
Não sabe/não respondeu: 2% (eram 3%).
Aumentou em 6 pontos a quantidade dos que não confiam no presidente, ao mesmo tempo que a
confiança caiu 5 pontos.
Não souberam ou não responderam somam 2% dos entrevistados (eram 3% no levantamento
passado).
Os que confiam mais no petista são: moradores da região Nordeste (55%), os que têm o ensino
fundamental (50%), católicos (50%), quem tem 60 anos ou mais (50%) e aqueles com renda familiar
mensal de até 1 salário mínimo (49%).
Já os que não confiam são: evangélicos (70%), quem tem renda mensal familiar superior a 5
salários mínimos (73%), moradores da região Norte/Centro-Oeste (66%), aqueles com outra
religião, que não a
12 de Junho
EUA esvaziam embaixadas no Oriente Médio diante de risco de Israel atacar Irã, diz jornal - Segundo o 'The Washington Post', embaixadas e bases militares dos EUA estão em alerta máximo. oficiais dos EUA foram avisados de que Israel está "totalmente preparado para lançar uma operação contra o Irã", afirma reportagem da CBS News.
Putin diz que novo programa de armas da Rússia deve priorizar 'tríade nuclear'- Declaração foi feita durante reunião sobre indústria de defesa, nesta quarta-feira (11). Fala ocorre em meio a novas ameaças nucleares no contexto da guerra na Ucrânia.
Nos Estados Unidos, os protestos contra Donald Trump se espalharam para Nova York, Atlanta e Chicago. O presidente americano falou em acordo comercial com a China. Morreu o cantor e compositor Brian Wilson, líder dos Beach Boys. Falta um ano para a Copa do Mundo. E, a partir deste sábado, a Copa do Mundo de Clubes da FIFA testará cinco sedes nos Estados Unidos.
Ultraortodoxos de Israel podem derrubar governo de Netanyahu em votação nesta quarta; entenda. Partidos da coalizão do governo de Benjamin Netanyahu ameaçaram apoiar um projeto de lei da oposição para dissolver o Parlamento. Siglas ultraortodoxas se irritaram com apoio de partido do premiê à obrigação do serviço militar para ultrarreligiosos.
Com discurso belicoso, Trump vai ao encontro de seu inimigo interno - Presidente descreve realidade alternativa em base militar com objetivo de politizar forças armadas e justificar militarização de reduto democrata. - Blog da Sandra Cohen-g1
Uma economia mundial cada vez mais arriscada - Martin Wolf - Valor Econômico - A guerra tarifária de Trump traz consigo a imprevisibilidade e a consequente perda de confiança
Estamos vivendo os primeiros estágios de uma revolução —a tentativa de conversão da república americana em uma ditadura arbitrária. Ainda não está claro se Donald Trump terá sucesso nessa tentativa. Mas o que ele quer fazer parece evidente. Seu modo de governar —ilegal, imprevisível, anti-intelectual e nacionalista— terá o maior impacto nos próprios Estados Unidos. Mas, inevitavelmente, também está tendo um impacto enorme no restante do mundo, dada a posição hegemônica dos EUA desde a Segunda Guerra Mundial. Nenhum outro país ou grupo de países pode —ou quer— ocupar esse lugar. Essa revolução ameaça o caos.
CONTINUAR LEITURA
Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 06:36:00 Nenhum comentário:
Míssil com precisão mortal e drone kamikaze: as armas usadas pela Rússia em ataque massivo à Ucrânia- Ataque com drones e mísseis matou ao menos três pessoas na Ucrânia. Rússia usou armas de longo alcance com alta capacidade de destruição.
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NACIONAIS
Trama golpista: interrogatórios correram 'dentro do esperado' e fortalecem denúncia, avaliam ministros do STF e investigadores. Na segunda (9) e na terça (10), Primeira Turma ouviu oito réus do chamado 'núcleo crucial', incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Julgamento é esperado para o segundo semestre.
'Eu fui muito otário', diz ex-ministro Weintraub após Bolsonaro chamar apoiadores do golpe de 'malucos'. Ex-presidente negou, durante interrogatório no STF, ter apoiado pedidos de intervenção militar. Bolsonaro também pediu desculpas pelas denúncias sem provas ao ministro Alexandre de Moraes.
A maioria do Supremo votou a favor de responsabilizar as redes sociais por conteúdo ilegal publicado. União Brasil e PP anunciaram que são contra o novo pacote fiscal. Os dois partidos têm quatro ministérios no governo. O presidente da Câmara disse que, no Congresso, as reações às medidas foram muito ruins. O ministro da Fazenda afirmou que elas corrigem distorções.
Aeroporto de Guarulhos tem pousos e decolagens interrompidos por presença de drones
Segundo informações da GloboNews, ao todo, as movimentações foram paralisadas por 46 minutos. As atividades já foram retomadas.
Audiência com Haddad na Câmara é encerrada após bate-boca com Nikolas e Jordy e acusações de 'molecagem'.
Após bate-boca com Haddad, oposição desrespeita regra de Motta e leva cartazes ao plenário contra ministro
Centrão não concorda com medidas para substituir alta do IOF, e MP pode ser rejeitada - CAMAROTTI g1: deputado será relator da MP; clima na Câmara é pior
INSS, Minha Casa, Minha Vida, Farmácia Popular, pesquisa: o que foi atingido pelo congelamento de despesas
Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma contenção de R$ 31,3 bilhões em despesas. Detalhes dos cortes ainda não haviam sido divulgados.
CULTURAL FM Torres -RIO GRANDE DO SUL – J.Matinal
ESPAÇO PLURAL -Os comunérios – comunais gaudérios – RED/BRASIL PROGRESSITA TV 02 abril 25 - https://www.youtube.com/live/WUOYZVA7Zug?si=BA3jWrOIzFd9NNRy
ESPAÇO PLURAL – RED /Brasil Progressista TVA saga portuguesa chega ao RS. Vera Barroso e Claudio Knierin 9 abril 25
https://www.youtube.com/live/ZeYC43ofX3M?si=OHlT1qtf7r7jXqG9
ESPAÇO PLURAL – RED/Brasil Progressista TV/Cultural FM – Os povos primitivos na formação da sociedade riograndense – Entrevista de RAFAEL FRIZZO, doutorando em Antropologia
https://www.facebook.com/share/v/1B1KFKgFJX/
ESPAÇO PLURAL – RED/Brasil Progressista TV/Cultural FM Torres – 7/maio – Entrevista com Antonio Carlos Cortes, advogado, membro da Academia Riograndense de Letras, fundador do Grupo Palmares em POA, em 1971 = https://www.youtube.com/live/o4y1XOEUFfE?si=Bo5ZjvhvUaGGiNNL
ESPAÇO PLURAL – RED/Brasil Progressista TV/Cultural FM Torres – 4 junho - O cenário da imigração italiana no Brasil - *https://www.youtube.com/live/70ceLONO3mY?si=RnUnRqv0TB-0Mand
ACADEMIA RIOGRANDENSE DE LETRAS – FB Biblioteca da Academia Riograndense de Letras– Palestra de Eduardo Jablonski sobre Vida e Obra de Erico Veríssimo – 27.IV.25
(2) Facebook Live | Facebook
ACADEMIA RIOGRANDENSE DE LETRAS – BIBLIOTECA DA ACADEMIA RIOGRANDENSE DE LETRAS - Pesquisar FB– Palestra de R. Prym sobre a Poesia em Érico Veríssimo
ESPAÇO PLURAL -ENCONTRO COM ESCRITORES DE POA –– RED/Brasil Progressista TV/ Cultura Torres – Entr. Mário Pepo- https://www.youtube.com/live/zu1sfnGWamY?si=cDCllzyYDjI23cm9
O FIO DA HISTÓRIA com Paulo Timm – BRASIL PROGRESSISTA TV - https://www.youtube.com/live/jWgc6iSagPE?si=6VpQq9uiS973_Cke
A RECONSTRUÇÃO DO RS com Carlos Paiva – mai/25 = https://www.youtube.com/live/CoJKlC5n2Is?si=fM7NXWf8U8pRsuse
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TORRES E REGIÃO
afolhatorres.com.br
Atendimentos no Hospital de Torres estão restritos devido a superlotação - Segundo a comunicação do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes (HNSN) restrição abrange também a outros hospitais da região e se dá por motivos de grande incidência de gripes (vírus respiratórios, como Rinovírus e Influenza A) e resfriados devido as quedas de temperatura
Curso gratuito de Panificação do Senac Torres com inscrições abertas- Os interessados podem se inscrever diretamente no Senac Torres (que fica localizado na Av Júlio de Castilhos, 423 centro). Mais informações pelo fone (51) 9701-1705 (FONTE - Senac Torres)
Show de gols e emoção marcaram a 3ª rodada do Municipal de Futebol em Torres
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INTERESSE PÚBLICO
Farmacêutica brasileira lança em agosto caneta contra obesidade- Medicamento tem como princípio ativo a liraglutida. Empresa se torna a primeira fabricante 100% brasileira a ingressar no mercado global de análogos de GLP-1.
Termômetro da relação, 34 músculos envolvidos e milhões de bactérias trocadas: veja o que a ciência diz sobre o beijo na boca- Beijar na boca é prática o milenar de demonstração de amor e desejo sexual. Por sua história na humanidade, o beijar vem sendo alvo de pesquisas pela ciência.
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CAPAS DOS JORNAIS DO CENTRO DO PAÍS E POA
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O GLOBO- Congresso promete rejeitar pacote de Haddad, e crise fiscal se agrava.
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O ESP- Lula edita MP que eleva impostos, apesar da rejeição do Congresso e setor privado. Aplicações financeiras, bets e dividendos de empresas , os principais alvos
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FSP – Congresso ataca pacote de alta de impostos. Lula insiste e envia MP
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ZERO HORA – STF forma maioria para responsabilizar plataformas por conteúdos postados por usuários.
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JORNAL DO COMÉRCIO POA
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O Assunto g1 - Los Angeles: o epicentro da onda de protestos nos EUA
Los Angeles: o epicentro da onda de protestos nos EUA #1487 | O Assunto | G1
Em meio a uma onda de protestos contra as prisões feitas pelo ICE (Immigration and Customs Enforcement), a polícia da imigração dos Estados Unidos, a prefeita de Los Angeles, uma das cidades mais importantes da Califórnia, nos EUA, decretou toque de recolher. A medida da democrata Karen Bass foi tomada para conter a violência.
Desde meados da semana passada, manifestantes bloquearam vias e queimaram veículos, principalmente em locais próximos de prédios públicos. A polícia local usou bombas de efeito moral e balas de borracha.
Com a escalada de tensão, Trump enviou agentes da Guarda Nacional para o estado da Califórnia, mesmo sem o pedido do governador, o democrata Gavin Newsom. Quem explica o embate político e pessoal por trás disso é Guga Chacra, comentarista da Globo, da Globonews, da CBN e colunista do jornal O Globo. "Trump quer transformar os EUA em uma espécie de regime autoritário. Ele sabe que não vai conseguir ir tão longe, mas a democracia está se deteriorando."
Antes, para entender a importância dos imigrantes para Los Angeles, Natuza Nery recebe Felippe Coaglio, correspondente da Globo e GloboNews nos Estados Unidos, que fala direto da cidade. Coaglio conta como age o ICE e como os protestos se espalharam para outros locais do país. "Essa ação do ICE está chamando a atenção pela amplitude do que está acontecendo e, claro, pela forma mais truculenta do que o usual."
O que você precisa saber:
• PROTESTOS EM LA: O que é a Guarda Nacional dos EUA?
• VIOLÊNCIA: Repórter é atingida por bala de borracha durante entrada ao vivo
• SANDRA COHEN: Discurso violento de Trump inflama tropas contra cidadãos
O podcast O Assunto é produzido por: Mônica Mariotti, Amanda Polato, Sarah Resende, Luiz Felipe Silva, Thiago Kaczuroski e Carlos Catelan. Apresentação: Natuza Nery.
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Café da Manhã Podcast Folha Uol
https://audioglobo.globo.com/g1/podcasts
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Editorial CULTURAL FM -Torres RS – www.culturalfm875.com-12 junho
O que é o amor?
Editorial CULTURAL FM -Torres RS – www.culturalfm875.com -11 junho
Bolsonaro chama de "malucos" apoiadores que pediram golpe após derrota em 2022
O ex presidente Jair Bolsonaro foi ouvido, ontem, no STF, junto com outros réus no processo que investiga tentativa de golpe no Brasil ao final de 2022. Comportou-se surpreendemente sereno, respondendo com desenvoltura às indagações do Ministro Moraes, sempre negando que tivesse comandado qualquer ato com vistas à ruptura institucional do país. Reitera que teve sempre em mente “as quatro linhas da Constituição”, cujo exemplar o acompanhava. Essa, entretanto, é apenas uma retórica, como ele mesmo gosta de dizer, pois não há “quatro linhas” na Constituição de 88. Ela tem artigos e cláusulas pétreas que devem ser seguidos à risca por todos os brasileiros, sobretudo investidos de funções públicas. Não um campo de futebol. Bolsonaro permitiu-se, até, fazer um convite ao Ministro Moraes como companheiro de chapa, na condição de seu vice, em 2026, que o Ministro imediatamente declinou, sem censurá-lo. Afinal, Bolsonaro está inelegível. Para a maioria dos analistas, o ex presidente entrou condenado e saiu condenado, pois confessou que discutiu medidas que poderiam levar a anulação das eleições “dentro da Lei”. Alguns explicam sua descontração na expectativa de que dificilmente seria preso por muito tempo, considerando, inclusive, que a sentença, sem margem de chicanas jurídicas, só sairia no final deste ano e que, na eventual vitória, em 26 , de um aliado à Presidência, seria indultado.
Em seu depoimento Bolsonaro minimizou ações de seus seguidores que culminaram nos eventos de 8 de janeiro de 23 e disse que Forças Armadas jamais aceitariam intervenção militar. Estigmatizou o golpe. E chamou os que pediam intervenção militar, depois de sua derrota, de “malucos”. Com isso acabará perdendo a aura de durão que tradicionalmente cultivou. Quanto as aglomerações em frente aos quartéis, de onde emanavam os ecos pedindo “intervenção militar”, afirmou que não ultrapassaram os limites da legalidade, embora aninhassem radicais:”- Agora, tem sempre uns malucos ali que ficam com aquela ideia de AI-5, intervenção militar, que as Forças Armadas jamais iam embarcar nessa porque o pessoal tava pedindo ali, até porque não cabia isso aí e nós tocamos o barco”, afirmou o ex-mandatário. Esta estratégia, porém, contrasta com a série de acusações que fez, desde o famoso discurso do 7 de setembro de 21 em São Paulo, tanto às instituições do sistema eleitoral do país, como ao próprio Ministro Moraes. Desculpou-se, inclusive, instado por Moraes sobre denúncia de membros do TSE estariam recebendo até R|$ 30 milhões, afirmando ter se tratado apenas de retórica, sem provas.
Além de Bolsonaro, vários outros réus, todos ocupantes de altas funções no campo da segurança nacional e jurídica em seu Governo, inclusive um titubeante ex Ministro da Justiça, também foram ouvidos. Sem exceção, declararam-se inocentes, não sem deixar de demonstrar a altivez de caráter e propósitos que deles se esperam.
Isso posto, prosseguirão hoje os trabalhos da mais alta Corte do país no sentido de ouvir todos os réus apontados como responsáveis pela tentativa de golpe no país, cumprindo, dessa forma, mais um importante papel na defesa da ordem constitucional do país e consolidação da democracia-entre-nós.
Abaixo, a repercussão do depoimento de Jair Bolsonaro no Supremo:
O GLOBO- Bolsonaro admite ter buscado alternativas ao resultado eleitoral, mas nega golpismo.
O ESP- Bolsonaro se desculpa com Moraes, nega golpe, mas diz ter exibido minuta a militares
ZERO HORA – Bolsonaro confirma que discutiu medidas, mas nega plano golpista
O Assunto g1 - Bolsonaro: o interrogatório no STF – Bolsonaro: o interrogatório no STF - O Assunto #1486 | O Assunto | G1
Café da Manhã Podcast Folha Uol
Podcast analisa interrogatório de Bolsonaro no STF - Folha - 11/06/2025 - Podcasts - Folha
Podcast: advogado faz análise jurídica do interrogatório de Bolsonaro na trama golpista. Ex-presidente negou ter discutido planos para um golpe, mas admitiu conversas sobre possibilidades
Desfecho de Bolsonaro se aproxima sem refresco para Lula - Maria Cristina Fernandes Valor Econômico Maré baixa com a qual Bolsonaro chega à reta final do julgamento não traz alívio para o governo
Editorial CULTURAL FM -Torres RS – www.culturalfm875.com 10 junho
A língua que nos moldou o olhar e o coração
Landro Oviedo - professor, escritor e advogado landrooviedo@correiodopovo.com.br
Fonte – Correio do Povo - ANO 117 Nº 254 - PORTO ALEGRE, DOMINGO, 10 DE JUNHO DE 2012\
Nas caravelas das grandes navegações portuguesas, viajava muito mais do que a ambição de conquistas e de riqueza. Nelas navegava uma língua heroica, que havia resistido ao latim vindo das cortes romanas e ao árabe dos muçulmanos. Reavivada por um pequeno condado chamado Portucalense, reagiu para empreender uma jornada vitoriosa e conquistar o mundo desconhecido de antanho, expandindo a alma portuguesa.
Hoje,10 de junho, é comemorado o Dia da Língua Portuguesa no mundo, correspondendo à morte do poeta Luiz Vaz de Camões, mártir e prócer do idioma, no ano de 1580. Essa língua já nos fez predestinados a esposá-la desde os primórdios da Pátria brasileira, quando Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei de Portugal dando contadas terras agregadas ao seus domínios. Nascia ali o Brasil de hoje, com agramática lusitana impondo seus fonemas e sintaxe sobre a oralidade frágil daslínguas indígenas, torre de babel que começou a declinar diante da linguagem não verbal das armas lusitanas.
Depois, essa língua de dominação foi flexibilizada pelos negros, que a fizeram sincrética e polissêmica. Também os poetas a recrutaram para dar voz aos que não tinham voz, feito Castro Alves, que se armou de metáforas e apóstrofes para defender homens e mulheres vitimados pela ignominiosa escravidão. Antes, José de Alencar já havia propugnado pela independência linguística do país, estabelecendo a base de uma cultura própria e afirmando uma literatura nacional.
Para falarmos de língua, é preciso conceber também idioma, dialeto e idioleto. O idioma é o substrato anterior à língua, esta a realização particular e localista do idioma. Já o dialeto é o fenômeno repetido em menor escala, notadamente em regiões internas, pela variabilidade linguística. Por sua vez, o idioleto é a expressão singular do falante, própria e subjetiva, mas inserida nos cânones coletivos. É do idioma camoniano que derivam a língua brasileira e os dialetos, inclusive o gaúcho, mantendo-se o adjetivo primevo para reverenciar a primazia.Aliás, mesmo nas áreas de confluência entre Camões e Cervantes nestas bandas, aquele mantém brilho e bandeira, como nesta estrofe do poema "Pajada para a Língua Portuguesa", do poeta rio-grandense Vaine Darde: "Eu transito pelo verso/Com metáforas de campo/Lampejos de pirilampos/Nos vocábulos impressos/Pois toda vez que me expresso/Com a prosa dos galpões/Tenho o sotaque dos peões/Que por mais que o tempo mude/Apesar do timbre rude/Jamais renega Camões".
A língua portuguesa, que nos legou um olhar de encanto com a vida, entremeada coma nostalgia dos lusitanos, moldou-nos o coração para emoções veiculadas por um vernáculo sóbrio e expressivo. A ela, metalinguisticamente, nossa gratidão pela identidade, forjada com a têmpera dos que fizeram a história de uma pátria que renasceu em outras tantas para além dos oceanos.
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Editorial CULTURAL FM -Torres RS –09-06-25 www.culturalfm875.com
Raízes socioeconômicas do trumpismo - Luiz Gonzaga Belluzzo
= Valor Econômico = terça-feira, 6 de maio de 2025
Entusiasmado com favores e poderes da oligarquia, Trump
encarregou seus auxiliares de cortar os direitos sociais e econômicos
de seus cidadãos em nome da eficiência dos mercados
Avaliado em seus próprios termos e objetivos, o projeto iluminista da
Liberdade, Igualdade e Fraternidade está fazendo água diante da
alucinante e alucinada competição entre as lideranças
contemporâneas e seus asseclas para mergulhar o planeta nos
esgotos da barbárie.
O filósofo Fredric Jameson, no livro “A Cultura do Dinheiro”, já
advertia no início do milênio: “Os quatro pilares ideológicos, jurídicos
e morais do alto capitalismo - constituições, contratos, cidadania e
sociedade civil - são, hoje, vadios maltrapilhos, mas sempre lavados,
barbeados e vestidos com roupas novas para esconder sua verdadeira
situação de penúria”. Não podemos colher outro ensinamento dos
embates travados por Donald Trump para tornar a América Grande
Outra Vez.
Peço licença aos leitores para retomar considerações a respeito da
Grande América, o país que emergiu dos sofrimentos da Grande
Depressão e da Segunda Guerra Mundial.
O imaginário político predominante no New Deal tinha uma visão
progressista acerca do papel a ser exercido pelos Estados Unidos. Em
claro antagonismo com as práticas das velhas potências, os EUA -
tomando em conta o seu autointeresse de forma esclarecida - se
empenharam na reconstrução europeia e apoiaram as lutas pela
descolonização.
É oportuno registrar as origens do projeto político, social e econômico
que presidiu os avanços do pós-guerra. Discursando no Congresso do
Partido Democrata em 1936, Franklin D. Roosevelt denunciou os
poderes da oligarquia financeira no controle da sociedade e da
economia. “Era natural e talvez humano que os príncipes privilegiados
dessa nova dinastia econômica, sedentos por poder, tentem alcançar
o controle do próprio Governo. Eles criaram um despotismo e o
embrulharam nos vestidos de sanções legais. Em seu serviço, novos
mercenários procuraram regimentar o povo, seu trabalho e sua
propriedade”.
Esta turma está de volta. Trump, entusiasmado com favores e
poderes da oligarquia, encarregou seus auxiliares de cortar os
direitos sociais e econômicos de seus cidadãos em nome da
eficiência dos mercados.
Daron Acemoglu escreveu no Project Syndicate: “Nos Estados Unidos,
o status tornou-se firmemente ligado ao dinheiro e à riqueza durante a
Revolução Industrial, e a desigualdade de renda e riqueza disparou
como resultado. Embora tenha havido períodos em que a intervenção
governamental buscou reverter a tendência, a sociedade americana
sempre foi estruturada em torno de uma hierarquia de status
íngreme”.
Nos idos de 2018, Martin Wolf, editor do Financial Times, denunciou
as manobras de Trump para implodir a ordem mundial. “São
características destacadas do comportamento de Trump suas
invenções, sua autocomiseração e sua prática da intimidação: os
outros, inclusive os aliados históricos, “estão zombando de nós” em
relação ao clima ou “nos enganando” em relação ao comércio
exterior. A União Europeia, argumenta ele, “foi implantada para tirar
proveito dos EUA, certo? Não mais... Esse tempo acabou”.
Trump exprime o declínio dos valores e das ideias que inspiraram os
Estados Unidos na construção da chamada ordem mundial do pós-
guerra. Terminado o conflito, as forças vitoriosas, democráticas e
antifascistas trataram de criar instituições destinadas a impedir a
repetição da desordem destrutiva que nascera da rivalidade entre as
potências e da economia destravada.
A civilização ocidental, disse Gandhi, teria sido uma boa ideia.
Imaginei, santa ingenuidade, que as batalhas do século XX, além do
avanço dos direitos sociais e econômicos, tivessem finalmente
estendido os direitos civis e políticos, conquistas das “democracias
burguesas”, a todos os cidadãos. Mas talvez estejamos numa
empreitada verdadeiramente subversiva em seu paradoxo: a
construção da República dos Bárbaros. Uma novidade política
engendrada nos porões da inventividade contemporânea, regime em
que as garantias republicanas recuam diante dos esgares da máquina
movida pela “tirania das boas intenções”.
Trump exprime o declínio dos valores e das ideias que inspiraram os
EUA na construção da ordem mundial do pós-guerra
Os deserdados da civilidade simulam retidão moral para praticar as
brutalidades dos homens de bem. Os direitos individuais e os valores
da modernidade são tragados no redemoinho do moralismo
particularista e exibicionista dos amorais. Trump exibiu de forma
contundente o papel do ultraje pessoal na avacalhação do debate
público. A ofensa pessoal desqualificadora usada como argumento e a
resposta no mesmo tom são instrumentos da brutalização das
consciências.
Perorando diante de uma plateia com algumas milhares de pessoas
na terça-feira em Michigan, Trump usou e abusou de sua
contundência antirrepublicana e imprecou contra o Judiciário
americano, referindo-se a juízes como comunistas. “Não podemos
permitir que um punhado de juízes comunistas, de extrema esquerda,
obstruam a aplicação de nossas leis e assumam os deveres que
pertencem exclusivamente ao presidente dos EUA”, afirmou. “Os
juízes estão tentando tirar o poder dado ao presidente para manter
nosso país seguro”.
Os projéteis disparados no debate ganharam impulso nos Facebooks,
Twitters e Instagrams da vida. Os impropérios lançados das
plataformas da arrogância não atingiram apenas os dois debatedores,
mas maltrataram impiedosamente os princípios elementares da
convivência civilizada. Os tecladistas alcançam a proeza de cometer
cinco atentados contra os adversários numa frase de 12 palavras.
Bárbaros do teclado, como Trump e assemelhados, manejam com
desembaraço a técnica das oposições binárias, método dominante
nas modernas ações e interações entre os participantes das redes.
Nos comentários da internet, vai “de vento em popa” o que Herbert
Marcuse chamou de “automatização psíquica” dos indivíduos. Os
processos conscientes são substituídos por reações imediatas,
simplificadoras e simplistas, quase sempre grosseiras, corpóreas.
O que aparece sob a forma farsista de um conflito entre o bem e o mal
está objetivado em estruturas que enclausuram e deformam as
subjetividades exaltadas. A indignação individualista e os arroubos
moralistas são expressões da impotência que, não raro, se
metamorfoseia em desvario autoritário.
Editorial CULTURAL FM -Torres RS – www.culturalfm875.com
Por que o Brasil precisa ir além do AGRO para crescer?
By Paulo Gala on 05/06/2025
Apesar de o Brasil apresentar um PIB de aproximadamente US$ 2,5 trilhões a preços de mercado — o que o coloca entre as dez maiores economias do mundo — sua estrutura produtiva revela um padrão ainda concentrado em atividades de baixo valor agregado. O setor agropecuário representa cerca de 7% do PIB, ou aproximadamente US$ 175 bilhões, enquanto nos Estados Unidos a agropecuária responde por apenas 2% do PIB, com um valor absoluto bem superior, em torno de US$ 600 bilhões. Essa comparação demonstra que a agropecuária americana é extremamente produtiva e tecnologicamente avançada, mesmo tendo menor peso relativo na economia. O Brasil, por sua vez, ainda depende do crescimento do setor primário para impulsionar o desempenho econômico.
A indústria de transformação também revela contrastes marcantes. Os Estados Unidos produzem cerca de US$ 2,5 trilhões em manufatura, ao passo que o Brasil tem uma produção industrial estimada em torno de US$ 200 bilhões. Essa diferença não é apenas de escala, mas principalmente de sofisticação: enquanto os EUA concentram sua produção em setores de alta complexidade, como aeroespacial, farmacêutico, semicondutores e equipamentos médicos, o Brasil tem uma base manufatureira mais voltada à transformação de recursos naturais, com baixa densidade tecnológica e limitada inserção em cadeias globais de valor.
Nos serviços, o contraste é ainda mais revelador. Ambos os países possuem estruturas econômicas dominadas pelo setor terciário. No entanto, nos EUA esse setor é composto por serviços de alto valor agregado: tecnologia da informação, finanças, consultorias especializadas, educação superior, pesquisa científica e serviços profissionais avançados. No Brasil, a maior parte do setor de serviços é composta por atividades tradicionais, como comércio, transporte, alimentação, serviços pessoais e administração pública — importantes para o bem-estar, mas com baixa produtividade e limitada capacidade de tracionar a economia para o desenvolvimento.
Mineração e petróleo são áreas em que Brasil e Estados Unidos também possuem relevância, mas não representam, em nenhum dos casos, o núcleo do valor adicionado da economia. Esses setores são fortemente intensivos em capital e recursos naturais, e tendem a empregar relativamente pouca mão de obra qualificada. Assim, embora sejam importantes fontes de divisas e receitas fiscais, não são motores sustentáveis de crescimento inclusivo e inovação tecnológica.
A verdadeira diferença de valor agregado está, portanto, na combinação entre manufatura de alta tecnologia e serviços complexos. É nesse espaço que os Estados Unidos se distanciam das economias intermediárias como o Brasil. A capacidade americana de inovar, escalar produtos sofisticados e exportar conhecimento está diretamente ligada ao investimento em ciência, educação e políticas industriais consistentes. Para o Brasil avançar em sua trajetória de desenvolvimento, será preciso reverter a desindustrialização prematura e apostar na construção de capacidades produtivas sofisticadas, articulando indústria e serviços modernos em torno de uma estratégia de transformação econômica de longo prazo.
Dobrar a produção agropecuária no Brasil — o que significaria elevar de US$ 175 bilhões para US$ 350 bilhões o valor adicionado do setor — teria impactos importantes sobre exportações, balança comercial e geração de renda no interior do país. No entanto, isso não alteraria de forma estrutural a posição do Brasil na economia global nem resolveria os principais entraves ao desenvolvimento. A agropecuária, embora moderna em muitos segmentos, tem limites naturais à sua expansão: depende de terras, água, clima e logística, além de empregar relativamente pouca mão de obra qualificada e ter baixa capacidade de induzir inovações sistêmicas em outros setores da economia. É um setor intensivo em recursos naturais, não em conhecimento.
Além disso, mesmo que a produção dobrasse, a agropecuária ainda representaria uma fração relativamente pequena do PIB total e continuaria insuficiente para sustentar crescimento robusto e duradouro. Países desenvolvidos não se tornaram ricos por expandirem sua agricultura, mas sim por construírem capacidades produtivas em setores de alta complexidade, como tecnologia, manufatura avançada e serviços baseados em conhecimento. O desafio brasileiro não está em produzir mais commodities, mas em agregar valor a elas, diversificar sua base produtiva e inserir-se de forma competitiva em setores que geram aprendizado tecnológico, emprego qualificado e sofisticação produtiva. É essa mudança estrutural que pode romper o ciclo de crescimento volátil e dependente de preços internacionais das matérias-primas
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Por que o Brasil precisa ir além do AGRO para crescer?
By Paulo Gala on 05/06/2025
Apesar de o Brasil apresentar um PIB de aproximadamente
US$ 2,5 trilhões a preços de mercado — o que o coloca
entre as dez maiores economias do mundo — sua estrutura
produtiva revela um padrão ainda concentrado em
atividades de baixo valor agregado. O setor agropecuário
representa cerca de 7% do PIB, ou aproximadamente US$
175 bilhões, enquanto nos Estados Unidos a agropecuária
responde por apenas 2% do PIB, com um valor absoluto
bem superior, em torno de US$ 600 bilhões. Essa
comparação demonstra que a agropecuária americana é
extremamente produtiva e tecnologicamente avançada,
mesmo tendo menor peso relativo na economia. O Brasil,
por sua vez, ainda depende do crescimento do setor
primário para impulsionar o desempenho econômico.
A indústria de transformação também revela contrastes
marcantes. Os Estados Unidos produzem cerca de US$ 2,5
trilhões em manufatura, ao passo que o Brasil tem uma
produção industrial estimada em torno de US$ 200 bilhões.
Essa diferença não é apenas de escala, mas
principalmente de sofisticação: enquanto os EUA
concentram sua produção em setores de alta
complexidade, como aeroespacial, farmacêutico,
semicondutores e equipamentos médicos, o Brasil tem
uma base manufatureira mais voltada à transformação de
recursos naturais, com baixa densidade tecnológica e
limitada inserção em cadeias globais de valor.
Nos serviços, o contraste é ainda mais revelador. Ambos
os países possuem estruturas econômicas dominadas pelo
setor terciário. No entanto, nos EUA esse setor é
composto por serviços de alto valor agregado: tecnologia
da informação, finanças, consultorias especializadas,
educação superior, pesquisa científica e serviços
profissionais avançados. No Brasil, a maior parte do setor
de serviços é composta por atividades tradicionais, como
comércio, transporte, alimentação, serviços pessoais e
administração pública — importantes para o bem-estar,
mas com baixa produtividade e limitada capacidade de
tracionar a economia para o desenvolvimento.
Mineração e petróleo são áreas em que Brasil e Estados
Unidos também possuem relevância, mas não
representam, em nenhum dos casos, o núcleo do valor
adicionado da economia. Esses setores são fortemente
intensivos em capital e recursos naturais, e tendem a
empregar relativamente pouca mão de obra qualificada.
Assim, embora sejam importantes fontes de divisas e
receitas fiscais, não são motores sustentáveis de
crescimento inclusivo e inovação tecnológica.
A verdadeira diferença de valor agregado está, portanto,
na combinação entre manufatura de alta tecnologia e
serviços complexos. É nesse espaço que os Estados
Unidos se distanciam das economias intermediárias como
o Brasil. A capacidade americana de inovar, escalar
produtos sofisticados e exportar conhecimento está
diretamente ligada ao investimento em ciência, educação
e políticas industriais consistentes. Para o Brasil avançar
em sua trajetória de desenvolvimento, será preciso
reverter a desindustrialização prematura e apostar na
construção de capacidades produtivas sofisticadas,
articulando indústria e serviços modernos em torno de
uma estratégia de transformação econômica de longo
prazo.
Dobrar a produção agropecuária no Brasil — o que
significaria elevar de US$ 175 bilhões para US$ 350
bilhões o valor adicionado do setor — teria impactos
importantes sobre exportações, balança comercial e
geração de renda no interior do país. No entanto, isso não
alteraria de forma estrutural a posição do Brasil na
economia global nem resolveria os principais entraves ao
desenvolvimento. A agropecuária, embora moderna em
muitos segmentos, tem limites naturais à sua expansão:
depende de terras, água, clima e logística, além de
empregar relativamente pouca mão de obra qualificada e
ter baixa capacidade de induzir inovações sistêmicas em
outros setores da economia. É um setor intensivo em
recursos naturais, não em conhecimento.
Além disso, mesmo que a produção dobrasse, a
agropecuária ainda representaria uma fração
relativamente pequena do PIB total e continuaria
insuficiente para sustentar crescimento robusto e
duradouro. Países desenvolvidos não se tornaram ricos por
expandirem sua agricultura, mas sim por construírem
capacidades produtivas em setores de alta complexidade,
como tecnologia, manufatura avançada e serviços
baseados em conhecimento. O desafio brasileiro não está
em produzir mais commodities, mas em agregar valor a
elas, diversificar sua base produtiva e inserir-se de forma
competitiva em setores que geram aprendizado
tecnológico, emprego qualificado e sofisticação produtiva.
É essa mudança estrutural que pode romper o ciclo de
crescimento volátil e dependente de preços internacionais
das matérias-primas.
Editorial CULTURAL FM -Torres RS – www.culturalfm875.com- 5 junho
O HOMEM E O MEIO
No dia mundial do meio ambiente poderíamos falar sobre as consequências da ação do homem sobre seu meio ambiente, o planeta Terra. Poderíamos fazer coro com o Poeta e proclamar “Verde, verde, que te quiero verde!”. Poderíamos denunciar, mais uma vez a gravidade das mudanças climáticas, a destruição dos biomas brasileiros, a putrefação das nossas cidades. Poderíamos citar as emoções do astronauta que passou quase um ano no espaço e que viu a Terra em sua unicidade cósmica. O Homem, entretanto, é parte do Meio, embora sua multiplicação desenfreada, sem adequado planejamento de sua intervenção sobre o meio, mercê do endeusamento do “Senhor Mercado”, nem acesso às condições mínimas para o exercício de uma cidadania responsável a seu redor, num mundo cada vez mais favelizado, com metrópoles que n 20/ 30 milhões de pessoas, o transformem num agente predador inconsequente. Neste dia, portanto, homenagearemos, aqui, uma mulher, franco-brasileira, antropóloga, NIEDE GUIDON, ontem falecida. Ela nos deixou um legado de valorização dos primitivos “brasileiros” que podem ter vivida , aqui, há 50 mil anos, antes, pois, das civilizações mesopotâmicas. Foi a criadora do Parque da Capivara, no Piaui, um relíquia destes tempos memoráveis. A este “meio” que ela revelou, cuidou e se dedicou a vida inteira, nosso aplauso.
“Arqueóloga Niède Guidon morre aos 92 anos
Ela dedicou sua vida à pesquisa e à preservação da Serra da Capivara
Ana Cristina Campos – Repórter da Agência Brasil - Publicado em 04/06/2025 - Rio de Janeiro - © Yala Sena/Cidadeverde.com - Versão em áudio
A arqueóloga Niède Guidon, que dedicou sua vida à pesquisa e à preservação da Serra da Capivara, no Piauí, morreu nesta quarta-feira (4) aos 92 anos. A informação foi divulgada nas redes sociais do parque. A causa da morte não foi informada.
Ela revelou ao mundo as pinturas rupestres do parque que mudaram o conhecimento sobre o povoamento das Américas.
“Com coragem, paixão e compromisso com a ciência, fundou a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) e lutou por décadas para proteger e divulgar a riqueza arqueológica do Brasil. Sua trajetória deixa um legado imensurável para a ciência, a cultura e a memória do nosso país. Seu nome está eternamente gravado na história”, diz comunicado do parque.
No ano passado, a arqueóloga recebeu o Prêmio Almirante Álvaro Alberto 2024. A premiação, concedida anualmente pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e Marinha do Brasil, é um reconhecimento aos cientistas brasileiros que contribuíram de forma significativa para a ciência e tecnologia do país e se deu durante a Reunião Magna da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Esse foi mais um título para a cientista que já foi condecorada com a Ordem do Mérito Científico, Grã-Cruz, do MCTI; além de ter conquistado o Green Prize, da organização pacificista e ecológica Paliber; o Prêmio Príncipe Klaus, do governo holandês; o Prêmio Fundação Conrado Wessel de Cultura; o prêmio Cientista do Ano, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); o Prêmio Chevalier de La Légion d'Honneur, do governo francês.
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Segundo o CNPq, ao longo de sua carreira, Niède identificou mais de 700 sítios pré-históricos, entre os quais 426 paredes de pinturas antigas e evidências de habitações humanas antigas na área da Serra de Capivara, no Piauí.
Repercussão
A escritora Adriana Abujamra, autora do livro Niéde Guidon — Uma Arqueóloga no Sertão, afirma que a especialista fez uma revolução feminina no interior do Piauí ao chegar no local, na década de 1970.
“Ela proporcionou uma revolução das mulheres. Ela contratou só mulheres para porteiras do parque. A chefe do parque hoje era uma menina quando a Niède chegou. Ela foi inspirada pela Niède. Ela falava em proteção do meio ambiente numa época em que pouca gente falava disso. Se não fosse o trabalho dela, talvez nem tivéssemos as pinturas rupestres e a fauna e a flora preservadas”.
Segundo Adriana, Niède chamou a atenção para a grande resiliência da caatinga e mudou os rumos não só da arqueologia como de toda a região.
“Ela colocou o Brasil no mapa da discussão da arqueologia do mundo na questão da ocupação das Américas por mais controversa que fosse a posição dela naquela época. A importância dela vai muito além da arqueologia. A Niède transformou aquela região. A primeira universidade federal no interior do Nordeste existe em São Raimundo Nonato pelo afinco dela”.
Em nota, o governo do Piauí disse que a arqueóloga transformou milhares de vida na caatinga e seu legado estará sempre na memória e no coração dos piauienses. Segundo o comunicado, desde 1973, quando chegou à região da Serra da Capivara, Niède mudou os rumos da arqueologia brasileira e do primeiro registro do homem americano nas Américas, Ali, ela encontrou a riqueza de mais de mil sítios arqueológicos e pinturas rupestres datadas de até 12 mil anos de idade.
“Tornou sua missão o reconhecimento destas riquezas e transformou a vida de sertanejos com diversos programas sociais. Para ela, desenvolver e prosperar o Parque Nacional da Serra da Capivara era sinônimo de melhorar a vida de cada piauiense que por ali se encontrava”, diz o governo.
O diretor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Alexandre Kellner, disse que recebeu com enorme consternação a notícia do falecimento de uma das principais arqueólogas do país.
‘As contribuições realizadas pela professora Niède Guidon ficarão reverberando por bastante tempo, não apenas no campo da arqueologia, mas também em todos aqueles que atuam para a preservação do patrimônio científico, histórico e cultural do nosso país’. “
Arqueóloga Niède Guidon morre aos 92 anos | Agência Brasil
EDITORIAL 04/06/25
Do “Mal Estar da Civilização” ao desencanto com o Ocidente
Sigmundo Freud, no começo do século XX, destoava da maior parte dos pensadores da época, por ser francamente pessimista. A civilização, para ele, embora tivesse colocado o ‘Sapiens” no topo da vida animal, era violenta. Só a sublimação pela cultura poderia criar um equilíbrio mínimo na sociedade.
“"O Mal-Estar na Civilização" é uma obra de Freud que explora a relação entre o ser humano e a civilização. Freud argumenta que a civilização traz um mal-estar inerente, pois impõe restrições aos instintos humanos, criando um conflito entre os desejos individuais e as normas sociais. Ele categoriza o homem em relação aos animais, destacando que a civilização é o que confere uma identidade única à humanidade, carregando um componente coletivo que implica uma certa superioridade. “ - https://www.bing.com/ck/a?!&&p=abfc5a2a5755c92f54dfdc3af8babead124cb044e071e9fec81f9c3321ec81d2JmltdHM9MTc0ODk5NTIwMA&ptn=3&ver=2&hsh=4&fclid=3f979678-faa3-677b-25d9-833dfb586659&u=a1L3ZpZGVvcy9yaXZlcnZpZXcvcmVsYXRlZHZpZGVvP3E9byttYWwrZXN0YXIrZGUrY2l2aWxpemElYzMlYTclYzMlYTNvJm1pZD01NkQwNjA3OTc1NUJGRkYzOUQ4ODU2RDA2MDc5NzU1QkZGRjM5RDg4JkZPUk09VklSRQ&ntb=1
O correr do século, com suas duas Grandes Guerras mundiais, deixando um rastro de 100 milhões de mortos parece ter dado razão a Freud, embora nos tivesse levado senão às estrelas, pelo menos, à lua.... Ao final do século, outro pensador, Eric Hobsbawn, afirmaria, mais ou menos isso : Se no começo do século éramos otimistas quanto às possibilidades do progresso técnico e para a redenção da humanidade, hoje somos pessimistas.
Nas últimas décadas, esse sentimento parece se alastrar pelo mundo. Já em 1971, John Lennon, profetizava: “O sonhou acabou”. Esqueceu-se de dizer que começava um pesadelo. Em 1973 adveio a crise do petróleo, que anunciaria o começo do fim da Era dos combustíveis fósseis, que em sua esteira criaria os chamados pobres países bilionários do Oriente Médio. Sem capacidade de investimentos produtivos, sobre estruturas econômicas internas primário-exportadoras, alimentariam com os petro-dólares a passagem do capitalismo moderno para a hegemonia financeira. Trilhões de dólares giram diariamente em mercados eletrônicos multiplicando fortunas, enquanto a grande parte da população do mundo vive favelizada, em meio à miséria e a violência. Tudo em nome do “Mercado”, sob cuja consigna maléfica, carente de qualquer virtude, com exceção da louvação à eficiência, até os mais humildes feirantes, entregadores de pizza e “se-viradores” se identificam. Uma série atual da Rede Globo trata, justamente, disso. Sete em cada dez brasileiros preferem a “livre iniciativa” à Carteira Assinada.
Já não se trata, agora, do Mal Estar de Civilização advertido por Freud. Agora vivemos o desencanto com as instituições que, no século XX, arrefeceram o ímpeto da Era das Revoluções, inaugurado em 1789, substituindo-a pela Era dos Direitos. O século XX foi o Século dos Direitos, da construção da cidadania e da tentativa de consolidação de um regime de paz e progresso a todos os amparados pelo Pacto Constitucional. Mas caducou no meio do caminho e nos colocou à mercê não de um novo tempo, mas um tempo de caos, ansiedade e depressão. Nossos jovens não são mais felizes. Os idosos, desamparados. Os menos qualificados à idade digital, á margem da sociedade.Eis como, hoje, este pensador, nos define:
"Em tempos de incertezas costuma-se citar Gramsci quando não se sabe o que dizer. Em particular, sua célebre assertiva de que a velha ordem já não existe e a nova ainda está para nascer. O que pressupõe a necessidade de uma nova ordem depois da crise. Mas não se contempla a hipótese do caos. Aposta-se no surgimento dessa nova ordem de uma nova política que substitua a obsoleta democracia liberal que, manifestamente, está caindo aos pedaços em todo o mundo, porque deixa de existir no único lugar em que pode perdurar: a mente dos cidadãos.
A crise dessa velha ordem política está adotando múltiplas formas. A subversão das instituições democráticas por caudilhos narcisistas que se apossam das molas do poder a partir da repugnância das pessoas com a podridão institucional e a injustiça social: a manipulação midiática das esperanças frustradas por encantadores de serpentes; a renovação aparente e transitória da representação política através da cooptação dos projetos de mudanças; a consolidação de máfias no poder e de teocracias fundamentalistas, aproveitando as estratégias geopolíticas dos poderes mundiais; a pura e simples volta à brutalidade irrestrita do Estado em boa parte do mundo, da Russia à China, da África neocolonial aos neofascismos do Leste Europeu e às marés ditatoriais na América Latina.
E, enfim, o entrincheiramento no cinismo político, disfarçado de possibilismo realista dos restos da política partidária como forma de representação. Uma lenta agonia daquilo que foi essa ordem política."
*Manuel Castells. "Ruptura – A crise da democracia liberal", p.144. Editora Zahar. Rio de Janeiro, 2017.
Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 09:10:00 Nenhum comentário:
Nos dias que atravessamos, nada de alentador ao nosso redor. A Europa já se prepara para uma nova guerra, jogando a culpa a Putin. Estados Unidos, sob a égide de Trump, isola-se do mundo e internamente desfecha uma campanha de extermínio justo naquilo que o fez vitrine do mundo: o soft power das grandes universidades, do cinema, das artes. Na América Latina vivemos o confronto de dois titãs contrapostos: Lula e Milei. O que vencer, o fará com pouca margem, mas definirá o lado do continente. Mas seja qual for, tudo indica que continuaremos sob o clima de tensão e desencanto. Os “Anos Dourados” ficaram para a História.
EDITORIAL 30/5/25
ELEIÇÕES DE 2026 À VISTA
Daqui a um ano, à altura de junho, já estarão sendo realizadas Convenções dos Partidos para a indicação de candidatos ao pleito que se realizará em Outubro: Nacional e estaduais, Executivos e Legislativos. As cogitações e pesquisas, porém, já antecipam o pleito. Duas grandes dúvidas acompanharão este processo, até a undécima hora das escolhas: Lula será candidato à reeleição (?) e quem representará Bolsonaro candidato á Presidência? Lula tem reafirmado que estará a postos, mas analistas apontam problemas que ainda poderão se antepor à sua indicação: perda de popularidade, já baixa, que desaconselhe derrota ao final de uma brilhante carreira política e, inevitavelmente, sua idade. Bolsonaro, de sua parte, também não decide por antecipação. Finge que “um milagre” , encomendado a seu filho Eduardo em missão nos Estados Unidos, poderá salvá-lo. Na verdade está dividido entre indicar um nome da família, sua mulher, ou Tarcísio, Governador de São Paulo. À estas dúvidas quanto à Presidência da República, somam-se estratégias quanto à luta pelo Poder, seja no tocante à composição do Congresso Nacional, seja quanto aos Governadores dos principais Estados: SP, MG, RJ, RS e PE. Hoje, tal como em 1964, a direita domina os quatro primeiros. Arrais, naquele fatídico ano do golpe. governava PE, mas não teve capacidade de resistência, tal como Brizola, na Legalidade, em 1961. Lula, no comando da Frente de Centro Esquerda deve estar atento a isso e preocupado em escolher nomes com efetiva capacidade de vitória. E “resistência”. Isso é particularmente estratégico no RS, onde a direita está sem um candidato natural, diante da saída do páreo do Senador Heize, com saúde abalada, da inevitabilidade da saída do Governador Leite, já filiado ao PSD/Kassab, e da disputa acirrada dentro do MDB entre o Prefeito de POA e o atual vice governador, abrindo excepcional possibilidade de vitória da esquerda. Aqui, porém, também um problema: Um PDT enfraquecido - e abalado pelo escândalo do INSS/Lupi - tem em Juliana Brizola um trunfo. Ela ponteia as pesquisas ao Piratini. Mas o PT, partido mais forte no campo da esquerda, dificilmente a aceitará como cabeça de chapa numa eventual composição. Tudo indica que tentará novamente o Governo, em estreita aliança com PSOL, PCdo B e PV , escolhendo como candidato ao Governo um destes três nomes: A. Pretto, candidato em 22, Pepe Vargas, atual Presidente da Assembleia Legislativa e o deputado federal Alexandre Lindemeier , vitorioso no sul do Estado. O outro polo de Poder é o Congresso. Aqui os olhos da direita e esquerda estão postos no Senado, cujos poderes poderão torna-lo peça chave da dinâmica da politica nacional. Haverá renovação de 2/3 do Senado, abrindo amplas possibilidades de seu perfil, hoje dominado pela direita, com o agravante do fim da lua de mel do seu atual Presidente com Lula. Ganhando a direita, fortalecer-se-á, mesmo em caso da vitória de Lula. Perdendo, dará a ele mais oxigênio legislativo, num processo em que o Executivo vem perdendo cada vez mais capacidade de intervenção. Daí a atenção de Lula quanto aos nomes que se lançarão candidatos ao Senado em cada Estado. Não quer candidatos para “marcar posição”, mas com efetiva competividade. Quem viver, verá o resultado...
Anexo:
Avanço da direita preocupa PT, que antecipa ofensiva no Sul e Centro-Oeste - Partido quer evitar que oposição leve as duas vagas no Senado em sete estados das regiões; ministros do governo podem ser convocados a disputar. Blog da Andréia Sadi
Avanço da direita preocupa PT, que antecipa ofensiva no Sul e Centro-Oeste
Partido quer evitar que oposição leve as duas vagas no Senado em sete estados das regiões; ministros do governo podem ser convocados a disputar.
Por Juliana Braga, GloboNews
29/05/2025 16h50 Atualizado há 8 horas
Avanço da direita preocupa PT, que antecipa ofensiva no Sul e Centro-Oeste
O PT tem antecipado as conversas para 2026 com atenção especial ao Senado nos estados do Sul e Centro-Oeste. O objetivo é diminuir o risco de que a direita conquiste as duas cadeiras em disputa nesses sete estados, onde o bolsonarismo é forte.
Para evitar uma derrota maiúscula, alianças com partidos de centro-direita não estão descartadas.
A preocupação com o Senado é maior porque na atual gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Casa tem segurado pautas bombas e garantido uma certa governabilidade. Além disso, é lá onde são aprovadas as indicações para tribunais, agências reguladoras e embaixadores. Dificuldade na tramitação dessas matérias pode paralisar o governo. É também responsabilidade dos senadores analisar o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Nas próximas eleições, o Senado renova dois terços das cadeiras. Do terço que fica, 16 (ou 60%) são de oposição. Se a direita conquista todas as vagas do Sul e Centro-Oeste, garante 30 votos.
O caso do Distrito Federal é ilustrativo da dificuldade que o PT tenta evitar. Há possibilidade de que a legenda enfrente o atual governador, Ibaneis Rocha (MDB), e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), dois nomes difíceis de bater. Para concorrer no DF, o partido deve lançar a deputada federal Érika Kokay, que já manifestou preferência por disputar a reeleição, considerada mais garantida, mas que deve ter de ir para o "sacrifício".
O PT tem na próxima segunda-feira (2) mais uma reunião do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE). Geralmente, ele é montado próximo de cada eleição mas, temendo o cenário preocupante, nem chegou a ser desmontado depois do pleito municipal. A ideia é ir avaliando cenário e afunilando as alianças possíveis para 2026.
"Nós temos nomes e lideranças que podem compor a chapa majoritária, independente da posição que esteja. O foco é garantir um palanque forte para garantir a reeleição do presidente Lula", diz Henrique Fontana, secretário-geral do PT.
"Vou focar nos 40% que votam no Lula, isso é mais que suficiente para ganhar Senado", diz. A ministra de Relações Institucionais vem afirmando que não pretende concorrer ao cargo majoritário, mas também pode ser convocada a depender do cenário.
Ministros cotados para disputar Senado
No Rio Grande do Sul, a aposta deve ser o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social Paulo Pimenta. A escolha se deve à projeção que o parlamentar teve durante a reconstrução do estado após as enchentes. Mas o martelo não está batido porque, lá, o partido tenta garantir uma aliança ampla ao menos com os partidos de esquerda como PCdoB, PDT, Rede e PSOL.
No Paraná, o plano é concentrar esforços em uma candidatura do PT para garantir ao menos uma cadeira. Segundo o deputado Zeca Dirceu, cotado para disputar o posto, em 2018 os dois senadores eleitos pelo estado tiveram 28% e 29% dos votos cada um.
Outros dois ministros são citados como possibilidades para enfrentar o bolsonarismo nessas regiões. No Mato Grosso do Sul, a aposta no momento é a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB). A avaliação é de que ela saiu com capital político elevado ao ficar em terceiro lugar na disputa presidencial em 2022.
Ainda é preciso testar, no entanto, o quanto esse capital se reverterá em voto no seu estado, tendo em vista que em 2022 ela desistiu de disputar a reeleição por receio de não ter os votos suficientes.
Já no Mato Grosso, o nome mencionado é o do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. A aposta é que ele consiga fazer o diálogo com o setor produtivo, que tem apoiado majoritariamente Bolsonaro.
Lula preocupado
Como o blog mostrou, o presidente Lula tem demonstrado preocupação com o avanço da direita e do bolsonarismo no Senado nas eleições de 2026 e quer foco nessa disputa. Nesse projeto de lançar nomes fortes para enfrentar a oposição, Haddad tem ganhado força nos bastidores como uma das opções viáveis para o Senado.
A democracia paralítica por Christian Lynch
Como a democracia liberal, ainda analógica, sobrevive em um mundo ditado pelo digital, por sua vez dominado pelo extremismo de direita?
A democracia liberal, tal como concebida no século 20, atravessa uma fase avançada de obsolescência. Em praticamente todas as democracias do mundo, sua paralisia não decorre de um golpe explícito, mas de um esvaziamento progressivo de sua capacidade de agir. A engrenagem institucional, outrora celebrada por sua prudência e respeito aos freios e contrapesos, hoje se revela disfuncional diante de um tempo acelerado. O mundo digital exige decisões rápidas, fluxos contínuos de informação e adaptação permanente. A democracia, contudo, permanece ancorada em rotinas deliberativas lentas, herdadas da era analógica e da burocracia de papel. Sua crise é, antes de tudo, uma crise de temporalidade.
No Brasil, essa obsolescência é particularmente grave. O sistema presidencialista tornou-se uma equação desequilibrada entre um Executivo enfraquecido, um Legislativo fragmentado e um Judiciário hipertrofiado. O governo federal, embora comprometido com a democracia — tendo sido alvo recente de uma tentativa de golpe de Estado —, opera com minoria parlamentar e sob constante chantagem de um Congresso que, embora não seja majoritariamente golpista, flerta abertamente com o golpismo como expediente eleitoral e mecanismo de chantagem. A consequência é um pacto institucional disfuncional: para preservar a legalidade democrática, toleram-se abusos, apropriações privadas do orçamento e a judicialização excessiva da política. O custo da estabilidade é a erosão da eficácia governamental.
Não se trata mais de oposição, mas de conluio internacional para inviabilizar a normalidade institucional brasileira
É nesse vácuo que o bolsonarismo se reconfigura. Fora do governo, mas não da cena pública, conta com apoio da extrema direita internacional — em especial do trumpismo americano — e se estrutura como um projeto político digitalizado, transnacional e desinstitucionalizante. Sua ofensiva não é apenas simbólica: opera-se uma sabotagem ativa do sistema democrático por dentro e por fora. O caso de Eduardo Bolsonaro, articulando do exterior pressões pela impunidade do pai, é exemplar. Não se trata mais de oposição, mas de conluio internacional para inviabilizar a normalidade institucional brasileira.
Esse novo reacionarismo se molda perfeitamente ao ecossistema digital. Domina as linguagens afetivas, os algoritmos, a inteligência artificial e a micro segmentação. Sabe onde atingir e como produzir engajamento. Enquanto isso, o Estado brasileiro continua operando como uma máquina analógica: suas respostas são lentas, fragmentárias e ineficazes. Governar, em muitos aspectos, ainda depende de papel, fila e balcão. O populismo digital reacionário encontra sua força não apenas nas emoções que mobiliza, mas na inércia do Estado democrático que não entrega. A cidadania digital é prometida pela extrema direita; o Estado oferece apenas a lentidão da promessa adiada.
Esse quadro agrava-se na medida em que os cidadãos já naturalizaram a eficiência do setor privado. Pedem comida por aplicativo, fazem transferências bancárias em segundos, mas não conseguem marcar uma consulta no SUS ou consultar um processo judicial. A plataforma gov.br, ainda que promissora, é insuficiente. O Estado é mais lento que o crime, menos hábil que a desinformação, menos ágil que os fluxos financeiros que lhe escapam. Elon Musk e Mark Zuckerberg sabem mais sobre os brasileiros do que qualquer órgão da administração pública — e frequentemente colocam essa informação a serviço de projetos políticos regressivos.
A democracia precisa reaprender a se comunicar, a se organizar e a governar num mundo digital
A democracia, portanto, enfrenta um duplo desafio: proteger-se do golpismo e reinventar-se tecnologicamente. Isso não exige abandonar o liberalismo político — base irrenunciável de qualquer regime democrático —, mas sim reconfigurá-lo às condições da era digital. Roosevelt, nos anos 1930, fez isso ao transformar o rádio, instrumento preferencial dos fascismos europeus, em meio de reconstrução democrática. A partir dali, o Estado social passou a responder por bens essenciais, combinando liberdade política com justiça distributiva. É essa mesma reinvenção que se faz hoje necessária.
No caso brasileiro, essa atualização deve começar pela providência mais óbvia e urgente: a regulamentação democrática das redes sociais. Não se trata de censura, mas de soberania. Trata-se de garantir à democracia um mínimo controle sobre o espaço público digital, atualmente entregue à manipulação emocional, à desinformação industrializada e à atuação de potências estrangeiras. A democracia precisa reaprender a se comunicar, a se organizar e a governar num mundo digital.
Reinventar a democracia, portanto, não é um gesto de ruptura, mas de continuidade histórica. Como ensinava Afonso Arinos, “a evolução da humanidade é comparável a uma espiral, cujas curvas se sobrepõem sempre, mas em planos cada vez mais elevados”. Os problemas históricos se repetem, mas em contextos distintos, que exigem respostas novas. Só o espírito rotineiro insiste em aplicar soluções antiquadas a dilemas inéditos — ou entrega o poder às forças da regressão. A democracia brasileira ainda pode reencontrar seu caminho. Mas para isso precisa sair do torpor, reduzir seu déficit tecnológico e voltar a operar no tempo do mundo em que vive. E o tempo, hoje, é digital.
Cientista político, editor da revista Insight Inteligência e professor do IESP-UERJ
CADA DIA COM SUA AGONIA
Dificilmente nos deparamos com situações coincidentes com tanta crise. Não bastassem as tensões das mudanças climáticas e dos ajustes tectônicas de uma nova Ordem Geoeconômica Mundial, assistimos, nos dias que passam, fortes abalos da conjuntura nacional. Até na nossa Mais Bela Praia, as coisas andam mal, com a invasão do Museu, fruto do abandono da cultura nos oito anos da passada gestão, mais preocupada em fazer de Torres um arremedo de Camboriu SC, e a questão da transferência de recursos da Prefeitura para a APAE. Aqui ao lado, em Arroio do Sal, a inquietação é com o delírio da construção de um Porto que acabará infestando a região, como ocorreu no Equador, com as disputas em torno do contrabando e do narcotráfico. A verdade é que estamos atravessando, em todos os sentidos, um tempo difícil. O panorama internacional não poderia ser mais crítico. A guerra na Ucrânia vai deteriorando cada vez mais as relações entre Ocidente e Rússia, agora já a nível de advertência para uma III Guerra Mundial por parte do Presidente Putin. Um alto dirigente europeu , Josep Borrell, ex-vice-presidente da Comissão Europeia, que afirmou com todas as letras: “A supremacia ocidental terminou”, já admite: E a ação terrorista do Estado de Israel, que se deveria comportar, como Estado Membro das Nações Unidas, descambou, em Gaza, sob a alegação de direito `a segurança, se revela como um genocídio a céu aberto condenado internacionalmente. No Brasil, a sucessão de 26, já está em campo, com a visível dificuldade de Lula III segurar, seja o próprio governo, enleado na questão do aumento do IOF, desencontrando Casa Civil – Fazenda e BANCO CENTRAL, seja do Ministro da Fazenda, para administrar as tensões da alta do IOF com o Congresso Nacional e entidades empresariais. O resultado de tudo isso se reflete em algumas pesquisas eleitorais. Ciro Gomes, cresce, ao lado de Tarcísio, Governador de São Paulo, como candidatos a Presidente. Juliana Brizola, de um agonizante PDT, ponteia a sucessão para o Piratini. Veja-se , por exemplo, o cenário destas questões todas nos títulos dos fazedores de Opinião :
Extrema-direita em ascensão, por Celso Japiassu – RED = https://red.org.br/noticias/extrema-direita-em-ascensao/
Editorial
Renda do trabalho em alta e supersafra fazem marcado elevar projeção do PIB - Mayra Castro / O Globo
Democracia Política e novo Reformismo: Renda do trabalho em alta e supersafra fazem marcado elevar projeção do PIB
Desaceleração adiada de novo
A desacerelação da economia foi, mais uma vez, adiada — e, talvez, a freada seja menor do que a que vinha sendo esperada. Com mais uma supersafra cada vez maior, o mercado de trabalho aquecido, com rendimento nas máximas históricas, e o crédito ainda em expansão, mesmo com juros em alta, economistas já estão revisando para cima suas projeções de crescimento econômico para o primeiro trimestre.
Já era esperado que a agropecuária puxasse a economia, com clima favorável e boa quantidade de chuvas desde outubro do ano passado, mas a freada no consumo deverá ficar mais para este segundo trimestre e, principalmente, para a segunda metade do ano.
Uma confirmação do adiamento da desaceleração veio anteontem. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) indicou que a economia brasileira cresceu 1,3% no primeiro trimestre ante o período de outubro a dezembro de 2024.
Isso surpreendeu alguns analistas, que esperavam um ritmo mais moderado — o resultado oficial do Produto Interno Bruto (PIB, valor de todos os produtos e serviços produzidos na economia) dos três primeiros meses do ano será divulgado no próximo dia 30 pelo IBGE.
Andrea Damico, economista-chefe da gestora de recursos Armor Capital, contou que sua equipe mudou suas projeções do PIB do primeiro trimestre, que passaram para um avanço de 1,4% sobre o quarto trimestre de 2024, ante 1,1%, na estimativa anterior.
As revisões para cima têm sido recorrentes, lembrou a economista. No início de 2024, já era esperada uma desaceleração, mas o crescimento foi se mostrando mais forte do que o esperado ao longo do ano. Apesar do arrefecimento no último trimestre, a economia cresceu 3,4% no ano passado. Isso parece estar acontecendo novamente no início de 2025.
Para além do agro
Segundo economistas, a surpresa no primeiro trimestre se deu porque, além do bom desempenho da agropecuária, já esperado, o setor de serviços continuou forte e a indústria não arrefeceu tanto.
Pela ótica da demanda, o consumo das famílias seguiu robusto, por causa do mercado de trabalho. Apesar da política de juros restritiva — em setembro, o BC começou a subir a taxa básica (a Selic, hoje em 14,75% ao ano) —, os recordes no rendimento médio do trabalho estimularam a atividade econômica no primeiro trimestre.
— Os rendimentos voltaram a acelerar, os salários voltaram a se recuperar e isso não estava no nosso cenário — disse Andrea.
Outro fator mencionado por economistas é o aumento das concessões de crédito, também apesar dos juros altos. Um destaque aí são os empréstimos consignados — aqueles que têm como garantia o salário ou benefício previdenciáro do tomador —, que receberam um impulso com o programa para trabalhadores do setor privado, lançado em março pelo governo federal.
— Teve esse consignado privado, que leva a uma troca de dívidas mais caras por dívidas mais baratas. Isso acaba por liberar mais a renda disponível (para consumir) — explica Luis Otávio Leal, economista-chefe da gestora e consultoria financeira G5 Partners.
Leal citou ainda o impulso do aumento do salário mínimo. Desde 2023, voltou a política de reajustes acima da inflação, marca dos governos do PT. O economista da G5 Partners aumentou suas projeções para o desempenho do PIB do primeiro trimestre para uma alta de 1,5% ante os três últimos meses de 2024, acima do 1,1% que estimava antes.
Freada menor
A desaceleração segue no radar, ainda que adiada, mas alguns acreditam que a freada pode ser menos intensa do que o inicialmente imaginado. O Ministério da Fazenda revisou a projeção de crescimento econômico em 2025 para 2,4%, ante os 2,3% de antes.
Ariane Benedito, economista-chefe da empresa de pagamentos PicPay, também elevou suas previsões para o ano, para 2,2%, ante o avanço de 1,6% que projetava anteriormente. O Boletim Focus, pesquisa semanal do BC sobre projeções de analistas de mercado, vinha apontando crescimento anual de 2% — subiu ligeiramente, para 2,02%, na edição mais recente.
— Vai desacelerar, mas menos do que se imaginava — disse a economista. — Olhando para crédito e para salários, vimos uma persistência dessas variáveis como contribuição positiva para a atividade. Embora já se comece a ver números aquém dos registrados anteriormente, podemos dizer que o mercado de trabalho deverá permanecer aquecido.
Leal manteve a projeção para o ano — alta de 2,3% —, porque baixou a expectativa para este segundo trimestre:
— O primeiro trimestre mais forte acaba fazendo, pelo efeito base, com que tenhamos o segundo trimestre mais baixo. E tem o fato de que a safra de soja é concentrada no primeiro trimestre.
Para Juliana Trece, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), a desaceleração deverá vir no restante do ano, como resultado dos juros elevados e da incerteza externa:
— Desaceleração não significa retração. A expectativa é de uma fase de estagnação nos próximos meses.
Isso deverá ocorrer, em parte, porque o primeiro trimestre mais forte poderá contribuir para que o BC mantenha os juros em patamares elevados — seja com um aumento de 0,25 ponto percentual na próxima reunião, chegando a 15%, seja com a manutenção do nível atual por mais tempo.
E há incertezas. Novos incentivos do governo podem impulsionar a economia. A ameaça da gripe aviária e a guerra comercial do presidente americano, Donald Trump, podem reforçar a freada.
EDITORIAL
Nós brasileiros, quem somos?
José Bonifácio, o Patriarca da Independência, já se perguntava sobre nossa identidade. Letrado no Iluminismo, contemporâneo da Revolução Francesa de 1789, dava-se conta de que detínhamos um Estado, supostamente autônomo, ainda que sob o alcance das canhoneiras inglesas, mas faltava uma Nação. Daí suas iniciativas, frustradas quanto à inclusão de nativos e negros. Diversos autores, décadas depois, continuaram indagando sobre nossa natureza: Um povo triste? Um povo cordial? Uma cultura antropofágica? País negro? Mestiço? País do carnaval e do futebol? Não há um consenso. Na verdade, somos um grande mosaico regional, cujo epicentro originário, o nordeste, não coincide com as sobreposições que se lhe acrescentaram. O Rio de Janeiro é uma cidade cosmopolita, mas fechada em si mesmo, hoje mergulhada no narco estado. São Paulo é uma locomotiva movida por um punhado de empresas e gentes multinacionais, que tanto está no Brasil, como poderia estar no Canadá ou Austrália. Acreditam piamente que os “bandeirantess” construíram as fronteiras do Brasil...Minas Gerais, a mais próxima de uma “cara” do Brasil, vez que genuinamente sintética de várias contribuições, é “um Estado de Espírito”. Paira poeticamente do cume de suas montanhas sobre o que escorre pelos vales da Nação. O Norte, “descoberto” pelos militares de 1964, que criaram a SUDAM. Zona Franca e a Transamazônica é o frágil continente verde de baixa densidade demográfica, permeado de aldeias indígenas, e ameaçado pelo agro-business e pelo conluio do narcotráfico com o garimpo. O Centro Oeste, a nova terra de promissão econômica que destrói o cerrado e sufoca as principais nascentes brasileiras. O Sul, com um Estado ao seu extremo, o Rio Grande, perdendo população e agonizando diante de uma severa crise de lideranças que não conseguem enfrentar os desafios das mudanças climáticas e do seu parque produtivo; Santa Catarina, um mosaico de culturas, que avança empreendedoramente sem uma referência histórica de suporte e o Paraná, uma eterna promessa, num prolongamento de São Paulo ao norte, até Londrina, gaúchos ao Sudeste e a gelada República de Curitiba, que pouco tem a ver com o Brasil, querendo dar receitas para consertá-lo.
Diante disso, fica-se a pensar: Quem somos?
Recente pesquisa de DNA dos brasileiros , feita pela Universidade de São Paulo, comprova que somos mesmo “mestiços” com cerca de 60% de sangue europeu, 27% negro e 13% nativo, mas 8 milhões de variantes étnicas dispersas pelo território. Somos, muito mais que os americanos, um “melting pot” populacional. Mas os pretos se reinvidicam maioria, porque somam os que se denominam negros com os mestiços, alegando que a mestiçagem foi decorrente da violência dos homens brancos contra as mulheres negras. Mas já há um movimento autônomo de “mestiços” rejeitando essa tese e exigindo o estatuto próprio como tal. Para gáudio de Gilberto Freira e Darcy Ribeiro. Povos originários, de outra parte, foram sumariamente destroçados pelos colonizadores, como ocorreu no Rio Grande do Sul na destruição das reduções jusuíticas. Dos seus vestígios reperam-se suas culturas em áreas protegidas, alcançando hoje apenas 1 milhão deles.
Persiste, pois, a indagação: QUEM SOMOS?
Celso Furtado, então Ministro da Cultura, tentou explicar sociologicamente nossa natureza. Foi bem sucedido quanto à nossa elite, que classificou como “bovarista”. Mas só a Poesia, talvez nos defina, ou enigmaticamente nos proponha. Foi o fez Drummond:
HINO NACIONAL
Precisamos descobrir o Brasil!
Escondido atrás das florestas,
Com água dos rios no meio,
O Brasil está dormindo, coitado
Precisamos colonizar o Brasil.
O que faremos importando francesas
muito louras, de pele macia,
alemãs gordas, russas nostálgicas para
garçonetes dos restaurantes noturnos.
E virão sírias fidelíssimas.
Não convém desprezar as japonesas...
Precisamos educar o Brasil.
Compraremos professores e livros,
assimilaremos finas culturas,
abriremos dancings e subvencionaremos as elites.
Cada brasileiro terá sua casa
com fogão e aquecedor elétricos, piscina,
salão para conferências científicas.
E cuidaremos do Estado Técnico.
Precisamos louvar o Brasil.
Não é só um país sem igual.
Nossas revoluções são bem maiores
do que quaisquer outras; nossos erros também.
E nossas virtudes? A terra das sublimes paixões...
os Amazonas inenarráveis... os incríveis João-Pessoas...
Precisamos adorar o Brasil!
Se bem que seja difícil compreender o que querem esses homens,
por que motivo eles se ajuntaram e qual a razão
de seus sofrimentos.
Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!
Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,
ele quer repousar de nossos terríveis carinhos.
O Brasil não nos quer! Está farto de nós!
Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil.
Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?
Por isso, se tivesse que dar uma face aos brasileiros, preferiria a Lady Gaga. Afinal, com ela comungam mais de dois milhões de brasileiros. Prefiro, aliás, a dela do que a dos 300 deputados federais que se apoderaram do Orçamento da República num conluio onde não falta de defesa de figuras grotescas como um delegado golpista e uma faroleira de ocasião
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Entenda como funcionam os algoritmos e veja dicas para tentar escapar das bolhas
Além de não serem neutros, os algoritmos, no caso das redes sociais, respondem a estímulos dados pelos usuários
Investigado por: Folha de S.Paulo e Estadão.
Comprova Explica: Os algoritmos são códigos desenvolvidos para executar tarefas. Nos aplicativos de transporte, eles podem, por exemplo, sugerir o trajeto mais rápido de um ponto a outro; nos de delivery, podem mostrar os restaurantes em que você já fez algum pedido na tela inicial. Nas redes sociais, eles entendem que tipo de conteúdo você costuma gostar – seja ao analisar suas curtidas ou comentários, entre outros pontos – e sugerem apenas posts com potencial de te agradar, mesmo que contenham desinformação. A seção Comprova Explica traz informações sobre o funcionamento deles.
Comprova Explica: Quando navegamos nas redes sociais, somos apresentados a diferentes conteúdos, mas já parou para pensar quem escolhe o que vemos? São os algoritmos, criados por programadores seguindo instruções de empresas como X, TikTok e Meta, dona do Facebook e Instagram. “Eles não são neutros”, afirma Kérley Winques, professora e pesquisadora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Além de não serem neutros, os algoritmos, no caso das redes sociais, respondem a estímulos dados pelos usuários. Quanto mais você curt
EDITORIAL
Nós brasileiros, quem somos?
José Bonifácio, o Patriarca da Independência, já se perguntava sobre nossa identidade. Letrado no Iluminismo, contemporâneo da Revolução Francesa de 1789, dava-se conta de que detínhamos um Estado, supostamente autônomo, ainda que sob o alcance das canhoneiras inglesas, mas faltava uma Nação. Daí suas iniciativas, frustradas quanto à inclusão de nativos e negros. Diversos autores, décadas depois, continuaram indagando sobre nossa natureza: Um povo triste? Um povo cordial? Uma cultura antropofágica? País negro? Mestiço? País do carnaval e do futebol? Não há um consenso. Na verdade, somos um grande mosaico regional, cujo epicentro originário, o nordeste, não coincide com as sobreposições que se lhe acrescentaram. O Rio de Janeiro é uma cidade cosmopolita, mas fechada em si mesmo, hoje mergulhada no narco estado. São Paulo é uma locomotiva movida por um punhado de empresas e gentes multinacionais, que tanto está no Brasil, como poderia estar no Canadá ou Austrália. Acreditam piamente que os “bandeirantess” construíram as fronteiras do Brasil...Minas Gerais, a mais próxima de uma “cara” do Brasil, vez que genuinamente sintética de várias contribuições, é “um Estado de Espírito”. Paira poeticamente do cume de suas montanhas sobre o que escorre pelos vales da Nação. O Norte, “descoberto” pelos militares de 1964, que criaram a SUDAM. Zona Franca e a Transamazônica é o frágil continente verde de baixa densidade demográfica, permeado de aldeias indígenas, e ameaçado pelo agro-business e pelo conluio do narcotráfico com o garimpo. O Centro Oeste, a nova terra de promissão econômica que destrói o cerrado e sufoca as principais nascentes brasileiras. O Sul, com um Estado ao seu extremo, o Rio Grande, perdendo população e agonizando diante de uma severa crise de lideranças que não conseguem enfrentar os desafios das mudanças climáticas e do seu parque produtivo; Santa Catarina, um mosaico de culturas, que avança empreendedoramente sem uma referência histórica de suporte e o Paraná, uma eterna promessa, num prolongamento de São Paulo ao norte, até Londrina, gaúchos ao Sudeste e a gelada República de Curitiba, que pouco tem a ver com o Brasil, querendo dar receitas para consertá-lo.
Diante disso, fica-se a pensar: Quem somos?
Recente pesquisa de DNA dos brasileiros , feita pela Universidade de São Paulo, comprova que somos mesmo “mestiços” com cerca de 60% de sangue europeu, 27% negro e 13% nativo, mas 8 milhões de variantes étnicas dispersas pelo território. Somos, muito mais que os americanos, um “melting pot” populacional. Mas os pretos se reinvidicam maioria, porque somam os que se denominam negros com os mestiços, alegando que a mestiçagem foi decorrente da violência dos homens brancos contra as mulheres negras. Mas já há um movimento autônomo de “mestiços” rejeitando essa tese e exigindo o estatuto próprio como tal. Para gáudio de Gilberto Freira e Darcy Ribeiro. Povos originários, de outra parte, foram sumariamente destroçados pelos colonizadores, como ocorreu no Rio Grande do Sul na destruição das reduções jusuíticas. Dos seus vestígios reperam-se suas culturas em áreas protegidas, alcançando hoje apenas 1 milhão deles.
Persiste, pois, a indagação: QUEM SOMOS?
Celso Furtado, então Ministro da Cultura, tentou explicar sociologicamente nossa natureza. Foi bem sucedido quanto à nossa elite, que classificou como “bovarista”. Mas só a Poesia, talvez nos defina, ou enigmaticamente nos proponha. Foi o fez Drummond:
HINO NACIONAL
Precisamos descobrir o Brasil!
Escondido atrás das florestas,
Com água dos rios no meio,
O Brasil está dormindo, coitado
Precisamos colonizar o Brasil.
O que faremos importando francesas
muito louras, de pele macia,
alemãs gordas, russas nostálgicas para
garçonetes dos restaurantes noturnos.
E virão sírias fidelíssimas.
Não convém desprezar as japonesas...
Precisamos educar o Brasil.
Compraremos professores e livros,
assimilaremos finas culturas,
abriremos dancings e subvencionaremos as elites.
Cada brasileiro terá sua casa
com fogão e aquecedor elétricos, piscina,
salão para conferências científicas.
E cuidaremos do Estado Técnico.
Precisamos louvar o Brasil.
Não é só um país sem igual.
Nossas revoluções são bem maiores
do que quaisquer outras; nossos erros também.
E nossas virtudes? A terra das sublimes paixões...
os Amazonas inenarráveis... os incríveis João-Pessoas...
Precisamos adorar o Brasil!
Se bem que seja difícil compreender o que querem esses homens,
por que motivo eles se ajuntaram e qual a razão
de seus sofrimentos.
Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!
Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,
ele quer repousar de nossos terríveis carinhos.
O Brasil não nos quer! Está farto de nós!
Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil.
Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?
Por isso, se tivesse que dar uma face aos brasileiros, preferiria a Lady Gaga. Afinal, com ela comungam mais de dois milhões de brasileiros. Prefiro, aliás, a dela do que a dos 300 deputados federais que se apoderaram do Orçamento da República num conluio onde não falta de defesa de figuras grotescas como um delegado golpista e uma faroleira de ocasião.
EDITORIAL
Como resistiremos? Janete Schubert
Tenho refletido sobre nosso adoecimento coletivo. Estamos adoecendo, mas não é por fraqueza individual e sim por um cansaço estrutural. Um esgotamento que não vem só de dentro, mas que nos atravessa por todos os lados.
Vivemos numa lógica que transforma tudo — e todos — em recurso. Produzimos sem pausa, competimos sem fim, acumulamos tarefas, metas, diplomas, validações. Fomos ensinados que descansar é preguiça, que sentir é fraqueza. E que se mostrar vulnerável é um defeito.
E se você está cansado… é porque não está se esforçando o suficiente. O nome disso é capitalismo emocional, um sistema que monetiza até o afeto, que coloniza o tempo, o corpo, os sonhos
E que nos convence de que sucesso é estar sempre ocupado — mesmo que vazio por dentro.
Estamos adoecendo porque nos fizeram acreditar que precisamos render o tempo todo, mas não fomos feitos para apenas produzir, fomos feitos para viver, para criar, para amar e, sobretudo, para parar. Nosso corpo protesta quando nossa alma não é ouvida. Nosso coração adoece quando nossa vida perde o sentido.
É hora de perguntar, com coragem:
Quem se beneficia do nosso cansaço?
Que tipo de mundo estamos sustentando com nossa exaustão?
E o que, em nós, ainda pode ser resgatado e refeito?
Estamos adoecidos por um sistema que nos destrói.
Hoje são as máquinas que estão pensando.
Como resistiremos ?
Dra Janete Schubert
EDITORIAL
NÓS SEMPRE TEREMOS O URUGUAI
PEPE MUJICA , no Uruguai, e VIRGÍNIA FONSECA , no Brasil, duas vidas, uma finda, outra em curso, ambas em relevo no noticiário de ontem e hoje. Virgínia, faroleira, isto é, influenciadora digital, apolítica, 26 anos, 53 milhões de seguidores, uma bela mulher, prestou depoimento no Senado sobre seus negócios milionários com casas de aposta. ( Símbolo da modernidade líquida condenada ao esquecimento daqui a um século). Pepe Mujica, amante da Política, mas casado com a vida, ex guerrilheiro tupamaro, ex Presidente do Uruguai, nos deixa com a imagem de seu velho fusca azul para entrar na História. Não por acaso, os dois Podcasts mais lidos do Brasil, da Globo e do Grupo Folho/UOL, tratam, hoje, precisamente, destes dois progatonistas de seu tempo.
EDITORIAL
Brasil, uma Nação marcada pela violência disfarçada no mito da cordialidade
O Atlas da Violência, é um estudo produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), indica que o Brasil teve 45.747 homicídios em 2023, com uma média de 21,2 a cada 100 mil habitantes123. Houve redução de homicídios desde 2018, atribuída a políticas de segurança pública e acordos entre facções3.
O IPEA, órgão de pesquisa e planejamento do Governo Federal acaba de lançar novo ATLAS DA VIOLÊNCIA no Brasil. Um verdadeiro horror, amenizado com a informação de que os assassinatos, enfim, diminuíram de intensidade nos últimos anos, apesar da elevada cifra em torno de 45 mil mortos por ano. Isso sem contar mortes não identificadas como violência. Por acaso acidentes fatais no trânsito e no trabalho também não são produtos da violência? Isso num país que não está em guerra, mas convive com a morte inesperada diariamente. As maiores vítimas são mulheres e jovens negros, abandonados à própria sorte no dia 14 de maio de 1888, um dia depois da suposta “Abolição” assinada pela “abençoada” Princesa Isabel, que teria dado jóias da Coroa pela causa da libertação dos escravos. Ora, o Império era a própria armadura da escravidão e, por isso mesmo, não resistiu muito depois da “Abolição”. Em boa hora, aliás, um pequeno grupo de jovens pretos de Porto Alegre, em 1971, Antonio Carlos Cortes, ainda vivo, entre eles, denunciou a farsa do “13 de maio” e o substitui pelo “20 de novembro”, que viria a se tornar como o DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA. Eles não só recuperaram o protagonismo da luta pela libertação de seu povo, como denunciam as sequelas da falsa Abolição que os jogou nas margens de uma ordem social competitiva proibidos do acesso à terra para trabalharem, ao estudo para se desenvolverem e às garantias para sua adequada organização e representação social e política. Restou-lhes a música e o futebol com os quais encantaram a sociedade emergente do século XX. Uma exceção foi Abdias do Nascimento que depois de curtir o exílio e a prisão, por desacato à autoridades, inaugura dois momentos importantes da presença negra no Teatro brasileiro: O do “ Sentenciado” e o “Teatro Experimental Negro”, que fez sua estréia no Municipal do Rio de Janeiro em 1945. Na década de 80, deputado e Senador pelo PDT, seria um dos artífices do Movimento Negro no Brasil Mas a violência, entranhada na escravidão por mais de três séculos em nosso país, com seus estigmas, preconceitos e consequências disseminou-se no país, tomando as mais diversas formas de expressão: autoritarismo, coronelismo, golpismo, machismo, patriarcalismo etc. Nem mesmo o interior está livre da violência. Notícias recentes dão conta de que o tráfico instalou-se em vários recantos regionais e já comanda administrações municipais. Nem mesmo uma capital escapou. Notícia de hoje afirma que o tráfico ofereceu ao Prefeito de Natal R$ 500mil para que renunciasse a favor de seu vice, supostamente aliado ao narco. Chegamos, com isso às bordas do Narco Estado. Tudo violência. Das mais elementares que atordoam a vida cotidiana de todo mundo com golpes e mais golpes por telefone, nas ruas, em assaltos a residências à continuidade dos escândalos nas altas esferas governamentais, dentre os quais o INSS é vítima sequencial. Nos anos 80/90 uma tal de Jorgina, advogada, ficou famosa pelo rombo com base na falsificação de acidentes de trabalho e aposentadorias precoces. Desta vez tugaram os contracheques dos aposentados e pensionistas e deixam ao Governo o encargo de pagar a conta com recursos públicos.
E agora, o que fazemos, com a Política Nacional sitiada por um Congresso dominado numa inédita aliança com Prefeitos que se reelegem a rodo e eternizam um modelo pouco promissor às novas gerações.
Editorial CULTURAL FM -Torres RS – www.culturalfm875.com
O NOVO PAPA LEÃO XIV- “ A paz esteja com todos vocês”
CIDADE DO VATICANO, 8 de maio (Reuters) - Segue o texto completo do primeiro discurso do Papa Leão XIV, proferido da varanda central da Basílica de São Pedro pouco após sua eleição como o novo papa e líder da Igreja Católica.
"A paz esteja com todos vocês!
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Caríssimos irmãos e irmãs, esta é a primeira saudação do Cristo Ressuscitado, o bom pastor que deu a sua vida pelo rebanho de Deus. Eu também gostaria que esta saudação de paz entrasse em seus corações, alcançasse suas famílias, todas as pessoas, onde quer que estejam, todos os povos, toda a Terra. A paz esteja com vocês!
Esta é a paz do Cristo Ressuscitado, uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante. Ela vem de Deus, o Deus que nos ama incondicionalmente. Ainda ressoa em nossos ouvidos aquela voz fraca, mas sempre corajosa, do Papa Francisco que abençoou Roma!
O papa que abençoou Roma deu a sua bênção ao mundo, ao mundo inteiro, naquela manhã de Páscoa.
Permitam-me dar seguimento a essa mesma bênção: Deus cuida de nós, Deus ama a todos nós, e o mal não prevalecerá! Estamos todos nas mãos de Deus. Portanto, sem medo, unidos de mãos dadas com Deus e entre nós, sigamos em frente.
Somos discípulos de Cristo. Cristo vai adiante de nós. O mundo precisa da Sua luz. A humanidade precisa Dele como a ponte para alcançar Deus e o Seu amor.
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Conclave elege o novo papa, no Vaticano
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O recém-eleito Papa Leão XIV, Cardeal Robert Prevost dos Estados Unidos, fala da varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, 8 de maio de 2025. Vatican Media/Francesco Sforza/Handout via REUTERS
Ajudem-nos também, então ajudem-se uns aos outros a construir pontes – com diálogo, com encontro, unindo todos nós para sermos um só povo sempre em paz. Obrigado, Papa Francisco!
Quero também agradecer a todos os meus colegas cardeais que me escolheram para ser o Sucessor de Pedro e para caminhar convosco, como uma Igreja unida que busca sempre a paz, a justiça – sempre tentando trabalhar como homens e mulheres fiéis a Jesus Cristo, sem medo, para proclamar o Evangelho, para sermos missionários.
Sou filho de Santo Agostinho, agostiniano, que disse: "Para vós sou cristão e para vós sou bispo". Neste sentido, podemos todos caminhar juntos rumo àquela pátria que Deus preparou para nós.
À Igreja de Roma, uma saudação especial! Devemos buscar juntos como ser uma Igreja missionária, uma Igreja que constrói pontes e diálogo, sempre aberta a receber pessoas, como esta praça, de braços abertos – todos, todos aqueles que precisam da nossa caridade, da nossa presença, do nosso diálogo e do nosso amor.
(Mudando para o espanhol) E se me permitem também, uma palavra, uma saudação a todos aqueles, e particularmente à minha amada diocese de Chiclayo, no Peru, onde um povo fiel acompanhou o seu bispo, partilhou a sua fé e deu tanto, tanto para continuar sendo uma Igreja fiel de Jesus Cristo.
(Voltando ao italiano) A todos vós, irmãos e irmãs de Roma, da Itália, do mundo inteiro, queremos ser uma Igreja sinodal, uma Igreja que caminha, uma Igreja que busca sempre a paz, que busca sempre a caridade, que busca sempre estar perto especialmente daqueles que sofrem.
Hoje é o dia da Súplica a Nossa Senhora de Pompeia. Nossa Mãe Maria sempre quer caminhar conosco, permanecer perto, ajudar-nos com a sua intercessão e o seu amor.
Então, gostaria de rezar junto com vocês. Rezemos juntos por esta nova missão, por toda a Igreja, pela paz no mundo, e peçamos esta graça especial a Maria, nossa Mãe."
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Reportagem de Joshua McElwee; Edição de Janet Lawrence
EDITORIAL
O DIA DA VITÓRIA CONTRA O NAZIFASCISMO
O PAPEL DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA. Por Aldo Rebelo - https://www.instagram.com/reel/DJMPxBXtsK9/?igsh=NzlqdTd5MjF1ZGsy
O Dia da Vitória (8 de maio): Comemorações e Significado - Dia da Vitória (8 de maio) - SÓ ESCOLA
O Dia da Vitória, celebrado em 8 de maio, é uma data que marca a rendição incondicional das forças armadas da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Este evento histórico não apenas simboliza o fim de um dos conflitos mais devastadores da história, mas também representa a luta pela paz e a reconstrução da Europa. Neste artigo, exploraremos a importância do Dia da Vitória, suas origens, as comemorações ao redor do mundo e o legado que deixou.
Origens do Dia da Vitória
A Segunda Guerra Mundial, que durou de 1939 a 1945, foi um dos conflitos mais sangrentos da história, resultando na morte de milhões de pessoas e na destruição de cidades inteiras. O Dia da Vitória, ou “Victory in Europe Day” (VE Day), foi oficialmente proclamado em 8 de maio de 1945, quando o líder nazista Adolf Hitler foi derrotado e a Alemanha se rendeu. Essa rendição foi um marco importante que selou o destino da Europa e do mundo, encerrando anos de opressão e violência.
Comemorações ao Redor do Mundo
O Dia da Vitória é celebrado de diferentes maneiras em vários países. Na Europa, especialmente no Reino Unido e na Rússia, as comemorações incluem desfiles, cerimônias e eventos que homenageiam os veteranos de guerra e as vítimas do conflito. Em Londres, por exemplo, é comum que a população se reúna em Trafalgar Square para recordar os eventos de 1945, enquanto na Rússia, o Dia da Vitória é um feriado nacional, marcado por grandes desfiles militares na Praça Vermelha, em Moscou.
No Brasil, embora o Dia da Vitória não seja um feriado oficial, a data é lembrada em algumas cerimônias e eventos que visam educar a população sobre a importância da paz e da memória histórica. A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos Aliados, é um aspecto que merece destaque, pois o país enviou tropas para lutar na Campanha da Itália.
O Legado do Dia da Vitória
O legado do Dia da Vitória vai além da celebração do fim da guerra. Esta data nos lembra da importância da paz, da tolerância e da cooperação internacional. Após a guerra, o mundo se uniu em esforços para reconstruir nações devastadas e estabelecer instituições que promovem a paz, como as Nações Unidas. O Dia da Vitória serve como um alerta sobre os perigos do extremismo e da intolerância, enfatizando a necessidade de diálogo e entendimento entre os povos.
Reflexões sobre a Paz e a Memória Histórica
À medida que o tempo avança, é essencial que as novas gerações compreendam o significado do Dia da Vitória e os horrores da guerra. A educação sobre a Segunda Guerra Mundial e suas consequências é fundamental para evitar que a história se repita. Museus, documentários e livros desempenham um papel crucial na preservação da memória histórica e na promoção de uma cultura de paz.
Conclusão
O Dia da Vitória, celebrado em 8 de maio, é uma data que nos convida a refletir sobre o passado e a valorizar a paz. As comemorações ao redor do mundo, embora variem em forma e intensidade, têm um objetivo comum: honrar aqueles que lutaram e sofreram durante a guerra e garantir que as lições aprendidas não sejam esquecidas. Ao lembrarmos do Dia da Vitória, reafirmamos nosso compromisso com um futuro onde a paz e a compreensão prevaleçam sobre o conflito e a divisão.
Editorial
Raízes socioeconômicas do trumpismo - Luiz Gonzaga Belluzzo = Valor Econômico = terça-feira, 6 de maio de 2025
Entusiasmado com favores e poderes da oligarquia, Trump encarregou seus auxiliares de cortar os direitos sociais e econômicos de seus cidadãos em nome da eficiência dos mercados
Avaliado em seus próprios termos e objetivos, o projeto iluminista da Liberdade, Igualdade e Fraternidade está fazendo água diante da alucinante e alucinada competição entre as lideranças contemporâneas e seus asseclas para mergulhar o planeta nos esgotos da barbárie.
O filósofo Fredric Jameson, no livro “A Cultura do Dinheiro”, já advertia no início do milênio: “Os quatro pilares ideológicos, jurídicos e morais do alto capitalismo - constituições, contratos, cidadania e sociedade civil - são, hoje, vadios maltrapilhos, mas sempre lavados, barbeados e vestidos com roupas novas para esconder sua verdadeira situação de penúria”. Não podemos colher outro ensinamento dos embates travados por Donald Trump para tornar a América Grande Outra Vez.
Peço licença aos leitores para retomar considerações a respeito da Grande América, o país que emergiu dos sofrimentos da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial.
O imaginário político predominante no New Deal tinha uma visão progressista acerca do papel a ser exercido pelos Estados Unidos. Em claro antagonismo com as práticas das velhas potências, os EUA - tomando em conta o seu autointeresse de forma esclarecida - se empenharam na reconstrução europeia e apoiaram as lutas pela descolonização.
É oportuno registrar as origens do projeto político, social e econômico que presidiu os avanços do pós-guerra. Discursando no Congresso do Partido Democrata em 1936, Franklin D. Roosevelt denunciou os poderes da oligarquia financeira no controle da sociedade e da economia. “Era natural e talvez humano que os príncipes privilegiados dessa nova dinastia econômica, sedentos por poder, tentem alcançar o controle do próprio Governo. Eles criaram um despotismo e o embrulharam nos vestidos de sanções legais. Em seu serviço, novos mercenários procuraram regimentar o povo, seu trabalho e sua propriedade”.
Esta turma está de volta. Trump, entusiasmado com favores e poderes da oligarquia, encarregou seus auxiliares de cortar os direitos sociais e econômicos de seus cidadãos em nome da eficiência dos mercados.
Daron Acemoglu escreveu no Project Syndicate: “Nos Estados Unidos, o status tornou-se firmemente ligado ao dinheiro e à riqueza durante a Revolução Industrial, e a desigualdade de renda e riqueza disparou como resultado. Embora tenha havido períodos em que a intervenção governamental buscou reverter a tendência, a sociedade americana sempre foi estruturada em torno de uma hierarquia de status íngreme”.
Nos idos de 2018, Martin Wolf, editor do Financial Times, denunciou as manobras de Trump para implodir a ordem mundial. “São características destacadas do comportamento de Trump suas invenções, sua autocomiseração e sua prática da intimidação: os outros, inclusive os aliados históricos, “estão zombando de nós” em relação ao clima ou “nos enganando” em relação ao comércio exterior. A União Europeia, argumenta ele, “foi implantada para tirar proveito dos EUA, certo? Não mais... Esse tempo acabou”.
Trump exprime o declínio dos valores e das ideias que inspiraram os Estados Unidos na construção da chamada ordem mundial do pós-guerra. Terminado o conflito, as forças vitoriosas, democráticas e antifascistas trataram de criar instituições destinadas a impedir a repetição da desordem destrutiva que nascera da rivalidade entre as potências e da economia destravada.
A civilização ocidental, disse Gandhi, teria sido uma boa ideia. Imaginei, santa ingenuidade, que as batalhas do século XX, além do avanço dos direitos sociais e econômicos, tivessem finalmente estendido os direitos civis e políticos, conquistas das “democracias burguesas”, a todos os cidadãos. Mas talvez estejamos numa empreitada verdadeiramente subversiva em seu paradoxo: a construção da República dos Bárbaros. Uma novidade política engendrada nos porões da inventividade contemporânea, regime em que as garantias republicanas recuam diante dos esgares da máquina movida pela “tirania das boas intenções”.
Trump exprime o declínio dos valores e das ideias que inspiraram os EUA na construção da ordem mundial do pós-guerra
Os deserdados da civilidade simulam retidão moral para praticar as brutalidades dos homens de bem. Os direitos individuais e os valores da modernidade são tragados no redemoinho do moralismo particularista e exibicionista dos amorais. Trump exibiu de forma contundente o papel do ultraje pessoal na avacalhação do debate público. A ofensa pessoal desqualificadora usada como argumento e a resposta no mesmo tom são instrumentos da brutalização das consciências.
Perorando diante de uma plateia com algumas milhares de pessoas na terça-feira em Michigan, Trump usou e abusou de sua contundência antirrepublicana e imprecou contra o Judiciário americano, referindo-se a juízes como comunistas. “Não podemos permitir que um punhado de juízes comunistas, de extrema esquerda, obstruam a aplicação de nossas leis e assumam os deveres que pertencem exclusivamente ao presidente dos EUA”, afirmou. “Os juízes estão tentando tirar o poder dado ao presidente para manter nosso país seguro”.
Os projéteis disparados no debate ganharam impulso nos Facebooks, Twitters e Instagrams da vida. Os impropérios lançados das plataformas da arrogância não atingiram apenas os dois debatedores, mas maltrataram impiedosamente os princípios elementares da convivência civilizada. Os tecladistas alcançam a proeza de cometer cinco atentados contra os adversários numa frase de 12 palavras.
Bárbaros do teclado, como Trump e assemelhados, manejam com desembaraço a técnica das oposições binárias, método dominante nas modernas ações e interações entre os participantes das redes. Nos comentários da internet, vai “de vento em popa” o que Herbert Marcuse chamou de “automatização psíquica” dos indivíduos. Os processos conscientes são substituídos por reações imediatas, simplificadoras e simplistas, quase sempre grosseiras, corpóreas.
O que aparece sob a forma farsista de um conflito entre o bem e o mal está objetivado em estruturas que enclausuram e deformam as subjetividades exaltadas. A indignação individualista e os arroubos moralistas são expressões da impotência que, não raro, se metamorfoseia em desvario autoritário.
EDITORIAL 2/5
Nós ainda estamos aqui –
Eis, acima, a sugestão de Ana Maria Reis como título deste Editorial Valeu!
Escândalo: Fraude em contracheques dos velhinhos no INSS! O valor anunciado – R$ 6 bilhões - é extrapolação do total transferido pelo INSS ás Associações de aposentados. O roubo propriamente dito é um valor ainda incerto, dificilmente chegará a R$1 bi, ainda assim, uma vergonha!
Querem a verdade?
Aposentados não contam para o mundo político. Falam em trabalhador, jovens, minorias segregadas, empresários, empreendedores, evangélicos, povos originários. Lembram de alguma promessa de alguma candidato voltada a aposentados? Nunca se lembram dos aposentados. Tampouco para idosos. E eles foram os que mais morreram no COVID e os que mais sofrem todo tipo de abandono social e abuso, inclusive por membros da família. Não obstante, De acordo com relatório do INSS, o número de aposentados no Brasil, em 2023, já ultrapassa 37 milhões. Esse crescimento é um reflexo do envelhecimento da população, que, segundo o IBGE, deverá alcançar 41% de pessoas com 60 anos ou mais até 2060.
Outrora, os “vóvovôs” tinham um quartinho no fundo da casa. Hoje, não cabem nos minúsculos apartamentos dos filhos, mantidos com salários miseráveis. Muitos idosos acabam suas vidas na solidão de uma vida obscura e como moradores em situação de rua. Os Conselhos Municipais do Idoso, que deveriam zelas por eles, são piadas, muito longe da estrutura que protege crianças e adolescentes através do ECA e dos Conselhos Tutelares, estes, inclusive, com membros eleitos e remunerados. Conheço municípios que têm albergues para mulheres em situação de risco e até de Centros Comunitários. Raros os que têm uma CASA PARA TERCEIRA IDADE, e quando as têm, não raro, entregam à iniciativa privada para fazerem “bailões vespertinos”. Daí vem à tona esse escândalo das ditas Associações de Aposentados que fraudavam associados para obterem mensalidades retiradas automaticamente dos contra-cheques, com a conivência polpuda de autoridades do INSS. O Presidente da instituição já foi demitido. Alguns diretores, também, já na mira da Polícia Federal, de olhos no invejável patrimônio confiscado. O Ministro da área, sob intensa pressão da Mídia, periclita. Admite, atrasos, que atribui à lentidão da burocracia e afirma que o INSS “não é o botequim da esquina”. Um cara-de-pau, que deu de mão no Partido do Brizola e se eterniza há mais de 20 anos no comando da sigla, usando o Ciro Gomes como moeda de troca.
Voltemos aos aposentados e pensionistas. Alguém , aliás, já pensou que idosos e aposentados têm imensas dificuldades para operar aplicativos? Esse GOV, do Governo Federal para seus servidores, é simplesmente inacessível. Portarias eletrônicas de prédios de classe média em qualquer cidade do país são muito mais eficientes? Como não veem isso? Por que não enviam aos idosos o velho email - ou msg - ? Enfim, particularmente, nada tenho a reclamar nos meus 81 anos. Mas se não fosse filhos, eventuais consultores e amigos, estaria frito. Oxalá , ano que vem, vejamos alguns candidatos que olhem para os idosos pensionistas e aposentados. Eles (ainda) são cidadãos...
EDITORIAL
AS CEM “NOITES” DE TRUMP II NA CASA BRANCA
Os dez erros de Trump - Bruno Guigue
Guerra comercial: Os dez erros de Donald Trump
O Assunto g1 -Trump x Harvard -28 abril 25
Trump x Harvard - O Assunto #1455 | O Assunto | G1
O Presidente voltou à Casa Branca, reeleito para um segundo mandato, intercalado pela Presidencia de Biden, no dia 20 de janeiro. A imprensa internacional fala nos seus feitos nos cem primeiros “dias”de Governo. Todas, no mínimo, sombrias. Por isso, prefiro falar nas suas cem primeiras “noites”, nas quais se destacam o desconcertante tarifaço, a pressão sobre imigrantes, muitos levados como prisioneiros para Guantânamo, na base militar que Estados Unidos mantém em Cuba, e para El Salvador e os cortes de verbas públicas para Universidades americanas que não obedeçam exigências absurdas do Boverno. Hoje, reina no Império, um clima de insegurança, inclusive com ataques ao sistema de Justiça, descumprindo determinações judiciais e até levando à prisão uma Juíza. Tudo muito distante dos bons tempos em que todo aquele que estive em solo americano podia dizer o que quisesse, ao amparo da Emenda 01 da sua Constituição. Em consequência, a popularidade de Trump vai caindo, sendo hoje desaprovado por mais da metade dos eleitores. E é preocupante que diversos conhecidos professores estejam abandonando algumas conceituadas Universidades, denunciando o clima autoritário que vai tomando do Governo.
O (in)concebível – Dorrit Harazim - O Globo - domingo, 20 de abril de 2025
Segundo pesquisa da revista Nature com 1.600 cientistas nos EUA, 75% declararam estudar a possibilidade de sair do país
Semanas atrás, três professores da Universidade Yale — uma das oito instituições privadas que compõem a estelar Ivy League americana — tornaram pública sua mudança para a Munk School of Global Affairs and Public Policy, de Toronto, no Canadá. Em tempos normais, a notícia nem notícia seria, dada a mobilidade inerente ao mundo acadêmico. Só que o filósofo Jason Stanley, o historiador Timothy Snyder e sua mulher Marci Shore, professora de História intelectual europeia, não são nomes quaisquer.
Stanley, autor de seis livros — incluindo “Como funciona o fascismo” —, centra sua obra na manipulação emocional da propaganda fascista e nos riscos de uma sociedade ignorar sinais precoces de autoritarismo. Judeu, pai de dois filhos multirraciais (foi casado com a cardiologista negra Njeri K. Thande), ele já sofreu inúmeras ameaças de morte digitais recentes. Por isso decidiu empacotar seu saber e filhos para além do ambiente político opressor instaurado por Donald Trump.
— O que é um país? — indaga ele, com resposta pronta: — É a forma pela qual seu povo escolheu se governar. Os Estados Unidos existem porque o povo americano elege aqueles que devem fazer e executar as leis... Mas a lógica atual é a da destruição.
Seu colega Snyder é autor, entre outros, do best-seller “Sobre a tirania —Vinte lições do século XX para o presente”. Estudioso da história da Europa Central, União Soviética e Holocausto, Snyder pesquisa o elo que brota no fascismo histórico e desemboca nos tempos atuais. Em todas as obras, ele enfatiza a responsabilidade pessoal e coletiva na construção ou ruína da democracia. Como seu colega de Yale e agora Toronto, tem 55 anos, mas é nascido em família quacre do Meio-Oeste americano. A mãe de seus dois filhos também é de Ohio, e a decisão de se mudar para o Canadá, tomada ainda antes da eleição de Trump, é mais nuançada. Por isso acabou exigindo dele um longo esclarecimento público. Alguns trechos do que publicou no jornal da universidade:
— Não saí de Yale em consequência do que Trump está fazendo. Também não estou fugindo de nada. Não mudei devido a ameaças, denúncias, tentativas de violência aleatória por parte de pessoas baixas em cargos altos, nem por alertas de amigos etc. Mas, mesmo que fosse esse o caso, qual o problema de pessoas menos privilegiadas do que eu (e elas são muitas) optarem por sair do país? Alguns já se foram. Outros mais sairão. Devemos apoiá-los e aprender com eles. A função de uma universidade é criar condições de liberdade, e é em função disso que são alvo prioritário de tiranos. Já é possível ver nos Estados Unidos a tentativa, por parte do governo, de alimentar o conformismo e o denuncismo com o propósito de disseminar medo e imbecilidade.
A partida dos três professores de Yale aponta para uma realidade bem mais alarmante. Segundo pesquisa realizada pela revista Nature com 1.600 cientistas em atividade acadêmica nos Estados Unidos, 75% declararam estudar a possibilidade de sair do país domado por Trump. O corte nas verbas para pesquisa, as tentativas de silenciamento da contradita e a repressão à imigração foram citados como principais motivos.
Uma das ignomínias dos editos da Casa Branca está em dar roupagem edificante ao autoritarismo rábido das deportações de estudantes e professores: o combate ao antissemitismo. Snyder escreveu dois livros sobre o Holocausto e ensina a história do antissemitismo há décadas.
— O governo atual não está combatendo o antissemitismo, está fomentando-o — sustenta ele.
Não perceber a falácia permite que o termo se transforme em instrumento político e que as universidades sejam destruídas em nome dessa aberração. Cabe lembrar que nenhum governo americano do pós-guerra teve tantos amigos da extrema direita mundial, da AfD alemã ao camarada Putin.
Sempre haverá quem manifeste incômodo com o uso da palavra “fascismo” no contexto da democracia americana. Mas o fascismo pode assumir roupagens diversas, como alertou o vice-presidente de Franklin Roosevelt, Henry Wallace, em ensaio publicado no auge da Segunda Guerra, em 1943.
— A luta mundial e secular entre fascismo e democracia não cessará quando a luta terminar na Alemanha e no Japão — escreve.
No texto, Wallace cunha a expressão “fascismo americanizado” e explica que o pensar fascista se adapta a momentos e sociedades diversas. Seria fácil identificá-los:
— Eles se proclamam superpatriotas, mas estão dispostos a destruir as liberdades constitucionais. Clamam por liberdade de mercado, mas são porta-vozes de interesses e monopólio. Seu objetivo final é a captura do poder político por meio do uso do poder do Estado.
Em outras palavras: não existe espaço para inocência num mundo operado por Trump.
Editorial
A FRAUDE NO INSS
A fraude no INSS, amplamente noticiada, que derrubou o Presidente do órgão, vinculado ao Ministério da Presidência, ocupado por Carlos Lupi, virtual dono do PDT desde a morte de Brizola, em 2004, merece reflexões.
A primeira onda “recente” de escândalo no INSS teve como principal Jorgina de Freitas, já falecida. Roubou milhões, foi condenada, escapou para o exterior mas acabou retornando para cumprir pena. Jorgina ficou famosa por comandar o esquema de desvio de verbas de aposentadoria que ficou conhecido como “escândalo da Previdência”, a maior fraude da história da previdência social do país, descoberta na década de 1990. O prejuízo do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) chegou a quase R$ 2 bilhões, segundo a Advocacia-Geral da União.
Já no Governo Lula, outra fraude sobre servidores e aposentados federais emergiu: Os consignados. Fraudavam contratos de consignados que eram lançados na surdina nos contracheques, depositando pequena parcela, supostamente contratada, em conta para disfarçar a fraude. Não houve propriamente escândalo, mas o assunto transpirou na imprensa e , aparentemente, foi superado, ainda que jamais de saiba se os prejudicados, muitos aposentados, tenham sequer tomado conhecimento do assunto.
Agora, a fraude é intermediada por 17n Associações de Aposentados, com a provável conivência de servidores do INSS. Eram subtraídas pequenas mensalidades sobre 20 milhóes de aposentados e pensionistas, a título de contribuição a ditas Associações, num valor médio de R$ 40 reais, que somadas ao longo de vários anos, de 2017 até 2024 teriam totalizado algo entre R$ 6 e R$ 8 bilhões. Este é o valor global das transferências, não exatamente das fraudes, pois ainda não se sabe quais descontos eram efetivamente autorizados e quais foram fraudados. Nestes casos, os descontos eram feitos diretamente no contracheque, sem autorização legal dos interessados. As fichas de inscrição nas respectivas Associações eram simplesmente fraudadas. A primeira medida que o Governo deveria tomar – e ontem já tomou -deveria ser a proibição de DESCONTO AUTOMÁTICO em contracheques. Melhor seria, aliás, não autorizar mais nenhum desconto automático em contracheque, exceção, talvez, a consignados
Uma das explicações para o sucesso da fraude é que os CONTRA CHEQUES impressos e enviados aos servidores não é mais expedido. Os interessados têm que entrar, pela INTERNET, nos sites do Governo e INSS para acompanhar seus ganhos. Ora, pessoas com mais de 60 anos têm imensa dificuldade para operar INTERNET e não conseguem falar por telefone. Muito difícil, a propósito, entrar no site GOV para acompanhar contra cheque e outras informações funcionais. A cada anos, inclusive, sofre-se para fazer prova de vida num sistema sabidamente ruim. Aposentados, nestes casos, contam com filhos e netos, quando não acabam tendo que sair em busca de algum consultor, para cumprir a exigência da atualização. De resto o modelo de confirmação biométrica do site GOV é horrível, muito pior do que vários outros existentes em portarias de prédios. E não adiante recloamar. Ouvidos moucos não escutam o flagelo dos servidores, sobretudo idosos...
Finalmente, ainda sobre o atual escândalo do INSS, é importante que se perceba que há várias dimensões aí envolvidas. Primeiro , o criminal, a cargo da Policia Federal que apontará o arco de cumplicidades entre Associações , Servidores e Autoridades. Ninguém deve ser poupado. Outro, Administrativo, vez que demonstra a inequívoca incompetência da Direção do órgão, com um Orçamento Anual de R$ 3 trilhões, para gerir estes recursos adequadamente. E aqui, convenhamos, a responsabilidade não é apenas da Direção do , mas se estende ao Ministro ao qual o INSS está subordinado. Bando do incompetentes, no mínimo. Finalmete, a questão Política: O Ministro CARLOS LUPI , tem sob suas axilas, o eterno presidenciável Ciro Gomes, com expressão ainda considerável nas Pesquisas para 2026. Será muito difícil, portanto, a demissão do dono do PDT, num ano pré eleitoral, quando Lula se esforça para manter uma ampla Frente contra o bolsonarismo.
Editorial
O (in)concebível - DORRIT HARAZIM - 20/ 4/ 2025
Semanas atrás, três professores da Universidade Yale — uma das oito instituições privadas que compõem a estelar Ivy League americana — tornaram pública sua mudança para a Munk School of Global Affairs and Public Policy, de Toronto, no Canadá. Em tempos normais, a notícia nem notícia seria, dada a mobilidade inerente ao mundo acadêmico. Só que o filósofo Jason Stanley, o historiador Timothy Snyder e sua mulher Marci Shore, professora de História intelectual europeia, não são nomes quaisquer.
Stanley, autor de seis livros — incluindo “Como funciona o fascismo” —, centra sua obra na manipulação emocional da propaganda fascista e nos riscos de uma sociedade ignorar sinais precoces de autoritarismo. Judeu, pai de dois filhos multirraciais (foi casado com a cardiologista negra Njeri K. Thande), ele já sofreu inúmeras ameaças de morte digitais recentes. Por isso decidiu empacotar seu saber e filhos para além do ambiente político opressor instaurado por Donald Trump.
— O que é um país? — indaga ele, com resposta pronta: — É a forma pela qual seu povo escolheu se governar. Os Estados Unidos existem porque o povo americano elege aqueles que devem fazer e executar as leis... Mas a lógica atual é a da destruição.
Seu colega Snyder é autor, entre outros, do best-seller “Sobre a tirania —Vinte lições do século XX para o presente”. Estudioso da história da Europa Central, União Soviética e Holocausto, Snyder pesquisa o elo que brota no fascismo histórico e desemboca nos tempos atuais. Em todas as obras, ele enfatiza a responsabilidade pessoal e coletiva na construção ou ruína da democracia. Como seu colega de Yale e agora Toronto, tem 55 anos, mas é nascido em família quacre do Meio-Oeste americano. A mãe de seus dois filhos também é de Ohio, e a decisão de se mudar para o Canadá, tomada ainda antes da eleição de Trump, é mais nuançada. Por isso acabou exigindo dele um longo esclarecimento público. Alguns trechos do que publicou no jornal da universidade:
— Não saí de Yale em consequência do que Trump está fazendo. Também não estou fugindo de nada. Não mudei devido a ameaças, denúncias, tentativas de violência aleatória por parte de pessoas baixas em cargos altos, nem por alertas de amigos etc. Mas, mesmo que fosse esse o caso, qual o problema de pessoas menos privilegiadas do que eu (e elas são muitas) optarem por sair do país? Alguns já se foram. Outros mais sairão. Devemos apoiá-los e aprender com eles. A função de uma universidade é criar condições de liberdade, e é em função disso que são alvo prioritário de tiranos. Já é possível ver nos Estados Unidos a tentativa, por parte do governo, de alimentar o conformismo e o denuncismo com o propósito de disseminar medo e imbecilidade.
A partida dos três professores de Yale aponta para uma realidade bem mais alarmante. Segundo pesquisa realizada pela revista Nature com 1.600 cientistas em atividade acadêmica nos Estados Unidos, 75% declararam estudar a possibilidade de sair do país domado por Trump. O corte nas verbas para pesquisa, as tentativas de silenciamento da contradita e a repressão à imigração foram citados como principais motivos.
Uma das ignomínias dos editos da Casa Branca está em dar roupagem edificante ao autoritarismo rábido das deportações de estudantes e professores: o combate ao antissemitismo. Snyder escreveu dois livros sobre o Holocausto e ensina a história do antissemitismo há décadas.
— O governo atual não está combatendo o antissemitismo, está fomentando-o — sustenta ele.
Não perceber a falácia permite que o termo se transforme em instrumento político e que as universidades sejam destruídas em nome dessa aberração. Cabe lembrar que nenhum governo americano do pós-guerra teve tantos amigos da extrema direita mundial, da AfD alemã ao camarada Putin.
Sempre haverá quem manifeste incômodo com o uso da palavra “fascismo” no contexto da democracia americana. Mas o fascismo pode assumir roupagens diversas, como alertou o vice-presidente de Franklin Roosevelt, Henry Wallace, em ensaio publicado no auge da Segunda Guerra, em 1943.
— A luta mundial e secular entre fascismo e democracia não cessará quando a luta terminar na Alemanha e no Japão — escreve.
No texto,Wallace cunha a expressão “fascismo americanizado” e explica que o pensar fascista se adapta a momentos e sociedades diversas. Seria fácil identificá-los:
— Eles se proclamam superpatriotas, mas estão dispostos a destruir as liberdades constitucionais. Clamam por liberdade de mercado, mas são porta-vozes de interesses e monopólio. Seu objetivo final é a captura do poder político por meio do uso do poder do Estado.
Em outras palavras: não existe espaço para inocência num mundo operado por Trump.
EDITORIAL
O MUNDO CHORA A MORTE DO PAPA FRANCISCO
Morre Francisco, o primeiro papa latino-americano, de hábitos simples, que lutou para mudar a Igreja Católica devolvendo-a aos ensinamentos de Cristo. Foi eleito em 2013 e logo em seguida veio ao Brasil, em sua primeira viagem pontifical, para o Encontro Mundial da Juventude, quando conquistou o coração dos brasileiros Sua sucessão ainda é uma incógnita, embora predomine a opinião de que deverá se eleito, para contrabalançar o caráter “revolucionário” de Francisco, um papa mais moderado. Lembremo-nos que a BOA NOVA de Cristo foi a disseminação do perdão, como corolário do Amor a toda a humanidade e fundamento da PAZ entre os homens. Oremos, pois, mesmo aqueles que não sabem rezar ou que, por qualquer razão, não simpatizavam com Francisco. E esperemos, dentro de uns 15 dias a abertura do CONCLAVE que reunirá 135 cardeais, a maioria indicados por Francisco, entre os quais 7 brasileiros. Deles ouviremos depois de algumas semanas o sonoro HABEMUS PAPAM.
Anexos:
Solon Saldanha - VIRTUALIDADES
O mundo perdeu hoje uma das suas maiores lideranças, tanto religiosa quanto política. Faleceu o Papa Francisco, o primeiro latino-americano a alcançar a liderança dos 1,4 bilhão de católicos que se estima existirem no planeta hoje em dia – 17,7% da população total. Homem simples e humilde, soube conquistar o respeito da maioria daqueles que não professam a mesma fé, mas entendem o quanto foi importante para a busca do entendimento, do convívio pacífico entre os povos. Ele foi um progressista que compreendeu e acolheu minorias, um defensor da liberdade e um combatente das desigualdades sociais. Leia o texto em postagem extra de virtualidades.blog. Basta clicar sobre a imagem ou no link abaixo: - https://wp.me/p1jFYb-2IL
E.J. Dionne Jr.: “Francisco evitou as armadilhas da realeza, incluindo os apartamentos papais. Seus hábitos favoreciam a simplicidade. Ele era conhecido por tratar os funcionários do Vaticano mais como colegas de trabalho do que como funcionários. O seu objetivo, disse ele, era ‘uma igreja pobre para os pobres’ — uma que esteja ‘machucada, magoada e suja porque esteve nas ruas’. ‘Se você entender que pregar um Deus de misericórdia é fundamental para o seu ministério’, disse o escritor católico Michael Sean Winters, ‘todo o resto se encaixa’”. (Washington Post)
Catherine Pepinster: “Francisco era um papa que não queria nada da pompa de um papado. Mas também havia substância subjacente a isto. A sua preocupação pelos mais afetados pelas dificuldades econômicas, pela guerra e pela política, e pela onda de refugiados que varre a Europa e a América, foi acompanhada pela sua empatia pelos que foram desenraizados pela crise climática. A sua preocupação com o planeta — o que ele chamou de “nossa casa comum” — estava enraizada na reverência pela criação de Deus. A sua encíclica ou documento de ensino mais radical, o Laudato si’, foi publicada em 2015, apresentando razões científicas e teológicas para proteger o planeta do colapso climático. Ele costumava dar uma cópia aos visitantes — incluindo Trump, em 2017”. (Guardian)
John J. Miller: “Quando Francisco morreu, o mundo perdeu a sua voz mais poderosa em favor dos nascituros. O lado que normalmente apoia o direito ao aborto irá ignorar ou minimizar a firme oposição do papa a eles. O lado que geralmente se opõe ao aborto não lhe dará crédito suficiente pela sua posição intransigente. Isso porque as opiniões de Francisco perturbaram as narrativas fáceis de cada lado, quer fosse Francisco, o reformador liberal, quer fosse Francisco, a ameaça à ortodoxia. No entanto, ele falou abertamente e muitas vezes com ousadia sobre o aborto. ‘Um aborto é um homicídio... Mata um ser humano’, disse ele no ano passado, falando a jornalistas num voo da Bélgica para Roma. Depois recorreu a uma metáfora sombria que já tinha usado antes: ‘Os médicos que fazem isso são assassinos de aluguel’. Finalmente, para garantir, ele acrescentou: ‘Sobre isso não há debate’”. (Boston Globe)
Francisco Borba Ribeiro Neto: “O fato é que a renovação iniciada por Francisco permanece uma grande tarefa incompleta. Algo natural numa instituição milenar. Será ainda necessário muito tempo para que o caminho trilhado por Francisco se consolide. Tal consolidação será a principal tarefa de seu sucessor. Mas em que ela implica? Ouvindo as demandas ditas progressistas, tornar a Igreja cada vez mais acolhedora, que proclame o perdão e defenda os mais frágeis. Por outro lado, o crescimento no mundo todo de movimentos conservadores, sejam político-culturais ou religiosos, mostra que também se deve atender a um anseio por ortodoxia doutrinal e fortalecimento da espiritualidade tradicional”. (Estadão)
Morre Papa Francisco, o reformista da Igreja Católica - Por O Globo
Pontífice argentino aumentou punição contra pedofilia, assinou primeira encíclica ambiental da História e criticou isolamento do Vaticano
Eram 20h12 de 13 de março de 2013 quando o argentino Jorge Mario Bergoglio apareceu na sacada central da Basílica de São Pedro, provocando o grito da multidão que, uma hora antes, viu a fumaça branca da Capela Sistina anunciar a eleição do novo líder da Igreja Católica. Bergoglio, o Papa Francisco, não demorou a mostrar ao mundo como era devoto de brincadeiras: “Vocês sabem que o dever de um conclave é dar um bispo a Roma. Parece que meus irmãos cardeais foram buscar-me quase até no fim do mundo.” E veio de Buenos Aires o religioso que, nos 12 anos seguintes, agitou a Cúria levando aos holofotes temas como a defesa do meio ambiente, a punição à corrupção no Vaticano e à pedofilia, além de abrir espaço para a discussão da ordenação de mulheres e homens casados. Francisco morreu hoje, aos 88 anos, por problemas pulmonares.
— Caríssimos irmãos e irmãs, é com profunda tristeza que comunico o falecimento do nosso Santo Padre Francisco. Às 07h35 desta manhã (02h35 em Brasília), o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai — anunciou o cardeal Kevin Farrell, Camerlengo da Câmara Apostólica, em um anúncio na Casa Santa Marta. — Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do senhor e da sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo de verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, encomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Uno e Trino.
Democracia Política e novo Reformismo: Morre Papa Francisco, o reformista da Igreja Católica
Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 06:23:00
Editorial CULTURAL FM -Torres RS – www.culturalfm875.com
DIA DA VOZ
Deixemo-nos levar pelo espírito da Páscoa, ou Pessach, segundo os judeus, e que significa “Travessia”: O longo caminho de 40 anos de um povo em busca da Terra Prometida. Na tradição cristã, é a consagração de uma nova voz que iluminaria o naturalismo helenístico, abrindo na Era da Boa Nova, o advento do perdão nos interstícios do diálogo. Para nós, simples mortais, a identidade da espécie: Aquele que fala. Com efeito, na vastidão da biodiversidade que recobre como fina camada vital o inanimado planeta, somos o homo comunicans e, graças a isso, inventamos a civilização. Diziam, inclusive, os antigos, que a escrita nada mais era do que o prolongamento da voz dos mortos. A eternização da palavra. Enfim, muitas recomendações poderiam ser feitas, neste Dia da Voz, sobre como educá-la.e preservá-la para uma boa fala durante a vida inteira. Mas prefiro escolher um “case”. Ocorreu-me há muito tempo, quando achava que já sabia tudo sobre as implicações da voz com a consciência. Ei-lo
Morava eu isolado no interior de Goiás, preocupado com os gambás que se haviam instalado no forro da minha casa, quando, numa tarde quente e ensolarada de agosto, recebo a visita de um amigo, Newton Rossi, alma poética, mineiro de Ouro Fino, figura célebre em Brasília por ter sido durante décadas Presidente da Federação do Comércio. Trazia-me ele, para conhecimento, um oriental de magreza preocupante, mas de olhos vivos e gestos precisos: Dr. Jonk Suk Yum, criador de um movimento denominado Unibiótica.
Dr. Jonk Suk Yum, médico coreano radicado no Brasil, desde 1976, fundou a Unibiótica que teve sua origem no estudo de cerca de 8.000 volumes de medicina, tanto oriental como ocidental compreendendo 18 grandes métodos de tratamento e 362 técnicas de cura.
Essa ciência traz resultados surpreendentes para quem a pratica, e não tem contra indicação, todos podem praticar!
Abaixo coloquei um link com um depoimento pessoal do próprio Dr. Yum onde ele conta um pouco sobre a sua vida e como nasceu a Unibiótica. Vale a pena ler!
Depoimento – Dr. Yum – Vida e missão
http://unibiotica.wordpress.com/dr-yum/
Depois de tomarmos o cafezinho regulamentar, conversamos sobre o dia e a noite no cerrado naqueles dias de seca, quando, surpreendemente, suas belas flores despontam. Newton me disse a que vinha:
- Timm, o Dr. Yum tem um livro – pronto , sublinhou – e precisa de um brasileiro como co-autor, pois assim terá mais aceitação do público. Te recomendei.
Era a primeira vez na vida que recebia algo escrito “de presente”. Escrevinhador inveterado, eu, geralmente, era o solicitado para fazer requerimentos, cartas, ações nos Tribunais de Pequenas Causas, discursos de políticos ou simplesmente trabalhos de classe. Estranhei, mas indaguei do que se tratava..
- Dr. Timm, falou o Yum, eis aqui – e me passou um calhamaço xerocado que ainda guardo – minhas reflexões sobre a “Voz de Deus” e a “Voz do Homem”. Falou sem parar durante meia hora, explicando o que era uma coisa e o que era outra. Retive apenas que a primeira se referia aos ensinamentos sagrados, imutáveis , objeto da Razão Pura de Kant, enquanto a segunda, seria a do aprendizado humano. Eu ia encaixando tudo no meu modelito como um caso de Vox Populi , Vox Dei, até dar-me conta que ele falava outra coisa: A voz do homem não era a reverberação da Voz maiúscula de Deus. Era mais forte!
Ôpa, pensei comigo! Mais um para o pavilhão ...
Fez-se, então um curto silêncio, entreolhamo-nos, mas o Dr. Yum, que muito me impressionara, mostrava-se inquieto até que, direta e repentinamente, me perguntou se eu subscreveria o manuscrito como co-autor. Respondi-lhe,, respeitosamente, que precisava ler os manuscritos e que dentro de alguns dias lhe daria uma resposta. Começava a me desagradar a aparente impaciência do visitante ilustre.. Mas vá lá! Ia ver. Aí, o pacifico Dr. Yum interveio com determinação e disse que eu deveria decidir imediatamente, mesmo sem ler. Reagi, isto não faria nunca. De-ci-di-da-men-te!, disse-lhe, um pouco contrafeito. A conversa, então, congelou. Meu amigo Newton o arrastou para fora, depois de nos despedirmos friamente e eu fiquei com os manuscritos, que li naquele mesmo dia. Interessantissimo. Com uma ou outra ressalva teria passado para a História como seu co-autor. Conto-vos do que se tratava e aí a ligação com o Dia da Voz. Ele procurava demonstrar que a Voz de Deus é a voz milenar dos livros religiosos, que tem na India um lugar primordial, e a do Homem, o resultado da sua própria consciência, aí identificando a China como sua pátria de excelência. Tendo nestes anos lido mais sobre Confúcio e a China, hoje me dou conta do que ele queria dizer: Os chineses não têm religião, têm códigos morais úteis na indução de açõe Uma verdade prática, Voltarão a ser os Senhores do Meio...
Por via das dúvidas, e para registro da data, narro o caso e encerro. Vá o feito!
EDITORIAL 10/4/25
Participação do Presidente da República na IX Cúpula da CELAC, em Honduras - Publicado em 08/04/2025
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O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva participoui, em 9 de abril, da IX Cúpula da CELAC, em Tegucigalpa, Honduras. O evento contou com a presença de representantes dos 33 países da América Latina e do Caribe, bem como de delegados de organismos internacionais e de parceiros extrarregionais da Comunidade convidados pela presidência hondurenha.
A CELAC constitui o único mecanismo de diálogo e de concertação que reúne todos os países em desenvolvimento do continente americano.
A participação do Presidente Lula na Cúpula de Tegucigalpa reforça o compromisso do Estado brasileiro com a integração latino-americana e caribenha, conforme previsto na Constituição de 1988.
Por ocasião da Cúpula, os países membros da CELAC passarão em revista os trabalhos realizados em 2024 e o conjunto de iniciativas a serem implementadas ao longo de 2025, com destaque para o Plano de Segurança Alimentar, Nutrição e Erradicação da Fome da CELAC 2030 (Plano SAN-CELAC 2030) e o Fundo de Adaptação Climática e Reposta Integral a Desastres Naturais (FACRID) da Comunidade. Além disso, refletirão sobre a conjuntura internacional, os desafios conjuntos que afetam a região e as oportunidades existentes para os países e povos latino-americanos e caribenhos.
Leia a íntegra do discurso do Presidente Lula no CELAC dia 9/IV/25
“A América Latina e o Caribe enfrentam hoje um dos momentos mais críticos de sua história.
Percorremos um longo caminho para consolidar nossos ideais de emancipação.
Abolimos a escravidão, superamos as ditaduras militares, mas seguimos convivendo com a exclusão social, a fome e a miséria.
Só recentemente passamos a valorizar nossos povos originários.
A ingerência de velhas e novas potências foi e é uma sombra perene ao longo desse processo.
Agora, nossa autonomia está novamente em xeque.
Tentativas de restaurar antigas hegemonias pairam sobre nossa região.
A liberdade e a autodeterminação são as primeiras vítimas de um mundo sem regras multilateralmente acordadas.
Migrantes são criminalizados e deportados sob condições degradantes.
Tarifas arbitrárias desestabilizam a economia internacional e elevam os preços.
A história nos ensina que guerras comerciais não têm vencedores.
Se seguirmos separados, a comunidade latino-americana e caribenha corre o risco de regressar à condição de zona de influência em uma nova divisão do globo entre superpotências.
O momento exige que deixemos as diferenças de lado.
É preciso resgatar o espírito plural e pragmático que nos uniu no início dos anos 2000 e que levou à criação da UNASUL e da própria CELAC.
Outras regiões se preparam para responder às transformações em curso.
Acabo de voltar da Ásia, onde testemunhei a pujança da ASEAN.
A União Europeia está se reorganizando para fazer frente à crise da OTAN e às medidas comerciais unilaterais.
A União Africana formulou visão comum de desenvolvimento para as próximas quatro décadas.
É imperativo que a América Latina e o Caribe redefinam seu lugar na nova ordem global que se descortina.
Nossa inserção internacional não deve se orientar apenas por interesses defensivos.
Precisamos de um programa de ação estruturado em torno de três temas que demandam ação coletiva.
O primeiro deles é a defesa da democracia.
Nenhum país pode impor seu sistema político a outro.
Mas foi nos períodos democráticos que o Brasil mais avançou na superação de seus desafios sociais e econômicos.
Assistimos nos últimos anos à erosão da confiança na política, o que abriu espaço para projetos autoritários.
A desinformação, o ódio e o extremismo se disseminam nas plataformas virtuais, deturpando e deformando a liberdade de expressão.
Negacionistas desprezam a ciência e a cultura e atacam até as universidades.
Indivíduos e empresas poderosas, que se consideram acima da lei, investem contra a soberania de nossos países.
É trágico que tentativas de golpe de Estado voltem a fazer parte do nosso cotidiano.
Nossos países só estarão seguros se forem capazes de erradicar a fome, gerar bem-estar e garantir oportunidades para todos.
Em linha com o Plano de Segurança Alimentar e Nutricional da CELAC, o Brasil lançou, em sua presidência do G20, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Convidamos todos a se somarem à iniciativa, que começará seus trabalhos com projetos no Haiti e na República Dominicana.
O segundo tema que demanda atuação conjunta é a mudança do clima.
O último relatório do IPCC descreve a América Latina e o Caribe como uma das regiões mais vulneráveis do planeta.
Os riscos de colapso da Floresta Amazônica e de degelo da Antártida são pontos de não-retorno que colocam em xeque nossa sobrevivência.
A elevação do nível do mar representa ameaça existencial para as ilhas caribenhas e zonas costeiras.
A COP30, em pleno coração da Amazônia, não será apenas a COP do Brasil, mas de toda a América Latina e Caribe.
Precisamos exigir dos países ricos metas de redução de emissões alinhadas ao Acordo de Paris e de financiamento à altura das necessidades da transição justa.
O Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que lançaremos em Belém permitirá que nações que preservam sua cobertura florestal sejam remuneradas por esse esforço.
Somos berço de imensa biodiversidade e fonte abundante de energias renováveis, incluindo importantes reservas de minerais críticos, que precisam estar a serviço do nosso desenvolvimento.
A cooperação energética na América Latina e Caribe não é apenas um imperativo ambiental, mas também uma necessidade estratégica e uma oportunidade econômica.
O terceiro tema de interesse comum é nossa integração econômica e comercial.
Quanto mais fortes e unidas estiverem nossas economias, mais protegidos estaremos contra ações unilaterais.
Em 2023, o comércio entre países da América Latina e Caribe correspondeu a apenas 14% das exportações da região.
O volume de comércio anual que o Brasil mantém com os países da CELAC é de 86 bilhões de dólares, maior do que temos com os Estados Unidos e próximo do que possuímos com a União Europeia.
Precisamos promover o comércio regional de bens e serviços, sua diversificação e crescente facilitação.
Para ampliar nosso intercâmbio, meu governo está determinado a reativar o Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos da ALADI e a expandir o Sistema de Pagamentos em Moeda Local. Integrar redes de transporte, energia e telecomunicações reduz distâncias, diminui custos e incentiva sinergias entre cadeias produtivas.
O Brasil vem impulsionando cinco Rotas de Integração Sul-Americana, que vão unir o Caribe, o Atlântico e o Pacífico.
Fortalecer as instituições financeiras regionais, como a CAF, o Banco de Desenvolvimento do Caribe e o Fonplata, é fundamental para garantir que esses projetos saiam do papel.
Terei prazer em receber os líderes caribenhos em Brasília, no mês de junho, para aprofundar esse debate na segunda Cúpula Brasil-Caribe.
Também atuaremos na presidência brasileira do Mercosul para assinar o acordo com a União Europeia e estreitar os laços com os países centro-americanos.
Nossa integração é uma tarefa inadiável, que não deve ficar à mercê de divergências ideológicas.
Por isso, é chegada a hora de enfrentar o debate sobre a regra do consenso.
Mesmo que reconheçamos seu mérito de forjar convergências, é inegável que hoje ela tem gerado mais paralisia do que unidade, transformando-se em verdadeiro direito de veto.
As inúmeras notas de rodapé incluídas em declarações recentes mostram que a expectativa de uniformidade é irrealista.
Existem exemplos em outras regiões nos quais podemos nos inspirar.
Para analisar essa questão, sugiro a constituição de um grupo de trabalho que possa apresentar recomendações até a próxima Cúpula.
Senhoras e senhores,
O mundo ostenta o triste recorde do maior número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial.
Não queremos guerras nem genocídio. Precisamos de paz, desenvolvimento e livre-comércio.
Manter a América Latina e o Caribe como uma zona de paz significa trabalhar para que o uso da força não se sobreponha à resolução pacífica de conflitos.
O multilateralismo é abalado cada vez que silenciamos ante as ameaças à soberania dos países da região.
Não podemos nos omitir em face do embargo a Cuba, das sanções contra a Venezuela ou do caos social no Haiti.
É essencial recuperar nossa tradição regional de respeito ao asilo diplomático.
A CELAC pode contribuir para resgatar a credibilidade da ONU elegendo a primeira mulher Secretária-Geral da organização.
Companheiras e companheiros,
Quero agradecer à nossa companheira Xiomara Castro por liderar a CELAC num ano especialmente desafiador para o mundo e para a região.
Desejo ao companheiro Gustavo Petro muito sucesso na condução da CELAC no próximo período.
Saúdo também a decisão do meu amigo Yamandú Orsi de assumir a presidência da CELAC em 2026.
Só posso dizer para vocês: contem com o Brasil para seguir construindo nossa Pátria Grande.
Muito obrigado.”
EDITORIAL
Anistia: bolsonaristas pressionam por urgência
Como afirma o Jornal O POVO, do Ceará
“A consciência democrática e as instituições não podem deixar impunes aqueles que atentaram com o Estado Democrático de Direito
Depois do ato no Rio de Janeiro, que reuniu 18 mil pessoas, os bolsonaristas fizeram nova manifestação no domingo passado, em São Paulo. A principal reivindicação dos manifestantes é a anistia aos participantes do ataque e depredação da sede dos três poderes, em 8 de janeiro de 2023, com benefícios para o ex-presidente Jair Bolsonaro. Duas mil pessoas são investigadas e 371 (até janeiro) já foram condenadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado, entre outros crimes.
Organizado pelo pastor Silas Malafaia, o ato teve a participação de 45 mil pessoas, segundo o Monitor do Debate Político do Cebrap, que usa critérios científicos para calcular multidões. Em Fortaleza, houve uma manifestação reunindo um pequeno grupo de pessoas.
Por que anistia para golpistas é inconstitucional - Lenio Luiz Streck* - O Globo = Que é proibido anistiar a quem comete crime de golpe de Estado já foi percebido na Argentina, pelos tribunais e pela doutrina
O Globo
Que é proibido anistiar a quem comete crime de golpe de Estado já foi percebido na Argentina, pelos tribunais e pela doutrina
Está em discussão a concessão de anistia aos condenados e acusados pelos crimes de tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito. A pergunta de 1 milhão de leis é: se aprovada, o Supremo Tribunal Federal (STF) pode declarar a lei anistiante como inconstitucional?
A resposta é afirmativa. Por vários motivos. Em primeiro lugar, há que rejeitar argumentos (existem muitos divulgados na mídia) de que uma lei de anistia não seria inconstitucional porque a Constituição Federal (CF) não a proíbe. Esse parece ser o principal argumento a favor da tese da anistia. Trata-se de uma tese que no Direito chamamos de textualista, pela qual “o que a Constituição não proíbe, permite”. Isso quer dizer que o legislador, toda vez que a CF não estabelecer o contrário ou não disser algo sobre o tema, poderia aprovar qualquer tipo de lei. Ora, pensar assim é fazer pouco-caso da Constituição. É pensar que a CF é uma espécie de simples código.
Um exemplo singelo derruba os argumentos textualistas. Se uma lei proíbe cães no parque, um textualista — que defende a constitucionalidade de uma lei de anistia aos golpistas — por certo responderia que “a lei não proíbe ursos”. Logo, são permitidos. Pior ainda: por certo o textualista dirá que, proibidos cães, o cão-guia do cego está impedido de transitar no parque. Essa é a melhor maneira de saber o conceito de “interpretação textualista”.
Em segundo lugar, temos o precedente Daniel Silveira. Não era proibido expressamente pela Constituição que o presidente Jair Bolsonaro concedesse indulto. Mas o STF, baseado em forte doutrina e na interpretação sistemática, entendeu que o ato contrariou a Constituição. Nesse precedente (ADPF 964), já se vê a pista da inconstitucionalidade de eventual lei anistiando golpistas. Há uma passagem em que se lê:
— Indulto que pretende atentar, insuflar e incentivar a desobediência a decisões do Poder Judiciário é indulto atentatório a uma cláusula pétrea prevista no art. 60 da CF.
Isso é o que se chama “proibição implícita”. Igualzinha à vedação de ursos. Não precisa ser dito. Está implícita a proibição. Chama-se a isso de hermenêutica da função da lei.
Que é proibido anistiar a quem comete crime de golpe de Estado já foi percebido na Argentina, pelos tribunais e pela doutrina (Bidart Campos). Por aqui, setores do Direito tentam aplicar uma espécie de “textualismo seletivo”.
Ainda sobre o “precedente Daniel Silveira”, consta no acórdão, no voto do ministro Alexandre de Moraes:
— Seria possível o STF aceitar indulto coletivo para todos aqueles que eventualmente vierem a ser condenados pelos atos de 8 de janeiro, atentados contra a própria democracia, contra a própria Constituição?
E a resposta:
— Obviamente que não. Isso está implícito na Constituição.
Aliás, no caso Silveira, o STF usa mais de 40 vezes a tese de que há vedações implícitas na Constituição ao direito de anistia e indulto.
No nosso exemplo, parece óbvio que, proibidos cães, ursos não são permitidos. E por quê? Porque onde está escrito cães, leia-se “animais perigosos”. E onde está escrito democracia e Estado Democrático de Direito, leia-se “ninguém pode usar a democracia contra si mesma”. Nenhuma Constituição admitirá perdão (indulto, anistia) para quem atenta contra o Estado Democrático. Tudo porque a Constituição não é um oximoro. Não dá para “contentar-se de contentamento”. Na poesia, dá; no Direito, não!
*Lenio Luiz Streck é jurista, professor e advogado
ANEXO
A anistia está nas mãos do Centrão - Eliane Cantanhêde
O Estado de S. Paulo - Pressão da Paulista, do PL e em inglês fajuto? Que nada! Quem decide a anistia é o Centrão
Num domingo muito especial, Donald Trump, presidente da (ainda) maior potência, deliciava-se com o derretimento do multilateralismo, do comércio e das bolsas mundo afora, considerando tudo isso como “coisa linda de se ver”, enquanto Jair Bolsonaro, ex-presidente da maior economia da América Latina, lia com o jeitão dele um papelzinho em inglês ridicularizando a prisão de “Popcorn and ice cream sellers” que vandalizaram os três Poderes no fatídico 8/1.
O ato da Avenida Paulista, marcado para defender o projeto de anistia aos paus-mandados do 8/1, virou o que já se esperava: pró-Bolsonaro e uma demonstração de força dele na direita, com perto de 45 mil presenças, o dobro do que ele reuniu na Praia de Copacabana, mas só um quarto do que exibiu na mesma Paulista em fevereiro de 2024. Um copo meio cheio, meio vazio.
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EDITORIAL 7/4/25:
Como a América pode acabar tornando a China grande novamente
‘Make America Great Again’ de Trump está pressionando líderes chineses a corrigir seus piores erros econômicos e criando oportunidades para redesenhar o mapa geopolítico da Ásia em favor da China
Por The Economist – Revista Reino Unido - 04/04/2025
Enquanto Donald Trump lança uma saraivada de tarifas e seu governo fala sobre a força de suas alianças militares na Ásia, pode-se pensar que estes são tempos de ansiedade no país que os Estados Unidos veem como seu principal adversário. Na verdade, nossas reportagens de Pequim revelam um quadro bem diferente. O MAGA (Make America Great Again) está pressionando os líderes chineses a corrigir seus piores erros econômicos. Também está criando oportunidades para redesenhar o mapa geopolítico da Ásia em favor da China.
O país asiático se saiu mal no discurso de Trump no Rose Garden. Contando a nova taxa de 34%, mais as taxas que já existiam, o total sobe para 65% — e um pouco mais se você incluir a remoção perturbadora de uma isenção tarifária para pequenos pacotes. Considerando que as exportações ainda representam cerca de 20% do PIB, como em 2017, isso prejudicará a economia da China. A tática da China de redirecionar as cadeias de produção de suas empresas por meio de países como o Vietnã para contornar as tarifas funcionará menos bem agora que os Estados Unidos estão erguendo barreiras globalmente.
A guerra comercial ocorre em um momento em que a China continua lutando contra a deflação, o colapso imobiliário e a demografia desanimadora. Nos últimos cinco anos, o Partido Comunista negligenciou o consumo fraco e adotou um estatismo imprudente que restringiu o setor privado. A China exportou seu excesso de capacidade, inundando o mundo com mercadorias, e promoveu um chauvinismo espinhoso que perturba os aliados dos Estados Unidos na Ásia e na Europa.
Apesar de tudo isso, a China entra na nova era do MAGA mais forte do que no primeiro mandato de Trump. Há muito tempo, o presidente Xi Jinping argumenta que os Estados Unidos estão muito polarizados e sobrecarregados para sustentar seu papel global. Um de seus slogans adverte sobre “grandes mudanças nunca vistas em um século”. Seu nacionalismo paranoico costumava parecer uma hipérbole distópica. Agora que Trump está cometendo tamanha autoflagelação e destruição geral, ele parece estar à frente de seu tempo.
Xi vem se preparando para o mundo caótico de hoje desde que se tornou líder da China em 2012. Ele pediu autossuficiência econômica e tecnológica para seu país. A China reduziu sua vulnerabilidade às restrições americanas, como sanções e controles de exportação. Embora seus bancos ainda precisem ter acesso a dólares, atualmente a maioria dos pagamentos internacionais não bancários é feita em yuan.
A economia doméstica da China tem pontos fortes não reconhecidos. A concorrência e a adoção da tecnologia fazem com que suas empresas industriais derrotem os rivais ocidentais em tudo, desde veículos elétricos até a “economia de baixa altitude”, ou seja, drones e táxis voadores. Visto da China, as tarifas de Trump condenarão Detroit à obsolescência no estilo dos anos 1970, assim como sua cruzada contra as universidades atrasará a inovação.
Um exemplo da promessa da China é o DeepSeek, visto como um sinal de que o país pode inovar em relação aos embargos de semicondutores dos Estados Unidos. O partido se sente confortável com a IA desenvolvida internamente, e isso poderia permitir que a tecnologia se difundisse pela China mais rapidamente do que no Ocidente, aumentando a produtividade. Isso e os sinais de que Xi pode ter se tornado mais tolerante com os empreendedores ajudam a explicar por que o índice MSCI de ações chinesas aumentou 15% em 2025, mesmo com a queda das ações americanas.
Quatro anos após o estouro da bolha, os imóveis estão finalmente se tornando um obstáculo menor para o crescimento. Em algumas cidades, incluindo Xangai e Nanjing, os preços até começaram a subir. O partido também tomou medidas tardias para estimular o consumo. Os governos locais podem se refinanciar com 6 trilhões de yuans (US$ 830 bilhões) de novos títulos ao longo de três anos e outros 4,4 trilhões de títulos “especiais” este ano. Parte do dinheiro extra será destinada às famílias.
Para aproveitar todas as oportunidades econômicas, o partido precisa parar de perseguir o setor privado. Até mesmo os autocratas leninistas da China percebem que a repressão à “prosperidade comum” contra os empreendedores, iniciada em 2021, foi longe demais. Embora algumas autoridades zelosas ainda não tenham entendido a mensagem, Li Qiang, vice de Xi, usou um discurso em 23 de março para elogiar os “dragões” de Hangzhou, a capital da inovação da China.
A economia também precisará de mais estímulos para impulsionar o consumo e de esforços mais determinados para estabilizar o mercado imobiliário, que ainda pesa sobre a confiança das famílias. O consumo extra também beneficiaria as relações chinesas no exterior, ajudando a absorver a capacidade excedente. À medida que os Estados Unidos levantam muros, a China terá a chance de redefinir as relações comerciais em todo o mundo, oferecendo-se para investir na fabricação em países parceiros em vez de inundá-los com exportações.
Essas oportunidades econômicas estão lado a lado com uma oportunidade geopolítica. A política americana para a China é assustadoramente obscura. Os falcões do governo insistem que, ao se afastar da Europa, os Estados Unidos estão liberando recursos para conter a China. No entanto, Trump admira Xi e enviou um aliado, o senador Steve Daines, a Pequim para tentar chegar a um acordo. Em seu primeiro mandato, Trump fechou um acordo comercial com a China; agora ele quer pechinchar sobre o TikTok.
A China está apostando que a conversa do MAGA sobre um acordo “Kissinger reverso”, com os Estados Unidos afastando a Rússia da China, é bobagem. E o protecionismo trumpiano, o abuso de aliados e a indiferença aos direitos humanos são um repúdio aos valores americanos: o farol do mundo livre agora parece caprichoso e perigoso. Xi não tem a intenção de preencher o vácuo deixado pelo Tio Sam, mas ele tem a chance de expandir a influência da China, especialmente no sul global. Se, além de disseminar tecnologias limpas, a China se tornar mais ousada na redução de emissões em seu próprio país, ela poderá demonstrar liderança em relação às mudanças climáticas.
O desdém de Trump pela Otan e pela Ucrânia corroeu a confiança em seu compromisso com os aliados asiáticos e a disposição de lutar por Taiwan. Se os Estados Unidos fabricarem mais de seus próprios semicondutores avançados, seu incentivo para defender Taiwan diminuirá. Esse é um presente para Xi.
Ainda assim, há perigos à frente para a China. Uma guerra comercial poderia desencadear uma recessão global. Se Trump não conseguir chegar a um acordo com o governo de Pequim, ele poderá atacar com moedas e impor mais sanções. A China ainda pode envenenar as relações com o resto do mundo, praticando dumping nas exportações. O fato de ela aproveitar esse momento depende de um homem: Xi. Mas o fato de a oportunidade existir se deve muito a outro: Trump
EDITORIAL 4/4/25
Como um clássico da Sessão da Tarde está sendo associado ao tarifaço de Trump e ao risco de uma crise econômica - Como um clássico da Sessão da Tarde está sendo associado ao tarifaço de Trump e ao risco de uma crise econômica | Mundo | G1
Em cena de 'Curtindo a Vida Adoidado', professor dá aula entediante sobre lei protecionista que aumentou tarifas americanas e aprofundou a Grande Depressão dos anos 1930.
Por Daniel Médici, g1 - 03/04/2025 18h07
Reproduzir vídeo- Como um clássico da Sessão da Tarde está sendo associado ao tarifaço de Trump e ao risco de uma crise econômica | Mundo | G1
O que cena de 'Curtindo a Vida Adoidado' tem a ver com tarifaço de Trump
O que a decisão de Trump de aplicar tarifas em produtos de outros países tem a ver com um filme da Sessão da Tarde?
Nesta quinta-feira (3), alguns usuários de redes sociais buscaram em um clássico dos anos 1980 as respostas para os riscos do "tarifaço" do republicano. Eles desenterraram uma cena de "Curtindo a Vida Adoidado" na qual um professor explica uma lei similar que aprofundou a Grande Depressão, crise econômica que marcou os EUA nos anos 1930.
• Trump anuncia tarifas recíprocas para 185 países; confira a lista
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Trump anunciou, na quarta-feira, que os EUA cobrarão 10% de todas as importações feitas do Brasil — outros países enfrentarão uma tributação ainda maior. O presidente americano disse que o conjunto de tarifas vai "libertar" o país de produtos estrangeiros, fortalecendo sua indústria.
Enquanto os mercados responderam a Trump com bolsas em queda, a internet respondeu com memes. Foi então que algumas contas recuperaram uma cena de "Curtindo a Vida Adoidado", longa-metragem de 1986.
"Será que Trump nunca assistiu 'Curtindo a Vida Adoidado'?", questionou um usuário, ao postar uma cena do filme.
Trecho de 'Curtindo a Vida Adoidado', agora relacionado ao tarifaço de Trump — Foto: Reprodução
No trecho um professor dá uma aula sobre a Lei Smoot–Hawley para uma plateia de alunos entediados. Apesar de suas tentativas de arrancar alguma interação, os estudantes permanecem calados durante a explicação.
"Em 1930, a Câmara dos Representantes, controlada pelos republicanos, em um esforço para aliviar os efeitos da... alguém?, o projeto de tarifa, o Ato Tarifário de Hawley-Smoot, que... alguém? Aumentou ou reduziu? Aumentou as tarifas, na tentativa de arrecadar mais receita para o governo federal", explica o professor, em tom monocórdio.
"Funcionou? Alguém? Sabem os efeitos?", ele prossegue. "Não funcionou ,e os Estados Unidos afundaram ainda mais na Grande Depressão."
É do tédio da escola que o protagonista do filme, Ferris Bueller, interpretado por Matthew Broderick, tenta escapar. A trama do filme gira em torno do desejo de Bueller, sua namorada e seu melhor amigo aproveitarem um dia de sol em Chicago.
A obra é uma das mais famosas de John Hughes (1950-2009), que escreveu e dirigiu alguns dos principais filmes juvenis da época, como "O Clube dos Cinco" e "Esqueceram de Mim".
O que é a Lei Smoot–Hawley
A Lei Smoot-Hawley foi uma lei adotada para proteger fazendeiros e indústrias americanas pouco após o início da Grande Depressão, iniciada após o colapso da Bolsa de Valores em 1929.
Trump tem um objetivo parecido: ao aumentar as tarifas de produtos importados, ele visa fazer com que os produtos americanos sejam mais competitivos para os consumidores dos EUA, impulsionando a indústria e a agricultura locais, bem como incentivando corporações a transferir sua cadeia produtiva para o país.
Especialistas argumentam, porém, que levará anos para que as tarifas produzam os efeitos desejados, como reacender a indústria dos EUA, alterar as cadeias de suprimentos e trazer a produção para casa.
Enquanto isso não acontece, os consumidores americanos provavelmente verão preços mais altos, a economia pode entrar em crise e os aliados colocarão seus próprios impostos sobre produtos americanos — efeitos que Trump chamou de "perturbação", mas que os eleitores podem não estar dispostos a aceitar nas eleições de meio de mandato do ano que vem.
Economistas, assim como o professor de "Curtindo a Vida Adoidado", afirmam também que a Lei Smoot-Hawley, em vez de impulsionar o mercado local, aprofundou e espalhou a crise. Parceiros comerciais dos EUA rapidamente adotaram terifas recíprocas, afetando profundamente o comércio internacional, que desabou 66% entre 1929 e 1934.
Trump anuncia tarifas recíprocas — Foto: REUTERS/Carlos Barria
"O que é certo é que a Lei Smoot-Hawley não fez nada para promover a cooperação entre as nações, seja no âmbito econômico ou político, durante uma era perigosa nas relações internacionais", diz o site de história americana do Departamento de Estado dos EUA.
Mais cedo nesta semana, Trump defendeu sua política tarifária, afirmando que a própria crise de 1929 foi um resultado do fim abrupto das taxas a produtos estreangeiros nos anos 1920. A fala do presidente foi fortemente criticada pelo artigo de capa da revista "The Economist" desta semana.
"Quase tudo o que o Sr. Trump disse nesta semana — sobre história, economia e tecnicalidades do comércio — foi completamente ilusório. Sua leitura da história está de cabeça para baixo. Ele há muito glorifica a era de tarifas altas e impostos de renda baixos do final do século 19. Na verdade, os melhores estudos mostram que as tarifas impediam a economia naquela época", diz a revista.
"Ele agora acrescentou a afirmação bizarra de que o levantamento de tarifas causou a Depressão da década de 1930 e que as tarifas Smoot-Hawley chegaram tarde demais para contornar a situação. A realidade é que as tarifas tornaram a Depressão muito pior, assim como prejudicarão todas as economias hoje. Foram as meticulosas rodadas de negociações comerciais nos 80 anos subsequentes que reduziram as tarifas e ajudaram a aumentar a prosperidade."
A conclusão é parecida com a descrição do próprio site do Departamento de Estado: "Até hoje, a expressão 'Smoot-Hawley' continua sendo uma palavra de ordem para alertar sobre os perigos do protecionismo."
Editorial 3/4/25
Trump declara Guerra Comercial com anúncio de “Tarifaço”
O "Tarifaço de Trump" refere-se às tarifas impostas pelo PRESidente dos EUA, Donald Trump, que começaram logo após sua posse, foram suspensas e ontem foram novamente decretadas abrangendo produtos do mundo inteiro, sobretudo países asiá%3






VIDEOS EDUCATIVOS BRASIL
Documentário "Brazil - The troubled land" (1964)
Documentário, filmado em 1961, sobre a luta pela terra em Pernambuco e as Ligas Camponesas, para a rede de televisão estadunidense ABC. Enviada a…
ÍNDICE
I - IMPRESSÕES DO BRASIL – Canal Curta Videos
II – GRANDES BRASILEIROS -
III –INTÉRPRETES DO BRASIL – Coletânea com indicações bibliográficas e vídeos – Paulo Timm Org.
IV – MEU BRASIL BRASILEIRO – Variedades-Anexo
I - Impressões do Brasil
30 Episódios | Duração média dos eps. 26 min.
Em cada episódio, "Impressões do Brasil" irá abordar um grande escritor contemporâneo, ainda em atividade. O conjunto deles representa as cinco regiões brasileiras, com trabalhos nos gêneros romance, poesia, conto, crônica e memória. Formam, portanto, um painel representativo da produção contemporânea brasileira e da diversidade de origens, gêneros e estilos dos principais criadores.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Ele sempre foi um apaixonado pela música é um dos mais brilhantes escritores brasileiros mas confessa que sua maior vocação é ser aposentado. Em nosso programa de estréia, o entrevistado é luis fernando veríssimo. Nascido em porto alegre em 1937, luis fernando veríssimo é um dos mais lidos autores brasileiros. Seus 60 livros já venderam mais de 5 milhões de exemplares. É ...
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: O que poderia existir de comum entre um general conspirador que se tornou o primeiro presidente da ditadura... Uma cantora com a vida marcada pelas desilusões amorosas e o alcoolismo... E um padre expurgado pela igreja, amado por seus romeiros fiéis, e que foi também prefeito e coronel do sertão? Seu biógrafo, lira neto, que formado em topografia, exerceu a profissão por...
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Porto alegre, cosmopolita e conservadora tradicional e moderna cenário de lutas e de resistência política e cultural porto alegre de quintana, veríssimo, caio fernando abreu, joão gilberto noll. Porto alegre, de martha medeiros. Frustrada com a carreira de publicitaria, martha foi para o chile tomar outros ares e escrever poesia. E não parou mais. Livros de crônicas, rom...
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Ele já foi chamado "o escritor que coleciona prêmios", mas assegura que não escreve para ganha-los. Nascido em manaus, filho de um imigrante do líbano com uma brasileira descendente de libaneses, miltom hatoum sintetiza em sua literatura a exuberância da região amazônica com a cultura libanesa milenar, fazendo disso um painel que o faz ser considerado um dos grandes escri...
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Ele queria ser paraquedista militar. Acabou preso no quartel, onde nem chegou a servir. Nasceu em minas, formou-se em direito e se tornou um dos mais criativos ilustradores brasileiros. Pintor, chargista, jornalista, teatrólogo e escritor, da combinação do nome de sua mãe, zizinha, com o de seu pai, geraldo, surgiu ziraldo, um dos mais aclamados artistas do brasil.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Ela nasceu em curitiba e mora em são paulo. Começou a escrever aos nove anos de idade, mas publicou seu primeiro livro aos 34 anos. A poeta, letrista, tradutora e publicitária alice ruiz já publicou 20 livros e gravou mais de 50 músicas com vários artistas. Concisa como um hai kai, ela diz que não sabe o que é poesia, mas sabe o que não é.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Ele foi mudo até os cinco anos de idade. Entrou no seminário para tornar-se padre. Estudou filosofia e hoje, com mais de 80 anos, carlos heitor cony é um dos mais respeitados escritores brasileiros, cadeira número 3 da academia brasileira de letras.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Poeta, pensador, crítico de arte, tradutor e memorialista, o maranhense ferreira gullar ganhou centenas de prêmios com livros de poesia, teatro, ensaios, é um dos fundadores do neoconcretismo e ainda muito criativo nos seus 81 anos. Em 2010 recebeu o prêmio camões, o mais importante da língua portuguesa.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Violência, sexo e corrupção são temas constantes na literatura do jornalista, escritor e roteirista marçal aquino. Escreveu os roteiros dos aclamados filmes o invasor e o cheiro do ralo, teve contos adaptados ao cinema, escreveu livros infanto-juvenis, ganhou prêmios e afirma: "a literatura é a minha cachaça".
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Vencedor de quatro prêmios jabuti e outras honrarias, o jornalista, tradutor e escritor ruy castro, escreveu importantes biografias sobre nelson rodrigues, garrincha, carmem miranda e chega de saudade, onde conta a história da bossa nova. Escreve também colunas e crônicas para jornais. A cidade maravilhosa é o palco principal dos textos do mineiro de caratinga.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Nascido na amazônia, o autor dos estatutos do homem é um dos poetas mais influentes e respeitados de nosso país. Thiago de mello mora no coração da floresta amazônica, mas vive percorrendo o mundo, imerso em universal poesia e aos 86 anos continua, como um peregrino poético, sua caminhada. "eu não levo a sério quando me chamam de grande poeta. Tem fita métrica para medir poeta"?
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: A primeira mulher a presidir a academia de letras, nélida piñon já publicou livros de crônicas, romances, contos, memórias, ensaios, em mais de 50 anos de carreira. A carioca filha de espanhóis de origem galega, formada em jornalismo na puc- rio de janeiro foi editora e membro do conselho editorial de várias revistas no brasil e no exterior.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Ele começou como poeta e escreveu seu primeiro livro aos 13 anos. Na juventude fez teatro, trabalhou na marinha mercante, foi trabalhador ilegal na europa e relojoeiro. Nascido em lages, santa catarina, cristovão tezza vive em curitiba, onde começou sua carreira literária. Exímio criador de diálogos rápidos, concisos e cheios de expectativa, sua trajetória como escritor de estilo solidamente definido vem sendo reconhecida e premiada.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Ledo ivo nasceu em alagoas. Seus livros, que incluem ensaios, literatura infanto juvenil, antologias, crônicas e romances, estão publicados em vários idiomas. É jornalista, cronista, poeta, romancista, autor de uma vasta obra e ocupante da cadeira número 10 da academia brasileira de letras. Sua relação com o berço, sua "alagoanidade" é visceral e inseparável de sua obra.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Ele nasceu em pelotas, passou a infância em bagé e hoje vive em brasília. É autor de 35 livros e recebeu mais de 20 prêmios literários. Repóter, redator, editor, teatrólogo, crítico literário. A premiada obra de lourenço cazarré é focada no universo infanto-juvenil. "meu objetivo como escritor juvenil é provar para um garoto de 12 anos que se ele atravessa um livro de 100 páginas, ele lê e não morre."
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: O gaúcho joão gilberto noll coleciona 5 prêmios jabuti. Teve vários de seus contos adaptados para o cinema e faz parte da antologia dos cem melhores contos brasileiros. Também escreveu romances premiados e peças de teatro. Apaixonado pela música, que trouxe seu primeiro encantamento pela arte, é criador de imagens que transcendem a narrativa. Interessado pelos mistérios da alma humana, considera-se um escritor de linguagem, não de tramas e assuntos.
Documentário 2013 26 min Brasil DF
Sinopse: Autor de histórias em quadrinhos, o artista gráfico é também ator, escritor e um viajante da dramaturgia. Lourenço mutarelli é formado em belas artes. Começou fazendo histórias em quadrinhos. As peças, romances e adaptações de suas obras vieram depois, com muito sucesso. Ele diz que nunca pensou em ser escritor, porque tem um respeito muito grande pela literatura e complementa: "a crítica até hoje tem um preconceito muito grande por ser um cara que vem dos quadrnhos, que é uma coisa desprezível e menor".
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Ele escreveu seu primeiro romance aos 12 anos. Colecionava dicionários. Trocava figurinhas e bolas de gude por livros. Era o menino que vendia palavras. Nascido em araraquara, são paulo, ignácio de loyola brandão começou escrevendo reportagens e crítica de cinema. Apaixonado pela sétima arte, via e revia os filmes centenas de vezes. Ignácio de loyola brandão comandou editorialmente importantes revistas brasileiras.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Ele criou o sol e revolucionou a imprensa brasileira. Reynaldo jardim, poeta apaixonado, editor revolucionário, é a própria história da imprensa brasileira contemporânea. Paulista, reynaldo jardim revolucionou a imprensa brasileira. Viveu em várias cidades do país criando jornais, revistas e suplementos literários. Faz poesia todos os dias, como profissão, gosta de contar. E de transformar tudo em poesia.
Documentário 2008 26 min Brasil DF
Sinopse: Ele é autor de crônicas e repostagens que encantaram milhares de leitores por todo o país. Seus livros pensam e discutem o brasil de hoje. Aos 81 anos zuenir ventura não pára. Entre feiras literárias e palestras por todo o país, assina duas colunas semanais em jornais e revistas. Ventura trabalhou como repórter, redator e editor em vários órgâos da imprensa brasileira.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Elogiada pela crítica nacional e internacional, lygia bojunga, autora de 22 livros, é a primeira escritora fora do eixo europa-estados unidos a receber a medalha hans cristian anderson, considerada o prêmio nobel dos autores para a infância e juventude em todo o mundo. Suas obras estão traduzidas em vários idiomas.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Ele é o autor do livro nacional mais vendido na década de 80, feliz ano velho. Marcelo rubens paiva é romancista, autor teatral, cronista e jornalista. O desaparecimento de seu pai, o ex-deputado federal rubens paiva, pela ditadura militar, marcou sua vida. Um acidente aos vinte anos deixou-o tetraplégico. É autor de outros êxitos literários, como blecaute, bala na agulha, não és tu brasil, o homem que conhecia as mulheres.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Ele já foi pipoqueiro, barman e balconista de armarinho antes de decolar na literatura. Quando descobriu uma biblioteca, "lugar ideal porque nunca tinha alguém", lia de tudo: de enciclopédia a bula de remédio com fervorosa vontade de aprender. Começou com duas coletâneas de contos, seus romances foram aclamados com diversos prêmios e publicados internacionalmente.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Escritora, tradutora, colunista e professora universitária aposentada, lya luft lançou livros de poesias, contos, crônicas, ensaios e livros infantis. Já traduziu mais de 100 livros, muitos deles, obras primas de grandes autores das letras anglo-germânicas, como virginia woolf, rainer maria hilke, hermann hesse, doris lessing, günther grass e thomas mann.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: O sucesso chegou cedo na vida de leticia wierzchowski. Estudou arquitetura antes de decolar na literatura. Estreou em 1998. É considerada uma das maiores revelações literárias do início do século xxi. Seu romance, a casa das sete mulheres, virou série televisiva e já foi veiculada em mais de 30 países. Ela tem livros publicados na espanha, portugal, grécia e itália.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Ministro, governador, senador da república e escritor de extensa obra, escreveu livros sobre temas como economia, história, sociologia e pricipalmente educação. Cristovam ricardo cavalcanti buarque é pernambucano do recife. O gosto pela política e pela literatura, marcam a trajetória desse engenheiro, economista e professor universitário que sempre se dedicou a educação.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: A amazônia é o grande tema dos livros de márcio souza. A divertida alegoria sobre a conquista do acre pelo brasil, "galvez, imperador do acre", lançou o romancista, que também é jornalista, teatrólogo, ensaísta e roteirista de televisão e cinema.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Mestra em literatura brasileira pela universidade de brasília, stella maris rezende é também professora, atriz, cantora, artista plástica, além de escritora. Definindo a si própria como uma artista que " lida com a magia da linguagem, as imagens , a imaginação, as metáforas, a ambiguidade, a mentira, a verdade, os mistérios e as delicadas e terríveis perguntas da condição humana", tem dezenas de livros publicados, entre romances, novelas , crônicas, contos, poemas e uma peça teatral, para o público adulto e infanto juvenil. Tem recebido vários prêmios importantes por sua produção.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Poeta, cronista, romancista e professor. Possui 40 livros publicados. Participou dos principais momentos políticos e sociais do brasil nos últimos 50 anos. A obra do ítalo- brasileiro affonso romano de santanna tem sido objeto de estudos acadêmicos no brasil e no exterior e suas crônicas são lidas por milhares de leitores.
Documentário 2011 26 min Brasil DF
Sinopse: Autor de um dos mais geniais romances brasileiros de todos os tempos, viva o povo brasileiro, joão ubaldo ribeiro é escritor, jornalista, roteirista e professor. Formado em direito, membro da academia brasileira de letras, ganhou, entre outras homenagens mundo afora, o prêmio camões em 2008. Sobre o ofício de escrever, diz: "todo mundo tem um dom. E eu acredito que o grande pecado que o sujeito pode cometer é trair seu dom".
GRANDES BRASILEIROS
Anísio Teixeira
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Anísio Teixeira |
|
Nome completo |
Anísio Spínola Teixeira |
Nascimento |
|
Morte |
11 de março de 1971 (70 anos) |
Ocupação |
advogado, educador e escritor |
Principais trabalhos |
Anísio Spínola Teixeira (Caetité, 12 de julho de 1900 — Rio de Janeiro, 11 de março de 1971) foi um jurista, intelectual, educadore escrito
Na ideia de educação para todos, expressa por Anísio Teixeira, está a base de sua atuação como educador e sua contribuição para a educação no Brasil, importante até hoje!
Índice
[esconder]
o 1.1 Formação e início da vida pública
· 2 Política, realização e perseguição
· 3 Casa Anísio Teixeira (1998 – 2009)
· 5 Depoimentos sobre o educador
· 7 Obras
Biografia de um educador[editar | editar código-fonte]
Formação e início da vida pública[editar | editar código-fonte]
Deocleciano Teixeira, pai de Anísio.
Seu pai, o médico Deocleciano Pires Teixeira, foi chefe político do município de Caetité, casara-se com três irmãs, sucessivamente, sendo sua mãe a terceira delas. A família Spínola, secular na região, tinha já vários expoentes na vida social e política nacional — a exemplo de Aristides Spínola e Joaquim Spínola, que havia sido presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, e fundador da Revista dos Tribunais.
Em sua cidade natal, iniciou os estudos no Colégio São Luís Gonzaga, de jesuítas, continuando depois sua formação basilar emSalvador, em 1914, no Colégio Antônio Vieira, também dessa Ordem Religiosa. ). Filho de fazendeiro, estudou em colégios de jesuítas na Bahia e cursou direito no Rio de Janeiro. Diplomou-se em 1922 e em 1924 já era inspetor-geral do Ensino na Bahia
Sob a influência dessa instituição, cogitou tornar-se jesuíta — sonho veementemente combatido por seu pai, que projetara uma carreira política para o filho.
Ainda aos dezessete anos, teve sua inteligência reconhecida por Teodoro Sampaio, que o convidou a proferir uma palestra no Instituto Histórico e Geográfico da Bahia.
Formando-se em 1922 na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro (atual Faculdade de Direito da UFRJ).
O educador na Bahia[editar | editar código-fonte]
Casa Natal de Anísio Teixeira,Caetité, Bahia.
De volta à Bahia, em 1924, a convite do governador Góes Calmon, assumiu o cargo de Inspetor Geral de Ensino — cargo equivalente hoje ao de Secretário da Educação - iniciando sua carreira de pedagogo e administrador público.
A fim de melhor desempenhar esta função, viajou em 1925 à Europa, onde observou o sistema educacional de diversos países — implementando em seguida várias reformas no ensino do estado.
Teixeira conseguiu ampliar o sistema educacional, privilegiando a formação de professores. Em sua terra natal, Caetité, reinaugurou a Escola Normal, que havia sido fechada por Severino Vieira em 1901.
Em 1927, foi aos Estados Unidos, onde travou conhecimento com as ideias do filósofo e pedagogo John Dewey, que muito iriam influenciar seu pensamento. No ano seguinte, demitiu-se do cargo pelo fato de o novo governador não concordar com suas ideias sobre mudanças no ensino.
Voltou aos Estados Unidos (1928), onde fez pós-graduação. De volta ao Brasil traduziu, pela primeira vez em português, dois trabalhos de Dewey.
Em 1928, ingressou na Universidade de Colúmbia, em Nova York, onde obteve o título de mestre e conheceu o educador John Dewey.
Em 1931, mudou-se para o Rio de Janeiro, ocupando a Diretoria da Instrução Pública do Distrito Federal, em cujo mandato instituiu a integração da "Rede Municipal de Educação", do fundamental à universidade. Diversas melhorias e mudanças foram feitas, mas a que maior polêmica gerou foi a criação da Universidade do Distrito Federal, em1935.
Tornou-se Secretário da Educação do Rio de Janeiro em 1931 e realizou uma ampla reforma na rede de ensino, integrando o ensino da escola primária à universidade.
Em 1932, participou do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, tendo publicado neste período duas obras sobre educação que, junto a suas realizações, deram-lhe projeção nacional.
Em 1935, criou a Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, perseguido pelo governo de Getúlio Vargas, Anísio Teixeira mudou-se para sua cidade natal, na Bahia, onde viveu até 1945.
Anísio Teixeira assumiu o cargo de conselheiro geral da UNESCO em 1946. No ano seguinte, foi convidado novamente a assumir o cargo de Secretário da Educação da Bahia, onde foi muito bem-sucedido como administrador público. Criou a Escola Parque, em Salvador, que se tornou um centro pioneiro de educação integral.
Em 1951, assumiu a função de Secretário Geral da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), tornando-se, no ano seguinte, diretor do INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos).
Em fins dos anos 1950, Anísio Teixeira participou dos debates para a implantação da Lei Nacional de Diretrizes e Bases, sempre como árduo defensor da educação pública. Ao lado de Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira foi um dos fundadores da Universidade de Brasília, da qual tornou-se reitor em 1963.
No ano seguinte, com o golpe militar, afastou-se do cargo e foi para os Estados Unidos, lecionando nas Universidades de Colúmbia e da Califórnia. De volta ao Brasil em 1966, tornou-se consultor da Fundação Getúlio Vargas.
Anísio Teixeira morreu em 1971, em circunstâncias consideradas obscuras. Seu corpo foi achado num elevador na Avenida Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Apesar do laudo de morte acidental, há suspeitas de que tenha sido vítima das forças de repressão do governo do General Emílio Garrastazu Médici.
Política, realização e perseguição[editar | editar código-fonte]
Durante a última fase do Estado Novo, Teixeira afastou-se da vida pública. Dedicou-se, então, à mineração — atividade de alguns parentes. Aproximou-se mais do amigoMonteiro Lobato e publicou Educação para a Democracia, além de realizar diversas traduções.
Na década de 1940, foi Conselheiro da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Voltando o país ao regime democrático em 1946, Teixeira foi convidado por Octávio Mangabeira — um dos maiores líderes liberais do seculo XX, fundador da UDN, também exilado e então eleito para o Governo da Bahia — a ser o Secretário de Educação e Saúde. Dentre outras realizações, construiu na Liberdade — o mais populoso e pobre bairro da capital baiana — o "Centro Educacional Carneiro Ribeiro", mais conhecido por Escola Parque, lugar para educação em tempo integral e que serviria de modelo para os futuros CIACs e CIEPs.
Nos anos 50, dirigiu o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, ou INEP, órgão do Governo Federal que, no governo de Fernando Henrique Cardoso, passou a se chamarInstituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira2 . Foi também o criador e primeiro dirigente da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (atual CAPES), criada em 11 de julho de 1951, pelo Decreto nº 29.741, pelo presidente Getúlio Vargas, e que Anísio dirigiu até o golpe de 1964. A CAPES subordinava-se diretamente ao Presidente da República mas, depois de 1964, passou a integrar o organograma do Ministério da Educação3 . De todo modo, com a ditadura militar, Anísio deixou sua direção.
Foi um dos idealizadores do projeto da Universidade de Brasília (UnB), inaugurada em 1961, da qual veio a ser reitor em 1963, para ser afastado após o golpe militar de 1964.
Uma morte misteriosa[editar | editar código-fonte]
Diversas circunstâncias obscuras cercaram a morte de Anísio Teixeira. Dois meses antes de sua morte, ele escreveu: "Por mais que busquemos aceitar a morte, ela nos chega sempre como algo de imprevisto e terrível, talvez devido seu caráter definitivo: a vida é permanente transição, interrompida por estes sobressaltos bruscos de morte" (numa carta a Fernando de Azevedo).
Por intercessão do amigo Hermes Lima, Anísio candidatou-se a uma vaga na Academia. Iniciou-se assim a série de visitas protocolares aos Imortais.
Depois da última visita, ao lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Anísio desapareceu. Preocupada, sua família investigou seu paradeiro, sendo informada pelos militares de que ele se encontrava detido.
Uma longa procura por informações teve início — repetindo um drama vivido por centenas de famílias brasileiras durante a ditadura militar. Mas, ao contrário das desencontradas informações e pistas falsas, seu corpo foi finalmente encontrado no fosso do elevador do prédio do imortal Aurélio, na Praia de Botafogo, no Rio. Dois dias haviam se passado de seu desaparecimento. Seu corpo não tinha sinais de queda, nem hematomas que a comprovassem. A versão oficial foi de "acidente".
Calava-se, para um Brasil mergulhado em sombras, uma voz em defesa da educação — portador da "subversiva" ideia de um país melhor. Era o dia 14 de março de 1971.4
Em depoimento na UnB, em 10 de agosto de 2012, o professor João Augusto de Lima Rocha declarou:
"Em dezembro de 1988, Luiz Viana Filho me confessou que Anísio Teixeira foi preso no dia que desapareceu (11 de março de 1971) e levado para o quartel da Aeronáutica, em uma operação que teve como mentor o brigadeiro João Paulo Burnier, figura conhecida do regime militar e que tinha o plano de matar todos os intelectuais mais importantes do Brasil na época", disse João Augusto. 5
O legado[editar | editar código-fonte]
· De sua obra em Salvador, destaca-se o Centro Educacional Carneiro Ribeiro (melhor conhecido por Escola Parque), de 1950, situado no populoso e pobre bairro da Liberdade, no qual buscou inspiração Darcy Ribeiro para, na década de 1980, criar os CIEPs. Na década de 1990 foi a vez do Governo Federal criar os CIACs e, no início do século XXI, na Bahia, os Colégios Modelo — todos fundamentados em sua ainda atual visão da educação integral e, no início do século XXI, os mais de 21 CEUs(Centros Educacionais Unificados), construídos na cidade de São Paulo, tiveram em seus projetos fortes influências da Escola Parque de Anísio.
· Em Caetité, em sua casa natal (foto acima), mantém-se a Fundação Anísio Teixeira, presidida por sua filha Anna Cristina Teixeira Monteiro de Barros, com apoio governamental (Estado e Município) e da iniciativa privada, e a Casa Anísio Teixeira, com biblioteca, museu, cine-teatro e biblioteca móvel. A instituição leva conhecimento e mantém viva a memória do grande educador brasileiro.
· No Rio de Janeiro existe o Centro Educacional Anísio Teixeira, escola privada de ensino fundamental e ensino médio, com proposta pedagógica segundo as ideias do educador.
Casa Anísio Teixeira (1998 – 2009)[editar | editar código-fonte]
A Casa Anísio Teixeira é uma entidade cultural vinculada à Fundação Anísio Teixeira e por esta administrada, localizada na casa natal do educador Anísio Teixeira, na cidade de Caetité, sudoeste da Bahia, em imóvel tombado que é patrimônio da Fundação.
Inaugurada em fev/1998, após restauração feita pelo Governo da Bahia através do IPAC, a Casa Anísio Teixeira tem como objetivo preservar e divulgar o pensamento e a obra do educador Anísio Teixeira, bem como promover o desenvolvimento regional do ponto de vista da Educação e da Cultura, inspirando-se nos ideais e princípios do educador, que sempre militou em favor da expansão das oportunidades de educação pública, gratuita e de qualidade, em nosso país.
A Entidade abriga um Centro de Memória que preserva a arquitetura e o mobiliário de época, onde são apresentados hábitos e costumes de uma família dos séculos XIX e XX; uma Biblioteca Pública informatizada e equipada também com uma Biblioteca Móvel que atende a população da zona rural, buscando despertar o interesse pela leitura; um Cine-Teatro que funciona como Auditório e Sala de Cinema (ambos esses projetos implantados com patrocínio da empresa pública federal INB - Indústrias Nucleares do Brasil, através do Programa FAZCULTURA - Programa Estadual de Incentivo à Cultura do Governo da Bahia); Oficina de Arte-Educação que atua ressaltando a importância da educação ambiental; Núcleo de Contação de Histórias que busca incentivar e formar contadores de histórias, priorizando a literatura infantil nacional e releituras de clássicos incorporados à nossa cultura; Sala de Cultura Digital, instalada em parceria com a INB, equipada com quatro computadores conectados à Internet, via cabo, e disponibilizados à população, em especial aos usuários da Biblioteca; com a ajuda permanente de um monitor; e um pátio externo para eventos culturais e educativos. Esses espaços colaboram, sem sombra de dúvida, para dinamizar a vida cultural da cidade de Caetité e da região.
Pensamento de Anísio[editar | editar código-fonte]
Ele expressa em suas ideias uma constante preocupação com uma educação livre de privilégios, que é cada vez mais valorizada.
Sou contra a educação como processo exclusivo de formação de uma elite, mantendo a grande maioria da população em estado de analfabetismo e ignorância. Revolta-me saber que dos cinco milhões que estão na escola, apenas 450.000 conseguem chegar à 4ª série, todos os demais ficando frustrados mentalmente e incapacitados para se integrarem em uma civilização industrial e alcançarem um padrão de vida de simples decência humana. Choca-me ver o desbarato dos recursos públicos para educação, dispensados em subvenções de toda natureza a atividades educacionais, sem nexo nem ordem, puramente paternalistas ou francamente eleitoreiras. — Anísio Teixeira |
Depoimentos sobre o educador[editar | editar código-fonte]
Como exórdio da importância de Anísio para a intelectualidade brasileira, o trecho da seguinte carta a ele dirigida, escrita por Monteiro Lobato, reflete como suas ideias podem animar os que verdadeiramente acreditam no Brasil:
Comecei a ler o Manifesto. Comecei a não entender, e ver ali o que desejava ver. Larguei-o. Pus-me a pensar — quem sabe está nalgum lugar do livro de Anísio o que não acho aqui — e lembrei-me de um livro sobre a educação progressiva, que me mandaste e que se extraviou no caos que é minha mesa. Pus-me a procurá-lo, achei-o. E cá estou, Anísio, depois de lidas algumas páginas apenas, a procurar dar berros de entusiasmo, por uma coisa maravilhosa que é a sua inteligência lapidada pelos Deweys e Kilpatricks! …Eureca! Eureca! Você é o líder, Anísio! Você há de moldar o plano educacional brasileiro. Só você tem a inteligência bastante aguda para ver dentro do cipoal de coisas engolidas e não digeridas por nossos pedagogos reformadores… Eles não conhecem, senão de nomes, aqueles píncaros (Dewey & Co.) por cima dos quais você andou e donde pode descortinar a verdade moderna. Só você, que aperfeiçoou a visão e teve o supremo deslumbramento, pode neste País falar de educação! |
Busto de Anísio, em Caetité.
Algumas opiniões acerca deste educador:
…Cidadão íntegro, puro, decente. Além de inteligentíssimo, dono de cultura invulgar, mestre inconteste no que se refere à educação, Anísio Teixeira foi um brasileiro raro. Tão extraordinário a ponto de ter sido alvo durante toda a vida de restrições, suspeitas, aleivosias, perseguições, misérias de todo tipo com que os imundos o perseguiram — sobram imundos no Brasil. Tentaram de todas as maneiras impedir Anísio Teixeira de realizar sua missão civilizadora mas ele era irredutível e invencível. O que o Brasil de hoje possui de melhor e de maior deve-se em grande parte a este humanista baiano de grandeza universal. |
|
…Anísio Teixeira é o pensador mais discutido, mais apoiado e mais combatido do Brasil. Ninguém como ele provoca a admiração de tantos. Ninguém é também tão negado e tem tantas vezes seu pensamento deformado (…) Suas teses educacionais se identificam tanto com os interesses nacionais e com a luta pela democratização de nossa sociedade que dificilmente se admitiria pudessem provocar tamanha reação num país republicano. |
Suas obras e seus conceitos continuam sendo ricas fontes de conhecimento e de inspiração para os que se preocupam com a educação e com o futuro de nosso país. — Nilda Teves6 |
|
A magnitude de Anísio Teixeira é própria de um pensador social dos mais profundos, que não perde em nada para Gilberto Freyre ou qualquer outro. (…) Ele precisa ser lembrado ao lado de historiadores como Sérgio Buarque de Holanda, sociólogos como Florestan Fernandes e antropólogos como Emilio Willems. — Marcos Cezar de Freitas7 |
Homenagens[editar | editar código-fonte]
Depois de muito tempo relegado ao esquecimento, a memória de Anísio Teixeira foi, com o fim da ditadura militar, aos poucos sendo resgatada. Sem dúvida, o maior passo neste processo, deu-se com o lançamento, em 1 de outubro de 1993, da cédula de mil Cruzeiros Reais, lembrando o grande educador, que ficou em vigor até julho de 1994, quando foi substituída pelo Real.
O ano de seu centenário de nascimento, 2000, foi marcado por diversas homenagens. Muitas entidades educacionais ou, mais especificamente, pedagógicas, realizaram eventos em comemoração.
O dia 12 de julho é, em sua memória, feriado municipal na sua Caetité natal.
Sob auspícios da Rede Bandeirantes, um documentário foi feito em 1999, contando a vida do educador.
Inúmeras instituições de ensino no país levam seu nome, em especial o Instituto de Educação Anísio Teixeira, em sua terra natal.
A cadeira número 3 da Academia Caetiteense de Letras, em sua cidade natal, traz como patrono o grande educador.
Rua e travessas recebem o nome de Anisio Teixeira nas cidades de: Barreiras, Itabuna, Salvad
Obras[editar | editar código-fonte]
Uma das obras de Anísio.
Dentre as suas obras, destacam-se:
· Aspectos americanos de educação. Salvador. Tip. De São Francisco, 1928, 166 p.
· A educação e a crise brasileira. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1956, 355 p.
· Educação é um direito. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996, 221 p.
· Educação e o mundo l,l,.,ç, , ,
. 2ª ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1977, 245 p.
· Educação e universidade. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1998, 187 p.
· Educação no Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional 1969, 385 p.
· Educação não é privilégio. 5ª ed. Rio de Janeiro.- Editora UFRJ, 1994, 250 p.
· Educação para a democracia: introdução à administração educacional. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997, 263 p.
· Educação progressiva: uma introdução à filosofia da educação. 2ª ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1934, 210 p.
· Em marcha para a democracia: à margem dos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, s.d., 195 p.
· Ensino superior no Brasil: análise e interpretação de sua evolução até 1969. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1989, 186 p.
· Pequena introdução à filosofia da educação: a escola progressiva ou a transformação da escola. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1968, 150 p.
Referências
1. Ir para cima↑ Manifesto dos pioneiros da educação nova, BR: Pedagogia em foco.
2. Ir para cima↑ Inep, BR.
3. Ir para cima↑ "História e missão", Sobre a Capes, BR: Capes.
4. Ir para cima↑ Memória - Emoção no sepultamento do mestre. UnB Agência, 10 de agosto de 2012 (reportagem sobre a morte de Anísio Teixeira, originalmente publicada na edição de 15 de março de 1971 do jornal Última Hora).
5. Ir para cima↑ "Professor baiano surpreendeu os presentes na cerimônia ao narrar depoimentos que reforçam a suspeita de que Anísio Teixeira, fundador da Universidade, foi assassinado pelo regime militar". UnB Agência. 10 de agosto de 2012.
6. Ir para cima↑ A atualidade do pensamento de Anísio Teixeira. Palestra proferida na Associação Brasileira de Educação (ABE), pela Profª Nilda Teves. Rio de Janeiro, 2000.
7. Ir para cima↑ CASIMIRO, Vitor, "Entrevista: Anísio Teixeira foi o mais plural dos intelectuais que o Brasil teve no século XX", Revista e.Educacional. Entrevista com o pesquisador Marcos Cezar de Freitas.
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
· TEIXEIRA, Anísio e ROCHA E SILVA, Maurício. Diálogo sobre a lógica do conhecimento. São Paulo: Edart Editora, 116 p.
· AGUIAR, Lielva Azevedo. "Agora um pouco da política sertaneja": A trajetória da família Teixeira no Alto Sertão da Bahia (Caetité, 1885-1924). Santo Antônio de Jesus:Universidade do Estado da Bahia – UNEB, 2011.
Ver também[editar | editar código-fonte]
· Instituto de Educação Anísio Teixeira - fundada pelo mestre em sua cidade natal.
· Centro Educacional Carneiro Ribeiro - conhecida por Escola Parque, pioneira do ensino integral no Brasil, em Salvador.
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
· Anísio Teixeira, Educar para Crescer
· Biblioteca Virtual Anísio Teixeira
portal sobre o educador, pode-se ter para download obras completas, como a biografia feita por Hermes Lima, além de diversos textos, imagens e homenagens.
· Biobibliografia de Anísio Teixeira Biobibliografia de Anísio Teixeira (R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 82, n. 200/201/202, p. 207-242, jan./dez. 2001.)
· Anísio Teixeira - e a escola pública brasileira (projeto de educação integral)
GRANDES BRASILEIROS
Anísio Teixeira - Educação não é privilégio - Série ...
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18 de ago de 2012 - Vídeo enviado por projetoabridor
O segundo programa revela a vida e a obra de Anísio Teixeira. O objetivo principal é explorar a mais ...
Anísio Teixeira: educação não é privilégio (Parte 1/5 ... globotv.globo.com/rede...anisi
9 de ago de 2014
O Aprovado convidou a pesquisadora e professora da Uneb Jaci Menezes para conversar sobre ...
Anísio Teixeira: educação não é privilégio (Parte 2/5 ...
www.youtube.com/watch?v=
www.youtube.com/watch?v=
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11 de dez de 2009 - Vídeo enviado por Vinicius Coelho
Documentário sobre Anísio Teixeira da "Série Educadores Brasileiros" produzido pela TV Escola ...
educadores brasileiros - anísio teixeira ... - YouTube
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11 de abr de 2011 - Vídeo enviado por Eddie Silva
A série Educadores Brasileiros apresenta a biografia e a obra de grandes teóricos da educação no Brasil ...
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10 de jun de 2013 - Vídeo enviado por Laiane Brito
Trabalho realizado por alunos do Centro Universitário Jorge Amado-Salvador/BA. Graduandos em ...
Entenda melhor a pedagogia de Anísio Teixeira - Globo TV
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11 de dez de 2009 - Vídeo enviado por Vinicius Coelho
Documentário sobre Anísio Teixeira da "Série Educadores Brasileiros" produzido pela TV Escola ...
ANÍSIO TEIXEIRA: EDUCAÇÃO NÃO É PRIVILÉGIO | TAL ...
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Vida e obra de Anísio Teixeira, e sua Escola Parque. ANÍSIO TEIXEIRA: EDUCAÇÃO NÃO É PRIVILÉGIO ...
Anísio Teixeira: educação não é privilégio (Parte 4/5 ...
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11 de dez de 2009 - Vídeo enviado por Vinicius Coelho
Documentário sobre Anísio Teixeira da "Série Educadores Brasileiros" produzido pela TV Escola ...
www.youtube.com/watch?v=
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25 de mai de 2009 - Vídeo enviado por kasinha7
Isso é que dá pesquisar em wikipédia. Caitité é Bahia. Anísio Teixeira foi o maior educador do Brasil ...
Anisio Teixeira e a educação - YouTube
www.youtube.com/watch?v=
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8 de jun de 2008 - Vídeo enviado por avaunitins
Video editado do dominio publico que descreve a importancia deanisio teixeira para a educação ...
CELSO FURTADO
Economista
1. Celso Monteiro Furtado foi um economista brasileiro e um dos mais destacados intelectuais do país ao longo do século XX. Wikipédia
2.
3. Nascimento: 26 de julho de 1920, Pombal, Paraíba
4. Falecimento: 20 de novembro de 2004, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
5. Educação: Universidade de Paris
6. Cônjuge: Rosa Freire d'Aguiar (de 1978 a 2004)
7. Obras: Formação Econômica do Brasil, O Brasil pós-"milagre", mais
8. Filhos: Mario Tosi Furtado, André Tosi Furtado
Celso Furtado O Longo Amanhecer - YouTube
www.youtube.com/watch?v=
·
23 de abr de 2013 - Vídeo enviado por vivicacirio
Celso Furtado O Longo Amanhecer. ... next; Play now. Furtado: a navegação venturosa para o longo ...
O Longo Amanhecer - Cinebiografia de Celso Furtado ...
https://archive.org/details/
5 de nov de 2013
Uma análise das idéias do economista Celso Furtado e de sua participação em diversos projetos ...
Mesa-redonda "Celso Furtado: a dimensão cultural do ...
www.youtube.com/watch?v=
·
22 de dez de 2011 - Vídeo enviado por Centro Celso Furtado
A mesa-redonda Celso Furtado: a dimensão cultural do desenvolvimento, ocorreu dia 25 de novembro ...
CESAR LATES
César Lattes - YouTube
www.youtube.com/watch?v=i6nqu-
·
23 de jan de 2011 - Vídeo enviado por Alberto Ricardo Präss
César Lattes (11/07/1924, Curitiba) (08/03/2005, Campinas) Um dos mais famosos cientistas ...
Homenagem ao Físico César Lattes - YouTube
www.youtube.com/watch?v=
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13 de abr de 2008 - Vídeo enviado por Ronaldo Barbosa Alvim
Homenagem ao maior físico brasileiro de todos os tempos: César Lattes Visite o blog do professor ...
Cientistas Brasileiros (César Lattes & José Leite Lopes ...
www.youtube.com/watch?v=
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10 de set de 2011 - Vídeo enviado por Lucas Alexandre Mortale
Cientistas Brasileiros (César Lattes & José Leite Lopes) - Final ... Cézar Lattes e José Leite Lopes, vocês ...
Cientistas Brasileiros - César Lattes & José Leite Lopes ...
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ALOISIO MAGALHAES
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2. Aloísio Sérgio Barbosa de Magalhães foi um designer gráfico brasileiro. É considerado pioneiro na introdução do design moderno no Brasil, tendo ajudado a fundar a primeira escola superior de design neste país, a Escola ... Wikipédia
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2. Aloisio magalhaes - YouTube
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15 de ago de 2014 - Aloisio Magalhães é o 19º homenageado do projeto Ocupação. A exposição apresenta ao público suas diversas áreas de atuação: o trabalho ...
4. Maria Cecília Londres - Ocupação Aloisio Magalhães (2014 ...
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12 de ago de 2014 - Vídeo enviado por Itaú Cultural
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5. Ocupação Aloisio Magalhães (2014) - Teaser - YouTube
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15 de ago de 2014 - Vídeo enviado por Itaú Cultural
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12 de ago de 2014 - Vídeo enviado por Itaú Cultural
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12 de ago de 2014 - Vídeo enviado por Itaú Cultural
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12 de ago de 2014 - Vídeo enviado por Itaú Cultural
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Milton Santos
1. Milton Almeida dos Santos foi um geógrafo brasileiro. Apesar de ter se graduado em Direito, Milton destacou-se por seus trabalhos em diversas áreas da geografia, em especial nos estudos de urbanização do Terceiro Mundo. Wikipédia
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3. Nascimento: 3 de maio de 1926, Brasil
4. Falecimento: 24 de junho de 2001, São Paulo, São Paulo
5. Educação: Universidade de Estrasburgo
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Darcy Ribeiro
Escritor
1. Darcy Ribeiro foi um antropólogo, escritor e político brasileiro, conhecido por seu foco em relação aos índios e à educação no país. Wikipédia
2.
3. Nascimento: 26 de outubro de 1922, Montes Claros, Minas Gerais
4. Falecimento: 17 de fevereiro de 1997, Brasília
5. Obras: O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil, mais
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Matriz Afro, O Povo Brasileiro Darcy Ribeiro Cap3 - YouTube
www.youtube.com/watch?v=
27 de mai de 2012 - Vídeo enviado por Mem Costa
Documentário do filme brasileiro do antropologo Darcy Ribeiro.
O povo brasileiro (parte um) - YouTube
www.youtube.com/watch?v=-
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13 de set de 2011 - Vídeo enviado por Denis Meneses
O antropólogo Darcy Ribeiro (1913-1997) foi um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX. Esse ...
5:51 Indios - (Formação do Povo Brasileiro - Darcy Ribeiro)
www.youtube.com/watch?v=
29 de mai de 2014 - Vídeo enviado por José Luís Alves da Rocha
Para falar sobre o canto, a dança, a arte e os rituais antropofágicos, utilizei esse outro recorte. Povo ...
Cap 9 O Brasil Caboclo O Povo Brasileiro Darcy Ribeiro ...
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26 de set de 2013 - Vídeo enviado por Balaio Afro-Indígena
Cap 9 O Brasil Caboclo O Povo Brasileiro Darcy Ribeiro. Balaio Afro-Indígena ...
O Brasil Crioulo O Povo Brasileiro Darcy Ribeiro Cap5 ...
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27 de mai de 2012 - Vídeo enviado por Mem Costa
Documentário do filme brasileiro do antropologo Darcy Ribeiro.
Documentario - O povo brasileiro (Darcy Ribeiro) - YouTube
https://www.youtube.com/
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Documentario - O povo brasileiro (Darcy Ribeiro). by Ronnie Ballack; 30 videos; 20,168 views; Last updated on Jun 21, 2014. Play all. Share. Loading... Save ...
SOBRAL PINTO
Anna Maria Monteiro compartilhou a própria foto.
Eis um grande homem: Sobral Pinto! Assistam o filme sobre a vida dele!
Para que os brasileiros saibam que nem só de vermes se constituiu esta nação. Sim, muitos brasileiros foram íntegros. Sim , precisamos olhar para os nossos heróis, porque estamos cheios dos larápios sangue-sugas da nação.
Um advogado que morreu pobre. Em plena ditadura do Getúlio Vargas e depois na ditadura militar defendia os presos políticos( sem pertencer a nenhum partido e sequer era simpatizante da causas políticas, pois era católico fervoroso) Era um dos ÚNICOS advogados que tinha sucesso nestas causas, porque além de inteligente e trabalhador, nunca se deixou atemorizar pelo poder, muito menos se seduziu por ele, pois mesmo ao oferecer-lhe cargos e honrarias, ELE NUNCA ACEITOU! Um cristão de verdade Emoticon heart
Heráclito Fontoura Sobral Pinto foi um dos maiores juristas do Brasil. Nasceu em 1893 e morreu em 1991, aos 98 anos. Tornou-se uma figura exemplar ao combater duas ditaduras e colocar seu saber jurídico a serviço dos direitos humanos e das liberdades civis.
Católico fervoroso, defendeu pessoas com visões de mundo completamente diferentes da sua, como presos políticos do Estado Novo e da ditadura militar, incluindo o líder comunista Luis Carlos Prestes. Sobral foi responsável pelo resgate da filha de Prestes e Olga Benário das mãos do nazismo.
Sobral também atuou na defesa de Juscelino Kubitschek, mesmo sendo politicamente alinhado à UDN, partido historicamente rival a Juscelino. Nos anos 80, já em idade avançada, subiu ao palanque das Diretas Já e discursou a favor da Constituição, que diz que "todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido".
Paula Fiuza é neta de Sobral Pinto e dirigiu o documentário sobre sua vida chamado "Sobral - O Homem Que Não Tinha Preço", que estreou na última sexta-feira (1º/11). Ela foi entrevistada pelo Podcast Rio Bravo, e o áudio da entrevista pode ser acessado aqui.
Leia os principais trechos da entrevista:
Como seu avô conseguiu ser um homem tão lúcido em momentos tão complexos da vida nacional?
O Sobral Pinto carregava com ele como norte a própria consciência. Ele só obedecia à própria consciência e sempre foi assim. Ele teve uma criação católica muito forte. Ele foi estudante no colégio jesuíta, então já carregava essa coisa desses princípios católicos, a ética etc. Acho que o que complementou foi todo o estudo do Direito e ele viu o Direito como uma missão. Ele achava que carregar adiante aquela missão era o propósito da vida dele. Então ele não se vendia por preço algum porque ele não era movido por dinheiro, ele não se encantava com dinheiro, não tinha nenhuma ligação com bens materiais etc., então para ele era uma coisa mais do que natural seguir a ética pessoal dele, os princípios católicos e tudo que ele acreditava desde criança. E toda a formação jurídica, enfim. Acho que para ele era tudo muito natural. Não tinha crise de consciência.
Dois dos episódios mais marcantes da vida do Sobral envolveram Luis Carlos Prestes. Um foi a defesa que ele fez do Prestes e o outro, o resgate de Anita Leocádia das mãos do nazismo...
O Prestes estava sendo colocado como vilão do país, aquele cara que queria fazer uma revolução comunista aqui. O Getúlio o encarcerou junto com o Harry Berger, que era outro revolucionário comunista, alemão, e eles foram muito mal tratados. Harry Berger foi terrivelmente torturado e o Luis Carlos Prestes ainda tinha uma coisa de não aceitar que qualquer pessoa o defendesse, muito menos um católico. O Sobral foi designado seu advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil, foi lá para defendê-lo e o Prestes não aceitou. Só que o Sobral insistiu e continuou visitando o Prestes, apesar de não ser oficialmente seu advogado.
Como foi esse diálogo?
Heráclito Fontoura Sobral Pinto foi um dos maiores juristas do Brasil. Nasceu em 1893 e morreu em 1991, aos 98 anos. Tornou-se uma figura exemplar ao combater duas ditaduras e colocar seu saber jurídico a serviço dos direitos humanos e das liberdades civis.
Católico fervoroso, defendeu pessoas com visões de mundo completamente diferentes da sua, como presos políticos do Estado Novo e da ditadura militar, incluindo o líder comunista Luis Carlos Prestes. Sobral foi responsável pelo resgate da filha de Prestes e Olga Benário das mãos do nazismo.
Sobral também atuou na defesa de Juscelino Kubitschek, mesmo sendo politicamente alinhado à UDN, partido historicamente rival a Juscelino. Nos anos 80, já em idade avançada, subiu ao palanque das Diretas Já e discursou a favor da Constituição, que diz que "todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido".
Paula Fiuza é neta de Sobral Pinto e dirigiu o documentário sobre sua vida chamado "Sobral - O Homem Que Não Tinha Preço", que estreou na última sexta-feira (1º/11). Ela foi entrevistada pelo Podcast Rio Bravo, e o áudio da entrevista pode ser acessado aqui.
Leia os principais trechos da entrevista:
Como seu avô conseguiu ser um homem tão lúcido em momentos tão complexos da vida nacional?
O Sobral Pinto carregava com ele como norte a própria consciência. Ele só obedecia à própria consciência e sempre foi assim. Ele teve uma criação católica muito forte. Ele foi estudante no colégio jesuíta, então já carregava essa coisa desses princípios católicos, a ética etc. Acho que o que complementou foi todo o estudo do Direito e ele viu o Direito como uma missão. Ele achava que carregar adiante aquela missão era o propósito da vida dele. Então ele não se vendia por preço algum porque ele não era movido por dinheiro, ele não se encantava com dinheiro, não tinha nenhuma ligação com bens materiais etc., então para ele era uma coisa mais do que natural seguir a ética pessoal dele, os princípios católicos e tudo que ele acreditava desde criança. E toda a formação jurídica, enfim. Acho que para ele era tudo muito natural. Não tinha crise de consciência.
Dois dos episódios mais marcantes da vida do Sobral envolveram Luis Carlos Prestes. Um foi a defesa que ele fez do Prestes e o outro, o resgate de Anita Leocádia das mãos do nazismo...
O Prestes estava sendo colocado como vilão do país, aquele cara que queria fazer uma revolução comunista aqui. O Getúlio o encarcerou junto com o Harry Berger, que era outro revolucionário comunista, alemão, e eles foram muito mal tratados. Harry Berger foi terrivelmente torturado e o Luis Carlos Prestes ainda tinha uma coisa de não aceitar que qualquer pessoa o defendesse, muito menos um católico. O Sobral foi designado seu advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil, foi lá para defendê-lo e o Prestes não aceitou. Só que o Sobral insistiu e continuou visitando o Prestes, apesar de não ser oficialmente seu advogado.
Como foi esse diálogo?
Eles começaram a se entender e o Prestes viu que ali ele tinha um interlocutor isento, imparcial. Uma pessoa que estava realmente ali para defender os direitos dele. Então chegou um momento em que aceitou oficialmente a defesa. Foi um bom tempo de insistência nessa relação.
Como Sobral se envolveu na história de Anita Leocádia?
Luis Carlos Prestes era companheiro de Olga Benário na época da articulação dessa revolução comunista. Os dois foram presos, juntos, no mesmo dia, e a Olga logo depois descobriu que estava grávida do Luis Carlos Prestes. E eles não eram casados oficialmente. Na verdade, foi um romance. Eles eram marido e mulher como um disfarce, identidades falsas, só que realmente se apaixonaram e passaram a viver um romance. Olga estava grávida, mas era judia alemã. Hitler já estava há um tempo no governo da Alemanha e Getúlio [Vargas] era simpatizante de Hitler naquela época.E Olga foi extraditada para a Alemanha, grávida. Então Anita Leocádia nasceu em uma prisão alemã. Em uma prisão de mulheres em Berlim, na Alemanha. E a política dos nazistas naquela época era que quando o bebê completasse um ano e fosse desmamado, seria entregue para um asilo, perdia o nome, virava um número e ninguém sabia mais o que acontecia com o bebê.
A mãe do Prestes ficou tentando resgatar a Anita ao mesmo tempo em que tentava libertar a Olga também. Teve uma campanha internacional grande, mas não se conseguia libertar a Anita porque o governo nazista não reconhecia o Prestes como pai e, portanto, não reconhecia dona Leocádia como um parente. Então ela não podia reivindicar a guarda da criança e o governo do Getúlio Vargas também não permitia que o Prestes reconhecesse a paternidade. Aí entrou o Sobral na história. Ele já era advogado do Prestes e insistiu, insistiu... Moveu montanhas e conseguiu fazer, no último minuto antes da Anita ser entregue a esse asilo, com que liberassem a entrada dele com o documento em que o Prestes reconhecia a paternidade da Anita. Assinou e enviou isso para a dona Leocádia. E dona Leocádia pôde resgatar a Anita dos nazistas.
Uma vez, o Sobral Pinto usou a Lei de Proteção aos Animais para defender um preso político que estava sendo torturado. Conta um pouco desse episódio.
Esse preso político foi o Harry Berger, que era companheiro do Prestes nesse momento. Ele era um alemão e foi barbaramente torturado. Ficava debaixo de um vão de uma escada trancado no escuro em um espaço que ele mal conseguia se mexer, não conseguia ficar em pé, não via luz do dia, não se comunicava com absolutamente ninguém. E começou a enlouquecer. E apanhava... E Sobral Pinto, que defendia tanto Luis Carlos Prestes quanto Harry Berger, entrava com milhares de pedidos para que ele tivesse o mínimo dos seus direitos humanos respeitados e nada acontecia, não tinha efeito. Nenhuma das petições dele era aceita. Chegou um dia em que ele teve a ideia de usar a Lei de Proteção aos Animais. Ele pediu que, pelo menos, fosse respeitada a Lei de Proteção aos Animais, porque esse homem, que era um animal, estava sendo mais maltratado do que os animais protegidos por essas leis. E isso realmente teve um efeito. Mas, infelizmente, apesar disso, o Harry Berger enlouqueceu. Ele morreu louco de tanto ser torturado.
Nessa época, o Sobral estava defendendo outros comunistas ou só o Prestes e o Berger?
Nessa época, o foco era o Prestes e o Berger, mas, ao longo da vida, ele defendeu várias pessoas com visão política completamente diferente da dele. O Miguel Arraes, o Juscelino Kubitscheck. Para ele, o Direito estava acima de tudo.
Seu avô foi preso em 1968 logo depois do AI-5. Mas parece que ele aproveitou a cadeia pra esbravejar contra os militares, não é?
É claro. Ele tinha uma estatura, nessa altura da história do Brasil, que acho que lhe dava espaço para isso. E, sinceramente, mesmo que não tivesse, ele falaria, porque ele falava tudo que ele achava que deveria. Ele foi preso justamente no dia seguinte do decreto do AI-5, porque tinham medo que ele falasse contra o AI-5 em uma formatura de alunos de Direito em Goiânia. Ele já tinha falado no dia anterior em outra cerimônia onde ele estava. Então o major foi até o hotel onde ele estava, logo antes da festa de formatura, e deu voz de prisão. E ele disse: "Como assim? Você não pode me dar voz de prisão". O Major disse que ele tinha ordens do presidente que Sobral deveria acompanhá-lo. Aí ele disse "O presidente é general, o senhor é major. Ele pode lhe dar ordens, mas eu sou civil. O presidente não me dá ordem nenhuma, muito menos uma ordem imbecil dessas". Mas aí ele foi arrastado, levado preso, e passou alguns dias na prisão. Não foi maltratado fisicamente nem nada, porque acho que tinham bastante respeito por ele e ele já tinha 75 anos, mas foi preso junto com outros intelectuais da época. Estavam tentando impedir as cabeças pensantes do país de falar contra o AI-5. Teve um momento que um dos militares foi fazer uma exposição para um desses intelectuais presos para justificar a ditadura militar, dizer por que os militares estavam intitulados a governar o país, por que eles eram os melhores para resolver os problemas do Brasil etc., e Sobral foi ficando irritado com aquilo. Chegou um momento em que um militar falou: "Nós estamos aqui tentando implementar uma democracia à brasileira". Aí o Sobral, muito irritado, falou: "Olha, tenha paciência. Democracia brasileira não existe. O que eu conheço é perua brasileira. A democracia é universal". Essa frase foi célebre dele. Isso na prisão. E ele foi solto poucos dias depois, ileso, continuou falando contra a ditadura, defendendo presos políticos até o fim.
Nos anos 50, o Sobral recusou convite do Juscelino de assumir o posto de ministro do Supremo Tribunal Federal. Por quê?
Porque quando Juscelino estava para se candidatar, surgiu como uma figura muito forte. A UDN, que era o partido de oposição ao Juscelino, e os militares começaram a articular um golpe para barrar a candidatura do Juscelino.
A candidatura, não a posse.
Isso. Não queriam nem que ele fosse candidato. Queriam que o PSD, que era o partido do Juscelino, não pudesse escolhê-lo como candidato. O Sobral ficou sabendo disso pelas conversas de bastidores. O Sobral votava alinhado com a UDN, era opositor político do Juscelino. Mas, nesse momento, se levantou e disse: "Isso é contra a Constituição. Isso é contra a democracia". E aí ele criou um movimento... Distanciou-se da UDN, porque não queria apoiar esse movimento golpista e criou um movimento chamado Liga pela Defesa da Legalidade. E aí, com esse movimento, conseguiu garantir a candidatura do Juscelino, que foi eleito. No momento que o Juscelino tomou posse, convidou-o para ser ministro do Supremo. E ele respondeu: "Não. Não votei em você, não sou seu partidário. Não fiz isso para ganhar vantagem alguma. Fiz isso para defender a Constituição". Depois ele ficou amigo do Juscelino, defendeu o Juscelino depois na época da ditadura. Ele apenas não queria comprometer as visões dele. Ou seja, ele fazia o que ele achava certo, o que ele achava que deveria fazer para defender as leis, a Constituição e mantinha a sua convicção política separada disso. E também não queria que ninguém o tomasse como uma pessoa que pudesse ter feito algo para receber algum favor em troca.
Quando você estava fazendo o filme, vc descobriu gravações de áudio do seu avô que hoje estão de posse do Superior Tribunal Militar e às quais o público não tem acesso. Como foi essa história?
Cheguei a esses áudios através do advogado Fernando Augusto Fernandes, que descobriu esses arquivos quando estava fazendo uma tese de mestrado, baseada na oratória de grandes advogados e, principalmente, dos que defenderam presos políticos. E ele conseguiu, no que eu e ele achamos que foi um descuido do Superior Tribunal Militar, permissão para acessar esses arquivos e pesquisá-los para a sua tese. E quando começou a acessar esses arquivos percebeu que tinha ali um raio-X da ditadura, porque todas as sessões, durante a ditadura, eram gravadas naquelas fitas de rolo antigas. Então tem o julgamento todo. Não só as defesas dos advogados, mas também os votos dos ministros, o porquê de ter sido condenado, de não ter sido condenado, o que aconteceu... Logo depois que ele começou a acessar isso, percebeu que provavelmente aquilo não ia durar muito tempo... Aí ele conseguiu copiar parte desses arquivos. Mas logo depois o Superior Tribunal Militar baixou um decreto lacrando esses arquivos por cem anos. Ele foi ameaçado de prisão. Tentaram recolher todas as fitas que ele tinha para pesquisa, mas ele conseguiu salvar algumas. E nessas fitas que ele conseguiu salvar, das cópias que ele fez, tinha duas sustentações do Sobral Pinto. E eu fiquei sabendo disso através de uma pesquisa que fiz quando soube dessa tese de mestrado que ele estava escrevendo.
O que está sendo feito para que a memória brasileira tenha acesso a um material tão importante?
O próprio Fernando Fernandes entrou com uma ação pedindo para continuar tendo acesso aos arquivos.
Você tem alguns arquivos?
Tenho. Isso foi em 1999. E aí ele, na época, já entrou com uma ação e essa ação ficou rolando durante séculos, parou no Supremo e lá ficou. E aí agora, recentemente, nesse movimento todo do lançamento do filme, a OAB federal, que está nos apoiando também nesse movimento de divulgação do filme, pediu para ingressar nessa ação, para dar mais peso a ela e tentar ver se consegue abrir esses arquivos. Porque isso é memória do país.
Como a questão do dinheiro na casa dele com a sua avó?
Chegava a ser engraçado, porque ele realmente não dava a menor importância para dinheiro, a ponto de não saber onde ele botava dinheiro. A minha mãe, que é filha dele, conta, no filme, sobre, depois que ele morreu e eles foram desfazer a biblioteca dele, a quantidade de dinheiro que eles encontravam dentro dos livros... Porque ele não sabia lidar com dinheiro, não dava importância para isso. Isso era uma coisa que realmente não passava na cabeça dele. E a minha avó segurava a casa porque ela tinha pensão do pai, do tio, então ela era a pessoa que tinha aquele dinheiro fixo para as compras do mês etc. Ele não cobrava dos clientes. A maioria dos clientes. Não cobrava de amigo, não cobrava de preso político, não cobrava de vizinho, de parente... Sobravam algumas causas para ele cobrar, então às vezes ele ficava sem dinheiro. Mas também o que acontecia é que ele tinha muitas trocas com outras pessoas. As pessoas não cobravam dele também muitas coisas. Então a coisa ia andando em um esquema meio de escambo. Ele realmente não dava importância para isso. O que tinha na cabeça dele era outra coisa.
Na campanha pelas diretas, em 1984, ele participou do comício da Candelária. Qual era o nível de energia dele naquela época?
Ele tinha 90 anos ali. Ee foi uma pessoa que me impressionou até o fim da vida com a energia dele. É uma coisa incrível. A verve dele continuou intacta até os 98 anos, quando morreu. Ele trabalhou até um mês antes de morrer. Eu digo que ele morreu por acaso. Ele foi em uma homenagem a ele no Hotel Glória, o ar condicionado estava gelado, ele pegou uma gripe, a gripe virou pneumonia, ele morreu em coisa de um mês. Quando você tem 98 anos, o organismo já não combate tão bem as coisas mais simples, mas ele trabalhou até o último mês de vida. E nesse momento das diretas ele estava muito empenhado. Muito empenhado porque era o momento em que ele sentiu que realmente ia conseguir virar aqueles mais de 20 anos de ditadura. Então ele foi muito ativo nessa época. Naquele comício tinha um milhão de pessoas. Ele foi lá, subiu no palanque, esperou um tempão para falar e quando falou ainda pediu silêncio. E aquela multidão de um milhão pessoas fez silêncio e ele falou a célebre frase. Fez um discurso grande, mas o momento que ficou célebre foi o de lembrar ao povo que estava massacrado por 20 anos de ditadura o artigo primeiro da Constituição, que afirma que “todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido". A multidão foi ao delírio. Eu estava lá, eu me lembro e foi muito, muito emocionante.
Como foi sua convivência com ele, como neta?
A gente se via... Era uma convivência mais esporádica. Eu o via toda semana quando eu era criança. Tinha aquela coisa de visitas aos domingos, mas era uma convivência mais formal, porque ele era um cara do século XIX. Então tinha aquele jeitão mais formal, embora fosse uma pessoa muito doce, muito bem humorada, fazia brincadeiras... Ele era uma pessoa também totalmente absorta no seu ofício. Então se você fosse sentar com ele, levantar algum assunto de política, ele ia se empolgar e se inflamar e ia falar qualquer coisa na mesa do jantar. Eu comecei a me dar conta de quem ele era, quer dizer, eu sabia que ele era uma pessoa importante, respeitada, mas comecei a me dar conta de quem ele era e da atuação dele na adolescência, quando começou a abertura política, quando começou a poder se falar de política novamente, aí eu comecei a me dar conta. Mas saber exatamente quem é o meu avô e tudo que ele fez eu só descobri fazendo esse filme. Eu só conheci o meu avô realmente fazendo esse filme.
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FLORESTAN FERNANDES
Roberto Santos
Ganhe uma hora na vida! Leia o texto até o final e não deixe de assistir a sugestão.
Mais brasileiro impossível: filho de mãe solteira, não conheceu o pai, o avô materno trabalhou como colono numa fazenda de café no interior de São Paulo e morreu de tuberculose; a mãe, após se mudar para a capital paulista, trabalhou como empregada doméstica. Afilhado da patroa de sua mãe, dona Hermínia Bresser de Lima, filha do criador do bairro do Brás, Florestan aprendeu com ela o valor dos estudos.
Começou a trabalhar, como auxiliar numa barbearia, aos seis anos de idade. Também foi engraxate, servente de carpintaria e garçom em bares do centro de São Paulo. Viveu entre a "grande casa" de sua madrinha e os cortiços de diversos pontos da cidade. Estudou até o terceiro ano do primeiro grau. Só mais tarde, voltaria a estudar, fazendo curso de madureza, estimulado por frequentadores do bar Bidu, onde trabalhava. Segundo seus relatos, o interesse pelos seus estudos acadêmicos foi despertado principalmente pela diversidade dos lugares onde passou sua infância.
Ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em 1947, formando-se em Ciências Sociais. Doutorou-se, pela USP em 1951. As dissertações que serviram de base para sua carreira acadêmica - "A função social da guerra na sociedade tupinambá" e "A integração do negro na sociedade de classes" - se consagraram como clássicos da etnologia brasileira.
Foi assistente catedrático, livre docente e professor titular na cadeira de sociologia, da USP. Cassado com base no AI-5, em 1969, deixou o país e foi lecionar nas universidades de Columbia (EUA), Toronto (Canadá) e Yale (EUA). Retornou ao Brasil em 1972 e passou a lecionar na PUC-SP. Em dezembro de 1985 foi reconhecido como professor emérito da USP.
Florestan esteve ligado ao Partido dos Trabalhadores (PT) desde sua fundação e exerceu dois mandatos de deputado federal (1987-1991 e 1991-1995). Morreu em São Paulo no dia 10 de agosto de 1995.
O nome de Florestan Fernandes está obrigatoriamente associado à pesquisa sociológica brasileira com mais de cinquenta obras publicadas. Transformou as Ciências Sociais no Brasil e estabeleceu um novo estilo de pensamento nas áreas acadêmicas das Humanidades.
Em 1976, o sociólogo e militante Florestan Fernandes fêz uma reflexão sobre a trajetória da Sociologia Política no Brasil em um texto intitulado “A geração perdida”. Nele o pensador faz um balanço tanto de seu trabalho como sociólogo como da geração de intelectuais da qual ele fizera parte. Esta reflexão aponta o fracasso em usar o saber intelectual para a transformação da sociedade brasileira e no enfrentamento á intensa repressão política que o Brasil sofria com a Ditadura Militar.
Um brasileiro para se reconhecer!
Sugestão: uma das últimas entrevistas do professor Florestan foi para o programa “Roda Viva” da TV Cultura, em 1994. Entrevista está disponível no You Tube.
ANTONIO CÂNDIDO
Os Caipiras, por Antonio Candido - YouTube
www.youtube.com/watch?v=
01/06/2013 - Vídeo enviado por Daniel Lunardelli
Intérpretes do Brasil, de Isa Grinspum Ferraz, uma série de quinze ... Rio Verde-Antônio Cândido-Moda ...
SOCIO-logia: Intérpretes do Brasil - Antônio Cândido (3º Ano)
sociologiaehlegal.blogspot.
o
08/11/2011 - Intérpretes do Brasil - Antônio Cândido (3º Ano). Clique no link para ver o vídeo no youtube. O caipira por Antônio Cândido ...
Intérpretes do Brasil - Cinematográfica SuperFilmes
www.superfilmes.com.br/v1/pt/
o
2001 . Vídeo . cor . 11x20'. Intérpretes do Brasil. festivais . ficha técnica e ... OsCaipiras, por Antonio Candido Portugal, Brasil, por Judith Cortesão Viva o Sertão ...
IGNÁCIO RANGEL
Postei aí embaixo a sinopse e os links para os dois volumes da Obra Reunida de Ignácio Rangel, que organizei. Quando resolvi estudar Rangel sistematicamente, ainda na década de 1980, descobri que isso era quase impossível, pois sua obra estava esgotada, perdida e dispersa. Desde então foram muitos anos de trabalho, procurando e arquivando seus textos, verdadeiras preciosidades. Ludmila, filha do mestre, foi generosíssima na cessão de todos os direitos, O resultado dessa busca está em dois grandes volumes, que reúnem oito livros e mais de cem artigos. No link, o texto "Notas sobre a atualidade do pensamento de Ignácio Rangel", que escrevi junto com Márcio Henrique Monteiro de Castro e Ricardo Bielschowsky para marcar o centenário de nascimento desse grande pensador brasileiro.
Abraços,
CesarBenjamin
http://www.contrapontoeditora.
Diego Tamborin Sobre a participação dele no GOV Vargas ótimo texto da grande Rosa Freire d'Aguiar. http://www.
"Os Boêmios Cívicos": ideias na madrugada
BERTA LUTZ
Iza Haim -
<< Não foi fácil incluir a igualdade de sexos no tratado que fundou as Nações Unidas. Bertha Lutz conseguiu-o. É, em parte, graças a esta feminista brasileira que, desde 1945, está assegurado o direito de homens e mulheres se candidatarem aos órgãos principais da ONU em condições de igualdade. Enquanto decorrem as eleições para escolher o novo secretário-geral, duas investigadoras foram a Nova Iorque lutar para que o esforço de Bertha seja reconhecido
Ainda se combatia na Europa e no Pacífico quando a cientista brasileira Bertha Lutz viajou para os Estados Unidos com um desejo na bagagem. No dia 25 de Abril de 1945, enquanto as tropas soviéticas cercavam Berlim e o nazismo estava a dias de se desmoronar, representantes de 50 países reuniam-se em São Francisco para debater como deveriam ser reguladas as relações internacionais depois da Segunda Guerra Mundial. A criação de um pacto de segurança global era o principal objectivo de todos, mas Bertha tinha uma preocupação adicional que, após cerca de 55 milhões de mortos, não era prioritária para todas as delegações. E até poderia parecer um luxo para algumas.
Bertha ambicionava que a igualdade entre homens e mulheres entrasse textualmente na Carta das Nações Unidas. E conseguiu-o.
Bióloga, feminista, mulher de confiança do então Presidente Getúlio Vargas, Bertha Lutz soube estabelecer alianças diplomáticas e trabalhar em conjunto com outras delegações em São Francisco. Graças à cientista brasileira, hoje lemos com naturalidade estas palavras no preâmbulo da Carta: “Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres (...).">>
Bertha, a brasileira que pôs a Mulher na Carta da ONU
Não foi fácil incluir a questão da igualdade de sexos no tratado que fundou as Nações Unidas em 1945. Agora, duas investigadoras lutam para que o trabalho de Bertha Lutz seja reconhecido. A feminista brasileira morreu há 40 anos.
GILBERTO FREIRE
As contribuições de Gilberto Freyre para a historiografia
Brazilian Portraits pages of the Skidmore Collection
http://library.brown.edu/
Brazilian Portraits pages of the Skidmore Collection
From 1962 to 2004, Thomas E. Skidmore traveled to Brazil on multiple occasions. His love of the country extended into his academic research, where he traced the political, economic, and cultural expansion of the nation as it developed into a world power. During his trips, Professor Skidmore observed firsthand the significant changes wrought in Brazil throughout the twentieth century.
Professor Skidmore recently penned ninety sketches detailing his interactions with many influential Brazilians. His experiences reveal a diverse breadth of characters: presidents, writers, philosophers, hotel maids, and soldiers. Professor Skidmore shares both entertaining anecdotes about live interviews on television and insightful portraits of public figures handling the fluctuations of Brazilian government.
The collection of biographical sketches serves as a multidimensional look into Brazil and its people. Professor Skidmore’s shrewd observations are an invaluable source for everyone interested in learning more about Latin America, particularly the complexities of Brazilian politics and social life.
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Roda Viva – Roberto Campos- 1991
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Roda Viva - Florestan Fernandes – 1994
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Uma das últimas entrevistas feitas a um dos maiores sociólogos da história do Brasil, onde ele discute temas como a natureza política brasileira, o futuro governo FHC (a entrevista é de 1994), e sobre os rumos que o próprio PT começava a tomar na época.
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6 RAZÕES POR QUE FLÁVIO AUGUSTO PODERIA SER ELEITO PRESIDENTE DO BRASIL
**Paulo Roberto de Almeida é Doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Bruxelas. Foi ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington (1999-2003). Trabalhou entre 2003 e 2007 como Assessor Especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
O Brasil, já disse alguém, não é para principiantes. Vamos admitir que a frase expresse a realidade, ainda que ela seja uma mera banalidade conceitual. A verdade é que nenhuma sociedade urbanizada, industrializada, conectada, ou seja, complexa, como são quase todas as nações contemporâneas, é de fácil manejo para amadores da vida política ou para iniciantes no campo da gestão econômica. Não deveria haver nada de surpreendente, portanto, em que o Brasil, de fato, não seja para principiantes, como dito nesse slogan tão folcloricamente simpático quanto sociologicamente inócuo.
Mas atenção: a frase é, sim, relevante pelo lado do seu exato contrário. O mais surpreendente, no caso do Brasil, está em que o país não é de rápida explicação ou de fácil interpretação nem mesmo para pensadores distinguidos e intelectuais de primeira linha (eles o são, de verdade?). Ele tampouco parece ser de simples manejo mesmo para estadistas da velha guarda (nós os temos?), para políticos experientes (parece que ainda existem), sem esquecer os empresários inovadores (quantos são, alguém sabe dizer?) ou para economistas sensatos (seria uma espécie rara?). O Brasil já destruiu mais de uma reputação política, como continua desafiando as melhores vocações de “explicadores sociais” (inclusive brasilianistas), com o seu jeito sui-generis de ser. Existe, por exemplo, alguma explicação sensata para o fato de que “o país do futuro”, o “gigante inzoneiro”, a terra dos recursos infinitos, seja ainda uma sociedade desigual, ricamente dotada pela natureza, mas com muitos pobres, milhões deles, uma nação até materialmente avançada, mas (aparentemente, pelo menos) mentalmente atrasada? O que é que nos retém na rota do desenvolvimento social integrado? Quais são os formidáveis obstáculos, quantas e quais são as barreiras intransponíveis?
Não foram poucos os espíritos corajosos que tentaram vencer essas dificuldades e nos colocar num itinerário de progresso sustentado. A maior parte acabou derrotada por um conjunto variado de circunstâncias cuja identificação exata requereria um batalhão de sociólogos, dos melhores. Vamos repassar, ainda que brevemente, o itinerário de dez grandes personalidades que, em momentos decisivos da história do Brasil, viram seus projetos e propostas de reformas ou de melhorias para o país totalmente frustrados em função das condições ambientes, por força da oposição de outros personagens ou de grupos poderosos, ou pelo fato de que eles mesmos não souberam, ou não puderam, obter apoios suficientes para que suas propostas de políticas públicas fossem, em primeiro lugar, aceitas por outros dirigentes, ou pela opinião pública, depois seguidas pela coalizão dominante a cada momento e, finalmente, implementadas na forma por eles concebida inicialmente. A maior parte desses homens não foi sequer consolada, em vida, por aquele famoso dístico de bandeira estadual: “ainda que tardia”.
1) HIPÓLITO JOSÉ DA COSTA
Nascido na Colônia do Sacramento, criado em Rio Grande, espírito iluminista, liberal econômico, assessor, durante algum tempo, do grande estadista português da passagem do século 19, D. Rodrigo de Sousa Coutinho, o conde de Linhares, para quem investigou as inovações econômicas e melhoramentos agrícolas da jovem República americana nos anos finais do século 18, e por quem foi enviado à Inglaterra para adquirir equipamentos gráficos, para modernizar a imprensa do Reino, e onde se tornou maçom, foi preso e torturado pela Inquisição ao retornar a Portugal, tendo conseguido fugir após alguns anos de cárcere. Estabelecido na Inglaterra desde então, Hipólito deu início ao primeiro jornal independente brasileiro, oCorreio Braziliense, que editou sozinho em Londres desde a transmigração da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, até que fosse confirmada a independência e a separação do, até então, Reino Unido, no final de 1822. Nomeado cônsul do Brasil em Londres, por José Bonifácio, Hipólito ainda teve tempo de enviar-lhe, em fevereiro de 1823, um ofício propondo reformas nos correios, nos transportes e na colonização, mas não para tomar posse do cargo para o qual estava preparado como nenhum outro brasileiro.
Seu Correio Braziliense forneceu, durante exatos quatorze anos e sete meses ininterruptos, material de informação, de reflexão e de críticas a todos os dirigentes portugueses (que o liam à sorrelfa) e aos brasileiros ilustrados, constituindo o maior repositório de dados e análises fiáveis sobre o estado do reino de Portugal, sobre a situação da Europa napoleônica e pós-napoleônica, sobre as Américas em geral e sobre o Brasil em particular. Seu “armazém literário” constitui o mais completo manual de políticas públicas e de economia política – no sentido de estadismo para a prosperidade dos povos, como a definia Adam Smith – cujo grande objetivo era o de ajudar o Brasil e os “brazilienses” a enriquecer rapidamente, como ocorria então na Inglaterra. Muitos ministros do reino, em Portugal e no Brasil, concordavam com ele, mas às escondidas, pois não o podiam revelar, ainda que um ou outro mais ousado tentasse convencer o príncipe regente, depois D. João VI, do acertado daqueles críticas e propostas de políticas, inclusive no que se referia aos tratados desiguais com a própria Inglaterra. Infelizmente seus conselhos foram raramente seguidos e ele veio a morrer antes de poder servir de forma mais efetiva ao país que era o seu, mas que tinha abandonado ainda muito jovem para nunca mais voltar.
2) JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA
As mesmas ideias defendidas por Hipólito, de monarquia constitucional e de fim da escravidão, foram esposadas por José Bonifácio, grande intelectual nascido em Santos, SP, homem de ciência e de grandes luzes, membro de diversas academias europeias, combatente contra as tropas napoleônicas em Portugal, antes de retornar ao Brasil para servir ao Reino Unido e se converter no verdadeiro artífice da independência do Brasil. Proclamada esta, ele pretendia, já na Assembleia Constituinte, libertar o Brasil da mácula do tráfico escravo e, assim que possível, da nódoa da escravidão, conseguindo braços para a lavoura e para a formação de uma sólida economia agrícola entre camponeses imigrados europeus. Como Hipólito, e como tantos outros abolicionistas, José Bonifácio foi derrotado pela coalizão de mercadores de escravos e de grandes proprietários de terras, abandonado, aliás, pelo próprio Imperador, que aproveitou-se do recrudescer das turbulências políticas na Assembleia Constituinte e das divisões políticas entre os maçons para decretar o encerramento do breve exercício de ordenamento constitucional, “cassar” os seus membros e exilar ou prender toda a família dos Andradas. Bonifácio foi mais uma vez para a Europa, e só retornou ao Brasil para ser preceptor, por breve tempo, do menino Pedro de Alcântara, mas já sem condições de influenciar a política no período regencial. Foi um dos grandes derrotados de nossa lista de estadistas-idealistas.
3) IRINEU EVANGELISTA DE SOUZA
O gaúcho de nascimento e self-made man só adquiriu o título nobiliárquico de Barão de Mauá (depois Visconde, em 1875) na data da inauguração, em 1854, do primeiro trecho da ferrovia Rio-Petrópolis, entre o porto de Mauá, na baia da Guanabara, e o pé da serra de Petrópolis. Antes disso ele já tinha amealhado fortuna com seus empreendimentos industriais (sobretudo estaleiros) e comerciais (em especial seus bancos, no Brasil e em diversas capitais estrangeiras). Homem possuidor do mesmo espírito empreendedor e liberal de seus tutores ingleses (primeiro numa casa de importação no Rio, depois mediante viagem à Inglaterra, em 1840), ele enfrentou inúmeras dificuldades num país escravocrata e caracterizado pela mão pesada do Estado em todo e qualquer setor da economia (o governo tinha de autorizar qualquer novo empreendimento que ele desejasse fazer), e teve vários atritos com ministros de sucessivos gabinetes do Segundo Império; essas desavenças o levaram à ruina comercial e financeira, e obstaram a que suas ideias progressistas pudessem ser reconhecidas como válidas e implementadas num país em que o status de senhor de escravos ainda era sinal de distinção.
O historiador Nathaniel Leff, heterodoxo entre os intérpretes de nossa história econômica, afirma que o atraso do Brasil não se situa tanto na colônia, como afirmam vários historiadores consagrados, mesmo os da vertente marxista, mas precisamente no período do Segundo Império, quando o Brasil perde a oportunidade de implementar as reformas preconizadas por Mauá, seja no terreno da força-de-trabalho, seja na política monetária, ou no ambiente de negócios e no da infraestrutura. Não há nenhuma dúvida que, ao final do Império, o Brasil teria sido um país muito diferente se as ideias (não só econômicas) de Mauá tivessem sido implementadas como políticas públicas. Ele foi, provavelmente, o primeiro empresário derrotado de nossa história.
4) JOAQUIM NABUCO
O “aristocrata” da zona da mata de Pernambuco é mais um derrotado de nossa lista, não exatamente enquanto publicista – terreno no qual ele foi brilhante – ou como diplomata do Império e da República, mas enquanto abolicionista, a despeito de suas raízes nos engenhos de açúcar do Nordeste. Intelectualblasé, ele bateu-se com denodo pela causa da emancipação, e seu livro sobre o abolicionismo (publicado em Londres em 1883) foi decisivo na intensificação da campanha, nessa mesma década. Mas ele já tinha sido derrotado antes, pois que não conseguiu reeleger-se para sua primeira cadeira de deputado, conquistada em 1878, assim como viu frustrada sua campanha pela laicização do Estado Imperial, que tinha a religião católica como oficial. Mesmo quando da abolição, por decreto imperial, suas propostas para que a emancipação dos escravos fosse acompanhada de um grande programa de reforma agrária e da universalização da educação pública, compulsória e gratuita, com vistas à elevação do padrão educacional de milhões de brasileiros pobres, e não apenas dos negros libertos, jamais foram seriamente consideradas pela República oligárquica.
Ele afastou-se da política, como monarquista que era, e dedicou-se aos livros e à história. Só retornou à vida pública para novamente dedicar-se à diplomacia, não para defender o regime, mas para servir ao país. O retorno lhe deu ainda mais desgosto, no caso da arbitragem italiana sobre a questão da Guiana, fronteira com a colônia britânica: a Grã-Bretanha abocanhou quase 50% a mais do território disputado do que foi concedido ao Brasil, nascendo aí seu acentuado monroismo, ou americanismo, ao considerar que das potências europeias o Brasil não deveria esperar nada. Do nosso ponto de vista, entretanto, o Nabuco “derrotado” que interessa registrar é o das nunca implementadas propostas de reforma agrária e de educação pública em favor de negros libertos e dos brancos pobres, na verdade para todos.
O Brasil republicano, desde o início, e provavelmente até hoje, continua a pagar muito caro pela ausência de medidas desse tipo, para elevar a capacidade produtiva do seu povo. A reforma agrária, na verdade, na prática se tornou inócua pela modernização capitalista da economia rural, mas no campo da educação continuamos a exibir atrasos, se não quantitativamente (a taxa de escolarização, no início do primário, alcançou, por fim, a dos países avançados, mas 150 anos depois), certamente em qualidade do ensino.
5) RUI BARBOSA
Conselheiro do Império, primeiro ministro da Fazenda do novo regime, no governo provisório de Deodoro, quando empreendeu algumas boas reformas e outras menos boas, o homem mais inteligente do Brasil (segundo os baianos), foi, antes de tudo, um pensador, um doutrinário e um publicista (e um dos mais prolíficos do Brasil, que nunca publicou um livro sequer, mas que tem obras completas em dezenas de volumes). Ele é usualmente definido como um polímata, pois suas atividades e escritos abrangiam os mais diversos domínios do conhecimento humano, com especial predileção pelo direito. Logrou sucesso em muitos dos empreendimentos que lhe foram oferecidos ou para os quais ele se voluntariou, em virtude de seus vastos conhecimentos jurídicos; voltou da Segunda Conferência Internacional da Paz da Haia, em 1907, como um herói, o “Águia de Haia”, como exageradamente seus conterrâneos chamaram-no.
Mas também acumulou vários insucessos, entre eles a mal concebida reforma bancária do início da República, que acabou resultando numa violenta especulação, o chamado Encilhamento. Opôs-se a Rio Branco na compra do Acre à Bolívia, e saiu ruidosamente da delegação negociadora. Sua maior derrota, porém, não para ele, mas para o Brasil, foi ter perdido o pleito presidencial de 1910 para o Marechal Hermes da Fonseca, militarista como seria de se esperar, mas sobretudo prepotente, mandando submeter a golpes de canhão os governadores recalcitrantes dos estados que não o obedeciam. Por isso mesmo, o chanceler Rio Branco, angustiado, pensou em se demitir do seu cargo, sucessivamente renovado em quatro governos: coitado, morreu logo após.
A derrota para Hermes da Fonseca foi uma derrota para o Brasil, no sentido em que representou a consolidação do arbítrio como norma de governo, um golpe de Estado permanente contra vários princípios constitucionais, a ofensa aos adversários políticos (considerados inimigos) como coisa corriqueira, o despotismo do Executivo sobre os demais poderes. Rui se exasperava em face do desprezo que o governo exibia contra os mais comezinhos valores da democracia, entre eles as liberdades individuais e o pleno vigor do Estado de direito. Seus artigos, conferências e palestras dos últimos anos revelam justamente sua revolta contra o desrespeito demonstrado pela maior parte dos políticos – e dos militares – às normas mais elementares do sistema democrático. Como seu amigo Nabuco, ele faria um excelente ministro – talvez até primeiro – de um sistema parlamentar ao estilo inglês (se possível de uma monarquia constitucional, pois a despeito do seu republicanismo, Rui, a exemplo de Oliveira Lima, se decepcionou rapidamente com aquela república), ou de um governo congressual ao estilo americano, como preconizado pelo professor de Princeton Woodrow Wilson, mais tarde presidente. Como os anteriores, Rui também foi um derrotado, não apenas nos seus princípios e convicções, mas também em suas tentativas práticas de democratizar plenamente e de enquadrar o Brasil num Estado de direito efetivo.
6) MONTEIRO LOBATO
O filho de fazendeiros do Vale do Paraíba se espantou desde cedo com a inacreditável miséria dos caboclos do interior, que ele imortalizou na figura emblemática do Jeca Tatu. Ele constatou as condições sanitárias abomináveis dos matutos do interior e, sobretudo, a ignorância abismal desses homens que sequer tinham consciência de sua condição ou da existência de um país chamado Brasil. Seus muitos artigos de imprensa, sua atividade de editor, seus diálogos imaginários sobre nossos problemas com um inglês da Tijuca –Mister Slang e o Brasil –, todos eles batem na mesma tecla: o Brasil é um país profundamente atrasado, tão arcaico a ponto de ser derrotado pelas saúvas e por endemias eternas, e só teria salvação se empreendesse um vigoroso esforço de modernização, de preferência modelado no exemplo americano.
O fordismo lhe parecia a solução ideal para nossa débil industrialização, e o petróleo seria o combustível indispensável à redenção da nação. Lobato está na origem do “petróleo é nosso”, mas ele não era um chauvinista, um patriota rústico que queria afastar o capital estrangeiro do esforço de capacitação industrial e tecnológica. Ele se batia contra os “trustes estrangeiros” não porque fossem estrangeiros, mas porque via neles uma conspiração contra a prospecção de poços no Brasil, ao preferirem as jazidas mais fáceis do Oriente Médio. Achava que o governo não fazia esforços suficientes nessa direção, e denunciou o “entreguismo” da ditadura Vargas: por isso foi processado e preso. Mas a sua concepção de progresso era indiscutivelmente americana: ele foi mais um derrotado pelo nacionalismo rastaquera e pelo estatismo arraigado nos corações e mentes das elites políticas e industriais. Só o fato de proclamar o valor dos livros na construção da nação já lhe valeria a entrada num panteão da pátria. Pena…
7) OSWALDO ARANHA
Paradoxalmente, só foi derrotado quando finalmente chegou ao momento de maior glória, e pelo próprio homem que ajudou a colocar no poder. A “estrela da revolução liberal” de 1930, foi de fato o homem que “liquidou” a República Velha, ante as hesitações e dúvidas de Getúlio Vargas quanto às chances de vitória do movimento contra Washington Luís e seu presidente eleito do bolso do colete. Não fossem os esforços decididos de Aranha, no sentido de unir gaúchos e mineiros, e de aliciar forças decisivas no Exército e nas tropas estaduais militarizadas, a revolução de 1930 não seria o marco da modernização do Brasil e da construção de um Estado moderno, não mais a “República carcomida” das oligarquias do café-com-leite. Sucessivamente ministro da Justiça, da Fazenda (quando ele encaminha os problemas da dívida externa e dos estoques de café) e embaixador em Washington, Aranha estava no auge de sua glória quando decide abandonar, por desgosto, seu posto diplomático, na sequência do Estado Novo, em novembro de 1937, que repudiou imediatamente.
Foi apenas sua amizade com Vargas, e a necessidade que este tinha de manter as melhores relações possíveis com os americanos – a despeito de suas notórias simpatias pelos regimes fascistas da Europa – que explicam seu retorno à política, como chanceler do Estado Novo, de março de 1938 a agosto de 1944. Sua ação à frente do Itamaraty foi decisiva para conter a inclinação de muitos dos expoentes do regime por uma aliança com as potências nazifascistas, aparentemente invencíveis no início dos anos 1940, e para ancorar vigorosamente o Brasil no grupo das Nações Aliadas.
Aranha sempre foi um candidato natural das forças democráticas à presidência da República: hipoteticamente em 1934, numa eventual escolha alternativa pela Constituinte (e provavelmente por isso, Vargas decidiu manda-lo para Washington); talvez em 1938, se as eleições previstas não tivessem sido cortadas pelo golpe de Estado; possivelmente ao final do Estado Novo, quando Vargas ainda manobrava para continuar, depois indicando um sucessor de sua escolha; em 1950, quando foi sondado, mas preferiu deixar o terreno livre para o ex-ditador; ou ainda, e finalmente, à morte deste, nas eleições de 1955, disputadas por muitos candidatos bem menos qualificados do que ele. Foi uma pena que sua falta de ambição, e sua fidelidade irrestrita ao “irmão maior” que era Vargas, obstaram que ele galgasse o posto mais alto da República.
Para se ter uma ideia de como o Brasil poderia ter sido diferente, se ele tivesse ascendido ao comando da nação, basta ler a carta que Aranha enviou a Vargas para que este discutisse os assuntos da guerra e da paz no encontro que o ditador teria em Natal com Franklin Roosevelt, em janeiro de 1943. O maquiavélico ditador não só o afastou traiçoeiramente dessas conversações, mas também impediu um encontro especial que se realizaria em Washington com o presidente americano no mesmo mês em que Aranha foi humilhado pela polícia política do regime, no triste episódio da Sociedade das Américas, em agosto de 1944, o que acabou determinando sua saída da chancelaria.
Naquela carta, Aranha delineou não apenas um esquema de aliança com os EUA, para ganhar a guerra, mas também uma estreita cooperação para participar da nova ordem mundial a partir da restauração da paz; ele incluiu, sobretudo, um programa inteiro de modernização industrial e de capacitação do Brasil, com ajuda americana, de molde a realmente impulsionar o grande deslanche do país à condição de potência regional (num esquema não muito diferente da aliança não escrita defendida por Rio Branco, e mais enfaticamente por Nabuco, no começo do século). O Brasil teria sido um país muito diferente do que foi o caso, e certamente melhor, se Oswaldo Aranha tivesse ascendido à presidência e imprimido um estilo de governança e de políticas econômicas bem mais abertas e propensas à integração na política e na economia mundiais.
8) EUGÊNIO GUDIN
Um personagem nascido no século 19, que quase atravessou todo o século 20, pregando sempre as mesmas ideias liberais em economia e de simples sensatez na gestão pública. Formado em engenharia, mas economista por gosto, Gudin foi um aderente da escola neoclássica, mas de fato um eclético, e o responsável pela institucionalização dos cursos de economia nas faculdades brasileiras de humanidades e de ciências sociais em 1944. No mesmo ano, e no seguinte, foi protagonista do mais importante debate jamais ocorrido na história intelectual do Brasil; este representou, na verdade, um anticlímax, no sentido em que sua importância tanto teórica quanto prática foi deixada de lado pelo “curso natural das coisas”, ou seja, pela continuidade, em nossa governança, das mesmas inclinações e tendências estatizantes e intervencionistas que caracterizam o universo conceitual das lideranças políticas e empresariais do país.
O debate ocorreu quando se discutia abandonar os mecanismos intervencionistas em vigor durante o período bélico para adotar novos instrumentos capazes de guiar a ação do Estado no apoio ao processo de industrialização (sinônimo de desenvolvimento na concepção da época). Gudin, que naturalmente defendia princípios liberais e mecanismos de mercado para guiar a ação do Estado no fomento desse processo, teve como contendor no debate o industrial e intelectual – professor na Escola Paulista de Sociologia e Política – Roberto Simonsen. Em 1930, fez traduzir e publicar pelo CIESP, o Centro da Indústria do Estado de São Paulo, que ele tinha criado em oposição à FIESP, o livro do economista romeno Mihail Manoilescu, Teoria do Intercâmbio Desigual e do Protecionismo, uma atualização “científica” das ideias de Friedrich List. Simonsen, obviamente, se bateu pelo planejamento estatal, pelo protecionismo tarifário e pelos subsídios oficiais à “indústria infante”, enfim, todo o contrário do que pensava e preconizava Gudin, que era pela adesão do Brasil aos princípios das vantagens comparativas, que recomendavam incrementar o esforço de modernização agrícola, melhorar a infraestrutura e o capital humano, e manter uma governança econômica em bases sólidas e fiscalmente equilibradas.
O resultado do debate foi mais uma vez paradoxal: Gudin saiu-se como o seu vencedor teórico, ao demonstrar a inconsistência lógica e a escassa solidez prática dos argumentos de Simonsen. Mas este foi, ao fim e ao cabo, o vencedor efetivo do debate, uma vez que, no decurso das décadas seguintes, todos os governos, apoiados pelos industriais e pelos empresários em geral, seguiram as recomendações dos estatizantes, dos nacionalistas primários, dos protecionistas declarados, que sempre foram legião em todas as esferas da administração pública e na vida civil do país. Mais uma vez, o derrotado foi o Brasil, único país no mundo a ter conhecido oito (OITO) moedas sucessivas no espaço de pouco mais de meio século: mil-réis, cruzeiro, cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo, cruzeiro, cruzeiro real, real. Não é preciso referir-se aos números astronômicos dos nossos processos inflacionários para constatar os desastres criados pelos êmulos de Roberto Simonsen, que eliminaram na prática as receitas mais equilibradas e ponderadas do longevo Gudin. Ele continuou, até o final de sua vida secular, a preconizar as mesmas receitas, sempre para ser derrotado pela realidade.
9) ROBERTO CAMPOS
O ex-seminarista que se fez diplomata às vésperas da Segunda Guerra, teve a chance de servir em Washington quando se realizou a célebre conferência de Bretton Woods, em 1944, na qual ele era um simples assessor, e não um delegado. O mesmo ocorreu na conferência de Havana, sobre comércio e emprego, em 1947-48, quando ele continuou a aperfeiçoar seu conhecimento prático de economia, ao mesmo tempo em que fazia um mestrado nessa área na George Washington University, quando defendeu uma tese sobre os ciclos econômicos, de tinturas tanto neoclássicas quanto precocemente keynesianas. Ele ainda era um partidário do Estado promotor do desenvolvimento econômico, quando exerceu o cargo de diretor no BNDE, nos anos 1950, quando colaborou na arrancada dos “cinquenta anos em cinco” do governo JK, que também elevou a inflação a patamares nunca antes vistos no Brasil, inclusive com a construção de Brasília (que foi feita sem orçamento, à margem do orçamento e contra o orçamento, à razão de 1,5% de déficit fiscal durante quatro anos).
Não surpreende, assim, que o Brasil fosse levado a uma situação de grave desequilíbrio orçamentário e de enormes problemas de balanço de pagamentos no início dos anos 1960, quando ele foi, durante três anos, embaixador em Washington. Ele se demitiu do posto, exasperado com a inépcia de Jango, três meses antes do golpe de 31 de março de 1964, cujos líderes o guindaram à função de ministro do planejamento, em dobradinha com o ministro da Fazenda Octavio Gouvea de Bulhões. Ambos, entre 1964 e 1967, conduziram o mais importante processo de reformas econômicas e administrativas jamais empreendido no Brasil, um conjunto ambicioso de mudanças constitucionais e de medidas infraconstitucionais que abriram o caminho para o mais vigoroso ciclo de crescimento de nossa história econômica.
Paradoxalmente, porém, os dois, ainda que liberais em espírito e em intenção, foram também os responsáveis pelo início da mais imponente escalada econômica estatal jamais vista nessa mesma história. Não só eles, pois que seus sucessores, em especial os acadêmicos Delfim Netto e Mário Henrique Simonsen, impulsionaram, com o apoio entusiasta dos militares reformistas, esse engrandecimento inédito do ogro estatal, elevando enormemente a carga fiscal – a pretexto de aumentar o investimento público –, criando dezenas de estatais em todos os setores considerados “estratégicos”, não apenas para a economia, mas também para a “segurança nacional”. De certa forma, o Brasil do regime militar conduziu uma espécie de “stalinismo para os ricos”, uma industrialização “num só país” que respeitava inteiramente o vezo nacionalista rústico dos militares e sua preferência pela mais acabada autarquia produtiva, essa introversão míope que tinha sido a marca dos regimes fascistas da Europa dos anos 1930 (por acaso, um período no qual muitos dos líderes da “revolução de 1964” estavam estudando nas academias militares e aprendendo rudimentos econômicos de “independência e de soberania nacional”).
Roberto Campos detectou desde muito cedo essa deriva do Estado reformista-modernizador dos militares para um “complexo industrial-militar” orientado mais pelos princípios da “segurança nacional” do que pelos saudáveis valores da economia de mercado; passou o resto de sua vida tentando reverter o intervencionismo exacerbado do regime militar e o nacionalismo tosco dos políticos da redemocratização. Sem sucesso, porém: como Raymond Aron, na França, que durante anos lutou contra os instintos socialistas da intelectualidade parisiense, Campos lutou contra a indigência mental de nossos políticos e a ignorância econômica da maior parte da intelligentsia nacional (que Millor Fernandes chamava de “burritsia” acadêmica). Como Aron, igualmente, só foi reconhecido como visionário ao final da vida, e ainda assim, nem um, nem outro, conseguiu recolocar os respectivos países no caminho das reformas liberais e pró-mercado. A despeito de ter acertado em praticamente 90% do que escreveu durante toda a sua vida, Campos foi ironicamente derrotado por uma de suas mais conhecidas ironias: “o Brasil é um país que não perde oportunidade de perder oportunidades”.
10) GUSTAVO FRANCO
Um dos mais jovens expoentes da equipe que idealizou, montou e administrou o lançamento do Plano Real, o mais bem sucedido esforço de estabilização macroeconômica conhecido em nossa história econômica – hoje, infelizmente, ameaçado pela Grande Destruição lulopetista –, que exibe a distinção adicional de ter concebido o regime de transição da antiga e desvalorizada sétima moeda de nossa história monetária para o Real, mediante a indexação monetária via URV, cuja inspiração lhe tinha sido dada ao estudar a experiência alemã de saída da inflação, em 1923. Ele também foi o defensor de uma política de capitais e de câmbio bem mais livre do que o normalmente admitido tradicionalmente, não apenas nas faculdades de economia, mas sobretudo nos escalões governamentais, não obtendo inteiro sucesso nessa área, em razão, como sempre, dos azares da política.
A primeira versão do Plano Real previa um esforço de ajuste fiscal bem mais severo do que o efetivamente realizado, não implementado porque o presidente Itamar Franco queria uma “estabilização sem recessão”. Foi preciso, assim, manter os juros num patamar bem mais elevado do que o adequado, pois que a âncora fiscal, que deveria ter sido implantada, foi substituída por uma âncora cambial, que redundou, contra a vontade de muitos economistas, numa excessiva valorização do Real (daí os desequilíbrios de transações correntes acumulados na segunda metade dos anos 1990). O resultado foi a crise de 1998-99, ainda assim provocada por fatores externos: as crises asiáticas de 1997 e a moratória russa de agosto de 1998, que impactou diretamente o Brasil; a situação foi enfrentada mediante um programa de apoio financeiro das instituições de Bretton Woods e de países credores, com sucesso relativo até a década seguinte, quando a crise argentina, o apagão elétrico e as eleições de 2002 (e os efeitos econômicos do PT) agravaram o quadro de turbulências no Brasil.
Gustavo Franco, que tinha sido secretário de política econômica na gestão Itamar e depois diretor de assuntos internacionais do Banco Central, ao iniciar-se a gestão FHC, foi elevado à condição de presidente do BC em meio às turbulências financeiras da crise asiática; conduziu um meticuloso programa de ajustes cambiais que, teoricamente pelo menos, permitiriam ao Brasil compensar a valorização por etapas, para evitar uma grave crise e mais inflação. A pressão dos mercados, e do próprio jogo político, foi entretanto mais forte, e Gustavo se viu constrangido a sair do BC no auge da desvalorização cambial do início de 1999, e antes do estabelecimento dos regimes de metas de inflação e de flutuação cambial, finalmente adotados por Armínio Fraga, levado à presidência do BC pouco depois. Uma história completa desses episódios, do ponto de vista da política cambial, ainda está para ser escrita e o próprio Gustavo é um bom candidato para empreender a tarefa. Mas esse é apenas um detalhe num itinerário de reformas tentativas que Gustavo Franco tentou impulsionar e que aguardam ainda hoje para serem continuadas e completadas.
A importância de Gustavo Franco, como economista e intelectual, está em sua condição de debatedor, de publicista, ao defender em seus muitos artigos, entrevistas e palestras, e em diversos livros, o Plano Real como apenas o início de um processo de reformas e de mudanças estruturais no Estado e na economia do Brasil que o levariam da condição de adepto eterno de um keynesianismo de botequim e de um cepalianismo tosco ao status de “país normal”, ou seja, simplesmente aderente de regras claras, estáveis e transparentes de gestão econômica, como compete a qualquer país dotado de uma economia de mercado digna desse nome. Infelizmente, a gestão econômica companheira fez o Brasil retroceder pelo menos vinte anos economicamente, e muito mais ainda moralmente falando. Gustavo Franco também foi um derrotado, ainda que temporariamente, uma vez que as reformas que ele preconizava não foram, senão minimamente, implementadas nos anos seguintes, e muitas delas revertidas na gestão irresponsável dos lulopetistas. Seus escritos e declarações indicam o que está aberto nessa agenda de “work in progress” (na verdade, evoluindo para trás, atualmente).
OS “DERROTADOS” DO DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO: UM BALANÇO FRUSTRANTE
Todas as personalidades brevemente referidas aqui foram, em primeiro lugar, pensadores, intelectuais com distintas formações acadêmicas – ou na vida prática, como Irineu Evangelista de Souza – e com diferentes situações sociais, de atuação no setor público e de responsabilidade nos governos aos quais serviram ou com os quais trabalharam – ou não, caso de Hipólito e Monteiro Lobato. Vários conceberam planos mais ou menos arrojados para o futuro do Brasil, alguns com projetos ambiciosos de mudanças estruturais, outros – como Gudin – com um cuidado mais prosaico com uma gestão simplesmente responsável da coisa pública. Todos eles preconizaram reformas corajosas para eliminar obstáculos e enfrentar os problemas e desafios que constatavam existir no itinerário do desenvolvimento brasileiro.
De certa forma, muitos deles foram visionários, mas sensatos, no sentido em que nenhum deles concebeu qualquer projeto utópico de reforma integral, revolucionária, da sociedade brasileira. Nenhum deles foi um “engenheiro social”, no sentido várias vezes criticado por um pensador liberal como Isaiah Berlin: todos eles preconizaram atuar nos quadros dos regimes constitucionais em vigor, respeitando as mais amplas liberdades – sobretudo a de empreender – e os princípios e valores dos regimes democráticos. Não por acaso, as propostas por eles formuladas se aproximavam do modelo constitucional e de governança de corte britânico, de amplo sucesso prático nos Estados Unidos e nos países que institucionalmente e culturalmente pertencem ao mesmo arco civilizatório.
Nenhum deles teve sucesso – no máximo parcial – nas reformas e nas medidas preconizadas para levar o Brasil a um patamar mais alto de desenvolvimento político, econômico e social, num processo de total respeito às regras elementares do jogo democrático, como diria Norberto Bobbio. Aliás, o jurista e filósofo italiano, a despeito de seu imenso sucesso intelectual e do prestigio cívico alcançado, foi outro derrotado em seu próprio país, por acaso caracterizado por uma governança quase tão corrupta quanto a brasileira.
Todos os brasileiros, se tivessem logrado sucesso na implementação das medidas propostas – se tivessem sido por acaso guindados a posições de mais alta responsabilidade governativa, o que ocorreu unicamente com José Bonifácio, mas ele rapidamente “podado” pelo seu soberano – teriam provavelmente mudado o Brasil de uma forma mais profunda, mais intensa, e mais positiva do que efetivamente ocorreu nos dois séculos que levam de Hipólito José da Costa a Gustavo Franco. Este último continua um batalhador incansável pelas reformas necessárias, e o único “sobrevivente” (com perdão pela palavra) nesta nossa seleção: a ele cabe manter a tocha das reformas, em primeiro lugar como publicista, eventualmente, e novamente, como reformador.
No momento em que o Brasil enfrenta a mais grave crise de sua história – certamente na esfera econômica, mas também, e sobretudo, no plano moral – é útil refletir sobre todas essas oportunidades perdidas, sobre a ação, em grande medida frustrada, de todos esses “derrotados” na prática. Do meu ponto de vista, eles são vitoriosos morais, gigantes intelectuais da modernização e do progresso brasileiro, que, por um conjunto variado de circunstâncias, não puderam conduzir suas propostas a bom termo, ou que não tiveram a oportunidade, em virtude de um ambiente particularmente negativo para os reformistas de qualquer quilate, de vê-las implementadas pelos tomadores de decisões de cada momento. A “agenda conjunta” de reformas modernizadoras – e corretoras de nossos grandes defeitos sociais –, que todos eles preconizavam, permanece inconclusa: na verdade, ela só existe no papel, num exercício como este de levantamento das nossas lacunas e omissões, uma vez que não pudemos contar, ainda, com estadistas que as implementassem verdadeiramente, com base num consenso necessário e no respeito das liberdades democráticas.
A pergunta final é inevitável: quando vamos contar com personalidades que se apoiem nas propostas desses gigantes intelectuais para arregaçar as mangas e “civilizar o Brasil”, na linguagem dos próceres da independência? Não sabemos ainda. Mas seria útil retomar cada uma das propostas desses pioneiros, para ver o que ainda falta fazer no Brasil. Mãos à obra, pesquisadores e ativistas: a agenda já existe. Cabe agora debater os meios de implementá-la, para passarmos da condição de “derrotados” à de vencedores.
Que tal começar pelo levantamento do que falta fazer?
III - INTÉRPRETES DO BRASIL
Nesta quinta-feira, às 18h, a Casa de Rui Barbosa sediará o lançamento da Coleção Biblioteca Básica Brasileira, projeto editorial desenvolvido em parceria com a...
"Enciclopédia de brasilidade - Cesar Benjamin
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Ufa. Ontem foi a primeira das quatro aulas do curso compacto "Uma certa ideia de Brasil". Estruturei as aulas da seguinte forma:
1. O sentido da construção nacional (os grandes processos estruturantes da sociedade brasileira);
2. Por que ficamos na periferia? (ênfase no século XIX);
3. A construção da agenda brasileira (ênfase no século XX);
3. A grande crise (os últimos trinta anos).
Todas as aulas, de três horas cada, são multidisciplinares. Estão sendo filmadas por dois amigos que se ofereceram gentilmente para fazer esse trabalho. Depois veremos o que fazer com o material. Tudo é gratuito.
Hoje é a segunda aula. Obrigado às pessoas que se dispuseram a assistir. Essa tentativa de produzir uma síntese da ideia de Brasil tem sido trabalhosa, mas prazerosa também.
…
Nós, os brasileiros – Paulo Timm – Coletâea
http://www.paulotimm.com.br/
1554NOS__OS_BRASILEIROS_(2).
Pequena Bibliografia Crítica do Pensamento Social Brasileiro - Ronaldo Conde Aguiar
Este livro não é uma bibliografia dos pensadores sociais, e sim, dos trabalhos sobre os pensadores sociais, os comentários procuraram apenas registrar os traços mais gerais dos autores, de forma a destacar a sua importância e a sua contribuição no campo do pensamento social brasileiro.
Sociologia brasileira: 11 seminários, entrevistas e documentários pra você entender os maiores...
De que é feita a sociologia brasileira? Qual seu tutano? Clique aqui e veja entrevistas, documentários e seminários sobre a sociologia do nosso país.
O pensamento estratégico de Francisco Adolfo de Varnhagen, por Paulo Roberto de Almeida
A data de 17 de fevereiro de 2016 marca o ducentésimo aniversário do nascimento do…
Sobre José Bonifácio, os “Pais Fundadores” dos EUA, Joaquin Nabuco, Rui Barbosa e Adam Smith
José Bonifácio, Rui Barbosa, Nabuco e Adam Smith (Teoria dos sentimentos Morais) deveriam ser leituras obrigatórias nas escolas.
O Andrada é mais avançado que os pais fundadores dos EUA, incrível. Kenneth Maxwellrepublicou um artigo dele sobre o Brasil e sua peculiaridade onde isso fica claro, mas Jorge Caldeira em seu livro sobre JB deixa isso bem claro.
Os novos intérpretes do Brasil
CartaCapitalCurtir Página
O assassinato de Anísio Teixeira (na foto). A história tem dessas coisas: as ditaduras acreditam poder esconder as patas depois de cometer crimes, e as patas sujas de sangue um dia reaparecem
Leia o artigo de Emiliano José: http://bit.ly/1gAb9ia
Coluna Econômica - 18/01/2010
O Brasil contemporâneo está carecendo de intérpretes. Por tal, entenda-se o cientista social, ou economista, ou sociólogo, capaz de obras seminais para descrever os traços essenciais do país em cada época.
No início do século 19, José Bonifácio foi um grande intérprete. Depois, Joaquim Nabuco. No alvorecer da República, o grande Manoel Bonfim. Mais à direita, Oliveira Vianna. Finalmente, o trio clássico, Gilberto Freyre, Caio Prado Jr e Sérgio Buarque de Hollanda. Tempos depois, Celso Furtado, Florestan Fernandes.
***
Nos anos 70 a 90, alguns cientistas políticos lograram entender os novos ventos políticos, o advento da opinião pública ajudando a sepultar os resquícios de regime militar. Com olhos contemporâneos, também ajudaram a lançar luzes sobre outras épocas da vida nacional. José Murilo de Carvalho, Boris Fausto, Bolívar Lamounier, Evaldo Cabral de Mello, Luiz Werneck Vianna, Wanderlei Guilherme dos Santos.
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Mas agora, em pleno alvorecer do terceiro milênio, criou-se um vácuo enorme na discussão do novo Brasil. Bolívar e Boris se partidarizaram pró-PSDB, comprometendo sua capacidade analítica. Do lado do PT, cientistas políticos perderam o rumo com o modelo posto em prática por Lula. À esquerda do PT, Chico de Oliveira e outros se perderam em uma visão pré-concebida sobre fundos de pensão e mercado de capitais.
Analistas de belo potencial, como Renato Lessa, ainda tateiam tentando entender o novo.
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Essa perda temporária de rumo se deve a mudanças estruturais, ao surgimento de vários fatores portadores de futuro, que passam longe do ângulo de análise dos cientistas sociais.
Um desses fatores é o surgimento da nova mídia e a implosão do mercado de opinião – antes controlado por meia dúzia de veículos. Haverá implicações tremendas sobre política econômica – já que acabará com essa facilidade do Banco Central usar a velha mídia para induzir as expectativas dos agentes econômicos para onde queira. Muda o jogo político, já que há uma erosão no poder dos partidos políticos de imporem verdades de cima para baixo.
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Esses aspectos ainda não foram suficientemente analisados.
Menos ainda o movimento pela qualidade que alterou radicalmente os velhos paradigmas gerenciais que comandavam as grandes empresas. Não apenas aumentou a eficiência das empresas como impôs um novo padrão de análise em relação aos seus compromissos com o Brasil.
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A possibilidade de massificação das políticas sociais estava clara alguns anos antes do Bolsa Família – graças aos novos modelos de gerenciamento de bancos de dados públicos. Mas foram ignorados pelos cientistas sociais.
A mudança no perfil do desenvolvimento brasileiro (agora voltado para o interior e para o nordeste), a consolidação de políticas para pequenas e micro empresas, os movimentos nacionais pela inovação, o mercado de capitais, o novo papel das novas multinacionais brasileiras, tudo isso são temas novos, que já influenciam decisivamente a vida nacional, mas passam ao largo das análises acadêmicas.
Os novos intérpretes serão aqueles com capacidade de incorporar esse todo complexo em suas análises.
Dinheiro Vivo -
Cesar Benjamin - 7 h · Rio de Janeiro - IGNÁCIO RANGEL Postei aí embaixo a sinopse e os links para os dois volumes da Obra Reunida de Ignácio Rangel, que organizei. Quando resolvi estudar Rangel sistematicamente, ainda na década de 1980, descobri que isso era quase impossível, pois sua obra estava esgotada, perdida e dispersa. Desde então foram muitos anos de trabalho, procurando e arquivando seus textos, verdadeiras preciosidades. Ludmila, filha do mestre, foi generosíssima na cessão de todos os direitos, O resultado dessa busca está em dois grandes volumes, que reúnem oito livros e mais de cem artigos. No link, o texto "Notas sobre a atualidade do pensamento de Ignácio Rangel", que escrevi junto com Márcio Henrique Monteiro de Castro e Ricardo Bielschowsky para marcar o centenário de nascimento desse grande pensador brasileiro. Abraços, Cesar Benjaminhttp://www.contrapontoeditora.
INTENTORES DO BRASIL – TV BRASIL – DOMINGOS 21.00
APRESEAÇÃO – FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Fernando Henrique Cardoso apresenta o programa ...
https://www.youtube.com/watch?
4 dias atrás - Vídeo enviado por Canal Brasil
Fernando Henrique Cardoso apresenta o programa Inventores do Brasil. Canal Brasil ... TV Tarobá ...
PRETO NO BRANCO – TV BRASIL- ENTREVISTAS
HTTP://CANALBRASIL.GLOBO.COM/
Livros importantes
Franklin de Oliveira :Morte da Memória Nacional- Civilização Brasileira RJ
Ronaldo Conde Aguiar- Pequena Bibliografia Crítica do Pensamento Social Brasileiro
Cristian Dunker – Mal Estar, Sofrimento, Sintoma: uma psicopatologia do Brasil intra muros - SP, Boitempo, 2015
PENSAMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO: O CICLO IDEOLÓGICO DO DESENVOLVIMENTISMO
RICARDO BIELSCHOWSKY -- sexta reimpressão
484 páginas -- de R$ 84,00 por R$ 50,40 no site da editora
http://www.contrapontoeditora.
Cristovam Buarque
Aqui as duas partes da entrevista de Roberto D´Ávilla com Cristovam Buarque. Tem coisas excelentes aqui, especialmente quando ele conta como nasceu o Bolsa Família ou fala da educação: "Falta capacidade de escandalizar o Brasil com a falta da educação."
Parte 1: https://www.youtube.com/
Parte 2: https://www.youtube.com/
GN Roberto D'ávila 2016-04-20 Cristovam Buarque - Parte 1
GN Roberto Davila 2016-04-20 Cristovam Buarque - Parte 1
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IBGE lança livro com entrevistas de dez presidentes do instituto: bit.ly/290t2Zt
“O desafio de retratar o país” traz os depoimentos de dez especialistas que estiveram à frente da instituição nos últimos 30 anos, além de diversas informações adicionais que contextualizam historicamente essas administrações.
Através de seus depoimentos é possível acompanhar não só a evolução do IBGE, mas também as mudanças históricas no próprio país, desde o fim da ditadura militar ao fim da hiperinflação, passando pelo advento das políticas de inclusão social, cujos principais parâmetros são os próprios indicadores econômicos e sociais produzidos pelo instituto.
Editora Unesp
Nascido em 15 de março de 1900, no Recife, Pernambuco, Gilberto Freyre é considerado um dos mais importantes sociólogos brasileiros do século XX. Freyre foi também antropólogo, artista plástico e jornalista. Para homenagear as importantes contribuições de Gilberto Freyre, a Editora Unesp selecionou, entre os títulos de seu catálogo, livros que abordam a vida e a obra do pensador, que estão com 20% de desconto até o dia 20 de março. Confira a seguir:
Filme | Militares da Democracia: os militares que disseram NÃO
Sinopse: Eles lutaram pela Constituição, pela...
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Anna Maria Monteiro Os Advogados contra a Ditadura: Por uma questão de Justiça
Com a instauração da ditadura militar através de um golpe das Forças Armadas do Brasil, no período
A história da historiografia no Brasil, 1940-1970 - XXVI ...
http://www.snh2011.anpuh.org/
A história da historiografia no Brasil, 1940-1970: apontamentos sobre sua escrita REBECA GONTIJO* A consolidação da história como discurso autônomo com pretensões científicas no século XIX promoveu, entre outras coisas, o desenvolvimento da história da historiografia. Não por coincidência, essa história assumiu como função principal registrar os progressos da pesquisa histórica ao longo do tempo apresentando-os por meio de uma trajetória evolutiva desde a antiguidade até atingir sua forma moderna, científica (POMIAN, Sur l’histoire; BLANKE, Por uma nova história da historiografia, 2006). Desde então, a história da historiografia confunde-se, ao menos em parte, com o que Jörn Rüsen identificou como uma espécie de manual de teoria da história, mais preocupado em identificar os procedimentos comuns e listar autores e obras, em estilo enciclopédico (RÜSEN, Razão histórica). Cabe observar que esse exercício catalográfico, ao identificar autores e obras referenciais e definir um percurso evolutivo, produziu uma memória e um cânone para a disciplina, contribuindo para garantir certa unidade ao trabalho do historiador, socialmente identificado como o especialista em assuntos do passado. Mas, eis que esse modelo de história da historiografia, marcadamente bibliográfico e erudito, no momento mesmo em que se afirmou começou a mudar. O movimento de crítica às aspirações científicas da história iniciado no fim do século XIX contribuiu para que os escritos dos historiadores fossem incluídos no contexto das lutas políticas e das controvérsias ideológicas de seu próprio tempo. De acordo com Kryzsztof Pomian, os estudos sobre a história da historiografia, ainda que não abandonado a preocupação enciclopédica e memorialística, passaram a se ocupar, também, da decifração das formas pelas quais os historiadores representam o passado, relacionando essas formas ao contexto em que tiveram origem e procurando demarcar sua transformação ao longo do tempo. E esse movimento não parou de crescer ao longo do século XX, por vezes fazendo prevalecer a preocupação em conjugar uma reflexão de ordem epistemológica com o estudo da historiografia, de modo a suscitar, * Professora Adjunta do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro / UFRRJ. Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense / UFF. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 2 principalmente nos aprendizes do ofício, um olhar crítico sobre o que se faz quando se faz história (POMIAN, Sur l’histoire). Contudo, é interessante notar, como fez Antoine Prost, que até o fim da década de 1980 a reflexão sobre a história da historiografia foi tida por muitos historiadores como inútil, ao menos na França. Essa reflexão foi quase sempre relegada a filósofos, recusada como campo de estudo do historiador, talvez porque desde o fim do século XVIII tal reflexão fosse tida como uma competência teórica e, na medida em que a história se consolidou como ciência social, tal competência acabou sendo relegada a um segundo plano (PROST, Doze lições sobre a história). Apesar disso, foi-se o tempo em que era possível não estranhar a opinião de Lucien Febvre, quando afirmava que o historiador tinha razão ao fazer a história sem meditar sobre seus limites ou sobre as condições da historiografia (FEBVRE, Combates pela história, 1953). Como bem lembrou Valdei Lopes de Araújo, as reflexões de Thomas Kuhn e Michel Foucault na década de 1960 contribuíram para corroer essa perspectiva, pois introduziram a descontinuidade na história dos saberes, reafirmando algo que, de certa forma, já havia sido colocado no fim do século XIX: que o discurso histórico também possui historicidade e está condicionado por um lugar de produção e por um agente produtor (ARAÚJO, A história da historiografia como disciplina autônoma). Além disso, a chamada “virada lingüística” desde os anos 1970 não cessou de provocar os historiadores, ao lembrar a dimensão narrativa da historiografia, impondo novos problemas para uma história da escrita da história. Pensando o caso brasileiro, é possível localizar discursos produzidos no século XIX, que podem ser identificados como um tipo de reflexão sobre a historiografia, tais como o necrológico de Varnhagen, escrito por Capistrano de Abreu em 1878. Mas, os primeiros balanços sistemáticos, que se empenharam em apresentar a história da historiografia como algo distinto da história da literatura, parecem ter sido escritos no início do século XX. Lembro alguns textos esquecidos como: Os historiadores do Brasil no século XIX, de Alcides Bezerra, publicado em 1926; dois artigos franceses, Aperçu de la production historique recent au Brésil, de Émile Coornaert, publicado em 1936; e Notes et refléxions sur le travail historique au Brésil, de Henri Hauser, de 1937; e ainda, O pensamento histórico no Brasil nos últimos 50 anos, de Sergio Buarque de Holanda, publicado no jornal Correio da Manhã, em 1951. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 3 Não se trata aqui de tentar traçar uma genealogia da escrita da história da historiografia no Brasil, mas buscar exemplos que demonstrem que, embora tal escrita tenha adquirido características e preocupações diferentes em tempos recentes, não se trata de algo absolutamente novo, ainda que os balanços historiográficos sejam um tipo de texto sobre a historiografia menos ocupado em refletir sobre a escrita da história em si do que em apontar os marcos da evolução das pesquisas definindo um cânone. Além disso, o mapeamento desse terreno discursivo pode ser útil, caso queiramos saber, como indagou Valdei Araújo, acerca do que pode estar em jogo quando fazemos história da historiografia (ARAÚJO, A história da historiografia como disciplina autônoma). *** O objetivo da minha comunicação é colocar em discussão alguns aspectos da história da historiografia brasileira, focalizando dois momentos específicos: os anos 1950, quando as obras de José Honório Rodrigues estabeleceram um modelo de história da historiografia que se tornou referência obrigatória nos cursos de graduação; e os anos 1970, quando outras propostas de escrita dessa história entraram em cena, aparentemente com certo tom de urgência, como a de Carlos Guilherme Mota (1975), José Roberto do Amaral Lapa (1976) e Maria de Lourdes Monaco Janotti (1977). Cabe observar que as décadas posteriores ao período aqui abordado guardam transformações importantes no cenário que aqui será brevemente esboçado. O texto que segue está divido em função dos autores selecionados e o objetivo mais específico é apresentar as grandes linhas de suas propostas de história da historiografia, observando possíveis permanências e mudanças ao longo de trinta anos de estudos sobre a historiografia. A primeira parte da comunicação trata de José Honório Rodrigues e foi chamada de “a invenção de uma tradição”. 1) José Honório Rodrigues e a invenção de uma tradição José Honório Rodrigues (1913-1987) destaca-se como o pesquisador que mais se dedicou ao exame da produção historiográfica brasileira. Sua produção vastíssima foi classificada por Francisco Iglésias em cinco grupos: teoria, metodologia e historiografia; história de temas; ensaios historiográficos; obras de referência; e edições de textos (IGLÉSIAS, José Honório Rodrigues e a historiografia brasileira). Tal Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 4 projeto tinha por objetivo desenvolver uma obra tríptica, composta por teoria, pesquisa e historiografia. Em outras palavras, o plano envolvia a publicação de livros sobre esses três temas, com uma finalidade pedagógica: formar os historiadores nacionais, ensinando-os a pesquisar e a escrever a história, através do exemplo dos “mestres”. No prefácio da primeira edição do livro Teoria da História do Brasil (1949), o autor apresenta seu objetivo: (...) dar aos alunos uma idéia mais exata do que é a história, de seus métodos e de sua crítica, da bibliografia e historiografia brasileiras, de modo a prepará-los para um conhecimento crítico da história do Brasil. (...) Há, assim, um fim pedagógico como objetivo primordial deste trabalho; procurase oferecer aos estudantes de história geral e do Brasil, aos professores secundários, aos estudiosos ocupados com a história concreta, uma visão de conjunto dos principais problemas de metodologia da história. Da história do Brasil, tão somente, já que os exemplos ilustrativos são puramente brasileiros. (...) Uma verdadeira compreensão do ensino superior da história exige o contato do estudante com os grandes e pequenos mestres (...) (RODRIGUES, Teoria da História do Brasil, [1949] 1978, p. 11). A monumentalidade do projeto de José Honório pode ser medida não apenas pelas intenções explícitas de conjugar o exame da teoria, da pesquisa e da historiografia brasileira em um único projeto e atingir um público amplo – composto por estudantes universitários de história e professores secundários –, mas pela forma de divulgação, através da importante coleção Brasiliana, dedicada a publicar estudos nacionais e estrangeiros sobre o Brasil, com destaque para pesquisas históricas. Tal empreendimento teve participação efetiva no movimento de “redescobrimento do Brasil” ocorrido ao longo dos anos 1930 e 1940 (PONTES, Retratos do Brasil: editores, editoras e ‘Coleções Brasiliana’ nas décadas de 30, 40 e 50). Através de um amplo projeto, José Honório expôs as linhas gerais para a interpretação da história da história do e no Brasil, listando nomes e obras, estabelecendo uma cronologia da produção historiográfica, tecendo relações entre essa produção e algumas teorias da história. Mas, além disso, tal projeto possui uma clara função crítica. Seu alvo principal é a historiografia que o autor considera distante dos interesses nacionais, incapaz de dar conta do processo de emancipação do país. Em sua Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 5 opinião, essa historiografia a ser ultrapassada só tem olhos para a história colonial, não sendo capaz de desenvolver seu oposto: a história nacional. A primeira não se referindo unicamente ao período colonial (embora tal período seja privilegiado), mas a uma escrita da história inspirada por valores estrangeiros e compromissada com a difusão de ideologias anti-nacionais. A segunda, que ainda não estaria plenamente desenvolvida, representaria o pensamento genuinamente brasileiro. Segundo o autor: (...) a historiografia brasileira é um espelho de sua própria história. A historiografia, como outros ramos do pensamento e da atividade humanos, está inegavelmente integrada na sociedade de que é parte. Há, assim, uma estreita conexão entre a historiografia de um período e as predileções e características de uma sociedade. O nexo é econômico e ideológico (RODRIGUES, Teoria da história do Brasil, p. 32). Os dois elementos básicos para a compreensão da história brasileira e de sua historiografia seriam a “personalidade básica portuguesa e a sociedade rural”. Ou seja, a historiografia seria a expressão do “Brasil arcaico”, como demonstra o interesse pela fase colonial e o apego à Europa. Fundamentalmente, José Honório procurou desenvolver um exercício crítico que considerava fundamental: o revisionismo. Esse deveria ser aplicado tanto aos fatos históricos quanto às idéias, ou melhor, às ideologias (RODRIGUES, As tendências da historiografia brasileira; IGLÉSIAS, José Honório Rodrigues e a historiografia brasileira; MARQUES, Uma sistemática teórico-metodológica a serviço da história do Brasil). É interessante notar que, um dos significados do termo revisar é “ver com atenção, examinar cuidadosamente”, fazendo correções. Outro significado é “trazer à memória, relembrar, recordar”. Esse duplo viés, crítico e memorialístico, ajuda a dimensionar o projeto de José Honório. Nesse sentido, caberia ao historiador da historiografia denunciar a ideologia por trás da escrita da história e, ao mesmo tempo, estabelecer um cânone por meio da catalogação de autores e obras consideradas mais importantes, a partir dos quais seja possível definir a cronologia da disciplina. Mas, além de analisar os referenciais teóricos presentes na historiografia brasileira, apontar seus principais nomes e obras, destrinchar seus métodos e traçar um panorama da pesquisa histórica em nosso país, apresentando seus principais arquivos e Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 6 fontes documentais, o que José Honório parece visar é a construção de uma tradição historiográfica em meio a qual, talvez, ele mesmo pudesse se inserir, não apenas como um entre outros historiadores, mas como aquele que organiza o legado e aponta caminhos para futuras pesquisas. Supostamente, ao construir sua versão da história da história, ele também reservou um lugar para si, pois, nas palavras de sua esposa, Leda Boechat Rodrigues, “tinha consciência do valor de sua obra e esperava, sem modéstia, figurar no futuro entre os grandes da História e da Historiografia brasileiras” (RODRIGUES apud MARQUES). O modelo de história da historiografia proposto por José Honório perdurou por longo tempo, tornando-se referência obrigatória nos cursos de História ao menos até a década de 70, quando outros autores procuraram refletir sobre a história da historiografia introduzindo novos elementos nessa história, mas, aparentemente, sem abandonar totalmente a chave de leitura consolidada por José Honório Rodrigues. 2) Carlos Guilherme Mota, um “exercício de memória” O primeiro autor dessa nova fase a ser considerado aqui é Carlos Guilherme Mota, cujo livro Ideologia da cultura brasileira, 1933-1974 foi publicado pela primeira vez em 1977 e desde então teve mais de 8 edições. Originalmente uma tese de doutorado defendida na USP em 1975, é apresentado pelo autor como um ensaio que, em parte, é fruto de um “exercício de memória”. Recebido por Florestan Fernandes e Antonio Candido como um clássico, teve grande repercussão nos meios intelectuais em meados dos anos 70 e além. Como afirma o autor, não se trata de uma história da cultura brasileira, nem de uma história intelectual tradicional, preocupada com o arrolamento sistemático dos principais pensadores com indicação de suas respectivas influências. A proposta é apresentar uma história da consciência social no Brasil, por meio de uma “história das ideologias” feita a partir da crítica das interpretações a propósito da chamada cultura brasileira. Em outras palavras, seu objetivo é compreender os pressupostos ideológicos que fundamentam as interpretações de cunho histórico sobre a cultura brasileira. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 7 O autor considera importante conhecer as determinações sociais das formas de pensamento estudadas, não sem antes estabelecer os marcos da historiografia geral do Brasil. Tais marcos estão distribuídos em “momentos decisivos”, a exemplo do que propusera Antonio Candido para a história da literatura. E haveria cinco momentos decisivos na história da historiografia brasileira: 1) o momento do redescobrimento do Brasil entre 1933 e 1937; 2) o momento em que os primeiros frutos da universidade começaram a ser colhidos, entre 1948 e 1951; 3) o momento da ampliação e revisão reformista, entre 1957 e 1964; 4) o momento das revisão radicais, entre 1964 e 1969; e, 5), o momento dos impasses da dependência, entre 1969 e 1974. A segunda proposta a ser apresentada, produzida na mesma época, é a de Maria de Lourdes Mônaco Janotti, que, em termos simples, propõe estudar a historiografia como um sistema. 3) Maria de Lourdes Monaco Janotti e a historiografia como sistema Partindo da constatação de que a historiografia brasileira vinha sendo abordada por dois tipos de estudo – as histórias da literatura e os estudos isolados sobre historiadores –, Maria de Lourdes Monaco Janotti afirma, na introdução do livro João Francisco Lisboa: jornalista e historiador, de 1977, que tais trabalhos caracterizam-se por uma “completa assistematização processual”, dificultando uma compreensão objetiva da historiografia brasileira, que consistiria, a seu ver, em: identificar suas principais linhas evolutivas; localizar os pressupostos metodológicos que orientaram seu estágio atual; conhecer seu público em diferentes épocas, bem como os homens e pensamentos que contribuíram para sua formação, etc. (JANOTTI, Introdução – algumas reflexões a propósito da historiografia brasileira: uma hipótese para a sua análise, in João Francisco Lisboa: jornalista e historiador, 1977). A autora constatava, então, que os estudos historiográficos brasileiros necessitavam de uma metodologia que possibilitasse a compreensão de sua “evolução e significado”. Em sua opinião, “a realidade da cultura nacional exige estudos que concebam Historiografia brasileira como processo de elaboração da mentalidade de um povo”. A “validade” dos estudos de historiografia envolveria um “julgamento” da obra de história não como trabalho individual, mas como “resultado material e intelectual de Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 8 uma determinada sociedade”. Por conta disso, considera que o estudo das “condições ambientais em que viveu o historiador é tão importante quanto às citações bibliográficas contidas em sua obra. E estas bem podem ser o resultado daquelas”. A aspiração é por uma história da historiografia com problemas historiográficos. Além disso, observa-se na proposta de Janotti que a compreensão da historiografia só seria possível recusando o movimento que busca manifestações no Brasil dos movimentos culturais europeus – uma vez que tal movimento conduz à inevitável constatação da inferioridade dessas manifestações. Ao invés disso, a compreensão do significado cultural da Historiografia brasileira (tema que também ocupava as reflexões de Carlos Guilherme Mota) só poderia ser atingida, em suas palavras: “mediante seu enquadramento na evolução histórica do pensamento brasileiro, na ordem social e política que a preside e na estrutura econômica que atua sobre ela”. Desse modo, a autora recusa buscar no Brasil as réplicas caboclas dos expoentes da historiografia européia, optando por investigar o “autêntico significado” das obras de nossos historiadores. Além da referência a Benedetto Croce, que reivindicava o estudo da historiografia com problemas historiográficos, Janotti também se inspira no trabalho de João Cruz Costa, autor de, entre outros livros, O desenvolvimento da filosofia no Brasil no século XIX e a evolução histórica nacional, publicado em 1950; e Antonio Cândido, com sua Formação da literatura brasileira (1959). O primeiro fornece-lhe a idéia de que há um estilo próprio de cada meio. Estilo condicionado pelas vicissitudes históricas dos povos, capaz de determinar a “transformação dos sistemas que a inteligência constrói para explicar a vida”. O segundo fornecendo a noção de literatura como sistema de obras interligadas por denominadores comuns, tais como a língua, os temas, as imagens etc. A literatura seria um aspecto orgânico da civilização, que envolve: um conjunto de produtores literários, um conjunto de receptores e um mecanismo transmissor. Para Janotti, a historiografia poderia ser abordada com a mesma perspectiva proposta por Cândido para a história da literatura, destacando-se a perfeita sincronia observada entre o desenvolvimento social e a consciência historiográfica. Segundo a autora, a vantagem dessa interpretação da historiografia como sistema seria “libertar a matéria de uma rígida imposição cronológica”. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 9 Por fim, a última proposição a ser apresentada é a de José Roberto do Amaral Lapa, que busca romper com um suposto “pacto consensual” em torno da historiografia brasileira. 4) José Roberto do Amaral Lapa e a ruptura de um “pacto consensual” Lapa analisou a produção historiográfica nacional no livro A história em questão: historiografia brasileira contemporânea, publicado em 1976. Procurou definir a historiografia como um campo de estudos ocupado com a história crítica do processo por meio do qual se dá o “registro da realidade histórica”, incluindo aí a reflexão sobre o próprio registro. Em suas palavras, tal campo compreenderia: “o circuito que vai do historiador – como agente produtor – passando pelo processo de produção do conhecimento histórico para chegar à sua transmissão e consumo, isto é, à formação de uma memória, uma consciência e uma prática ideológica por parte dos agentes que reproduzem, promovem a circulação, assimilam e interagem nesse conhecimento” (LAPA, A história em questão, 1976, p.14-15). Segundo o autor, uma das limitações da história da historiografia brasileira, cuja “vertente-mor” era a obra de José Honório, é o “caráter repetitivo dos modelos analíticos, em relação aos perfis e às obras mais significantes, e do arrolamento dos impedimentos à maior operacionalidade do historiador”. Em outras palavras, critica o que identifica como um “pacto consensual” em torno de dois pontos: as obras mais importantes e os fatores que criaram obstáculos ao trabalho do historiador. Em seu tempo, considerava haver um movimento de ruptura dessa visão unívoca. Movimento observado num momento em que a historiografia era vista como marcadamente pobre, quantitativa e qualitativamente, havendo poucos estudos sobre a mesma. Lapa localiza 53 estudos sobre o tema, dos quais 16 foram escritos por José Honório Rodrigues. A ampliação dos estudos sobre o a história da historiografia seria indicativa de uma tomada de consciência de fundamental importância para a crítica ideológica em sua época. De acordo com o autor, era “necessário desengravidar a Historiografia brasileira de sua carga ideológica e justamente as avaliações ao nível ideológico é que poderão oferecer esse discernimento. A ideologia é aí objeto e não motor do conhecimento histórico” (LAPA, A história em questão, 1976, p. 194). Um exemplo dessa ruptura Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 10 estaria expresso no artigo de Carlos Guilherme Mota, A historiografia brasileira nos últimos quarenta anos: tentativa de avaliação crítica (1975). Para concluir, o breve esforço de apresentar quatro propostas de história da historiografia produzidos entre os anos 40 e 70 permite tecer alguns comentários que podem ser úteis para compreendermos os caminhos desse domínio de estudos entre nós, além de ajudar a responder uma questão proposta por Valdei Lopes de Araújo, acerca do que pode estar em jogo quando fazemos história da historiografia. · O primeiro comentário diz respeito a presença de José Honório Rodrigues nesse campo de estudos ao longo de ao menos três décadas, ainda que seja difícil medir sua repercussão de fato. Inegavelmente, sua obra permaneceu por longo tempo como um tipo de estudo único não apenas devido à proposta monumental de conjugar teoria, metodologia e historiografia, mas pela divulgação no meio acadêmico através de publicações de ampla circulação. · O segundo comentário refere-se à permanência, por ao menos três décadas da noção de ideologia a orientar os estudos sobre a historiografia, o que pode ser compreendido levando em conta a experiência vivida por esses intelectuais, pensadores da história, entre as décadas de 50 e 70, quando a temática do nacional retornou à cena sob novo prisma, suscitando interpretações diversas e exigindo novos instrumentos teóricos. A noção de ideologia permitia relacionar texto e contexto, frequentemente subordinando o primeiro ao segundo. Atendia à necessidade de explicitar os pressupostos que orientam as interpretação produzidas pelos intelectuais em diferentes tempos, além de promover um movimento de auto-crítica, expondo suas próprias orientações. · O terceiro comentário relaciona-se à observação da presença de Antonio Cândido como referência para pensar um novo rumo para o estudo da historiografia nos anos 70. Na década anterior, ao pensar a história da literatura como uma história social, com uma proposta de método, Cândido permitia romper com a abordagem norteada pelo materialismo histórico, que opunha estrutura e superestrura, considerando as manifestações culturais (superestruturais) como reflexos da primeira. O autor deu novas coordenadas para os estudos de história da cultura no Brasil, difundindo e sofisticando noções Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011 11 como a de geração, influência e tema, de modo a tratar a literatura como um todo “orgânico”. Afastou-se, assim, da perspectiva tradicional da história das gerações, fundada na cronologia, na sucessão direta de autores e obras. Além disso, considerou o estudo da obra num contexto histórico sem perder de vista a noção da obra literária enquanto realidade própria. · Por fim, um último e breve comentário, a emergência, nos anos 1970, dessa preocupação em desenvolver a história da historiografia parece estar relacionada, ao menos em parte, com uma transformação interna do campo dos estudos históricos no Brasil, que, ao atingirem certa progressão, despertaram maior interesse pela sua própria história, como observou Amaral Lapa em 1977. Cresceu o interesse dos estudiosos a respeito do desenvolvimento do próprio conhecimento que produzem, indicando certo esforço epistemológico. Ao menos em parte, esse esforço pode ser relacionado às mutações suscitadas pela difusão de obras como as de Thomas Kuhn e Michel Foucault, que nos anos 1960 introduziram a descontinuidade na história dos saberes, afirmando que o discurso histórico também possui historicidade e está condicionado por um lugar de produção e por um agente produtor. Cabe lembrar que, hoje, os estudos sobre a escrita da história se encontram em plena expansão, abrindo outros caminhos de reflexão, distintos daqueles que foram propostos pelos autores aqui focalizados. Os novos estudos produzidos ao longo dos anos 1980 e 1990, supostamente, não buscaram dialogar com as perspectivas de história da historiografia aqui brevemente revistas. Os novos estudos buscaram dialogar muito mais com os trabalhos produzidos por pesquisadores de outros centros, especialmente os franceses, que haviam vivido sua própria transformação, uma vez que a reflexão sobre a história da historiografia entre eles foi considerada por muito tempo como objeto de filósofos e teóricos da história. Mas, desde os anos 70, era possível constatar que passou o tempo em que era possível não estranhar a opinião de Lucien Febvre, quando afirmava que o historiador tinha razão ao fazer a história sem meditar sobre seus limites ou sobre as condições da historiografia (FEBVRE, Combates pela história, 1953).
AS INOVAÇÕES DE ANÍSIO TEIXEIRA
NA ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO ESCOLAR: OS CASOS DA BAHIA E DO RIO DE JANEIRO
João Augusto de Lima Rocha
"A escola, com efeito, compreende inversão econômica do mais alto vulto... Em suas edificações, constitui um dos mais complexos conjuntos, neles incluindo-se os elementos da residência humana, dos serviços de alimentação e saúde, dos esportes e recreação, da biblioteca e museu, do teatro e auditório, oficinas e depósitos, sem falar no que lhes é privativo, ou sejam as salas de aula e os laboratórios. A arquitetura escolar, por isso mesmo, inclui todos os gêneros de arquitetura. É a escola, em verdade, um lugar para aprender, mas aprender envolve a experiência de viver, e deste modo todas as atividades da vida, desde as do trabalho até as de recreação e, muitas vezes, as da própria casa". (Anísio Teixeira)
A compreensão de Anísio sobre a escola, enquanto espaço destinado à formação integral do indivíduo, vincula-se à concepção professada pelos seguidores do filósofo americano John Dewey, para quem educação é vida, não uma imitação da vida, não simplesmente uma preparação para a vida, mas a própria vida.
Nesse sentido o projeto e a construção escolar deveriam obedecer ao princípio da dignidade, a mesma dignidade da vida, um direito a ser assegurado a todos na democracia. Democracia que ele definia a partir da exigência de que a educação fosse garantida como o primeiro de todos os direitos, em nome da igualdade de oportunidades.
Essa concepção liberal, avançada para a época, que alguns chegavam a chamar de "comunista", deu lugar a que Anísio marcasse sua presença na renovação da educação brasileira, também inovando nos aspectos da concepção e realização de programas de construção escolar.
A rigor, Anísio já começa a inovar nesse campo desde o tempo em que fora Diretor da Instrução, de 1924 a 1929, na Bahia. Para ele era necessário inverter a compreensão de que a nomeação do professor deveria ser a questão central da escola, porque isso jogava para segundo plano o lado pedagógico, a intenção de centrar a educação no aluno. Introduz daí a questão da necessidade de que o prédio da escola seja construído, ao invés de adaptado a partir de imóveis construídos originalmente para outras finalidades.
O conhecimento que Anísio teve, no final da década de 20, da educação norte-americana - educação pública com grande participação das comunidades locais - fez dele um defensor da descentralização aliada à idéia de projetar a sede da escola como um edifício rigorosamente subordinado a um programa arquitetônico em consonância com a cultura local, mas também, com um projeto pedagógico referenciado ao momento mundial de contínuas e cada vez mais rápidas transformações.
A escola teria que ser integral, portanto, a fim de formar quadros aptos, principalmente para a movimentação da indústria crescentemente complexa, e que ao mesmo tempo fossem capazes também de interpretar toda a complexidade engendrada pela velocidade dos novos avanços.
Para Anísio o modelo norte-americano de escola, por exemplo, teria sido o principal responsável pela marcante posição conquistada pelos Estados Unidos no cenário mundial, neste século. Assim o modelo escolar norte-americano deveria ser considerado por qualquer nação que também pretendesse buscar o progresso, pensava ele.
Terminada sua gestão à frente da educação na Bahia, Anísio vai para o Rio de Janeiro, onde em 1931, substitui Fernando de Azevedo na Diretoria da Instrução do então Distrito Federal. De 1931 a 1935 ele implanta um grande programa de construção escolar no qual despontam, entre as inovações, uma que iria se desenvolvendo gradativamente com o tempo, até consagrá-lo, mais tarde, com a criação da Escola-Parque de Salvador, no início da década de 50. Porque, na verdade, a concepção da Escola-Parque da Bahia, e por extensão, de todo o Centro Popular de Educação Carneiro Ribeiro, seria conseqüência do modelo de escola platoon, trazido por ele de Detroit para ser implantado no Rio de Janeiro, onde construiu uma série de escolas desse tipo cujo projeto caberia ao arquiteto Eneas Silva.
Segundo Hélio Duarte (Escola-Classe, Escola-Parque, uma Experiência Educacional, São Paulo: FAUUSP, 1973), nessa ocasião foram implantadas no Rio de Janeiro, escolas tipoplatoon com 12, 16 e 25 salas de aula. A cada sala correspondiam 40 alunos no turno da manhã (das oito e meia às onze e meia) e o mesmo número no turno da tarde (das doze e meia às três e meia). Seriam dois "pelotões" que se revezavam, tendo cada qual, no respectivo turno oposto, atividades em salas especiais: auditório, ginásio, música, artes plásticas, literatura, biblioteca, ciência, geografia, artes manuais e recreio.
As Fotos de 01 a 06, retiradas do relatório de Atividades do Secretário de Educação do Distrito Federal (1931-1935), dão uma mostra da dignidade arquitetônica das escolas do tipoplatoon construídas durante a gestão de Anísio Teixeira, para o ensino primário. São escolas que, hoje, mesmo reformadas e deslocadas de sua primitiva utilização, estão ainda em pleno funcionamento no Rio de Janeiro.
Hélio Duarte, no seu livro já citado, faz uma avaliação positiva das escolas platoon no Rio de Janeiro: "Temia-se que uma excessiva especialização dos assuntos fosse nociva à unidade indispensável ao curso primário, que fosse demasiado fatigante para o professor e que, finalmente, houvesse muita confusão e desordem no revezamento de atividades. Nada disso aconteceu".
Forçado a afastar-se da direção da Educação do Distrito Federal em 1935, Anísio só volta a atuar na área em 1946 e, em 1947, ao assumir a Secretaria de Educação e Saúde da Bahia, põe em prática, até o final do mandato, em 1951, um ambicioso plano que se inicia com a construção de escolas para as zonas de população dispersa e prédios escolares no interiorado Estado: para a educação primária, para a educação secundária e para a formação de professores, os últimos projetados para as sedes das dez zonas estabelecidas com a finalidade de descentralizar a educação no Estado.
Elabora esses projetos com a colaboração do arquiteto Diógenes Rebouças, pondo-os em prática de forma muito original: escolhia em cada local onde uma escola deveria ser construída, uma comissão de pessoas comprovadamente idôneas, para se responsabilizar pela construção, e fazia o acompanhamento mediante o recurso da fotografia, liberando os recursos para as diversas etapas somente através do relatório fotográfico de equipes que percorriam o Estado realizando a fiscalização mais antiburocrática de que se tem notícia!
Para a zona rural, de população dispersa, planejou a construção de centenas de unidades (quase todas construídas). A unidade constava de uma sala de aula, um recreio coberto e a residência da professora (Foto 7) instalada numa área mínima de 1 hectare, para incentivar as práticas agrícolas.
Para os núcleos urbanos (de 400 até 10.000 habitantes) a proposta começa pela "escola mínima" (Foto 8), com prédio de construção modulada e extensível, que se inicia com uma só sala de aula, constituindo a célula inicial da escola primária, planejada para ser construída em todos os 3000 povoados e arraiais do Estado, dentro da campanha Um teto para cada escola.
PROJETOS DO PERÍODO DE 1931 A 1935
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO DISTR. FEDERAL (RJ)
GESTÃO ANÍSIO TEIXEIRA
Escola tipo "Platoon"
Escola tipo "Platoon"
Pavilhão Central de escola de 25 classes
Sala de Aula
Aspecto do interior
Hall da escola
A expansão imediata da escola mínima é a escola de duas salas de aula, com o prédio já bem mais acabado. Depois vem a escola "nuclear", que já pode ser considerada uma "escola primária". Tem três salas de aula, biblioteca, salas de administração, área coberta de recreio, cantina e depósitos (Fotos 9 e 10).
O "grupo escolar médio", correspondente ao quarto estágio de construção da escola primária, tem seis salas de aula, biblioteca, salas de professores e administração, auditório-ginásio, cantina e área coberta (Foto 11). Finalmente o "grupo escolar completo", última fase da construção da escola primária, com doze salas de aula, inclusive três especiais, salas de professores e de administração, biblioteca, clubes escolares, jardim de infância, ginásio, auditório-teatro e áreas cobertas de recreio (Foto 12).
Esses prédios que, como visto, podiam ser sucessivamente ampliados de uma sala de aula até um grupo escolar completo, tinham uma arquitetura de grande amplitude, podendo neles serem utilizados quaisquer materiais de construção, até mesmo adobes, funcionando as colunas como elementos de sustentação. As salas de aula tinham uma área de 66m e todo o edifício é construído com módulo de 1,25m, obtido mediante o estudo da conveniência de padronização de áreas, esquadrias, etc.
Para o ensino primário em Salvador a solução é diferente: Aí é proposta a escola de dois turnos, em um grupo integrado pelas "escolas-classe" e pela "escola-parque", com um máximo de 4.000 alunos no conjunto. Previa-se, inicialmente que 5% desses alunos seriam internos, correspondendo às crianças abandonadas, mas o único conjunto que chegou a ser construído não adotou essa proposta. Essa solução corresponde ao ponto culminante do desenvolvimento iniciado com a escola do tipo platoon à realidade do Rio de Janeiro, como antes já foi referido.
A idéia desses conjuntos era a de cobrir a totalidade da Capital, sendo a localização de cada um deles estabelecida em consonância com o planejamento urbano, através do qual se previa a expansão populacional e geográfica do município de Salvador. O critério de localização desses conjuntos em Salvador (os Centros Populares de Educação) é assunto do depoimento de Diógenes Rebouças, nesta coletânea.
O único desses conjuntos que chegou a ser concluído, demorando-se, porém, quase 20 anos para isso, foi o originalmente chamado Centro Popular de Educação Carneiro Ribeiro, (Fotos 13 a 15), no bairro da Liberdade. Composto por 4 "escolas-classe" e uma "escola-parque", essa obra deu destaque internacional a Anísio Teixeira, não só pela arquitetura e pela construção, mas pelo trabalho pedagógico lá desenvolvido, sob o patrocínio do INEP, dentro da linha de seus Centros Regionais de Pesquisa em Educação, de produzir conhecimentos a respeito de todos os complexos e interligados problemas associados à educação, em cada realidade regional específica. Um desses estudos, por sinal, que avaliou o custo-aluno no Centro Carneiro Ribeiro, revelou que seu valor era mais baixo do que o custo de um aluno de jardim infantil nas escolas particulares de Salvador, naquela época.
Ressalte-se que a questão da universalização da escola pública não se esgotava, segundo Anísio, na arquitetura e na construção escolar, mas incluía, entre tantas outras coisas, a formação dos professores, tarefa para a qual o Centro Popular de Educação teve importância fundamental, ao servir de modelo para a educação de grande parte dos educadores da Bahia, que o utilizavam como referência para sua formação e reciclagem.
No âmbito do 2º grau e da formação de professores, a ação de Anísio, tanto na Capital quanto no interior, foi também de muita importância. Na Capital ele expandiu o ensino secundário e o ensino normal, abrindo seções do tradicional Colégio da Bahia em vários bairros e incentivando os cursos já existentes de formação de professores (vide o artigo de Hildérico Pinheiro, nesta coletânea).
Projetos do Período de 1947 a 1951
Secretaria de Educação e Saúde do Estadoda Bahia
Gestão Anísio Teixeira
Escola para a Zona Rural
Escola "mínima"
Escola Nuclear
Escola Nuclear
Grupo "Escolar Médio"
Grupo "Escolar completo"
Escola Parque - Salvador-BA onde se destaca a amplitude dos espaços arborizados
Vista do pavilhão principal
exposição anual dos trabalhos realizados pelos alunos
No interior, o Estado foi dividido em dez regiões geo-educacionais, sendo prevista a implantação de um Centro Regional de Educação (CRE) na sede de cada uma delas, alguns tendo implantação iniciada ainda em sua gestão. O projeto dos CREs compreendia os seguintes prédios:
Escola de professores; escola secundária; escola primária, anexa à escola de professores; biblioteca; centro cultural, com teatro; edifício de administração; edifício de serviços gerais, com restaurante; praça de esportes e residências de diretor, professores e funcionários.
Convém observar, por fim, que Anísio continuou a exercer sua influência no campo da construção escolar, durante todo o tempo em que atuou a nível federal, de 1951 a 1964, particularmente em Brasília cujo sistema escolar foi nele inspirado, sem falar nos projetos nacionais de construção escolar, através dos quais se espalharam, por todo o país, as várias contribuições originadas de sua larga compreensão do conjunto dos problemas educacionais brasileiros. É certamente um tema para estudo cuidadoso e mais aprofundado.
http://www.bvanisioteixeira.
Padre Antonio Vieira
Por Ricardo Timm de Souza – Filósofo, POA
Não obstante toda sua intensidade e pertinácia, é evidente que o modelo corrente de pusilanimidade e servilismo intelectual não conseguiu esterilizar completamente os espíritos. Houveram certamente incontáveis exemplos de inquietude intelectual, a imensa maioria infelizmente submersa no roldão da história e ainda aguardando sua devida valorização, alguns até sua descoberta; outros, porém permanecem, ou são reencontrados contemporaneamente por uma releitura mais lúcida dos fatos históricos, como legítimos representantes de uma inteligência vigorosa que se manifesta em meios extremamente árduos e testemunha ao futuro sua grandeza. No contexto do presente estudo, e com referência à época e âmbito em foco, destacaremos uma figura dessa estirpe: o Padre Antônio Vieira com suas Cartas e
O Padre Antônio Vieira, nascido em Lisboa em 1608 e falecido em 1697, homem de “Gênio humaníssimo, urbano e cortês, o engenho quase sem igual” e que “punha-se acima dos poderes constituídos em prol de uma organização social mais justa e humana, apresenta-se como um dos mais brilhantes intelectuais lusófonos de todos os tempos.
Em uma época em que contradições, misérias e privilégios eram compreendidos tão-somente de forma ontológica, isto é, de uma forma que, ao existir, definia simultaneamente o único princípio válido de inteligibilidade das realidades em questão, Antônio Vieira ousa transcender as contingências e limitações de uma tal concepção de mundo e traduz as contradições de seu meio e sua época com espantosa lucidez. No Sermão da Quinta Dominga da Quaresma, por exemplo, Vieira simula a entrada, com sua audiência, em uma casa fidalga portuguesa, repleta de símbolos e alegorias de “fé católica cristinaíssima”, relatando, então o que vê:
Entremos e vamos examinando o que virmos parte por parte. Primeiro que tudo vejo cavalos, fieira e coches, vejo criados de diversos calibres...vejo galas, vejo jóias, vejo baixelas ,,,da janela vejo jardim e ao longe vejo quintas; enfim vejo todo o palácio e também o oratório; mas não vejo a vejo a fé. E por que não aparece a fé nesta casa? Eu o direi ao dono dela. Se os vossos cavalos comem à custa do lavrador...e as rodas e o coche que arrastam são dos pobres oficiais, que andam arrastados sem cobrar um real; como se há-de ver fé na vossa cavalariça? Se o que vestem os lacaios e os pajens...dependem das mesadas do mercador que vos assiste , e no princípio do ano lhe pagais comm esperanças e no fim com desesperações...como se há-de ver fé na vossa família? Se as galas, jóias e as baixelas, ou no Reino, ou fora dele, foram adquiridas com tanta injustiça e crueldade...como se há-de ver nessa falsa riqueza?... Se a Primavera está rindo nos jardins ...e as fontes estão nos olhos da triste viúva e órfãos ...como se há de ver a fé ...nem a sombra dela na vossa casa.?
Vieira penetra na teia simbólica e extrai a hipocrisia que a sustenta; vê além dos símbolos e da ordem das grandezas para destacar o antes e o depois; ressalta as contradições veladas por princípios e fundações ontológicas pretensamente intocáveis e atemporais ao despi-los em sua historicidade , em sua constituição através dos tempos – as galas e baixelas não somente foram adquiridas , mas o foram com injustiça e crueldade; os oratórios são ocos, porque o que quer que pretendessem representar, está velado pela realidade maior da iniquidade efetivamente exercida. Pretensos símbolos de piedade religiosa nada mais são do que indicação de violência e injustiça, porque seu valor não sobrevive sem algo anterior a eles – no caso, a caridade cristã – que o legitimasse. “O Rei está nu!”.
Como aqui, em muitas passagens pode-se observar a eloquência profética de Vieira. No caso da escravidão , denunciou com intensidade, no século XVII, uma situação que perdurou por mais duzentos anos e muitos que a justificavam até mesmo em nome de Deus e da fé... “Na construção de Vieira reforçam-se mutuamente o discurso da sensibilidade , que vê e exprime intensamente a dor do escravo , e o discurso do entendimento, capaz de acusar o caráter iníquo de uma sociedade onde homens criadas pelo mesmo Deus pai e remidos pelo mesmo Deus filho se repartem em senhores e servos. Em suma traduz a realidade enquanto radical e injustiça:
esses homens não são filhos do mesmo Adão e da mesma Eva ? Estas almas não foram resgatadas com o sangue do mesmo Cristo? Estes corpos não nascem e morrem como os nossos? Não respiram o mesmo ar? Não os cobre o mesmo céu? Não os aquenta o mesmo sol? Que estrela é logo aquela que os domina , tão triste, tão inimiga tão cruel?
Assim, imerso embora nas contradições de seu tempo, não faltou ao Padre Vieira lucidez nem coragem para dizer o que via e sentia; ele transcende a sua época, ao mostrá-la a ela própria, à posteridade que tenta entende-la e ao Brasil como um todo.
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Referências bibliográficas no original – O Brasil Filosófico , de Ricardo Timm de Souza – Ed. Perspectiva – SP – 2003 p.40-42
MORRER PELO BRASIL – VIVER PARA O BRASIL – 100 anos do Tenentismo
Geniberto Campos
“Não é sem sangue, sem sofrimento e sem sacrifício que se constrói uma grande nação”.
(Da seção de cartas de O Estado de São Paulo, julho de 1924) (1)
“A revolta é o último dos direitos a que deve recorrer um povo livre para salvaguardar os interesses coletivos, mas é também o mais imperioso dos deveres impostos aos verdadeiros cidadãos”.
(Juarez Távora) (1)
1. E assim começou o Tenentismo, um dos mais importantes e duradouros ciclos da história política contemporânea brasileira. Heroísmo, coragem, desprendimento, dedicação à Pátria. Disposição para o sacrifício. Se necessário, morrer nobremente pela causa patriótica.
Caracterizado pelo intervencionismo, o outro nome para revolta. Um recurso sempre disponível ao qual muitas vezes se recorria para salvar a Nação.
Durante pelo menos seis décadas, o tenentismo sobreviveu e mostrou, a cada momento, a sua nobre e heroica face aos brasileiros. E esta face assumia as mais diferentes características.
O ciclo tem o seu início de lutas heroicas e marcantes em 1922, com a “Revolta do Forte de Copacabana”. Que passou à história como “Os 18 do Forte”. Na qual os nomes de jovens e corajosos tenentes – são bem lembrados Siqueira Campos, Juarez Távora e Eduardo Gomes – comprovaram a sua coragem pessoal e seu heroísmo, entrando, definitivamente, para a nossa História.
Em sequência, irrompe em São Paulo, em 1924, agregando vários atores da revolta anterior, o movimento que ficou caracterizado como a “Coluna Prestes”. Por aproximadamente 3 anos a Coluna percorreu o Brasil, cobrindo quase todas as suas regiões. Numa marcha de sacrifício que terminou no estado de Mato Grosso, quando os revoltosos sobreviventes se exilaram na Bolívia. Deixando ali alguns companheiros mortos, sepultados no cemitério de “La Gaiba”, em território boliviano. (Em saudação aos mortos, tombados na Coluna, o revolucionário Moreira Lima, diante de Luis Carlos Prestes, pronuncia uma espécie de sentença que pretendia profética, definitiva: “Tiranos! Os vossos dias estão contados na terra brasileira! ” (1)
Finalmente, em 1930 os tenentes assumiram o poder, no movimento que ficou conhecido como a “Revolução de Trinta”. Na qual teve início uma tumultuada sequência de intervenções “salvacionistas”.
2.A partir daí o ciclo tenentista vai assumindo novas características históricas e políticas. Mas deixando sua marca indelével: a revoltacomo recurso necessário – legitimado pela história – para resolver situações de crise e repor a ordem. Combatendo os “Carcomidos” (os corruptos e incompetentes da época). Sempre em busca do progresso, agora com o nome de desenvolvimento.
Resumindo, os períodos especiais inseridos no século vinte, configuram dois ciclos autoritários, regidos pela influência da ideologia tenentista: o início da Era Vargas (1930/1945) e aRevolução/Golpe de 64 (1964/1985). Com o intervalo democrático de dezenove anos (1945/64), quando, mesmo com o registro de algumas turbulências, foram realizadas eleições livres e diretas, vitoriosos nas urnas os governos Eurico Gaspar Dutra, Getúlio Vargas, JK, Jânio Quadros e João Goulart. Este seguido pelo ciclo autoritário dos generais presidentes: Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel, João Figueiredo. E, finalmente, o retorno à Democracia e às normas constitucionais, vigentes desde 1985 até os dias atuais. (Eis um breve – e sumaríssimo – resumo da evolução política contemporânea brasileira).
É possível que o heroico ciclo intervencionista dos tenentes tenha chegado ao fim, após quase um século de permanência entranhado na vida política da nação brasileira. Mas caberiam, no entanto, algumas perguntas singelas: o país adentrou em definitivo na vida democrática plena, ou estariam surgindo novos heróis salvadores da pátria? Qual, enfim, o legado do Tenentismo?
Analisando o legado tenentista: neste longo ciclo dos “tenentes”, iniciado na década de 1920, o país e o mundo passaram por inúmeras transformações. E o Brasil chegou ao século 21 com várias das suas estruturas e instituições renovadas. Com inegáveis contribuições dos longos ciclos autoritários e dos relativamente curtos períodos democráticos. Estes, somados, perfazem um total de menos de cinquenta anos de governos democráticos, no período de aproximadamente um século. Livres da tutela salvacionista (e intervencionista e autoritária) dos incansáveis heróis da pátria.
Difícil ou mesmo impossível avaliar aonde poderíamos ter chegado com governos e instituições vivenciando a calma e a plenitude democráticas. Mas seria justo inserir algumas questões (irrespondíveis?) relacionadas a esse peculiar processo histórico: a quebra repetida da ordem democrática era mesmo necessária para garantir um futuro melhor para o país? O nobre sacrifício dos heróis da pátria conseguiu demonstrar, historicamente, que este sacrifício era mesmo essencial ao nosso desenvolvimento e à construção de uma sociedade civilizada?
São questões aparentemente inócuas. Mas ainda que respondidas com natural viés político – ideológico, poderiam servir, pelo menos, para orientar o nosso porvir, com ou sem Democracia.
(Talvez possa ficar, como sugestão, buscar colher respostas futuras através de escrutínios e consultas populares, em plebiscitos e/ou referendos. Para falar em nome do povo, torna-se essencial ouvi-lo).
Mirando, portanto, o futuro imaginamos que para atingir um definitivo e estável processo civilizatório seria indispensável chegar-se a um consenso, precedido de bem articulada e inteligente “concertacion”, (acordo) onde os fatos pretéritos passariam a constituir verdadeiramente o passado, perene fonte de aprendizado. Dando início à tessitura de um necessário projeto de reconciliação do país, o qual poderia ter sido iniciado há algumas décadas. Seria sonhar muito alto? Nem tanto. Mas onde os estadistas – ou, que seja, políticos e cidadãos com visão histórica e estratégica – dispostos a fazê-lo? Homens e mulheres que saberiam contar o tempo em décadas, não apenas em dias, ou minutos.
E o povo? O povo está aí. Como sempre esteve. Para ser ouvido e consultado, como de obrigação e de direito, em todas as democracias.
1. Millôr Fernandes (1923-2012), um irreverente jornalista e pensador brasileiro, dizia com o seu humor cáustico: “herói é aquele não conseguiu fugir”. (2)
Bertolt Brecht (1898- 1956), cultuado dramaturgo alemão, produziu uma das suas frases mais polêmicas e instigantes: “pobre do país que precisa de heróis”. (2)
Ao longo do tempo, o Brasil (e a América Latina) tornou-se uma espécie de laboratório de experiências políticas, onde os heróis consagrados e eventuais candidatos ao posto desfilavam seu inconformismo com a situação do país. E arrostando elevados riscos e sacrifícios, empunhavam suas armas e partiam para fazer as revoluções transformadoras, mesmo sem o apoio prévio do povo ou, vá lá, das “massas oprimidas”. Derrubando autoridades constituídas e implantando, pela força, um novo projeto de país. No claro e altruísta propósito de criar um novo regime, inventar um novo país.
Curiosamente, este método de mudanças institucionais pelo uso da força e abstraindo o voto, consultas à cidadania e abstraindo as manifestações populares, tornou-se uma espécie de loucura – ou aventura – consentida, e até admirada por muitos. Que sempre imaginaram o Brasil carente de heróis, de luta e de sangue derramado. Pois, na visão deles, não se constrói uma pátria sem tais ingredientes. Vejam-se os exemplos pelo mundo. E entre nós brasileiros, a opinião expressa por um leitor do jornal “O Estado de São Paulo” – citado na epígrafe deste artigo – no ano longínquo de 1924, que falou e disse: “ Não é sem sangue, sem sofrimento e sem sacrifício que se constrói uma grande nação”.
Seria este, em resumo, o fundamento da ideologia tenentista do século passado. E onde estão os tenentes, heroicos salvadores da pátria brasileira? Gozam do merecido repouso dos guerreiros. E deram lugar aos “novos tenentes”. Heróis sem nenhum heroísmo.
Eles agora vestem toga e expressam a sua confusa revolta atropelando a Lei e o Estado de Direito. Tudo em nome da salvação do país. Fazem as suas “marchas” pelos novos campos de batalha: os tribunais da alta e média hierarquia jurídica, correndo mínimos (ou nulos) riscos pessoais. Sem necessidade do uso de armas ou montarias. Falam o que bem entendem. (“Fazem a diferença”). Condenam sem provas em processos criminais. E as suas armas são agora de outra natureza. Mas igualmente mortais e certeiras. Não fazem jorrar sangue. Mas produzem sofrimentos e sacrifícios incalculáveis. E comprometem gravemente a Democracia. Utilizando, impunemente, às vezes de forma pusilânime, o projétil mortal da Injustiça.
Pobre do país que (ainda) precisa de heróis.
Até quando aceitaremos viver na instabilidade, na insegurança jurídica e na permanente ameaça à Democracia?
Como diz o verso da belíssima canção do Bob Dylan:
“ a resposta está soprando no vento”…
REFERÊNCIAS
1. “As Noites das Grandes Fogueiras” – uma história da Coluna Prestes – Meirelles, Domingos – Ed. Record – 2013.
2. Citações feitas de memória, pelo autor.
3. Bob Dylan – “Blowin’g in the wind” – 1963
Cavaleiro da Esperança na avenida
Segunda-feira, 19 de Novembro de 2001, 15:47 | Online
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Série reúne intelectuais para discutir o País
Antonio Candido abre amanhã Intérpretes do Brasil, da TV Cultura e Arte, debatendo as origens e as transformações do mundo caipira
http://www.estadao.com.br/
Há algo de admirável na fala de
Antonio Candido e Antonio Risério. Não é só a erudição desses
estudiosos, a segurança com que eles falam sobre assuntos
diversos. É a serenidade com que se expressam. Numa época em que
as pessoas tentam impor suas idéias no grito, esses mestres dão
uma admirável lição de civilidade na série Intérpretes do
Brasil. É uma criação do Ministério da Cultura especialmente
formatada para a TV. Vai ao ar a partir de amanhã na TV
Cultura e Arte. Os programas de 20 minutos serão exibidos,
semanalmente, às terças-feiras, às 22 horas, com reprise nas
quartas e quintas, às 18 horas e 12 horas, respectivamente.
A série de 11 programas começa amanhã com a exibição de
Os Caipiras. É conduzido pela narrativa de Antonio Candido
Mello e Souza, professor de Teoria Literária na Universidade de
São Paulo. Logo no começo, quando a imagem de Antonio Candido
bate na tela, um letreiro informa data de nascimento e sua
qualificação profissional. É só. O programa, não apenas esse,
mas a série toda, não aborda a biografia do intelectual, por
mais respeitável que ele seja, nem pretende esgotar os assuntos
em questão. "O que a série se propõe é a instigar e sugerir",
informa Isa Ferraz, idealizadora e diretora da série produzida
por Zita Carvalhosa.
Por que os intérpretes do Brasil? Não é uma série sobre
cantores, como você pode pensar, mas uma interpretação do Brasil
e de sua cultura feita por intelectuais com atuação em diversas
áreas de especialidade. Antonio Candido fala amanhã sobre o
mundo caipira. Na semana que vem, Judith Cortesão investiga a
relação entre Portugal e Brasil, colonizador e colonizado. No
dia 4, Antonio Risério fala do sebastianismo medieval que ainda
sobrevive entre os sertanejos. O programa se chama,
sugestivamente, Viva o Sertão.
Para o secretário José Álvaro Moisés, do Audiovisual, a
série de 11 programas quer levar o público "a perguntar-se quem
somos nós, os brasileiros, e que País é esse, o Brasil." Moisés
não é só secretário do Audiovisual. Também é diretor da TV
Cultura e Arte, criada com o objetivo de promover a cultura do
País. Atualmente, 68 operadoras ligadas à TVA, à NeoTV e à Net,
além de operadoras independentes, distribuem a programação. A TV
Cultura e Arte não fica permanentemente no ar. É transmitida de
segunda a sexta, das 12 horas às 14 horas, das 18 horas às 20
horas e das 22 horas à meia-noite. Aos sábados e domingos, das
12 horas às 15 horas, das 17 horas às 20 horas e das 21 horas à
meia-noite. A programação também está, à noite, na DirecTV, na
Sky e na TecSat. E, se você quiser mais informações, pode
consultar o endereço eletrônico: tvculturaearte@minc.gov.br.
Zita Carvalhosa esclarece que Intérpretres do Brasil
é conseqüência de outra série, O Povo Brasileiro, também
idealizada e dirigida por Isa Ferraz. As entrevistas com grandes
intelectuais brasileiros, para aquela série, ficaram tão boas (e
foram tão pouco usadas) que Isa e ela formataram a nova série
para aproveitar as "sobras". Nada melhor que o mergulho no mundo
caipira proposto por Antonio Candido para abrir a programação.
Ele começa com uma ressalva: emprega-se, hoje, a definição de
"caipira" para qualquer indivíduo sem traquejo social, dotado de
cultura tosca ou sem cultura nenhuma. Não é essa conotação do
caipirismo que lhe interessa. O caipira em discussão é o
habitante do mundo rural, especialmente nas áreas de São Paulo,
Minas, Goiás, Mato Grosso e parte do Paraná, com afinidades no
Rio e no Espírito Santo. Produto da miscigenação do português
com o índio e com contribuição do elemento africano, o mundo
caipira interessa a Antonio Candido por haver sobrevivido às
pressões da sociedade de consumo e também por trafegar entre o
campo e a cidade.
Antonio Candido analisa o tipo de vida do caipira, a sua
cultura, as transformações pelas quais ela passou. As imagens do
programa foram feitas em São Paulo e Minas. Ilustram os
comentários do especialista. A propósito, cabe uma observação.
No recente encontro para discutir o documentário, promovido pelo
canal GNT no Rio - o Brasil Documenta -, um dos temas em
pauta foi a presença do narrador nos documentários. Cada vez os
documentários recorrem menos a essa figura, o narrador, o
especialista. Uma exceção foi Casa Grande & Senzala, de
Nelson Pereira dos Santos, baseado na obra de Gilberto Freyre.
Outra é essa série de documentários. Ainda bem: Antonio Candido
é um grande intérprete do Brasil.
Intérpretes do Brasil. Terça, às 22 horas, com reprise
nas quartas e quintas, às 12 e às 18 horas. TV Cultura e Arte.
Intérpretes do Brasil (DVD)Vários (veja lista completa) Versátil Filmes Esgotado Avise-me quando Produto sob encomenda junto aos nossos fornecedores |
SINOPSE
DETALHES DO PRODUTO
http://livraria.folha.com.br/
A Versátil, em parceria com a SuperFilmes e a Texto & Imagem, apresenta, neste DVD duplo, Intérpretes do Brasil, de Isa Grinspum Ferraz, uma série de quinze entrevistas com grandes intelectuais brasileiros sobre a cultura, a religião e os diferentes grupos sociais de nosso país. Dos mesmos criadores do premiado O Povo Brasileiro.
DISCO I
Notas sobre o Brasil, por Darcy Ribeiro
Saberes, Manuela Carneiro da Cunha
Pé na Estrada, por Paulo Vanzolini
Portugal-Brasil, por Judith Cortesão
O Sonho Português, por Roberto Pinho
Vontade de Beleza, por Washington Novaes
Mistura e Invenção, Hermano Vianna
DISCO II
Os Vários Brasis, por Aziz Ab'Saber
Os Caipiras, por Antonio Candido
Viva o Sertão, por Antonio Risério
Leituras do Cotidiano, por Roberto Da Matta
O Candomblé do Brasil, por Mãe Stella
Presença Africana, por Carlos Serrano
Mar de Escravos, por Luiz Felipe de Alencastro
Negro de Corpo e Alma, por Emanoel Araújo
Ano de produção: 2001, 2002
ASSUNTOS RELACIONADOS
Clóvis Moura: marxismo e questão racial
http://marxismo21.org/clovis-
Nesta página, marxismo21 publica um dossiê sobre Clóvis Moura (1925-2003), escritor e ativo intelectual-militante comunista que se destacou pelos estudos sobre a questão racial e a luta e a resistência do negro no Brasil. Neste dossiê, divulgamos vários artigos e livros de Clóvis Moura e trabalhos sobre sua obra, assim como vídeos e áudios que procuram revelar suas contribuições para a história e para o pensamento social brasileiros.
Somos gratos a Érika Mesquita (IFAC) pela elaboração do texto de apresentação e a outros valiosos colaboradores que se envolveram na construção deste extenso dossiê: Augusto Buonicore, José Carlos Ruy, Mário Augusto Medeiros da Silva, Mário Maestri, Renata Gonçalves e Soraya Moura.
Editoria
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Clóvis Moura: por uma sociologia da práxis negra
Érika Mesquita
Revisitar a obra de Clóvis Moura é repensar a história social do Brasil. É com um sentimento saudoso e de enorme gratidão que inicio uma sucinta apresentação de sua obra, construída ao longo de sua trajetória, quer sobre estudos sobre o negro da qual trata esse dossiê ou como exímio poeta. Clóvis Moura, em nossas conversas, sempre ressaltava a importância de se transformar o conhecimento livresco em arma para revolução, e essa acepção perpassa sua obra na categoria de análise basilar que é a práxis negra.
Como outros intérpretes contemporâneos do Brasil, Clóvis Moura lançou mão da análise marxista, mas ao contrário de outros autores, ele buscou se aprofundar sobre um assunto repleto de subterfúgios, que era a luta dos escravos contra o cativeiro. Moura estabeleceu, através da análise dos quilombos e das numerosas insurreições escravas, uma nova interpretação da formação da sociedade brasileira.
Observou ele que a sociedade brasileira se formou através de uma contradição fundamental, senhores versus escravos, e em sendo as demais contradições decorrentes dessa, pautadas por extrema violência, aspecto central do sistema escravista. Clóvis Moura remete ao pensamento marxista quando relaciona o negro como o sujeito histórico da sua própria transformação e quando observa que as relações de produção têm como base o racismo como elemento estrutural e estruturante no Brasil. Portanto, da mesma forma que Marx entendia a classe operária como sujeito da revolução, e esta descoberta foi feita a partir da experiência com os movimentos sociais mais avançados de sua época, Clóvis coloca no negro o sujeito revolucionário e protagonista de sua auto-emancipação dentro de uma práxis histórica negra.
Dessa forma, Clóvis conclui que todos os movimentos que desejam mudança social são movimentos políticos apesar do fato dos seus agentes coletivos não terem total consciência disso. Logo, esse fenômeno se apresenta pelo nível de consciência social de cada um e as propostas subsequentes para a mudança projetada, mas todos se enquadram (com maior ou menor nível de consciência social) na proposta da transformação revolucionária (ou não) da sociedade.
Como já mencionado, a noção de práxis é a categoria-chave para pensar uma tradução do marxismo europeu para um, pode-se dizer, marxismo enegrecido. É a práxis – considerada como ação de rebeldia e resistência ao escravismo – que confere ao negro o papel de sujeito de sua própria história. Para Moura, o exemplo desse fenômeno máximo do negro como sujeito é Palmares que se colocou, simultaneamente, como uma síntese entre república e monarquia: República, pois cada quilombo que integrava Palmares tinha seu representante, e este decidia de forma autônoma, ou seja, conjuntamente com o seu povo, como solucionar problemas incidentes em seu reduto, e monarquia, porque possuíam um rei com toda distinção hierárquica-social, muitas vezes não só social como também religiosa e que em tempos de guerra exercia poderes absolutos. Era dessa formaum modelo singular de governar o povo. ler mais
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Fundo DEOPS/SP:
Livros:
A encruzilhada dos orixás: problemas e dilemas do negro brasileiro
As injustiças de Clio: o negro na historiografia brasileira
Brasil, raízes do protesto negro
Dialética racial do Brasil negro
Dicionário da escravidão negra no Brasil
Introdução ao pensamento de Euclides da Cunha
O preconceito de cor na literatura de cordel: tentativa de análise sociológica
Os quilombos e a rebelião negra
Os quilombos na dinâmica social do Brasil
Quilombos: resistência ao escravismo
Sociologia do negro brasileiro
Sociologia política da guerra camponesa de Canudos
Artigos:
Atritos entre a história, o conhecimento e o poder
Cem anos da abolição do escravismo no Brasil
Devoremos a esfinge antes que ela nos decifre
Escravismo, colonialismo, imperialismo e racismo
Estratégia do imobilismo social contra o negro no mercado de trabalho
Florestan Fernandes e o negro – uma interpretação política
Graciliano Ramos e o Partido Comunista
Lila Ripoll (co-autoria com José Carlos Ruy)
Lima Barreto e a militância literária
Nascimento, paixão e ressureição de “Casa Grande & Senzala”
O racismo como arma ideológica de dominação
O significado político da guerra de Canudos
Os quilombos e a luta de classes no Brasil
Particularidades do racismo brasileiro
População e miscigenação no Brasil
Sacco e Vanzetti – um crime que gerou protestos no Brasil
Trajetória da abolição em São Paulo: do quilombismo racial à conciliação
Resenhas:
A escravidão na ótica do escravo
A generosa luta da guerrilha do Araguaia
Prefácio:
Prefácio do livro A imprensa negra paulista (1915-1963), de Miriam Nicolau Ferrara
Entrevistas:
A história do trabalho no Brasil ainda não foi escrita (com José Carlos Ruy)
Memória – entrevista com Clóvis Moura (1981) – Revista Movimento (UNE)
Sociólogo critica “cinismo étnico” no país (com ANotícia)
Poemas:
Trabalhos sobre Clóvis Moura:
Alessandro Moura de Amorim. MNU representa Zumbi (1970-2005): cultura histórica, movimento negro e ensino de história
Ana Boff de Godoy. Os dilemas da negritude
Augusto Buonicore. O pensamento radical de Clóvis Moura
Célia Regina Tokarski, Domingos Leite Lima Filho, Ivo Pereira de Queiroz, Mariana Prohmann. O sujeito negro e a educação tecnológica: potencialidades a partir de aproximações conceituais de Clovis Moura e Andrew Feenberg
Christian Carlos Rodrigues Ribeiro. Considerações iniciais sobre a produção histórico-sociológica de Clóvis Moura
Danilo Ramos Silva. Clóvis Moura e a sua rebelião (Resenha de Rebeliões da Senzala)
Dennis de Oliveira. Uma análise marxista das relações raciais
Diego Ricardo Pacheco. Clóvis Moura e Florestan Fernandes: O protesto escravo na derrocada do sistema escravista nas obras Rebeliões da senzala e brancos e negros em São Paulo
Diorge Alceno Konrad. Clóvis Moura: 5 anos sem o “pensador quilombola”
Diorge Alceno Konrad. Na senzala a resistência, no quilombo a liberdade: a obra de Clóvis Moura
Encarte especial da Revista Princípios (textos de Augusto Buonicore, Clóvis Moura, Martiniano J. Silva, José Carlos Ruy, Soraya Moura e Edson França)
Érika Mesquita. Clóvis Moura (1925-2003)
Érika Mesquita. Clóvis Moura e a sociologia da práxis
Érika Mesquita. Clóvis Moura: uma visão crítica da história social brasileira
Fábio Nogueira de Oliveira. Clóvis Moura e a sociologia da práxis negra
Fábio Nogueira de Oliveira. Modernidade, política e práxis negra no pensamento de Clóvis Moura
GT Clóvis Moura. Quem foi Clóvis Moura?
Gustavo Orsolon de Souza. Clóvis Moura e o livro Rebeliões da Senzala: um breve panorama sobre o debate da resistência escrava
Gustavo Orsolon de Souza. “Rebeliões da senzala”: diálogos, memória e legado de um intelectual brasileiro.
João Baptista Jorge Pereira. O último legado de Clóvis Moura
José Carlos Ruy. Clóvis Moura investigava o passado histórico para melhor compreender as lutas do presente
José Carlos Ruy. Um intelectual marxista engajado e generoso
José Carlos Ruy. Um clássico sobre a luta de classes no Brasil
José Maria Vieira de Andrade. Cidadania e questões raciais na produção intelectual de Clóvis Moura, na segunda metade do século XX
José Maria Vieira de Andrade. Clovis Moura, engajamento, escrita e crítica literária
Karin Sant’Anna Kössling. As lutas anti-racistas de afro-descendentes sob vigilância do DEOPS/SP (1964-1983)
Márcio Farias. Pensamento social e relações raciais no brasil: convergências e divergências nas obras de Clóvis Moura e Octavio Ianni
Márcio Farias. Classe e raça no pensamento de Clóvis Moura
Mário Maestri. Brasil: A visão germinal de Clóvis Moura
Mário Maestri. Dez anos sem Clóvis Moura
Mário Maestri. Silêncio, Marginalização, Superação e Restauração. O Cativo Negro na Historiografia Brasileira
Talita dos Santos Molina. Clóvis Moura. Vida intelectual e arquivo pessoal (1925-2003)
Walber Monteiro. Clóvis Moura e sua visão sobre o negro na dinâmica da luta de classes no Brasil
Weber Lopes Góes e Renato Pereira Correia. Clóvis Moura: delineamentos gerais para a superação do racismo à brasileira
Vídeos:
Dialética radical do negro brasileiro – debate
O pensamento radical de Clóvis Moura – debate
Vida e obra de Clóvis Moura (parte 1)
Vida e obra de Clóvis Moura (parte 2)
Áudio:
Clóvis Moura: um pensador das raízes da opressão no Brasil (por Soraya Moura)
O Satânico Dr. Go:
Golbery e um Projeto de Desenvolvimento e Dependência para o Brasil
http://www.espacoacademico.
Resumo: Este artigo aborda aspectos da biografia e do pensamento do general Golbery do Couto e Silva (1927-1911), personagem-chave em eventos da história do País desde os anos 1950. Mostramos como sua atuação prática é coerente com seu pensamento, exposto principalmente em Planejamento estratégico, de 1955, e Geopolítica do Brasil, de 1981. Suas idéias baseiam-se, de um lado, numa concepção instrumental da liberdade (a manutenção de um nível mínimo de liberdade é importante para a ordem) e de negociações com a oposição; e, de outro, numa articulação subordinada com os Estados Unidos para levar o Brasil à condição de grande potência. Segurança e desenvolvimento, ou ordem e progresso, não por coincidência também eram o lema da ditadura militar. Entender o pensamento de Golbery é fundamental para compreender as características e conseqüências desta.
Golbery do Couto e SilvaInterlocutor respeitado por líderes como D. Paulo Arns, Júlio de Mesquita Neto e Ulysses Guimarães. Odiado pela linha-dura e radicalmente anticomunista e antidemocrático. Nacionalista e defensor da industrialização subordinada ao estrangeiro. Pensador autodidata, eclético, de estilo rocambolesco e árido, que não dispensava consultas a pais-de-santo. Em uma palavra: controvertido. Este é o perfil de Golbery do Couto e Silva, homem do poder, mas que preferia os subterrâneos aos holofotes.
Nascido em agosto de 1911, sua participação ativa na história se iniciou em 1952, quando ingressou na ESG, dando início a uma relação estreita e profícua. Em 1954 redigiu o Memorial dos Coronéis, estímulo à demissão do ministro do Trabalho, Jango, e o Manifesto dos Generais, contra o próprio presidente Vargas. Em 1955, foi um dos articuladores da “novembrada”, movimento que visava a impedir a posse do presidente eleito JK e seu vice, Jango, o que o levou à prisão.
Nomeado para o Conselho de Segurança Nacional do governo Jânio Quadros, foi surpreendido pela renúncia do presidente e movimentou-se amplamente pelo impedimento da posse do vice Jango. Foi dele a idéia de oferecer a Goulart a Presidência sob regime parlamentarista, solução de compromisso finalmente aceita. Já na reserva, passou a liderar o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), e ligou-se ao Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) e ao Movimento Anticomunista na intensa conspiração contra o governo.
Com o sucesso do golpe de 1964, foi nomeado por Castelo Branco chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), com status de ministro. Juntamente com Geisel, tinha grande influência sobre o presidente, mas caiu no ostracismo durante o predomínio da linha-dura, que chegou ao poder com Costa e Silva, e foi trabalhar na filial brasileira da multinacional Dow Chemical em 1969.
Retornou ao poder em 1974, na Chefia do Gabinete Civil de Geisel. Na condução da transição transada, cujo ritmo queria aumentar, realizou muitos contatos com membros da Igreja Católica e outras lideranças. Para ele, a “distensão política” deveria ter ocorrido ainda no momento de auge do autoproclamado “milagre brasileiro”, diminuindo as resistências da direita e agradando controladamente à esquerda.
Mesmo com as promessas de distensão, o governo Geisel foi palco de graves violações aos direitos humanos, censura e arbitrariedades. Era, em parte, obra da linha-dura, que resistia a qualquer proposta de abertura e criava artificialmente um clima de conspirações comunistas. Mas o grupo no poder não tinha muita convicção na democracia: em 1977, diante da rejeição do anteprojeto do governo, de reforma do Poder Judiciário, o Congresso foi fechado por 14 dias e baixado o célebre Pacote de Abril, mudando no meio do jogo as regras eleitorais e buscando garantir o controle do processo de auto-reforma.
Golbery aconselhava a “distribuir pauladas à esquerda e à direita”, mas também a demonstrar boa vontade para com ambos, como em 1978, quando ocorreu a revogação do AI-5, o restabelecimento do habeas-corpus para crimes políticos, a anistia aos cassados 10 anos antes. Acreditava que inimigos deveriam ser enfraquecidos e monitorados, nunca aniquilados, para não fortalecer demais um outro lado nem criar mártires. Guiou-se por essa visão ao conduzir a distensão.
Em 1979, foi reconfirmado no Gabinete Civil pelo novo presidente, João Figueiredo. Sua permanência seria curta: em 1981, divergindo da atuação em relação ao recrudescimento do terrorismo de direita, saiu do governo e ingressou na diretoria do Banco Cidade. Até sua morte, em 1987, aos 76 anos, manteve-se afastado da vida pública. Se bem que “pública” não é o melhor termo para definir sua atuação prática e sua ideologia. Estava a serviço da burguesia brasileira, devotado à busca de uma ideologia voltada a responder conservadoramente aos problemas da realidade nacional.
A quase integralidade da sua teoria baseava-se na questão primária do medo advindo da insegurança da vida humana. Preso a uma angústia existencial, não surpreende que o homem que retrava buscasse a todo custo a segurança que o mundo não lhe oferecia. Assim, explicação hobbesiana, acabou por engendrar uma entidade à qual, em troca de proteção, alienou parte de sua autonomia e de sua liberdade individuais, o Estado.
Para Golbery, nas esferas interna e externa, os intérpretes e paladinos dos interesses nacionais eram os Estados. Este seria um árbitro imparcial, capacitado a decidir com sabedoria salomônica as perigosas divergências que ocorressem no interior do grupo. Também no nível internacional, acreditava, cada um dos Estados criados pelo “raciocínio lógico e escorreito” dos homens busca atingir determinadas aspirações, por vezes contrapostas ou idênticas às de outros povos, o que os leva à luta para fazer valer seus próprios interesses.
Naquela conjuntura de guerra total – a sufocante guerra fria volta e meia se materializava –, os perigos haviam crescido exponencialmente. Falhara a busca de segurança pela criação do Estado e o responsável por isso era o liberalismo, ultrapassado e nocivo, que pregava o Estado abúlico e indefeso. Por isso, para Golbery, tendia a se repetir o escambo liberdade/segurança, agora em condições muito mais perigosas, em face do “antagonismo vital” entre comunismo e capitalismo. Nascia o superleviatã, o organismo político multinacional exigido pelo panorama de guerra total.
Note-se que Golbery buscava transferir a guerra hobbesiana de todos contra todos do âmbito individual para o do Estado – criado justamente para trazer a harmonia. Ao mesmo tempo, apontar essa origem queria transmitir a idéia de que o Estado eliminara os conflitos e diferenças sociais mais graves e representava os interesses de toda uma sociedade – em vez de classes antagônicas, o povo ou, como ele preferia, a nação. O general estava ideologicamente impedido de trabalhar com a idéia de nação dividida, elidindo as divisões sociais em função de uma visão homogeneizante. Por isso o Estado aparecia em seus escritos como um ente abstrato, a-histórico, a quem toda a sociedade serviria.
O nacionalismo também era conceito-base no seu pensamento. Muitas vezes confundida com o Estado, a nação só podia existir em segurança, integrada e em função de aspirações comuns. A segurança nacional estaria garantida quando se barrassem os antagonismos a estes objetivos nacionais. Fortemente influenciado pelo organicismo, Golbery percebia a sociedade como um organismo regido por leis análogas às da natureza, do que decorria que tudo que a fortalecesse era visto como positivo e natural, enquanto perturbações à ordem seriam patológicas. Aperfeiçoar, não transformar, tinha como corolário a radical desconsideração de qualquer forma alternativa de organização social e a abertura para tachar de inimigos internos todos os que abraçassem causas diferenciadas.
Odiava o comunismo materialista, oriental e internacionalista, que se valia traiçoeiramente do nacionalismo das massas para promover os interesses soviéticos. Ao nacionalismo da esquerda ele contrapunha o nacionalismo verdadeiro, maduro, realista e crítico, distanciado da “corruptora histeria demagógica” e cujo campo promissor era a América Latina.
Por outro lado, mesmo repudiando o liberalismo Golbery não defendia o “totalitarismo” de tipo soviético, que teria avançado para além do recomendável na condução da vida de cada indivíduo. A oposição entre liberalismo e “totalitarismo” (ou seja, o comunismo) não se dava, pois, em termos de amplitude da ação estatal, mas de método de controle social.
Para ele, rejeitar o liberalismo não significava abdicar também da essencial liberdade humana, valor inestimável para o Ocidente. No fundamental, contudo, a liberdade não podia ser anulada porque é essencial para a manutenção da ordem e do progresso. Segundo a lei dos rendimentos decrescentes, segurança, liberdade e desenvolvimento mantêm entre si relações estreitas e interdependentes. Os três têm de ser minimamente garantidos, do que depende o equilíbrio do todo e o desenvolvimento de cada um. Por isso o sistema totalitário soviético estaria fadado ao fracasso: o sacrifício da liberdade em nome da segurança, abaixo de certo nível mínimo, tornava-se contraproducente.
Ainda nos anos 50, pondo-se entre o liberalismo inativo e o totalitarismo opressor, propunha como “terceira via” a democracia participativa e o planejamento democrático, instrumentos para transformar o potencial nacional em poder efetivo. Comparava um possível processo de industrialização autônomo à história do Barão de Münchhausen, que teria alçado da areia movediça a si mesmo e ao cavalo que montava puxando-se por um fio de cabelo. A saída: industrialização pelo empuxo externo.
Reputava inevitável o recurso à poupança externa para levar adiante o processo de desenvolvimento nacional num prazo razoável e com maior probabilidade de sucesso. Sua ilusão necessária era empregar capitais externos para tornar o Brasil uma grande potência.
Entendia que o nacionalismo sadio existente em toda a América Latina abolira antigos receios quanto aos Estados Unidos, gerando ressentimentos contrários: o reclamo por ajuda. Entristecia-o opelo fato de os EUA não lerem nas imutáveis massas continentais o destino grandioso do Brasil, que deveriam ajudar a construir. Afinal, o País tinha toda uma série de trunfos, dos quais ressaltava o promontório nordestino, de valor estratégico inestimável para a defesa continental. Além do mais, a soberania brasileira seria ameaçada por ambições colonizadoras, mas pela sua importância geopolítica para o mundo comunista, que pretenderia daqui armar um ataque fulminante contra os EUA, o que mais nos aproximava deles.
O general reiterava a disposição do País de utilizar essa vantagem em prol dos interesses americanos e da defesa do ocidente contra o imperialismo comunista. Desta forma, a soberania nacional poderia ser objeto de escambo, desde que fosse uma barganha leal: por exemplo, em troca de um subimperialismo regional.
Convocava as nações centrais do mundo capitalista: subtrair os países subdesenvolvidos do âmbito de influência do comunismo insidioso seria oferecer-lhes uma alternativa à estagnação, de um lado, e ao totalitarismo, de outro. Era preciso, dizia, mostrar a vitalidade e a criatividade da democracia na resolução do drama da miséria.
Uma experiência deste tipo só poderia alcançar a devida repercussão se realizada na América Latina – e como a profundidade da intervenção deveria ser proporcional às responsabilidades e compromissos assumidos, no Brasil, representante desta América Latina e dos subdesenvolvidos. Forte, poderoso, estratégico, o País teria importância ímpar para as “imperiosas necessidades de defesa do Ocidente” e poderia se tornar locus de uma sorte de Plano Marshall latino-americano, em cujo espelho as nações subdesenvolvidas de todo o mundo pudessem se mirar e que redundasse em um aumento do desenvolvimento continental.
Não deixa de ser ingênua a pregação pelo controle político do capital e a crença no desenvolvimento subordinado como o caminho para o Brasil-potência. Mas estas foram, grosso modo, as bases sobre as quais se assentou a política econômica da ditadura, não obstante as diferenças específicas com o pensamento de Golbery. As conseqüências desta opção marcaram definitivamente a história brasileira.
Referências bibliográficas:
ASSUNCÃO, Vânia Noeli Ferreira de. O satânico Dr. Go: a ideologia bonapartista de Golbery do Couto e Silva. (1999) Dissertação (mestrado) apresentada à PUC-SP. Disponível em: < http://www.verinotio.org/
COUTO E SILVA, Golbery. Conjuntura política nacional: o poder executivo & Geopolítica do Brasil. Rio de Janeiro, José Olympio, 1981.
GASPARI, Elio. A ditadura derrotada. O Sacerdote e o Feiticeiro. São Paulo, Cia das Letras, 2003.
MELLO, Leonel I. A. “Golbery revisitado: da democracia tutelada à abertura controlada”. In: MOISÉS; ALBUQUERQUE. Dilemas da consolidação da democracia. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1989.
SCHILLING, Paulo. O expansionismo brasileiro: a geopolítica do general Golbery e a diplomacia do Itamaraty. São Paulo, Global, 1981.
http://www.espacoacademico.
O Declínio do Brasil-Nação
Esta é a ironia da história: o Brasil nasce no século XVI como província do colonialismo e ingressa no século XXI como província do globalismo. Depois de uma longa e errática história, através do mercantilismo, colonialismo e imperialismo, ingressa no globalismo como modesto subsistema da economia global. A despeito dos surtos de nacionalismo e das realizações propriamente nacionais, como ocorre principalmente na época do populismo, isto é, do projeto e realizações do capitalismo nacional, ingressa no século XXI como simples província do capitalismo global; revelando-se um caso de dependência perfeita.
Mas vamos por partes. O assunto tem grande importância prática e teórica. Vale a pena refletir criticamente sobre o que está ocorrendo no Brasil, quando se verifica um novo surto de globalização do capitalismo.
O que caracteriza a encruzilhada em que se encontra o Brasil na transição do século XX ao XXI é o abandono e o desmonte do projeto nacional , com as suas implicações político-econômicas e sócio-culturais, e a implantação de um projeto de capitalismo transnacional , com as suas implicações político-econômicas e sócio-culturais. Está em curso a transição de uma nação em província , com a transformação do aparelho estatal em aparelho administrativo de uma província do capitalismo global. Mais uma vez, verifica-se que o Estado pode transformar-se em aparelho administrativo das classes dominantes; neste caso classes dominantes em escala mundial, para as quais os governantes nacionais se revelam simples funcionários.
A encruzilhada aparece como conjuntura critica, coleção de impasses, eleição de perspectivas. Também aparece como uma conjuntura de inquietações e interrogações, antes do que perspectivas e convicções, no que se refere às condições e aos horizontes dos diferentes setores sociais. Aí, indivíduos e coletividades, classes e grupos sociais, partidos políticos e movimentos sociais, sindicatos e correntes de opinião pública, situam-se, movem-se, desesperam-se ou formulam perspectivas. É como se houvesse uma estranha coincidência: a encruzilhada em que se encontra o Brasil parece ser a mesma em que se encontram outros países, todos inseridos na crise que assinala a transição do século XX ao século XXI. Na verdade, essa é uma ruptura histórica de amplas proporções, práticas e teóricas, na qual se encontram os povos e as nações, em escala mundial; todos metidos em um novo surto de globalização do capitalismo.
É possível demonstrar que o modelo de capitalismo transnacional instalou-se por etapas. Nos anos 1964-85 a ditadura militar, consciente ou inconscientemente, destroçou lideranças e organizações políticas comprometidas com o modelo de capitalismo nacional. Nos anos 1985-94 os diversos governos adotaram medidas econômico-financeiras de cunho neoliberal. E desde 1994 o governo empenha-se totalmente na concretização das instituições e diretrizes econômico-financeiras destinadas a completar a instalação do projeto de capitalismo transnacionalizado, segundo as diretrizes teóricas, práticas e ideológicas do neoliberalismo.
Esta é a questão central, se queremos esclarecer quais são os nexos que constituem a encruzilhada na qual o Brasil se encontra na transição do século XX ao XXI: desmonta-se o projeto de capitalismo nacional e instala-se o projeto de capitalismo transnacional. Esse o significado principal da “Reforma do Estado”, compreendendo a criação do “Estado mínimo”, isto é, desregulação, privatização, abertura de mercados, favorecimento de fusões e aquisições de empresas nacionais por transnacionais. Muito simbolicamente o BNDES, que se havia criado de forma a servir à política de industrialização substitutiva de importações, nos moldes do projeto de capitalismo nacional, é reorientado de forma a favorecer a transnacionalização, ou seja, ao desmonte do projeto de capitalismo nacional. Simultaneamente, intensifica-se a privatização dos sistemas de ensino e de saúde, ao mesmo tempo em que se redefinem as relações de trabalho e as condições de funcionamento da previdência, de maneira a favorecer a transformação dessas esferas da “questão social” em espaços de aplicação lucrativa do capital privado, no qual predominam as empresas, corporações e conglomerados trans-nacionais.
Vale a pena examinar alguns aspectos práticos e teóricos do modelo de capitalismo transnacionalizado, também denominado eufemisticamente de “mercado emergente” ou de “industrialização orientada para a exportação”. Esse modelo tem sido apresentado em termos de “Reforma do Estado”, destinada a reinserir ou inserir mais amplamente o Brasil na economia globalizada.
A reforma do Estado, nos termos em que está sendo realizada, seguindo fielmente as diretrizes do Consenso de Washington, isto é, do neo-liberalismo, implica uma redefinição drástica das relações entre o Estado e a Sociedade, e não apenas com a Economia; mesmo porque ambas se constituem simultânea e reciprocamente com os seus ingredientes políticos e culturais. Este é o processo que se acha em curso: o Estado está sendo dissociado da Sociedade; suas relações estão sendo redefinidas; altera-se e rompe-se o metabolismo que se havia desenvolvido entre a Sociedade e o Estado na vigência do projeto de capitalismo nacional.
Desde que se intensificam e generalizam as implicações institucionais, econômicas, sociais, políticas e culturais da Reforma do Estado, ou seja, do desmonte do projeto de capitalismo nacional, com a crescente abertura da economia à transnacionalização, logo se acentuam processos tais como os seguintes.
Primeiro, dissociação crescente entre as linhas principais de atuação do Estado e as tendências predominantes na Sociedade, reconhecendo-se que esta pode ser vista como um complexo de classes e grupos sociais dominantes e subalternos; lembrando-se que os subalternos são a grande maioria do povo.
Cria-se, desenvolve-se e aprofunda-se uma singular dissociação entre o Estado e a Sociedade. Em outras palavras, as diretrizes econômico-financeiras, políticas e culturais prevalecentes no âmbito do Estado são cada vez mais evidentemente alheias às necessidades econômico-financeiras, políticas e culturais da maior parte da Sociedade civil. O povo, enquanto um conjunto de classes e grupos sociais subalternos, é esquecido pelos dirigentes, já que estes estão empenhados em “modernizar”, “racionalizar” ou “dinamizar” as instituições nacionais de forma a intensificar a “inserção” da “emergente” economia na dinâmica do capitalismo mundial. Os governantes, em conformidade com as diretrizes e injunções das estruturas mundiais de poder, isto é, corporações transnacionais, Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial (BIRD) e Organização Mundial do Comércio (OMC), entre outras, empenham-se em “reformar” o Estado e o conjunto das instituições nacionais, com o objetivo de acentuar a acomodação do “mercado emergente” com o mercado mundial.
Uma das conseqüências mais imediatas, evidentes e generalizadas do desenvolvimento intensivo e extensivo do capitalismo global é o crescente enfraquecimento ou mesmo evidente dissolução do tecido social . Formas de sociabilidade que pareciam estabelecidas, entram em crise, perdem vigência, tornam-se anacrônicas ou mesmo dissolvem-se. Em lugar do partido político, do sindicato, do movimento social e da corrente de opinião pública, coloca-se a mídia como um insólito, mas presente, eficaz e ubíquo “príncipe eletrônico”. Muito do que os indivíduos e as coletividades pensam, sentem, imaginam ou fazem relaciona-se direta e indiretamente com a poderosa e ubíqua indústria cultural desenvolvida em âmbito local, nacional, regional e mundial, indústria essa organizada em poderosas empresas, corporações e conglomerados eletrônicos. Em lugar do espaço público, enquanto lugar privilegiado da política, colocam-se os programas de auditório, os eventos da cultura mundial de massa, as competições, osshows , tudo isso crescentemente transnacional.
Em muitos casos, os shopping centers expressam, simbolizam e revelam-se sucedâneos de espaços públicos. Nesses casos, os indivíduos e as coletividades são induzidos a comportar-se de tal modo que o consumismo aparece como uma figuração de cidadania . São muitas as evidências de que as formas de sociabilidade que se conheciam estão sendo drástica e generalizadamente modificadas. Está em curso a expansão das formas de sociabilidade determinadas pelo mercado, o consumismo, a organização sistêmica das estruturas mundiais de poder, a dinâmica empresarial, a lógica do capital, a razão instrumental.
Segundo, a Sociedade civil transforma-se em uma nebulosa em busca de redefinição, já que os partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais, correntes de opinião pública, mídia e igrejas que articulam a Sociedade civil são desafiados a dialogar com um governo e aparelho estatal comprometidos apenas ou principalmente com matéria econômico-financeira; sem esquecer o monopólio da violência, por suas organizações policiais, militares e de informação, em geral alheias e adversas aos sentimentos e aos interesses das classes e grupos sociais subalternos. Isto significa que a Sociedade civil está desafiada a rearticular-se sob outras e novas formas, criando o recriando instituições, organizações e reivindicações em condições de expressar diferentes possibilidades de entendimento e emancipação.
É óbvio que amplos setores da Sociedade civil, precisamente os subalternos, ou seja, os que não têm acesso às estruturas “nacionais” e transnacionais de poder, esses setores são levados a um verdadeiro choque: desnorteiam-se e desagregam-se. É como se a Sociedade civil em pouco tempo se tornasse acéfala. Em lugar do metabolismo mais ou menos efetivo que se desenvolvia com o projeto nacional, agora instala-se a dissociação, ou desencontro, devido às diretrizes assumidas pelos governantes, diretrizes essas alheias ou mesmo em contraposição às inquietações e reivindicações da Sociedade civil.
Esse é o clima em que se cria uma situação particularmente problemática para os setores sociais subalternos: precisam reestruturar-se em novos moldes, desenvolver uma nova consciência das suas condições e perspectivas, recriar meios e modos de atuar politicamente; sem saber se ainda lhes restam possibilidades de construir hegemonias alternativas. Desde que o Estado se torna principalmente um aparelho administrativo das classes e grupos, ou blocos de poder, dominantes em escala mundial; desde que as instituições nacionais são reformadas em conformidade com as estruturas mundiais de poder; desde que classes e grupos sociais dominantes já não revelam quaisquer compromissos com a nação, a Sociedade civil, o povo; desde tudo isso, quais poderiam ser as condições de construção de hegemonias alternativas?
Terceiro, dadas as prioridades estabelecidas com as diretrizes neoliberais, ditadas principalmente por FMI, BIRD, OMC e as corporações transnacionais, o Estado transforma-se em um aparelho administrativo alheio à Sociedade, alheio às tendências predominantes no âmbito das classes e grupos sociais que compõem a maioria do povo. Essa é a realidade: o Estado transforma-se em mero aparelho administrativo dos blocos de poder transnacionais. Esse o contexto em que as “elites” governantes aparecem como estranhas e simplesmente administrativas, impondo-se à grande maioria do povo; uma coleção de conquistadores e colonizadores, em geral servidos por intelectuais, cientistas sociais e outros profissionais com todas as características de “brazilianistas nativos”.
Quarto, esta é uma conseqüência mais ou menos evidente: a economia brasileira transforma-se em mera província do capitalismo mundial . Todas as principais decisões que se adotam em âmbito governamental, com sérias implicações em âmbito da vida cotidiana de indivíduos e coletividades, são ditadas principalmente pelas exigências da transnacionalização. Subsistem a sociedade nacional e o Estado, a cultura e a língua, a história e as tradições, os santos e os heróis, os monumentos e as ruínas, mas modificados, deslocados, muitas vezes folclorizados ou emblemas de nostalgias. A parte principal do solo do Estado-nação transnacionaliza-se, torna-se pasto das corporações transnacionais.
Quinto, ainda, este é um fato novo e fundamental, com diversas e profundas implicações nas relações Estado e Sociedade civil: o novo ciclo de globalização do capitalismo solapa as bases econômicas e políticas da soberania e atinge inclusive as suas bases sociais e culturais. A soberania, como instituto jurídico-político nuclear do Estado-nação perde vigência, ou trans-forma-se em uma ficção da retórica política e dos ordenamentos jurídicos, mas sem condições de vigência efetiva na definição de algum projeto nacional, na formulação de diretrizes político-econômicas e sócio-culturais relativas ao nacional; no estabelecimento das condições e possibilidades de tradução das inquietações e reivindicações de setores sociais subalternos em compromissos e diretrizes de governo, das políticas que se adotam no âmbito do poder estatal. É tal a envergadura da transformação qualitativa do Estado-nação, devido às injunções do globalismo, que os governantes já não conseguem mais se apresentar como estadistas; parecem muito mais funcionários dóceis traduzindo para a língua “nativa” o que se dita no idioma das corporações transnacionais e das organizações multilaterais; sendo que alguns parecem figurações de um teatro mundial de títeres.
Diante dessa nova e profunda crise de hegemonia, com suas implicações em diferentes setores da sociedade nacional e comprometendo pela base o Estado-nação, criam-se vários problemas fundamentais, por suas implicações práticas e teóricas.
A sociedade nacional se vê impossibilitada de por em prática qualquer projeto nacional que dependa da vigência efetiva do princípio jurídico-político da soberania nacional. Ao adotar o projeto de capitalismo transnacional, desenvolve-se não só a transnacionalização mas também a alienação de centros decisórios. A despeito da vigência dos aparelhos estatais, dos partidos políticos e sindicatos, bem como da preservação de signos, símbolos e emblemas nacionais, o Estado-nação se torna uma entidade de outro tipo, sem algumas das suas bases econômicas e jurídico-políticas, o que contamina toda a sociedade, ainda que em diferentes gradações; torna-se um aparelho administrativo obrigado a acomodar as condições e exigências da transnacionalização crescente da economia, compreendendo a ampla “liberação” das forças produtivas, esquecendo as exigências de setores sociais subalternos.
Esta é uma lição importante, quando se trata de entender como se realiza a transição do projeto de capitalismo nacional para o projeto de província do capitalismo global: As “elites” dominantes, compreendendo empresariais, militares, intelectuais e do alto clero revelam-se com escasso ou nulo compromisso com a nação, o povo, a sociedade. Organizam-se e movem-se como “elites” enraizadas no poder político-econômico conferido pelos monopólios, trustes, cartéis, corporações e conglomerados transnacionais; algo que vem do imperialismo e impregna amplamente o globalismo. Em sua maioria, os membros dessas “elites”, isto é, classes e grupos sociais dominantes, ou blocos de poder, organizam-se e comportam-se como conquistadores, colonizadores, desfrutadores. Estão inclinados a associar-se com os monopólios, trustes, cartéis, corporações, conglomerados; e inclinados a considerar o país, a sociedade nacional e o povo como território de negócios, pastagem de lucro, ganhos.
Tanto é assim, que definem as fusões e as aquisições de empresas nacionais promovidas pelas transnacionais como “modernização”, “inserção no mercado mundial”, “entrada no primeiro mundo”. Esquecem o agravamento das desigualdades sociais, o desemprego estrutural, a pauperização, a lumpenização. Esquecem a evidente e acentuada dissolução do tecido social , a perda de perspectivas por parte de grandes setores do povo.Parecem utilizar a generalização da violência e do medo como técnicas de criminalização da Sociedade civil , o que ajuda a manter e fortalecer os aparelhos de repressão e de intimidação generalizada de amplos setores sociais; precisamente dos setores empenhados em construir formas alternativas de hegemonia.
Daí o difícil e problemático retorno da questão nacional , o desafio de recriar a Sociedade civil e o Estado, ou levar a Sociedade civil a “educar duramente o Estado”. Trata-se de reavaliar ampla e radicalmente as condições sob as quais se realiza a transição do modelo de capitalismo nacional para o de capitalismo transnacionalizado, reconhecendo-se que o “ciclo” de globalização do capitalismo em curso nesta época cria outras, novas e difíceis condições para a organização e dinâmica do Estado-nação, compreendendo o contraponto nacionalismo e regionalismo, no âmbito do globalismo; compreendendo alianças e ações de setores, grupos e classes subalternos em âmbito transnacional.
Em se tratando de encruzilhada, tendo-se em conta o nacional e o mundial, ou nacionalismo e globalismo, cabe reconhecer que os dilemas com os quais se defronta a sociedade brasileira são semelhantes aos que enfrentam, já enfrentaram ou irão enfrentar outros países. Sob vários aspectos, pode-se afirmar que o que está ocorrendo no Brasil é não só semelhante ao que ocorre em outros, mas exemplar; uma espécie de experimento dos dilemas que se criam com o novo ciclo de globalização do capitalismo em curso na transição do século XX ao XXI; um experimento exemplar de dependência perfeita.
Acontece que os processos e as estruturas político-econômicos mundiais, compreendendo as corporações transnacionais e o FMI, o BIRD e a OMC, entre outras organizações e estruturas de poder, com freqüência atropelam a capacidade decisória de governos e setores sociais nacionais; atropelam soberanias nacionais; criam sérios obstáculos à construção de hegemonias alternativas; satanizam movimentos sociais e correntes de opinião pública com os quais se propõem alternativas destinadas a reduzir e eliminar os efeitos perversos da globalização do capitalismo.
Diante dessa situação, realmente nova e difícil, cabe aos amplos setores sociais nacionais mais prejudicados pela globalização pelo alto reconhecer que precisam mobilizar-se também em escala global, desde baixo, compreendendo as classes e os grupos sociais, ou seja, os setores sociais subalternos. Além das reivindicações locais, nacionais e regionais, cabe reconhecer que há reivindicações que são comuns a amplos setores sociais das diferentes sociedades nacionais, da Sociedade civil mundial em formação. Nesse novo mapa da história, nesse novo palco de lutas sociais denominado “mundialização”, “transnacionalização”, “globalização”, ou mesmo “planetarização”, abrem-se espaços para um novo e difícil “internacionalismo” ou, mais propriamente, uma globalização desde baixo, na qual estão engajados indivíduos e coletividades, classes sociais e grupos sociais, partidos políticos e sindicatos, movimentos sociais e correntes de opinião pública, expressando outras e novas formas de hegemonia.
Este é o dilema: trata-se de globalizar as organizações, reivindicações e formas de lutas dos setores sociais subalternos. Diante da crescente globalização das organizações e decisões dos setores sociais dominantes, dos blocos de poder político-econômico predominantes em escala mundial, não resta aos setores subalternos senão se organizarem, desenvolvendo novas formas de inteligência do que são as relações, os processos e as estruturas que se criam com a globalização; podendo assim formular outras e novas formas de reivindicação e luta em escala mundial. Todas as reivindicações locais, nacionais e regionais, que continuam fundamentais para indivíduos e coletividades, têm sempre alguma ou muita implicação global. As fábricas, os escritórios, os meios de comunicação, os centros decisórios, tudo o que diz respeito ao globalismo está disperso em diferentes países, continentes, ilhas e arquipélagos dispersos no novo mapa do mundo; disperso, mas altamente organizado, em geral altamente organizado e centralizado em cidades globais. Sendo assim, o adequado conhecimento dos processos e das estruturas que constituem e movem o capitalismo global pode ser um primeiro momento da consciência crítica sobre o que e como fazer para bloquear e eventualmente desmontar o tipo de globalização que sataniza a maior parte da humanidade.
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[*] Sociólogo e professor emérito da Universidade de São Paulo, professor do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Autor, entre outras obras, de A idéia de Brasil moderno (Brasiliense), O labirinto latinoamericano (Vozes), Teori
Este artigo encontra-se em http://resistir.info
Em "Imagens do Estado Novo: 1937-1945", o mais recente documentário de Eduardo Escorel, vemos quase quatro horas de imagens impressionantes, e na maior parte oficiais, criadas como propaganda do regime totalitário de Getúlio Vargas.
Resumo PÁGINAS DE HISTÓRIA DO BRASIL: UM ESTUDO DOS LIVROS ESCOLARES DE MANOEL BOMFIM E OLAVO BILAC E AFRÂNIO PEIXOTO
Gisele dos Santos Oliveira Universidade do Estado do Rio de Janeiro giselefloquinho@yahoo.com.br
http://sbhe.org.br/novo/ congressos/cbhe7/pdf/07-% 20HISTORIA%20DAS% 20INSTITUICOES%20E%20PRATICAS% 20EDUCATIVAS/PAGINAS%20DE% 20HISTORIA%20DO%20BRASIL-UM% 20ESTUDO%20DOS%20LIVROS.pdf
Este trabalho analisa dois livros de História do Brasil destinado às escolas, sendo um de Manoel Bonfim e Olavo Bilac (Através do Brasil, 1910) e, outro, de Afrânio Peixoto (Minha Terra e minha Gente, 1916). Consideramos esses livros como arquivos, nos termos da proposta metodológica de Foucault que postula que arquivos são todas as sobrevivências material e simbólica constituídas pelas sociedades em determinada época que restaram como existência daquele passado, passível de serem examinadas por pesquisadores em outros presentes. O livro de Manoel Bomfim e Olavo Bilac impresso pela primeira vez em 1910 narra uma aventura vivida por personagens e a ser revivida pelos leitores. O foco de interesse nesse estudo não se incide sobre a aventura, mas a utilidade que os autores prescrevem para o livro. Entre tais prescrições, apontam críticas contundentes à prática do ensino escolar por meio de livros, deixando claro que se filiam a “certa” pedagogia moderna, que propõe encontrar-se na criança algumas peculiaridades que precisam ser desenvolvidas, respeitando o seu tempo e sua maneira de aprender. Ao criticar um dado modelo de ensino que chamam “enciclopedista”, afirmam que a enciclopédia para o aluno é o professor, pois este detém o conhecimento e o método que possibilitaria a aprendizagem infantil. O trabalho de Afrânio Peixoto tem sua primeira publicação em 1916, parecendo ter como perspectiva apresentar algumas figuras revestidas de cunho histórico e heroico na formação do Brasil. O investimento narrativo foi tomar o uso de personagens históricos como exemplo em diferentes épocas da história nacional, pouco importando o regime político em vigor. O autor deixa ver em sua escrita não ser partidário de posição nacionalista extremada, procurando articular o modelo americano de educação à prática pedagógica brasileira, se afastando da tradição francesa utilizada por Manoel Bomfim e Olavo Bilac. Considera a pedagogia americana ponto central para o desenvolvimento intelectual e prático da nação. Em Bomfim e Bilac pertencer ao Brasil passa pela experiência de conhecer o sertão e sua potencialidade, os heróis da aventura são as próprias crianças, personagens e seus leitores. Nesse sentido, ser brasileiro consiste em estar articulado aos interesses de progresso industrial e ao que deveria ser considerado nacional, como é o caso do Rio São Francisco. Em Afrânio, por sua vez, o que adquire relevo é a dimensão continental, pois a preocupação se desloca do Brasil para a América. Para ele, os povos americanos, em suas diferenças, precisavam conhecer a experiência americana, sobretudo a norte-americana, exemplo de desenvolvimento, civilização e de educação. Afinal, que história pátria ensinar? Nesse arquivo plural o que aparece são narrativas concorrentes, uma apontando para o próprio do Brasil e outra apontando para aquilo em que o Brasil poderia se tornar.
Palavras chave: Modernidade, Historiografia da Educação, Livro Didático
Introdução Este artigo faz parte da pesquisa de mestrado em História da Educação no Brasil, está sendo desenvolvido na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Seu recorte temporal se encontra entre 1896 e 1920, porem em virtude da tentativa de entender certos movimentos referentes à História da Educação Brasileira poderemos proceder a deslocamentos que possibilitem alargar esta demarcação temporal, tanto para anos anteriores quanto para períodos posteriores aos informados acima, tendo em vista que discussão acerca da produção de livros no Brasil não se encontra datada dentro do limite temporal estabelecido por esta pesquisa. Nosso foco de interesse são os livros de leitura produzidos para a educação infantil por Manoel Bomfim1 e Olavo Bilac2 (Através do Brasil, 1910) e Afrânio Peixoto3 (Minha Terra e Minha Gente, 1916). Estes materiais impressos representam para nós arquivos, segundo a proposta metodológica de Foucault, que entende arquivo como toda sobrevivência material e simbólica de tempos pretéritos, carregados de informações que nos fazem apesar da distancia entre o passado e o presente, compreender a discursos através de práticas de investigações históricas que nos permitem entender e encaminhar os interesses diversos, porem conviventes, existentes em todas as sociedades, possíveis de serem analisados em outros presentes. Aproximar-nos-emos do trabalho de Lajolo e Zilberman4 , em que tratam da produção de livros didáticos no Brasil, algo possível somente após a chegada da corte em 1808, já que até então era vetado à colônia produzir qualquer tipo de material impresso, bem como a circulação de outras obras consideradas perniciosas a segurança e controle exercidos pela metrópole portuguesa nas terras de alem mar situadas na América, fosse esses escritos provenientes de Portugal ou fora de suas fronteiras. Utilizar-nos-emos de alguns memorialistas e suas participações em disputas pela produção de livros didáticos e por seus métodos de aprendizagem de leitura e escrita comentados pelas autoras que, muito nos elucidaram sobre a temática que aqui tratamos. Lajolo e Zilberman, também discutem os aspectos econômicos presentes em sociedades capitalistas, entendendo-os como o principal foco de interesse das elites letradas em criar gráficas e matérias impressos para obter grandes lucros no mercado destinado a materiais escolares. Porém não desacreditando dessa possibilidade, preferimos pensar na existência da experiência e a insatisfação dos autores de livros com o lugar que ocuparam, enquanto alunos e, naquele momento com o lugar que ocupavam no interior da instrução pública expressa por eles de forma negativa. Lajolo e Zilberman apresentam as produções didáticas trazidas do reino como sendo colocadas em posição superior às produzidas no Brasil, bem como os seus escritores com seus métodos e certezas de que eram capazes de alfabetizar rapidamente e com sucesso as crianças do Brasil, algo que posteriormente não era verificado pelos relatórios referentes ao ensino na época. Essa nossa observação não significa que discordamos que a produção e comercio de material impresso escolar, não tenha sido um grande alvo de um mercado em expansão, formado após a autorização de estabelecimento de matérias gráficos no tempo histórico por nós recortado. Mas apontar para outros interesses que emergiam a partir da nova configuração que a modernidade didática impressa produzia no interior das relações sociais. Já que formar público leitor era também contribuir para o desenvolvimento de mercados consumidores ávidos por leitura a nova modalidade cultural nas diferentes províncias. Mas também possibilitava destaque e reconhecimento qualitativo para os intelectuais nacionais, ou seja, status social. Manoel Bomfim e Olavo Bilac, Afrânio Peixoto, bem como outros autores participaram ativamente desse ambiente da “Belle Époque” do Distrito Federal, como discute Mallmann em sua dissertação defendida em 20115 , participam, cada um a sua maneira da transformação do ambiente cultural pela via escolar na capital da República, o instrumento de transformação utilizado é a escrita de livros, o trabalho como professores, a proximidade do governo, principalmente quando ocupam cargo de Diretor da Instrução Pública e tem a possibilidade de materializar suas ideias referentes aos métodos de aprendizagem a serem utilizados pelos professores na tarefa de alfabetizar o maior número possível de crianças, um trabalho difícil agravado pelo longo período de parcos investimentos na instrução pública da época. Faremos, então, um estudo comparativo entre as diferentes preocupações dos autores dos dois livros destinado à infância escolar (Através do Brasil 1910) e (Minha terá Terra e Minha Gente 1916), e sua importância para a introdução do Brasil no campo das nações civilizadas, mesmo que esta nação ainda fosse vista com preconceito de inferioridade pelos intelectuais europeus, e muitas vezes brasileiros. Bomfim e Bilac 4 se preocupam não em contar uma História do Brasil, mas em fazer que os estud
se preocupam não em contar uma História do Brasil, mas em fazer que os estudantes através de uma estória de aventura se identifiquem como brasileiros a parir do sertão que não se destaca da cidade, mas juntos formam uma única nação. Afrânio Peixoto, também nacionalista prefere perceber o Brasil como participante da América, portanto possuidor de algumas singularidades com seus vizinhos, mesmo com os americanos do norte, pois estes funcionam como um exemplo a ser seguido. O livro de Peixoto é um livro de narrativa histórica e heroica que, diferente dos dois primeiros autores, este busca a origem histórica de um Brasil que possa ser glorioso. Manoel Bomfim e Olavo Bilac: a reedição do livro de leitura para crianças Trabalhamos neste artigo com a produção de Manoel Bomfim e Olavo Bilac que foi reeditada e, organizado pela professora Marisa Lajolo, professora titular de teoria e literatura da Unicamp, contou com o apoio do CNPq e da FAPESP junto ao projeto intitulado Memória da Leitura. Ao final do livro encontramos a descrição de como foi possibilitado a confecção da obra no século passado. Esta obra foi composta pelo estúdio O.L.M. em Agaramond, teve seus filmes gerados no bureau 34 e foi impressa pela geográfica em off-set sobre papel pólen soft da Companhia Suzano para a editora Schwarcz em abril de 2000. Este relato nos remete a dificuldade encontrada na atualidade de reproduzir um trabalho do início do século passado que precisa ser preservado em sua primeira materialidade, como documento referente a História da Educação Brasileira. Essas praticas deixam a ver uma rede de pertencimentos, de esforços e a dedicação de alguns intelectuais ao criar uma memória para o Brasil como um país de leitores, mesmo que em pequena escala e esses estiveram preocupados, em ver transformada a realidade de um povo que durante pelo menos 300 anos ficou a margem de políticas publicas de educação, e que em praticamente cem anos esteve buscando instruir com a leitura e a escrita um quantitativo maior de pessoas que se reconhecesse como alfabetizadas.
Ao final do livro temos uma bibliografia atualizada, até a época da reimpressão do trabalho de Bilac e Bomfim que pode nos levar a ver parte dos trabalhos que foram feitos sobre os autores e sua articulação ao campo educacional. O livro faz parte de uma Coleção intitulada Retratos do Brasil, sendo a décima sétima e última reimpressa até aquele presente. Fizeram parte do conselho editorial Antonio Candido, João Moreira Sales, Lilia Moritz Schuarcz e Maria Emília Bender. Na folha de rosto, no alto da página vem impresso o nome dos autores Olavo Bilac e Manoel Bomfim, ordenação dos escritores diferente da escolhida por nós, que temos sempre nos referido a Bomfim como primeiro autor, seguido por Bilac. Logo abaixo aparece em letras pequenas a destinação do trabalho “Prática da Língua Portuguesa”, em itálico em letras maiores o nome do livro Através do Brasil, logo abaixo vem escrito: narrativa. Percebemos com isso o campo disciplinar ao qual a reimpressão do livro está articulada. O que nos deixa ver que um mesmo trabalho pode ser visto e revisto por diferentes leituras servindo a diferentes campos do saber, algo que provavelmente foi impensado por seus autores à época de sua publicação. Isso, como dissemos em nosso trabalho anterior, apresentado no VI CBHE, o torna um Documento Monumento, e um indicativo da importância que lhe tem sido conferida pela atualidade, no sentido de preservação de sua Memória e de sua História dentro dos limites de uma disciplina.·. Na parte destinada a catalogação da obra encontramos descrito o projeto gráfico da capa do livro e, em tom verde esfumaçado temos a imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, óleo sobre tela de E.F. Schute, 1850, Pernambuco. Essa ilustração difere bastante da que foi utilizada na 2ª e 4ª edição, que tinha na capa ilustrado uma imagem do espaço urbano em que pessoas se encontravam6 . São oitenta e dois capítulos de aventura, compostos de três a quatro páginas; Antes temos a introdução, a cronologia de Olavo Bilac e a cronologia de Manoel Bomfim. Compondo parte da estória temos algumas páginas dedicadas a Advertência e explicação. Finalizando há o vocabulário e a bibliografia dos dois autores, totalizando quatrocentas e vinte e quatro páginas impressas somadas a estas, temos também as duas orelhas do livro que trazem alguns dados sobre a obra e a organizadora. Afrânio Peixoto: Minha Terra e Minha Gente 6 O livro traz à capa no alto o nome do autor destacados po
O livro traz à capa no alto o nome do autor destacados por dois traços sublinhados, as palavras que compõe o título do livro tem as primeiras letras em maiúsculas. Logo abaixo existe um mapa da América, tendo nomeadas as nações que fazem parte do continente americano do sul, onde ocorreram as diferentes colonizações Ibéricas, dando destaque ao mapa do Brasil que se encontra pintado, se constituído, enquanto representação da Bandeira Nacional Brasileira, à direita abaixo do Brasil simbólico está escrito “Esta é a ditosa pátria minha amada”, depois desta frase, em letras maiores, vem o nome Camões. Essa escolha deixa clara a sua filiação a origem portuguesa da pátria e a sua formação literária. Autor e livro estão ligados a Livraria Francisco Alves – Rio de Janeiro – S. Paulo – Belo Horizonte, o nome das cidades aparecem em letras menores. Existe também a identificação de outras duas livrarias: Ailaud e Bertrand, ao final a localização dessas ultimas aparecem citadas as cidades de Paris – Lisboa – 1916 (ano de publicação). Após a capa, vem a informação Typ. Aillaud, Alves &C.ª – Lisboa. Na segunda página vem novamente o nome do autor e obra, como referido anteriormente, logo após o do título do livro uma nova frase: “Eu desta Gloria só fico contente que minha terra amei e a minha gente”. Abaixo desta vem o nome – Ferreira. Antecipando o que pretende com esse trabalho Afrânio Peixoto deixa um destaque, que poderíamos chamar de introdução, mas de tão curto nos causa dúvidas: Os brasileiros oscilam, ordinariamente, entre um desenganado pessimismo e um otimismo ridículo... ...Pareceu, pois ao autor, a novidade útil, escrever para as crianças de sua terra um livro sincero, sem reservas nem veemências, no qual procurasse sobre os problemas essenciais da nossa nacionalidade dizer-lhes verdades necessárias. A educação cívica há de ser feita com o conhecimento da causa, as razões do patriotismo, buscadas nas origens e nas tradições, continuadas na história da formação nacional... O índice apresenta três capítulos: o primeiro As Origens, assim como todos os outros três capítulos se subdivide em cinco pontos, que possuem entre dez e quinze páginas impressas. O segundo capitulo: A Formação Nacional; o terceiro capitulo: Da emancipação política para a economia. O livro chega ao final com duzentas e trinta páginas impressas.··
Manoel Bomfim e Olavo Bilac, Afrânio Peixoto: estória e história para a formação de crianças leitoras na Capital da República Ao nos aproximarmos de Lajolo e Zilberman vimos responder a pergunta que muito nos intrigava a respeito da forma como foi escrito (Através do Brasil 1910), em que os autores alem de trazerem a proposta de um livro de leitura para crianças tinham também a preocupação de instruir os mestres para essa tarefa. Muitas respostas fizeram parte de nossas possibilidades, mas sempre ficava alguma lacuna. Até que ao estudar, os depoimentos escritos, produzidos por alguns escritores brasileiros no final do século XIX e princípio do século XX e reescritos pelas autoras no século passado, levou-nos a perceber semelhanças entre esses intelectuais e os três que ora trabalhamos. Arriscamos dizer que eles foram os primeiros alunos das escolas instaladas nos momentos políticos da colônia que envolve a chagada da família real portuguesa ao Brasil e posteriormente nos governos dos dois impérios. Esses autores tecem críticas ácidas a esses lugares de instrução e alguns objetos da cultura material escolar que fizeram parte de suas experiências históricas, como, a presença, sempre ameaçadora da palmatória. Também se referem da língua portuguesa às leituras difíceis de serem compreendidas em virtude de a gramática ser a mesma que era praticada em Portugal, que pouco tinha a ver com o português utilizado no Brasil. A partir disso, traçam comparações entre o prazer da leitura encontrado em algumas obras e o enfado causado pela leitura dos clássicos, entendidos pelas autoridades escolares como necessário ao bom aprender da leitura, porem estes livros eram repugnados pela maioria dos alunos. Os estudantes apesar dessas experiências negativas aprendiam a ler, e exerciam essa prática, através de livros proibidos que liam dentro dos muros da escola ou fora dela, de forma clandestina, que segundo os mesmos foram importantes para sua formação de gosto pela leitura e por aquele mundo de aventura distante dos deles. A partir desses relatos entendemos que esses alunos quando adultos foram tomados pelo desejo de reformar a escola, a leitura e os materiais didáticos envolvidos com a atividade de ensinar a aprender a ler e escrever. Vejamos o que nos trás Graciliano Ramos: Foi por esse tempo que me infligiram Camões no manuscrito. Sim senhor: Camões em medonhos caracteres borrados – e manuscritos. Aos sete
anos no interior do Nordeste, ignorante da minha língua, fui compelido a adivinhar em língua estranha, as filhas do Mondego, a linda Inês, as armas e os barões assinalados. (LAJOLO. ZILBERMAN. 1999, p. 204) 7 A presença de Camões e dos clássicos portugueses marca a aprendizagem dos escritores, que relembram ora positiva, ora negativamente a influência sofrida. Assim, as restrições que escritores portugueses inspiravam a alguns autores brasileiros em virtude de suas manobras pela conquista da gorda fatia do ralo mercado disponível para o livro didático, somam-se as carrancudas e não poucas vezes literalmente dolorosas lembranças dos primeiros contatos com as armas e os barões assinalados... Mas talvez a literatura portuguesa pagasse as contas de uma monotonia que não era dela e sim da escola brasileira do século XIX... sua maciça presença na sala de aula como que ocupa (Indevidamente?) o lugar que os primeiros historiadores de nossa literatura tinham sonhado reservar para as letras nacionais. (LAJOLO. ZILBERMAN. 1999, p. 206) Com relação à citação acima podemos dizer com certeza que os autores Bomfim e Bilac, e Peixoto têm reconhecimento positivo sobre a aprendizagem que receberam na escola, através dos estudos de formação de leitores a partir da leitura de Camões e outros Clássicos da literatura portuguesa. Bomfim deixa isso bem claro em A América Latina Males de Origem (1903): O progresso geral continua; agora, é a ciência, a filosofia, o estudo direto da natureza, e, enquanto outros povos mantêm participando do progresso científico e artístico do século, a península declina. No correr do século XVII e do XVIII, a Ibéria que havia dado ao mundo Cervantes, Camões, Murílo, Lopes de Veja, Ribera... desaparece... degenera; não se vê um só nome espanhol ou português entre os homens que fundam a cultura moderna e dominam a natureza, ou aqueles que refazem a filosofia racionalista, que iluminara as gentes na conquista da justiça e da liberdade... (BOMFIM, 2005, p. 61) E em Peixoto sua filiação aos literários portugueses fica clara nas epígrafes que introduzem seu livro, Minha terra e Minha Gente (1916), uma frase retirada de Camões “Esta é a ditosa pátria minha amada” e outra de Ferreira “Eu desta Gloria só fico
contente que minha terra amei e a minha gente”. É perceptível também em sua escrita sua filiação histórica a história como mestra da vida e o que espera que seu trabalho venha acrescentar na educação dos pequenos brasileiros: O que nos cumpre hoje é preparar, hoje, o Brasil de amanhã. Educar o brasileiro de agora para lhe dar uma consciência de si e, portanto, dar a todos uma consciência nacional. Mostrar-lhes suas origens de espírito e civilização para que as preze as saiba honrar; as suas origens mesológicas e etnográficas para que saiba conhecer e aperfeiçoar. Contar-lhe a sua história, ou a moralidade da sua história, para que do passado algum bem possa colher e aplicar, com proveito no presente e prevenção no futuro. Modelar-lhes a ênfase, desiludir-lhes as utopias, corrigirem os desdém das realidades práticas, para que não sejam discursadores vãos, poetas e escrivinhadores visionários, parasitas das classes improdutivas que vivem do orçamento e tornam difícil a vida dos que trabalham. (PEIXOTO, 1916, p. 228-229) Em Bomfim e Bilac o foco de interesse se coloca em contar uma estória de aventura que crie nas crianças o desejo da leitura, de viver cada momento, com os personagens, como se fizessem parte daquela história, aprendendo assim uma “história” do Brasil sob os passos do livro de leitura e, do auxilio do professor, pelas diretrizes que traça para o livro com certeza não era um trabalho de literatura, porque tinha objetivos bastante definidos e de acordo com a autoridade pedagógica 8 da escola e do professor: ...Quando a pedagogia recomenda que as classes primárias elementares não tenham outro livro além do de leitura, não quer dizer com isso que nesse livro único se incluam todas as noções e conhecimentos que a criança deve adquirir. (BOMFIM. BILAC. 2000, p. 44) ...Alem de servir de oportunidade para que o professor possa realizar suas lições, o livro de leitura deve conter em si mesmo uma grande lição... Estamos certos de que a criança, com a sua simples leitura, já lucrará alguma coisa: aprenderá a conhecer um pouco o Brasil; terá uma visão, a um tempo geral e concreta, da vida brasileira. (BOMFIM. BILAC. 2000, p. 46)
Com a instalação do regime republicano os intelectuais envolvidos com as propostas de instrução e de criação de material didático pensam estar diante de um grande momento histórico capaz de em curto prazo resolver a situação critica da educação no Distrito Federal e também no país como um todo. “O novo regime adota medidas educacionais auspiciosas, criando em 1890 a Secretaria de Estado dos negócios da Instrução pública”, (Lajolo. Zilberman, 1999, p. 154), porem essa medida pouco auxilia na veiculação dos projetos educacionais da intelectualidade que agia nas escolas como professores de crianças ou como professores de professores. A rede de docentes, não só no Rio de Janeiro estava insatisfeita com o mal desenvolvimento de seu trabalho. Eles acreditavam plenamente que o desenvolvimento da leitura e escrita era o “carro chefe” na atividade de ensino e aprendizagem, mas esta estaria prejudicada, pela falta de investimentos esperados, o que fazia com que se continuasse em uso as antigas cartilhas e materiais didáticos desatualizados, geralmente vindos de Portugal que aquele momento era o maior concorrente na produção e veiculação de livros destinados a escola no Brasil. O discurso nacionalista se pautou na maioria das vezes nas representações de diferenças nem sempre tão claras com relação ao uso de livros de leitura que viessem a instruir as crianças, de forma que realmente suprisse a carência da aprendizagem almejada, já que esta se fazia mais pela falta de material didático para todos do que de alguma deformidade séria quanto ao material usado. Caricatura e Educação na modernidade do Rio de Janeiro Depois de apresentar os dois livros em sua forma e discursos de seus autores para o uso adequado do material que produziam, nos cabe proceder a leitura dos aspectos nacionalistas presentes nos dois trabalhos, o primeiro, (Através do Brasil 1910) situa os limites de um programa de educação para o conhecimento do nacional, enquanto algo particular que, toca toda nação em seus vasto território. E o segundo (Minha Terra e Minha Gente 1916), se propõe alargar essa nacionalidade para as diferentes nações que compõe o Continente Americano, já iniciando tal tarefa quando apresenta na capa do livro um mapa da América Ibérica. Nenhuma menção a cidade do
Rio de Janeiro, ou a Distrito federal como lugar de produção cultural característico de sua modernidade em particular, já que buscam criar e conservar para o Brasil a sua unidade. Os Impressos produzidos são modelos de pedagogias modernas, buscam ser material de formação social e cultural da infância. Em Bomfim e Bilac, a estória da aventura se concentra no sertão e não na vivencia cotidiana das crianças no ambiente citadino. E em Peixoto se dá a construção histórica e heroica da nação Brasil partindo de uma origem e indo ao encontro do progresso econômico liberal. E neste caso tanto Bomfim e Bilac, como Peixoto parecem usar de estratégias parecidas para se protegerem dos discursos e das críticas que nascem na rua, nos becos, nos cafés da sociabilidade carioca. Qual o perigo existente no Rio de Janeiro que os levava a buscar em outras histórias as diferentes maneiras de instruir as crianças da modernidade da capital da República? Que lugar ocupava a modernidade carioca na produção do conhecimento sobre a sociedade? Esses impressos não importando muito quem eram seus autores criavam opinião e podiam entre a comunidade letrada criar verdades contrárias ao discurso de ordem buscado pelo Estado ao mesmo tempo no plano econômico concorriam ainda mais com os outros materiais colocados a venda no mercado editorial. Ao ler o trabalho de Veloso (1996), pude enriquecer o questionamento sobre a vontade instrução dos autores de livros referente ao público infantil e a formação de professores e as dificuldades para lidar com o novo alunado moderno e com os impressos caricaturistas daquela época que sempre apareciam como um incomodo. Os intelectuais da modernidade carioca estavam, em sua maioria, envolvidos com produção artísticas e literárias que criticavam a República. Seus lugares de sociabilidade eram os cafés, a rua espaço aberto em que criavam e recriavam a imagem da cidade, da ciência das autoridades de forma divertida e caricatural. Ocupavam um lugar de reconhecimento cultural marginalizado, embora suas críticas pudessem ser vistas e refletidas pela população que acompanhava a impressa da época. “É patente nesses autores a ideia de pensar a cidade e, por extensão, o próprio país através de suas ruas”. Essas se apresentam como espaço pleno de significado, gerador de formas culturais inéditas, revelando uma população que se mantinha desconhecida aos olhos da república modernizadora. O Submundo, a marginalidade, a boemia e as ruas constituem espaços expressivos para se
pensar a modernidade brasileira, notadamente a do Rio, onde a exclusão social seria vivenciada de forma mais aguda. (VELLOSO,1996, 29) Os intelectuais ligados a instrução pública, partidários da pedagogia moderna buscam exatamente a saída desse cenário desregrado para um lugar de normas, de apresentação da representação de uma sociedade civilizada. O livro escolar vem contar outra história que não está nas ruas, mais partem dos laboratórios científicos, em que criações e pensamentos construídos nos séculos XVII e XVIII, são relidos reelaborados para compor o progresso anunciado no século XIX. Nesse sentido tanto Bomfim e Bilac, como também Peixoto se aproximam da máquina governamental para por em prática seus projetos de instrução pública que só podem se tornar reais se financiados pelos governos que se sentem também incomodados com a instrução e aprendizagem que partem dessa intelectualidade de rua, lugar de desordem que precisa ser reformado. Não por acaso é no momento da reforma da cidade que os intelectuais médicos, se aproximam do campo da educação aparecem como grandes colaboradores do estado nessa tarefa de higienizar a cidade. A caricatura criada para esse momento é bastante elucidativa da guerra aberta nos discursos intelectuais. As obras públicas de remodelação e saneamento do Rio de Janeiro são acompanhadas com desconfiança, ironia e tiradas de humor. Na época, são inúmeras as caricaturas em que se criticam as medidas de higiene decretadas por Oswaldo Cruz. Ironizando o caráter autoritário da medida que determinava a vacinação obrigatória, Kalixto veste Oswaldo Cruz com roupagem absolutista de Luis XIV. Substituindo o cetro real pela vassoura e a espada pela seringa, o caricaturista põe na boca do personagem a seguinte fala “Le Tas c’est moi!” (O Malho, 19-3-1904) Era preciso que medidas de segurança fossem tomadas para reverter esse gosto pela caricatura da vida nacional, principalmente quando se trata de ridicularizar a ciência em sua vertente mais importante a época para o aquele país: a questão da higiene e do controle de doenças graves que muito vitimizavam sociedade. Parece sugestivo que os envolvidos com as questões de produção didáticas para a escola e para a infância foram homens que pertenciam as ciências médicas ou tiveram vinculo próximo com ela, como é o caso de Manoel Bomfim e Afrânio Peixoto, que eram médicos e Olavo Bilac que era filho de médico, cursou algum tempo Medicina,
desistindo desta, forma-se em Direito e investe na produção de impressos escolares, na literatura e na imprensa popular, através de atividades jornalísticas da época, atuando também na política da Instrução Pública o que certamente favoreceu a nossos autores a publicação e uso de seus livros impressos, nas escolas do Distrito Federal. Considerações Este trabalho apresentou uma pequena reflexão sobre a confecção e impressão de livros didáticos no Brasil a partir da leitura de dois trabalhos destinados a educação escolar da infância no distrito federal entre os anos de 1910 e 1916, embora nosso recorte temporal seja desde 1896 até 1920. Isso se deu porque os autores envolvidos Manoel Bomfim e Olavo Bilac, bem como Afrânio Peixoto tiveram participação no ambiente letrado vinculado a Instrução Pública no Distrito Federal dentro desse limite temporal por nós recortado. Importância deste material para a História da Educação no Brasil e em particular no Rio de Janeiro, demonstrar sua inserção no campo da produção de cultura Material escolar, tendo o livro didático como um importante arquivo dos interesses particulares e de Estado para a confecção desse material que todos nós conhecemos, durante longos anos de escolarização e que sabemos não tem sido sempre o mesmo. Para nossa formação seu destaque se dá na medida em que nos permitiu uma aproximação mais detida, ainda que apresente falhas, do que seja um livro em sua formatação diagramação e interesses envolvidos através dos discursos que carregam. Foi bastante útil perceber como dois livros, aparentemente tão distante tiveram pontos de encontro e sucesso muito próximos em virtude da complementação que um pareceu fornecer ao outro. Através de suas filiações que sem o estudo e a pesquisa não seria possível perceber. Esses investimentos nos faz muito crescer e desejar que venham as novas etapas da vida e da pesquisa e da aprendizagem objeto sempre almejado em direção do desconhecido que esses arquivos podem nos possibilitar enxergar. Algumas questões continuaram em suspenso por falta de tempo e espaço para fomentar a discussão. Não foi discutido como previsto a questão da importância da
filiação de Afrânio Peixoto a America do Norte, em particular os Estados Unidos, que pareceu fazer parte de seu texto. Isso parece a primeira vista um ponto fraco do trabalho, mas olhando com outros olhos, é possível que possamos em outro momento apresentar alguma reflexão que preencha esse vazio deixado neste artigo.
Referencias AGUIAR, Ronaldo Conde. O Rebelde Esquecido: tempo, vida e obra de Manoel Bomfim. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999. BOURDIEU, Pierre. PASSERON, Jean-Claude. A Reprodução: elementos para uma teoria do sistema do ensino. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. FOUCAULT. Michel. Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012. LAJOLO, Marisa. (org) Através do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. ____________. ZILBERMAN, Regina. Livros didáticos, escolas, leituras. In: A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1999. MALLMANN, Marcela Cockell. Manoel Bomfim: um intelectual polêmico e engajado na Belle Époque tropical (1898-1914). 2011. 130 f. Dissertação (Mestrado em Educação)-Universidade do Estado do Rio de Janeiro, São Gonçalo, 2011. VELLOSO, Monica Pimenta. Modernismo no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1996.
CRISTOVAM BUARQUE
Aqui as duas partes da entrevista de Roberto D´Ávilla com Cristovam Buarque. Tem coisas excelentes aqui, especialmente quando ele conta como nasceu o Bolsa Família ou fala da educação: "Falta capacidade de escandalizar o Brasil com a falta da educação."
Parte 1: https://www.youtube.com/
Parte 2: https://www.youtube.com/
GN Roberto D'ávila 2016-04-20 Cristovam Buarque - Parte 1
GN Roberto Davila 2016-04-20 Cristovam Buarque - Parte 1
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A realidade política brasileira
O Brasil foi constituído a partir de uma fraca noção de identidade pública e sob a batuta de interesses privados muito fortes. É um estado forte demais para conceder favores e fraco demais para estabelecer os limites entre o público e o privado.
publicado 01/06/2011 10h11, última modificação 01/06/2011 11h10
http://www.cartacapital.com.
Por Leonardo Avritzer
O Centro de Referencia do Interesse Público (CRIP) reúne um conjunto de professores da Universidade Federal de Minas Gerais das áreas de ciência política, filosofia e história que partilham um diagnóstico sobre a realidade política brasileira. Na nossa opinião, o Brasil foi constituído a partir de uma fraca noção de identidade pública e sob a batuta de interesses privados muito fortes. O nosso estado é um estado forte demais para conceder favores e fraco demais para estabelecer com clareza os limites entre o público e o privado, especialmente para os poderosos. Fenômenos como o que assistimos na semana passada, de um ministro da Casa Civil afirmar que fez aquilo que todos fazem, isso é, negociou informações e acesso privilegiado ao estado com grandes grupos econômicos, são parte do dia a dia da política brasileira. É verdade que a opinião pública se indigna com razão a cada um destes episódios, mas a verdade é que a sua raiz reside em aspectos quase estruturais da cultura brasileira. Uma incapacidade de construir uma noção forte daquilo que é público na política.
O CRIP pretende tratar acadêmica e politicamente dos fenômenos da corrupção e da organização da Justiça no Brasil. No que diz respeito à corrupção, temos aplicado anualmente, desde 2008, pesquisas de opinião sobre o problema, tentando produzir medidas de longo prazo e comparativas sobre o fenômeno, algo que inexiste hoje no país. Ao longo destas pesquisas, três resultados importantes foram revelados: o primeiro deles é que a população brasileira na sua esmagadora maioria (73%) acha a corrupção um fenômeno grave ou muito grave; o segundo é que a população não acredita que a corrupção aumentou durante os últimos anos – que ocorreu foi que ela passou a ser mais investigada, especialmente pelas operações da Polícia Federal; e em terceiro lugar, a população identifica corretamente que a instituição que mais abriga a corrupção é o Poder Legislativo, com os Legislativos municipais capitaneando o processo.
Vale a pena comentar alguns destes resultados. De fato, a população brasileira aumentou a sua atenção e a sua rejeição à questão da corrupção nos últimos anos. No entanto, têm faltado à população os meios para melhorar a qualidade do sistema político brasileiro. Estes podem vir ou através de iniciativas da sociedade civil ou através de mudanças na legislação e aprimoramentos institucionais que impliquem em melhorias no controle da corrupção. Dentre as diferentes iniciativas que são possíveis, uma se destaca devido à sua origem na sociedade civil: a proposta da lei da ficha limpa. É sabido que o Brasil tem uma das concepções mais estapafúrdias do mundo acerca da presunção da inocência pela via do assim chamado “transitado e julgado”. Até recentemente, a condenação de um político em três instâncias do Poder Judiciário não tinha absolutamente nenhuma conseqüência em relação às suas ações, ou seja, ele continuava livre e podia ser candidato. A Justiça não produzia praticamente nenhum efeito em relação às ações dos políticos, especialmente em relação àqueles que se habilitam ao foro especial. A ficha limpa veio com a intenção de modificar este estado de coisas. Ela propôs a impossibilidade de concorrer a um mandato depois de uma primeira condenação em segunda instância.
A importância desta lei não pode ser subestimada quando cruzamos com a percepção da população sobre a corrupção. A percepção da população, corretamente, é que a corrupção tem maior incidência no Poder Legislativo. Os problemas tratados pela ficha limpa restringem as candidaturas principalmente a este Poder. Esse pode ser um bom início para uma agenda que interessa aos membros do Centro do Interesse Publico e que estaremos discutindo neste Fórum que é: quais modificações podem fazer com o sistema político brasileiro se torne menos corrupto? Sabemos que algumas mudanças podem ajudar como é o caso da mudança nas regras de financiamento de campanha. Mas não temos ilusões. É preciso mudar a maneira como o Judiciário brasileiro funciona para que a corrupção no país diminua. Esse é o segundo tema que pretendemos tratar neste fórum.
A questão do papel do Judiciário na sociedade brasileira é bastante complexa. Até 1988, era o mais fraco dos três Poderes e o que menos se afirmava frente ao Executivo. Depois de 1988, o judiciário recuperou fortemente suas prerrogativas, ao mesmo tempo que o Congresso Nacional continuou a perder as suas. Hoje há um forte processo de judicialização no país firmemente calcado no artigo 102 da Constituição e sua regulamentação posterior, que ampliou fortemente os atores que podem arguir a inconstitucionalidade, incluindo desde a OAB, aos partidos e associações de classe. Assim, ocorreu um forte aumentou do conjunto de questões que chegam ao STF para o exercício do controle concentrado de constitucionalidade. Ao mesmo tempo, a Constituição não alterou fortemente a estrutura de privilégios e recursos que, como sabemos, entrava o Judiciário brasileiro. Pelo contrário, o uso recorrente do Judiciário por certo atores, especialmente pelo próprio Estado e grandes atores econômicos torna a Justiça brasileira muito lenta e permite a impunidade, que é hoje uma das grandes preocupações da sociedade brasileira. Sabemos que em janeiro de 2011 o estoque de ações no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo alcançava a marca de 18 milhões de processos, entre os quais 10 milhões ligados à execuções fiscais municipais, uma grande parte delas de baixo valor. A incapacidade do Poder Judiciário de responder aos reclamos da sociedade contra a impunidade, em particular, contra a impunidade daqueles que cometem crimes contra o erário público, é hoje uma das maiores ameaças à legitimidade das instituições políticas no país.
Vale a pena analisar algumas iniciativas que podem ter um impacto positivo, tanto no combate à corrupção quanto na impunidade geral que graça em relação aos membros do sistema político. Trata-se da lei da ficha limpa e da assim chamada “emenda Peluso”. Em ambos os casos, trata-se de revisar fortemente a ideia do transitado em julgado brasileiro de maneira que condenações de segunda instância tenham de fato efeito e penas comecem a ser cumpridas. No caso da ficha limpa, vale a pena perceber que ela expressa uma tentativa da sociedade civil brasileira, através do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral de intervir no processo político de modo. Neste caso, trata-se não apenas de romper com uma tradição de impunidade que, no caso do sistema político é mais ampla, devido à lentidão adicional causada pelos forus especiais, como também de qualificar uma dimensão mais republicana do Estado. O critério para alguém ser candidato e servir ao poder público deve estar além da simples dúvida processual a qual cabe um recurso. Há no “ser candidato” ou no “ser membro do sistema político” uma dimensão de responsabilidade com o dever público que a lei precisa contemplar. No caso da emenda Peluso, a questão mais importante é fazer com que um padrão mínimo de igualdade penetre no funcionamento do sistema de justiça no Brasil impedindo que aqueles que têm acesso a bons advogados possam se manter indefinidamente em liberdade, independente da culpa. O caso Pimenta Neves, finalmente resolvido recentemente, é o melhor exemplo da utilização do sistema de Justiça com o objetivo da impunidade.
O membros do CRIP, Centro de Referência do Interesse Público, irão no fórum, que ora instalamos em parceria com a Carta Capital, tratar destas questões a partir de perspectivas plurais, envolvendo a ciência política, a filosofia, a história e os estudos sobre cultura. A cada semana um dos membros do CRIP e ou parceiros que têm trabalhado conosco nas nossas principais publicações – Reforma Política no Brasil e Corrupção: Ensaios e Crítica – irão ocupar o fórum para tratar de um destes problemas levantados acima na perspectiva do Interesse Público. Acreditamos que o fórum constitui um excelente momento para o estabelecimento desta parceria que pretende aprofundar temas que frequentemente são abordados pela imprensa, mas não são aprofundados. Estes artigos terão como objetivo aprofundar o debate público sobre os temas do controle da corrupção e do acesso ao Judiciário. Sendo assim eles pretendem reforçar uma tradição de jornalismo independente e bem informado que tem sido a marca da revista “Carta Capital”.
Editora Unesp
"Emília Viotti da Costa foi uma pioneira na compreensão da história colonial brasileira, principalmente na compreensão da república e do pensamento autoritário do Brasil." Confira a homenagem de Marilena Chaui à historiadora.
http://ow.ly/9RvQ300qvhI
Marilena Chaui presta homenagem à Emília Viotti da Costa
Mário de Andrade visita Adorno
Por Henry Burnett
Dossiê CULTURA BRASILEIRA
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Convergências e divergências entre o poeta e o filósofo a respeito da indústria cultural e da música popular
O titulo desse texto joga com um dado pouco mencionado quando estudamos a música popular brasileira sob o foco da filosofia da música de Theodor Adorno: a posição contemporânea ocupada por ele e Mário de Andrade.
Causa estranhamento que ainda não se tenha escrito um estudo de fôlego sobre eles, já que refletiram sobre música a partir de uma mesma preocupação, mais exposta em Adorno e um pouco mais nuançada em Mário: a hegemonia do capitalismo. Basta pensar que suas análises musicais partem justamente da música popular veiculada através dos discos e das rádios comerciais1. A despeito dessa proximidade inequívoca, eles permanecem isolados e desconectados. Embora existam muitos pontos de contato, gostaria de tomar apenas um em especial aqui, e ainda assim apenas como o resumo de um estudo mais aprofundado que está em curso: o olhar que ambos lançaram sobre a música popular.
Para que se possa pensar sobre os caminhos atuais da música popular no Brasil, os ensaios de Adorno ainda permanecem incontornáveis e fundamentais, ainda que, de um certo ponto de vista, se possa considerá-los limitados para dar conta do sentido mais profundo que a canção popular atingiu no seio da cultura nacional – o estilo adquiriu entre nós um nível lítero-musical jamais presenciado ou imaginado pelo alemão. Mas Adorno dedicou especial atenção à música em muitos de seus textos, livros e conferências, pois sempre acreditou que ela deveria ser discutida dentro dos círculos da filosofia e da sociologia acadêmica; por isso ele nos é imprescindível.
Mário de Andrade, por sua vez, desenvolveu importantes análises a respeito da música brasileira num momento paralelo à própria formação de uma musicalidade nacional. Suas análises, ainda hoje, são de extrema importância para quem se debruça sobre a história e a teoria da arte musical popular e erudita, ainda que sua visão a respeito da então nascente música comercial possa ser criticada em muitos pontos, como pelo nacionalismo por vezes exacerbado com que lidou com os domínios do folclore, imaginando ser possível quase domesticá-lo para fazer dele a fonte das criações eruditas. Ao aproximá-los, tentaremos mostrar que, de modos diversos, ambos estiveram preocupados com os destinos da música popular, ainda que tenham chegado a lugares completamente diferentes.
A música popular para Adorno
Quando Adorno escreve o prefácio ao livro Filosofia da nova música, de 1948, ele mesmo destaca o ensaio “O Fetichismo na música e a regressão da audição”, de 1938, como um momento determinante de seus estudos sobre a música2. Sua intenção no texto de 38 era apontar as modificações que a percepção musical sofria no interior da indústria cultural, alterações que teriam atingido não só o gosto como a própria faculdade de audição dos ouvintes modernos.
Esse texto, junto com outro do mesmo período, “Sobre música popular” (escrito com a colaboração de George Simpson, com quem Adorno trabalhou no The Princeton Radio Research Project, uma pesquisa sobre os fenômenos musicais das emissões radiofônicas nos Estados Unidos, na qual tomou parte convidado pelo pesquisador Paul Lazarsfeld3) serve de base para este comentário.
Sempre que Adorno escreve mais diretamente sobre música e indústria cultural, faz questão de marcar uma diferença entre a música popular e a chamada música clássica, que ele chama de “séria” (“serious music”). Tal posição, não significa uma parcialidade sua em proveito de uma música erudita que seria hierarquicamente superior à popular, antes parece ter sido gerada pela uniformização dos estilos veiculados nas rádios comerciais, que ele conhecia desde antes do exílio, ainda na Alemanha. E mais do que isso: o conceito de popular utilizado por Adorno, parece vinculado de forma muito estreita ao funcionamento e à especificidade do mercado norte-americano.
A bem da verdade, o que Adorno chama de popular não tem um correspondente similar no Brasil, como afirma Rodrigo Duarte: “Registra-se aqui uma confusão, que não é normalmente feita por Adorno nos textos em alemão, entre ‘música de massa’ e ‘música popular’. Para um norte-americano parece quase impossível fazer essa distinção, já que a autocompreensão dos EUA como uma cultura própria, independente da européia, se dá às vésperas da consolidação dos monopólios culturais. No Brasil, ainda podemos, felizmente, diferenciar -pelo menos em termos parciais- a cultura popular mais enraizada, daquela totalmente fabricada para o consumo, ainda que tenha raízes supostamente populares”4.
A representação mais clara desse processo de decadência da música popular para Adorno era o jazz. Num pequeno texto chamado “A indústria cultural” ele tenciona um pouco mais essa distinção: “A indústria cultural é a integração deliberada, a partir do alto, de seus consumidores. Ela força a união dos domínios, separados há milênios, da arte superior e da arte inferior. Com prejuízo para ambos. A arte superior se vê frustrada de sua seriedade pela especulação sobre o efeito; a inferior perde, através de sua domesticação civilizadora, o elemento de natureza resistente e rude, que lhe era inerente enquanto o controle social não era total”5.
Esses primeiros movimentos servem para indicar alguns pontos de contato entre a abordagem de Adorno do contexto norte-americano e a ligação disso com a canção popular do Brasil. O que aproxima, às vezes estreitamente, a perspectiva de Adorno da nossa é a abrangência global e, quase sempre, atual de suas observações. Vejamos: “Se perguntarmos a alguém se ‘gosta’ de uma música de sucesso lançada no mercado, não conseguiremos furtar-nos à suspeita de que o gostar e o não gostar já não correspondem ao estado real, ainda que a pessoa interrogada se exprima em termos de gostar e não gostar. Ao invés do valor da própria coisa, o critério de julgamento é o fato de a canção de sucesso ser conhecida de todos; gostar de um disco de sucesso é quase exatamente o mesmo que reconhecê-lo”6.
No artigo já citado de Iray Carone, encontramos o seguinte: “O negócio da música envolvia, como uma complexa indústria, os editores dos ‘sheets’ ou partituras com arranjos instrumentais e letras do sistema Tin Pan Alley, os donos de orquestras e arranjadores, as gravadoras de discos, os cantores famosos e suas editoras privadas, os ‘pluggers’ (promotores comerciais de músicas), os ‘disc jockeys’ e a prática da ‘payola’ (suborno usado pelas gravadoras para a divulgação intensiva de músicas na programação radiofônica) das emissoras, os interesses da máquina de produção de filmes sonoros de Hollywood etc.”7.
O cenário norte-americano que Adorno tinha diante de si não parece servir como parâmetro para um entendimento adequado do que se passou por aqui na mesma época. O resultado dos processos culturais específicos do Brasil não pode se posto à luz das análises de Adorno desconsiderando questões pontuais; uma entre tantas delas, o fato de que aqui não se produz música séria na mesma proporção que a popular por carências musicais, mas que o cancioneiro popular é hegemônico por conta de um imperativo histórico.
O que está aqui, digamos, para além de Adorno, é o papel diferenciado que as canções populares ocupam no Brasil, seu poder de emancipação, enquanto agente político que foi em momentos chave da história recente do Brasil, já distanciam nosso cenário daquele vislumbrado por ele. Mas isso Adorno não podia saber.
Quando ele reflete sobre o jazz, parece vê-lo apenas como fruto daquele processo de padronização, o que parece restritivo, mesmo que pensemos apenas no contexto americano. Ele não atribui, ou não pôde atribuir, quase nenhuma importância ao cancioneiro popular e nem ao jazz produzidos na América. Em alguns momentos, é muito difícil dialogar com Adorno nesse quesito, como diante de uma afirmação dessa natureza: “Seria igualmente cômodo ocultar a separação e a ruptura entre as duas esferas e supor uma continuidade, que permitiria à formação progressiva passar sem perigo do jazz e das canções de sucesso aos genuínos valores da cultura”8.
Creio que nós, que invocamos Adorno buscando nele um antídoto contra a opressão atual exercida pela indústria sobre o cancioneiro popular do Brasil, nos sentimos órfãos.
Mario de Andrade e um projeto de Brasil
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De sopetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei lá no norte, meu Deus!
/muito longe de mim,
Na escuridão ativa da noite que caiu,
Um homem pálido, magro de cabelo escorrendo nos olhos
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu...
(Mário de Andrade, “Descobrimento”, de “Dois Poemas Acreanos”)
O poema, de certa forma, mostra que Mário caminhou na contramão de Adorno quando estudou e tentou caracterizar a música popular em geral. Ele já sugere no poema que o Brasil é muito maior que a cidade de São Paulo -e, portanto, maior que o louvor da sofisticação trazida com o capital e os ideais de progresso sem freios- e que o essencial para qualquer projeto de país, já naquele momento, passava pelo entendimento de nosso não-lugar, isto é, de nossa condição multicultural: “Cabe lembrar mais uma vez aquilo do que é feita a música brasileira. Embora chegada no povo a uma expressão original e étnica, ela provêm de fontes estranhas: a ameríndia em porcentagem pequena; a africana em porcentagem bem maior; a portuguesa em porcentagem vasta (...). Além dessas influências já digeridas temos que contar as atuais. Principalmente as americanas do jazz e do tango argentino. Os processos do jazz estão se infiltrando no maxixe. Em recorte infelizmente não sei de que jornal guardo um ‘samba macumbeiro, Aruê de Changô’ de João da Gente que é documento curioso por isso. E tanto mais curioso que os processos polifônicos e rítmicos de jazz que estão nele não prejudicam em nada o caráter da peça. É uma maxixe legítimo. De certo os antepassados coincidem...”9.
Como se vê, desde muito cedo, Mário não estava alheio aos fenômenos de massa e compreendia com lucidez onde e como esses fenômenos agiam sobre a música popular do Brasil. Suas observações, fruto de grande erudição e das viagens que ele empreendeu e organizou país afora, mostram que, desde as origens, nossa música foi alimentada por uma teia de influências de grande complexidade. Essa aproximação da canção popular com o jazz, por exemplo, muitas décadas antes que se desse o mesmo vínculo através da bossa nova, mostra que já havia uma tendência comercial na produção popular, mas que essa ligação entre entretenimento e boa música ainda não era uma relação excludente.
Com isso, se quer confirmar, com Adorno, que o modo de produção capitalista foi avassalador, mas que, contra ele, a arte musical no Brasil não foi abatida como, eventualmente, se deu nos EUA, se acatamos sua análise sem restrições críticas. Mas como é quase consensual, a despeito das diferenças entre o jazz e os ritmos brasileiros na primeira metade do século XX, Adorno não parece ter enxergado devidamente a importância e o significado histórico do gênero nos EUA.
A resistência de Adorno ao jazz pode ser interpretada de várias formas. Em 2003 foi publicado o livro de Christian Bèthume, “Adorno et le jazz - analyse d’um dèni esthétique”. Na resenha do livro, Iray Carone fornece uma hipótese interessante: “Adorno começou a escrever sobre o jazz na Alemanha, onde conheceu o ‘jazz craze’ da República de Weimar: uma verdadeira onda de jazz de segunda mão, uma música de dança, porque os alemães não tinham condições econômicas para lá trazer os seus criadores norte-americanos e tampouco importar os seus discos. Por causa dessa particularidade histórica, o que circulava na Alemanha sob a etiqueta ‘jazz’ era apenas um sucedâneo redutor, uma música de salão, feita de cadências militares e reminiscências folclóricas”10.
1 - De Mário de Andrade, um bom exemplo pode ser encontrado na edição de sua discografia comentada: Toni, Flávia Camargo (Org.). “A Música Popular Brasileira na Vitrola de Mário de Andrade”. São Paulo: Sesc São Paulo/ Senac São Paulo, 2004. De Adorno, podemos citar, por exemplo, sua pesquisa no “The Princeton Radio Research Project”, que comentarei mais adiante.
2 - Adorno, Theodor. "Philosophie der neuen Musik”. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2003, pág. 9.
3 - Sobre o envolvimento de Adorno nesse projeto de pesquisa sobre o rádio nos EUA, ver o artigo de Iray Carone. “Adorno e a música no ar: the princeton radio research project”. Em: “Tecnologia, Cultura e Formação... Ainda Auschwitz”. São Paulo: Cortez Editora, 2003.
4 - Rodrigo Duarte. “Teoria Crítica da Indústria Cultural”. Belo Horizonte: UFMG, 2003, p. 192.
5 - Adorno, Theodor. “A Indústria Cultural”. Em: “Adorno”. São Paulo: Ed. Ática, 1986, págs. 92-3.
6 - Adorno, Theodor. “O Fetichismo na Música e a Regressão da Audição”. Em: “Benjamin, Habermas, Horkheimer, Adorno”. São Paulo: Abril Cultural, pág. 165.
7 - Carone, Iray. “Adorno e a Música no Ar: The Princeton Radio Research Project”. In: “Tecnologia, Cultura e Formação... Ainda Auschwitz”. São Paulo: Cortez Editora, 2003, págs. 82-3.
8 - “O Fetichismo na Música e a Regressão da Audição”, pág. 169.
9 - Andrade, Mário de. “Ensaio Sobre a Música Brasileira”. São Paulo: Ed. Martins, 1962, pág. 25.
10 - Iray Carone. “A obsessão pelo jazz”. São Paulo: caderno “Mais”, “Folha de S. Paulo”, 2003.
MPB E FILOSOFIA
Hugo Allan Matos[1]
Neste último semestre concentrei minha reflexão além de meu tcc[2] em temas que versam sobre filosofia brasileira.Sobretudo, no assunto: há filosofia e filósofos brasileiros? Agora, inspirado nas aulas e reflexões geradas na disciplina de mesmo nome, tendo como objetivo comentar os 4 textos indicados em uma aula intitulada como:conversas com filósofos brasileiros, tentarei compartilhar um pouco do resultado desta reflexão “semestral”.
Antes de abordar o tema filosofia brasileira, penso ser primordial dizer o que penso ser a filosofia. Filosofia, ao meu ver[3] é uma forma de vida, de existência, que têm por meio o conhecimento (teórico-práxico) e fim a prática cotidiana. Ou seja, filosofia é um modo de existência que tem por mediação o conhecimento – histórico e atual, teórico e prático[4] - e têm seu fim único de transformar a realidade para melhor, visando a reprodução de vida e a denúncia de morte. Sim, pode parecer maniqueísta ou outras coisas, mas não vejo outra definição legítima que contrarie esta dada por mim acima. Pois, a finalidade última de qualquer Ser é a vida, é viver. Nunca soube de alguém que quisesse morrer, até nas experiências bem próximas de suicídio que tive contato, ocorreram pela privação de vida digna e portanto, não por vontade de morte. O Ser humano é ser para a vida, para a existência. Isso parece muito óbvio, mas penso que tratar do óbvio seja uma das funções da filosofia, pois ultimamente esta e outras afirmações tão óbvias, não são consensuais ou comuns.
Dada esta definição de filosofia como meio[5] de transformação social, desejo exemplificar algumas implicações que já percebo quanto à atitude filosófica. Historicamente não conheço um só filósofo que foi ileso em seu pensar, que não sofreu criticas, perseguições e muitas vezes fora morto por causa de sua filosofia. Quanto mais fora do sistema vigente – e contraditórias a ele – eram suas afirmações, maior parece que fora o que chamarei aqui de suarecompensa filosófica. Sócrates bebeu a sicuta, Cristo fora crucificado, muitos medievais morreram, alguns modernos tiveram privações sociais e até de saúde[6] e ainda hoje: o descaso, falta de reconhecimento, perseguições e críticas…
Assim, posso começar a rumar para o assunto central desta reflexão: diante desta definição de filosofia e de filósofo, o que seria uma filosofia brasileira? A filosofia é universal. Ou seja, se dá do particular para o universal. E se o particular é em âmbito local, sempre partindo da experiência concreta, pessoal do filósofo, o universal último da filosofia é o fim que enunciamos como visar a reprodução[7] da vida e a denúncia da morte.
E quando falo de uma filosofia brasileira, estou falando de uma filosofia autêntica que trate da reprodução da vida e denúncia da morte no – ou a partir do – Brasil. Ora, muitas vezes esta afirmação que já deve ter sido realizada por outros, pode gerar espanto, mas a filosofia, ao meu ver, sempre foi assim. O que faziam os tidos como clássicos:Platão, Sócrates, Aristóteles, e todos os que vieram antes deles, inclusive os egípcios, mesopotâmios, etc…? Ainda que não possa chamar o conhecimento existente antes do grego de filosofia – mesmo este tendo contribuído enquanto pré-história necessária para o tal nascimento dela – e depois foi cruelmente negado e esquecido na história do ocidente – mas, desde então, passando pela Grécia, mundo antigo, medieval, modernidade e ainda hoje, o que têm feito a filosofia autêntica se não a utilização do conhecimento teórico-prático para transformar a sociedade para “melhor”? E aqui entro nesta discussão qualitativa e subjetiva do termo melhor. Melhorar a sociedade, no que tange melhora da qualidade de vida nas relações dos sujeitos enquanto indivíduos, enquanto sociedade que interagem consigo, entre sí e com a natureza.
Se ainda não deixei claro, penso que uma filosofia autenticamente brasileira deve ser antes de tudo ética. Porque sua elaboração estará mediada pela tradição filosófica eurocêntrica e a baixa auto-estima intelectual brasileira que está acostumada com a idéia de que os brasileiros não possuem asas metafísicas. E se assim realmente for, este problema passa a ser um problemão porque nos remete a estas duas questões concomitantes:
O que a tradição eurocêntrica representa para o Brasil? Em uma só palavra: opressão! Sim, pois nos destituíram do que éramos, da nossa cultura, de nosso ser[8] e quiseram e querem nos impor o que devemos ser, desde nossa língua até nossa religião. Roubaram e roubam nossas riquezas e nos mantêm escravos de sua cultura.
O segundo problema, ao meu ver, é bem pior. Existe uma classe intelectual no Brasil, que hoje ainda é a classe hegemônica, que acha que não temos capacidade de pensarmos por nós mesmos, respondendo aos nossos problemas e dedicam suas vidas intelectuais à repetição desta tradição opressora, legitimando e perpetuando a opressão em nosso meio. E como esta classe é a que está à frente das grandes universidades do país, nos jornais e na midiogarquia[9] em geral, as tentativas de pensamentos autenticamente brasileiros são encobertos, rejeitados, etc.
Portanto, uma filosofia brasileira, penso eu, deve dar conta destes dois momentos: negativo e positivo, eticamente. Negativo enquanto negação da identidade eurocêntrica imposta a nós e assimilada em geral. E positiva enquanto propositora de caminhos que melhorem a reprodução da vida dos brasileiros em suas diversas dimensões. Desta forma, o diálogo com a tradição eurocêntrica enquanto pré-história de uma filosofia brasileira é mais positivo que negativo, pois são séculos de conhecimento e portanto de instrumento teórico-práxico. Contudo, para o momento positivo desta filosofia brasileira, esta pré-história pouco têm a contribuir, pois se a Europa se constituiu a partir da negação do anterior constituindo-se enquanto único ser possível subsumindo o Outro[10] enquanto objeto, nós, nos constituímos sendo este Outro, oprimido, aniquilado e subsumido por eles. Agora que estamos conseguindo ao menos gritar que somos tanto quanto eles, não podemos ignorar nossa constituição e “querer dar o troco” simplesmente ignorando-os. Pois repetiríamos parte do erro ontológico que eles cometeram: dizer que nós somos e eles não. O contrário, podemos dizer-lhes: vocês erraram e nós poderemos errar em outras coisas, mas não nisso. Permitindo assim, a alteridade[11] em nossa filosofia, ou seja, acredito que o diálogo com a tradição filosófica eurocêntrica de forma ética seria reconhecer os avanços positivos que houveram e tentar avançar a partir deles na resolução de nossos problemas. A filosofia dusseliana da libertação faz isso de forma esplêndida em âmbito Latino Americano e penso que é um ótimo ponto de partida para pensar uma filosofia brasileira.
Desta forma, o texto do padre Vaz[12] é positivo no sentido de mostrar o posicionamento do intelectual, comointelectual orgânico[13], que apesar de engajado, não está vinculado a partidos ou ideologias específicas, é livre, mas nunca neutro, pois não existe neutralidade possível. Já no texto de Wilson Martins[14] gostei de algumas coisas, como por exemplo da diferenciação de filosofia no Brasil e Filosofia do Brasil, todavia, não me ficou bem claro sua definição se é que pretendeu uma, de filosofia. Já sobre a Marilena Chauí, comentando sua entrevista à revista Caros Amigos em novembro de 2005, revista número 104, mostra claramente o oposto do padre Vaz que ainda que seja um filosofar é inautêntico por estar claramente vinculado e à serviço de uma instituição: o partido dos trabalhadores, só pra citar, totalmente diferente da postura que têm Frei Beto, que apesar de auxiliar e até ter ocupado um cargo “no partido”, não deixou-se aprisionar a ele hoje é um dos maiores críticos deste. Finalizando esta reflexão, o texto do Olavo de Carvalho[15], sobretudo em sua definição do que é filosofia me provocou bastante. Mas, penso que ele radicaliza muito e de certa forma dogmatiza[16] quando diz que não há um filósofo na academia. Primeiro que é uma generalização apressada e esse é um princípio básico muito útil a nós. Depois que partindo de nossa definição de filosofia, a academia, assim como a educação – mesmo neste sistema que está aí – são dois ótimos veículos para o “ensino” – ou prática - da filosofia. No fim, concordamos que hoje, deve haver mais filósofos fora da academia que nela. E pra não deixar esta brecha sem comentar: uma filosofia brasileira pode sim, ser ensinada, sobretudo e principalmente com a atitude filosófica dos filósofos que a ensinam.
[1] Estudante de filosofia na UMESP, autor do blog HTTP://reflexaoaltera.
[2] Que tem como tema uma introdução à Filosofia da Libertação de Enrique Dussel
[3] Esta é a definição que cheguei até hoje, com 27 anos, pode ser que não seja a mesma pra sempre, pois acho que como todos os outros conceitos, não existe um só que necessariamente permaneça o mesmo sempre.
[4] Conhecimento prático pode ser o relato de um povo, modo de viver de alguém, cultura, estética, etc.
[5] Que traz implícita o filósofo que se doa por opção e/ou vocação a realizá-la.
[6] Não só física, mas mental também
[7] Reprodução enquanto melhorar e ampliar a vida, o que implica sinteticamente na relação entre os sujeitos e deles com a natureza.
[8] Indígena-agricultor, religioso, etc…
[9] Mídia hegemônica que pertence à oligarquia brasileira
[10] O Outro enquanto diferente do que os Europeus são. Ainda hoje é assim que o eurocentro se mant6em enquanto “centro do mundo”, apesar de estar em crise e decadência.
[11] Neste sentido, uma filosofia brasileira deve ser áltera: não dogmática, analética, que não emita verdades.
[12] http://www.padrevaz.hpg.ig.
[13] Ao menos esta é a interpretação que faço do intelectual orgânico de Brecht
[14] http://www.secrel.com.br/
[15] http://www.olavodecarvalho.
[16] Acho que nenhum dogma soa bem na filosofia
http://www.consciencia.org/
Edição crítica celebra 80 anos de "Raízes do Brasil"
SYLVIA COLOMBO ilustração LUCAS ARRUDA
07/08/2016 = ACESSO 08 AGOSTO 2016
RESUMO Edição crítica de 80 anos de "Raízes do Brasil" expõe mudanças feitas por Sérgio Buarque de Holanda na obra e permite ampliar debate sobre ela. Clássico da historiografia tem entusiastas, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e críticos, como o cientista social Jessé Souza.
"Era no mínimo estranho que um livro tido como um dos principais da historiografia brasileira não tivesse sua história esmiuçada", diz à Folha o professor de literatura da Universidade de Princeton Pedro Meira Monteiro.
O pesquisador organizou, com a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, professora da USP e também da universidade norte-americana, a edição crítica de "Raízes do Brasil" [Companhia das Letras, 520 págs., R$ 94,90, R$ 44,90 em e-book], de Sérgio Buarque de Holanda (1902-82), lançada agora em comemoração aos 80 anos da publicação original da obra.
O volume, que traz nova introdução e novos posfácios à obra, será lançado em São Paulo com evento nesta segunda-feira (8), às 19h, no teatro Eva Herz, da Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, tel. 11-3170-4033). O lançamento do volume inaugura as comemorações de 30 anos da Companhia das Letras.
A edição traz o texto atual de "Raízes do Brasil", ou seja, a última edição que o historiador aprovou em vida, publicada em 1969, mas também mostra as alterações pelas quais passou através das quatro edições que a precederam. O comovente caderno de imagens –veja galeria– é um exemplo. Expõe o modo como o autor insere, corta e retifica títulos e trechos inteiros do texto, em algumas partes com rabiscos ou apontamentos à mão, noutras batendo à máquina parágrafos colados nas páginas em que deveriam ser inseridos.
"As mudanças que Sérgio Buarque fez não foram nada cosméticas, ele foi realizando uma varredura no livro. É um livro vivo, consideravelmente alterado por três décadas", diz Schwarcz.
A alteração mais marcante se dá entre a edição original, de 1936, e a segunda, de 1948.
"Quando foi publicado, 'Raízes' continha uma dose importante de desconfiança em relação às grandes teses liberais", explicam, na introdução, os organizadores. Essa desconfiança fundamentava-se no contexto histórico que a região vivia. Sérgio Buarque sentia um "desconforto" com os "caudilhismos" latino-americanos e não acreditava que uma visão mais impessoal da política pudesse derrotar o personalismo que então predominava na América Latina.
Essa visão, porém, alterou-se profundamente no cenário da segunda edição do livro, em 1948, quando o autor, nas palavras de Monteiro, "exorciza a desconfiança que tinha do pacto liberal da década de 30". "E a razão é clara, já não se podia mais manter o texto daquela forma num contexto pós-Segunda Guerra."
As mudanças dessa versão mostram que Sérgio Buarque não quis deixar nenhum indício que justificasse uma acusação de que fosse um "antiliberal". "Raízes", a partir de então, penderia de forma decidida, e radical, para o lado da democracia.
DEBATE AMPLIADO
Essa é uma das novas discussões que a edição crítica propõe, ampliando o debate sobre a obra, que nos últimos anos se reduziu ao que Sérgio Buarque, afinal, teria querido dizer ao conceber o brasileiro como "homem cordial".
Primeira edição de "Raízes do Brasil" (1936)
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O conceito rendeu uma polêmica que se prolongou por décadas, mas que pode ser resumida assim: na edição original, o historiador paulistano justificava que a cordialidade, como herança de nosso passado rural e ibérico, significaria a prevalência da importância das relações pessoais e afetivas sobre os modos mais impessoais de regras de funcionamento da sociedade. Dessa forma, favorecia o surgimento dos compadrios e da força do "pistolão". Sugeria que, à medida que o país se urbanizasse, o "homem cordial" morreria.
Foi então que o poeta Cassiano Ricardo abriu fogo contra a ideia, interpretando a cordialidade como uma "técnica da bondade", relacionando-a a uma ideia de polidez.
Sérgio Buarque respondeu, em carta incorporada às edições seguintes, a partir da terceira (1956). Explicou que a cordialidade tinha tanto a ver com a bondade como com a inimizade e que o homem cordial era o contrário do homem polido, por ser avesso a rituais públicos e por cultivar grande intimidade na atividade política.
Diante da seriedade que a contenda tomou, não se imaginaria que o historiador a enfrentaria com tal bom humor, tentando baixar seu nível de estridência: "Confesso sem vergonha, e também sem vanglória, que não me sinto muito à vontade em esgrimas literárias". E acrescentava: "Não me agarro com unhas e dentes à expressão cordial, que mereceu objeções. Se dela me apropriei foi à falta de melhor".
Para Monteiro, falta ainda fazer uma genealogia da questão da cordialidade a partir de um ponto de vista latino-americano. Ele lembra que o próprio Sérgio Buarque usou a expressão lida na correspondência entre Ribeiro Couto e o mexicano Alfonso Reyes (1889-1959), mas que já havia sido identificada em outros escritos. O nicaraguense Rubén Darío (1867-1916), por exemplo, havia se referido ao "homem cordial" latino-americano, em artigo para o jornal argentino "La Nación", ao comentar as repercussões da tomada de Cuba e Porto Rico por parte dos EUA em 1898.
"Entendo que existam críticos da cordialidade que dizem que é uma generalização, mas, como se vê, é uma generalização feita há muito tempo e que segue presente. E as generalizações, ainda que sejam de certo modo uma ficção, têm a função de criar um parâmetro para iluminar a realidade", diz Monteiro.
RADICALISMOS
A edição traz ainda o famoso prefácio de Antonio Candido, incorporado à quinta edição, em 1969, e escrito dois anos antes. Para Schwarcz, o autor de "Formação da Literatura Brasileira" estava "delineando nessa época sua interpretação sobre a importância dos 'radicalismos' na produção intelectual brasileira".
"O termo vinha de raiz e supunha que, mais do que um pensamento conservador, essa era uma forma de os intelectuais nacionais assumirem sempre soluções de compromisso, tendo o Estado para mediar os conflitos. E foi assim que ele definiu o livro de Sérgio Buarque, transformando esse prefácio em um capítulo essencial do livro."
"Raízes" foi publicado inicialmente pela José Olympio, dentro da coleção Documentos Brasileiros, dirigida por Gilberto Freyre (1900-87). Passou para a Companhia das Letras em 1995 e, desde então, vendeu mais de 250 mil exemplares. No fim da vida, Sérgio Buarque chegou a lamentar que "Raízes" ficasse conhecido como sua principal obra, em vez de trabalhos de fases mais maduras, como "Visão do Paraíso" e "História Geral da Civilização Brasileira".
Para Schwarcz, uma explicação possível viria do fato de que "'Raízes' ainda nos assombra, assim como assombrou seu autor, porque vemos até hoje essas ideias de algum modo vivas na nossa sociedade" –"por exemplo no modo como a esfera pública é vista como uma extensão da privacidade e das relações de intimidade".
SYLVIA COLOMBO, 44, é repórter especial da Folha.
Weber e a interpretação do Brasil
http://www.acessa.com/gramsci/
O nível de maturidade de uma universidade, especialmente em uma situação periférica como a nossa, pode ser indicado pela sua capacidade de apropriar-se do pensamento clássico, e, de modo ainda mais seguro, quando a interpelação aos fundadores de uma certa tradição disciplinar não se limita às traduções, mas pretende, por esforço próprio, estabelecer o sentido da sua obra, tal como neste "Seminário Internacional Max Weber". Entre nós, assiste-se a um movimento desse tipo, valendo o registro de que a universidade americana deve muito da sua significação, em particular na área de humanas, à dedicação com que se empenhou nessa direção a partir dos anos 30. Neste seminário, operamos a tentativa de apropriação de um clássico, processo em que, como inevitável, ele como que nasce outra vez, vindo à luz a partir de perguntas e de inquietações sobre a nossa realidade, importando, no caso, a recepção que concedemos a ele no nosso contexto cultural.
Marx e Weber, dos pensadores clássicos das ciências sociais, não somente estão entre os três autores mais citados nas dissertações de mestrado e nas teses de doutorado da disciplina (Melo, 1997), como também se constituem na principal referência da grande controvérsia que anima a literatura sobre a interpretação do Brasil. Contudo, tem predominado, até aqui, um tipo de recepção a eles que enfatiza aspectos parciais das suas teorias, selecionados em função das diferentes motivações dos autores brasileiros que os mobilizam para suas explicações do país. Assim, quanto a Marx, a apropriação que se faz do seu trabalho varia, como se sabe, em função das opções temáticas dos seus intérpretes: a valorização do tema da vontade política como recurso de superação da disjuntiva atraso/moderno, tendo motivado — principalmente nos círculos extra-universitários — uma leitura que privilegiou os seus textos políticos, que contemplavam a possibilidade de saltos revolucionários, dando curso a um marxismo cujo paradigma é a Rússia, enquanto a preferência pela análise do processo de imposição do capitalismo no Brasil, como na grande reflexão social paulista, conduziu a uma maior aproximação com o modelo de O capital com base no paradigma inglês.
O "nosso" Weber tem conhecido uma fortuna similar, uma vez que tem sido convocado pela literatura, predominantemente, para explicar o atraso da sociedade brasileira, com o que se tem limitado a irradiação da sua influência a uma sociologia da modernização. Daí que a mobilização desse autor, pela perspectiva do atraso, se faça associar ao diagnóstico que reivindica a rupturacomo passo necessário para a conclusão dos processos de mudança social que levam ao moderno — no caso, com o patrimonialismo ibérico, cuja forma de Estado confinaria com o despotismo oriental. Tem-se, então, que uma obra radicalmente inscrita na cultura política do Ocidente, com seus valores universalistas, impasses e promessas de realização, seja descortinada pelo ângulo do Oriente e dos caminhos possíveis para a sua modernização. Assim é que o "nosso" Weber incide bem menos na inquirição das patologias da modernidade do que nas formas patológicas de acesso ao moderno.
Weber, como Marx, tem sido, desde os anos 50, quando a ciência social brasileira recuperou a linha ensaística dos pioneiros na interpretação do Brasil, como a de Euclides da Cunha, Silvio Romero, Oliveira Vianna, Caio Prado Jr., Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Hollanda, uma das principais marcações teóricas da produção que se voltou para o objetivo de explicar a singularidade da nossa formação social. Decerto que grande parte da controvérsia, no campo das explicações que concorrem entre si, está vinculada às diferentes concepções intrínsecas aos sistemas de Marx e Weber, sobretudo as que se manifestam no campo axiológico, com as óbvias repercussões que daí derivam para a análise do comportamento do ator social e dos condicionantes exercidos sobre ele pelas estruturas sociais. A remissão, contudo, à obra desses autores nem sempre contempla o que há de efetivamente diverso entre eles, abdicando das nuanças e da complexidade das suas construções teóricas originais a fim de demarcar oposições, freqüentemente idiossincráticas. Assim, por exemplo, com as relações entre o Estado e a sociedade civil, em que a "nossa" leitura dominante de Weber radicaliza a autonomização da primeira dimensão diante da segunda, enquanto atribui a Marx, em que pese a sua argumentação em O 18 brumário e em outros momentos densos da sua obra, uma concepção na qual desaparecem inteiramente os temas da autonomia da política quanto aos interesses e do Estado quanto à sociedade civil, que vão ser, para citar apenas um autor, o leitmotiv da sociologia política de um pensador marxista do porte de Antonio Gramsci.
O Weber da versão hoje hegemônica nas ciências sociais e na opinião pública sobre a interpretação do Brasil, tem sido aquele dos que apontam o nosso atraso como resultante de um vício de origem, em razão do tipo de colonização a que fomos sujeitos, a chamada herança do patrimonialismo ibérico, cujas estruturas teriam sido ainda mais reforçadas com o transplante, no começo do século XIX, do Estado português no solo americano. Desse legado, continuamente reiterado ao longo do tempo, adviria a marca de uma certa forma de Estado duramente autônomo em relação à sociedade civil, que, ao abafar o mundo dos interesses privados e inibir a livre iniciativa, teria comprometido a história das instituições com concepções organicistas da vida social e levado à afirmação da racionalidade burocrática em detrimento da racional-legal. Ainda segundo essa versão, a ausência do feudalismo na experiência ibérica, inclusive no Brasil, aproximaria a forma patrimonial do nosso Estado à tradição política do Oriente, onde não se observariam fronteiras nítidas a demarcar as atividades das esferas pública e privada. Raimundo Faoro, no seu clássico Os donos do poder, além de avizinhar o iberismo do despotismo oriental, retomando o argumento de Tavares Bastos e Sarmiento, liberais ibero-americanos do século XIX, sugere a necessidade, motivado pelo seu estudo de caso, de se proceder à revisão da tese de Weber, que vincula a emergência do espírito capitalista à ética calvinista, em favor da que sustenta que "somente os países revolvidos pelo feudalismo" teriam chegado a adotar o sistema capitalista, integrando nele a sociedade e o Estado" (Faoro, 1975, vol. 1:22).
Não seríamos propriamente um caso ocidental, uma vez que, aqui, o Estado, por anteceder aos grupos de interesses, mais do que autônomo em face da sociedade civil, estaria empenhado na realização de objetivos próprios aos seus dirigentes, enquanto a administração pública, vista como um bem em si mesmo, é convertida em um patrimônio a ser explorado por eles. Inscritos no Oriente político — Simon Schwartzman, ao conceituar patrimonialismo, categoria central do seu influente Bases do autoritarismo brasileiro, não somente cita o Marx do modo de produção asiático, como também o clássico de K. Wittfogel sobre as sociedades hidráulicas do despotismo oriental (Schwartzman, 1982:43) —, conheceríamos um sistema político de cooptação sobreposto ao de representação, uma sociedade estamental igualmente sobreposta à estrutura de classes, o primado do Direito Administrativo sobre o Direito Civil, a forma de domínio patrimonial-burocrática e o indivíduo como um ser desprovido de iniciativa e sem direitos diante do Estado.
Tal versão, hegemônica na controvérsia sobre a explicação do Brasil, procura contrapor a dimensão da física dos interesses à metafísica brasileira, historicamente centrada na idéia de uma comunhão entre o Estado e a nação, investido aquele da representação em geral da sociedade e do papel de intérprete das suas expectativas de realização, e sobretudo na noção de que o interesse do particular, para ter a sua legitimidade plenamente reconhecida, deva se mostrar compatível com o da comunidade nacional. O capitalismo brasileiro, originário dessa metafísica, seria, pois, politicamente orientado, uma modalidade patológica de acesso ao moderno, implicando uma modernização sem prévia ruptura com o passado patrimonial, o qual, ademais, continuamente se reproduziria, na medida em que as elites identificadas com ele deteriam o controle político do processo de mudança social. O Estado neopatrimonial, ao restringir a livre manifestação dos interesses, e ao dificultar, com suas práticas de cooptação, a sua agregação em termos sindicais e, principalmente políticos, favoreceria, assim, a preservação das desigualdades sociais crônicas ao país.
Romper com esse Oriente político significaria, de um lado, uma reforma política que abrisse o Estado à diversidade dos interesses manifestos na sociedade civil, impondo a prevalência do sistema de representação, e, de outro, a emancipação desses interesses de qualquer razão de tipo tutelar. A identificação do caráter quase asiático do Estado brasileiro como obstáculo à liberdade e a padrões igualitários de convivência social, argumento que tem como ponto de partida a sua radical autonomia diante da sociedade civil e o que seria a separação dramática entre seus fins políticos e a esfera dos interesses privados, leva, então, à sugestão de que a reforma do Estado deve estar dirigida à sua abertura a essa esfera, realizando o seu papel democrático na administração e composição dos diferentes e contraditórios interesses socialmente explicitados. Somente a física dos interesses pode remover a velha tradiçãometafísica brasileira, que estaria comprometida com a noção de uma sociedade hierárquica e desigual.
A ruptura, pois, como em Tavares Bastos no século passado, deveria se aplicar no plano da institucionalidade política, especialmente no que diz respeito à forma do Estado, uma vez que, ao se conceder plena liberdade aos interesses, eles tendem a produzir uma dinâmica benfazeja que traz consigo maior igualdade social. O patrimonialismo é marca do Estado, e não da sociedade, e, por isso mesmo, nessa versão interpretativa, ela não comparece como dimensão analítica, em particular na sua questão agrária: o argumento cinge-se ao institucional, a reforma na política contém em germe a possibilidade da boa sociedade. A leitura do tema do patrimonialismo em Weber, à medida que se volta para o paradigma do Oriente clássico, onde não se conheceu o direito à propriedade individual, direito que, desde os gregos, nasce com o Ocidente, é, então, prisioneira do ângulo das instituições políticas, crucialmente do Estado, e é daí que provém a sua ênfase na reforma política e não na reforma social. Desse eixo explicativo deriva uma das principais controvérsias da literatura, opondo, de um lado, os que advogam, desde Tavares Bastos aos constituintes de 1891 e aos adeptos de hoje da reforma política como base prévia para a modernização do país, que o país legal deva mudar o país real, e, de outro, os que invertem o sentido dessa proposição.
Na interpretação que privilegia o fenômeno do patrimonialismo pela forma do Estado, contudo, o que haveria de oriental na política tenderia a ser deslocado pela afirmação dos interesses, o estado de São Paulo, com a expansão da agroexportação cafeeira, um primeiro esboço do Ocidente sobre o qual deveria se assentar a arquitetura institucional da democracia representativa, removendo-se a pesada carga de um Estado parasitário a fim de dar passagem aos interesses e à sua livre agregação. Nesse sentido, conta-se a saga de infortúnios da democracia brasileira a partir das derrotas políticas de São Paulo, que o teriam privado de universalizar o seu paradigma ocidental. Nessa versão, portanto, a chamada revolução de 1930 teria retomado o velho fio ibérico de precedência do Estado sobre a sociedade civil, a era Vargas entendida como contínua ao ciclo dominado pelo eixo Pombal—D. Pedro II, uma projeção do Império, uma vez que expressaria as mesmas "vigas mestras da estrutura" ao traduzirem a realidade patrimonialista na ordem estatal centralizada (Faoro, 1975, vol. 2:725). Afora o interregno de hegemonia de São Paulo — 1889-1930 — ou mesmo de influência deste Estado — 1934-1937 —, a força da tradição e o peso das estruturas do Estado induzem a uma determinação, a "todos superior, condutora e não passivamente moldada", que leva o quadro administrativo a dominar a cúpula. E, assim, "em 1945, o ditador já não temia mais a hegemonia paulista, só possível na base de núcleos econômicos não dependentes, como fora a lavoura cafeeira", trazendo os seus interesses para a malha do Estado, lugar patrimonial de extração de riqueza e de distribuição de prebendas, a esta altura vinculando, cartorialmente, o parque industrial paulista à sua administração (idem).
A revolução de 1930 consistiria, pois, em um retorno às raízes patrimoniais, obedecendo ao movimento oculto das estruturas, e não em uma invenção com que os dirigentes da ordem burguesa, diante da crise de legitimidade da Primeira República, teriam ampliado o alcance da universalização do Estado, impondo-lhe maior autonomia quanto à esfera dos interesses — no caso, os dominantes em São Paulo —, a fim de permitir a incorporação ao sistema da ordem dos personagens emergentes da vida urbana, como militares, empresários, operários e intelectuais. O que teria sido o feliz interregno 1889-1930, quando os interesses encontraram representação na política e conformaram o Estado, no contexto institucional da Carta americana de 1891 e do sistema de dominação formalmente racional-legal dela derivado, foi, como sabido, o momento republicano em que a esfera pública foi apropriada pela esfera privada e em que se solidarizou aquele sistema de dominação com a ordem patrimonial pela via do sistema político do coronelismo.
O interesse, como instância isolada — como já fora percebido nas lições clássicas do radicalismo filosófico inglês, em Hegel, Tocqueville, para não falar de Marx —, conduzia ao particularismo na forma do Estado, e, nas condições retardatárias da sociedade brasileira, onde predominava o estatuto da dependência pessoal, tendia a se combinar com as formas de mando oligárquicas e a sociabilidade de tipo hierárquico que prevaleciam no país. O primado do interesse, na Primeira República, assim, não se confronta com as formas de dominação tradicionais, antes as subordina, convertendo o atraso, tal como na exemplar demonstração de Victor Nunes Leal em seus estudos sobre o coronelismo, em uma vantagem para o moderno que estaria representado pela economia dominante em São Paulo, sob a direção de um patriciado com origem na propriedade fundiária e orientado por valores de mercado — a Prússia paulista será uma invenção da Primeira República.
Pelo ângulo do Oriente, isto é, considerando o patrimonialismo como um fenômeno de Estado, essa versão weberiana sobre a interpretação do Brasil, mais do que identificar o atraso como próprio à instância do político, tenderá a ocultar as relações patrimoniais que instituem o tecido da sociabilidade, perdendo de vista, na linguagem da controvérsia do pensamento social brasileiro, "o país real", especialmente o mundo agrário, as relações de dependência pessoal que aí se estabelecem e de como o seu paradigma paulista, longe de representar uma linha de oposição entre atraso e moderno, representação e cooptação, ordem racional-legal e patrimonialismo, na verdade, aponta para uma composição ambígua dessas polaridades, imprimindo à matriz do interesse a marca de um particularismo privatista antípoda à formação da cultura cívica.
Na outra ponta da recepção de Weber, transita-se da perspectiva das instituições políticas para a da sociologia, com centralidade na questão agrária e no patrimonialismo de base societal, e, principalmente, do Oriente para o Ocidente, de cuja história e processo de desenvolvimento o Brasil seria um resultado e parte integrante, embora incluído nele como um caso retardatário e ambíguo, uma vez que combinaria em si a forma moderna do Estado de arquitetura liberal com o instituto da escravidão e com a organização social de tipo patrimonial. Weber, nessa chave, deixa de ser mobilizado como uma referência que se contraponha a Marx na questão da autonomia do Estado e do político em geral, recolhendo-se dele a marcação teórica para a análise da sociedade "senhorial escravocrata" e a sua organização estamental, enquanto em Marx se vão procurar os conceitos que permitam explicar a inscrição do país no sistema do capitalismo mundial e a transição para uma "ordem social competitiva" fundada em uma estrutura de classes moderna.
Daí se vê, por conseguinte, a heterogeneidade na recepção brasileira de Weber, que estaria presente tanto na versão interpretativa dos que identificam os elementos quase asiáticos que teriam presidido a formação do Estado nacional, em razão do transplante do patrimonialismo de Estado português, como a raiz dos nossos males, como na dos que, como Florestan Fernandes, Maria Silvia de Carvalho Franco e José Murilo de Carvalho, à medida que entendem, nas palavras do primeiro, "o Estado [...] como a única entidade que podia ser manipulável desde o início [...] com vistas à sua progressiva adaptação à filosofia política do liberalismo" (Fernandes, 1975:35), ou, nas da segunda, para quem a "organização administrativa desse período [década de 1830] fundava-se formalmente no princípio burocrático de obediência a um poder público abstratamente definido, legitimado e expresso por normas racionalmente criadas e legalmente estatuídas" (Franco, 1969:116), ou, ainda, nas do último, ao sustentar que a burocracia imperial não teria se constituído em um estamento (Carvalho, 1980:129), provocando, com isso, o deslocamento da inquirição sobre a causa do nosso atraso para o terreno das relações sociais e do impacto da natureza patrimonial delas sobre um Estado, em sua concepção original, de extração moderna.
Nessa interpretação, cujo eixo se encontra na caracterização do compromisso que se estabeleceu, a partir da Independência, entre a ordem racional-legal e a patrimonial, entre o liberalismo da forma do político e as estruturas econômicas herdadas da Colônia, entre o atrasoe o moderno, compreendido o primeiro como racional ao capitalismo, entre a representação e a cooptação, o problema da ruptura não deveria estar referido ao Estado, mas sim às relações sociais de padrão patrimonial, fazendo com que "toda a conduta dos personagens [venha] entrelaçada com a concessão de mercês, expondo a vigência do princípio de dominação pessoal, base pouco propícia para a orientação racional da ação" (Franco, 1969:27). Sob esse ângulo, a ruptura põe-se no registro da longa duração, sendo o resultado de transformações moleculares nas relações tradicionais, historicamente responsáveis pela contenção da afirmação da sociedade de classes entre nós, caracterizando a revolução burguesa no país como dominada pelo andamento passivo, e, como tal, melhor representada conceitualmente pelo tema da transição, no caso, o da transição da ordem senhorial escravocrata para a ordem social competitiva.
O processo de diferenciação dos interesses entre colônia e metrópole, de onde surgira o espírito nativista e a adesão ao liberalismo dos homens que realizaram a Independência, teria importado uma forma particular de internalização da ideologia liberal, em que ela viria a expressar mais os anseios "de emancipação dos estamentos senhoriais da 'tutela colonial'" do que os de "emancipação nacional" (Fernandes, 1975:36). Concretizada, porém, a Independência, na análise de Florestan Fernandes, esse movimento se inverte, com a conversão do liberalismo em uma força dinamizadora da sociedade civil nascida da Independência, "uma esfera na qual se afirma e dentro da qual preenche sua função típica de transcender e negar a ordem existente" (idem:39). Transcendência e negação que, na passagem da sociedade colonial à sociedade nacional, iriam exigir processos históricos de longa duração, no curso dos quais se produziriam, pelo papel da ideologia e das instituições liberais na "revolução encapuzada" da Independência, contínuas transformações moleculares em que se opera, na expressão daquele autor, o sepultamento do passado (idem:46). A intensa floração mercantil que se segue à ruptura com o pacto colonial, a nacionalização do comércio exportador, alterando as funções econômicas do senhor rural, assim como a própria diferenciação social daí resultante, com a criação de novas ocupações qualificadas e o estímulo às profissões liberais, teriam induzido, então, que uma "parte da sociedade global" viesse a se destacar "das estruturas tradicionais preexistentes", passando a constituir o seu "setor livre", "única esfera na qual a livre competição podia alcançar alguma vigência". Sob essa lógica, tem início, apesar das condições "socioeconômicas adversas (por causa da persistência da escravidão e do patrimonialismo), uma área na qual o 'sistema competitivo' pode coexistir e chocar-se com o 'sistema estamental'" (idem:48, ênfases no original).
A transição, pois, da ordem senhorial-escravocrata para a ordem social competitiva cumpre o andamento das revoluções passivas, lida na chave weberiana dos tipos de dominação e das modalidades expressivas de ação que cada um deles comporta, implicando um processo progressivo de realização do moderno em que, por meio da diferenciação societal — basicamente, pela aparição e afirmação de novos papéis sociais de desempenho incompatível com a ordem tradicional —, o sistema de orientação racional da ação tende a se generalizar, tornando-se, por fim, hegemônico. No entanto, em razão da natureza passiva do caminho que o viabiliza como dominante, o sistema de orientação racional da ação pode coexistir com a ordem patrimonial, criando para a burguesia a possibilidade de extrair vantagem tanto do modernocomo do atraso: "[a burguesia] se compromete, por igual, com tudo que lhe fosse vantajoso: e, para ela, era vantajoso tirar proveito dos tempos desiguais e da heterogeneidade da sociedade brasileira, mobilizando as vantagens que decorriam tanto do atraso quanto do adiantamento das populações" (idem:204, ênfases no original). Assim, se o Estado nacional nasce "bastante moderno", apto à "modernização ulterior de suas funções econômicas, sociais e culturais", matriz efetiva da expansão do liberalismo no país (idem:38), desde a sua origem ele mantém a marca de uma convivência com uma ordem antitética à sua, que, longe de ser impeditiva de sua afirmação, torna-a possível, sobretudo por consistir na base econômica a partir da qual ele vai poder operar a sua forma de inscrição no capitalismo mundial.
A trajetória de São Paulo, especialmente a partir do momento em que a agroexportação do café veio a se basear no trabalho livre, seria paradigmática de como a afirmação da esfera dos interesses e o sistema de orientação racional do homo œconomicus não teriam sido suficientes para a imposição da ordem social competitiva, importando, pois, em um novo cenário, a reiteração da ambigüidade constitutiva à formação brasileira: de um lado, o "cálculo exato" dohomo œconomicus da cultura capitalista do café e dos tipos sociais emergentes com a expansão dos negócios e da industrialização; de outro, no plano da política, a preservação do estilo senhorial, a extração do consentimento e o exercício da coerção por métodos e formas patrimoniais. A ordem competitiva, se prevalece na economia, não irá produzir os agentes sociais vocacionados para uma racionalização do seu mundo, distantes "de uma filosofia política [...] que possa conduzir ao capitalismo como estilo de vida". Como instância isolada, o interesse e os agentes sociais que melhor o representam, mesmo na sua forte manifestação paulista, ficam confinados ao horizonte da esfera privada, "convertendo-se ao liberalismo das elites tradicionais, [incorporando-se], de fato, aos círculos conservadores e [passando] a compartilhar formas de liderança e de dominação políticas variavelmente conflitantes ou inconsistentes com a consolidação da ordem social competitiva [...]" (idem:146, ênfases no original). O interessemoderno, em sua forma já especificamente capitalista, ao abdicar do programa de radicalização do liberalismo, nasce, além de comprometido com as práticas de extrair vantagens do atraso — como realizar, no mundo agrário, a produção de excedente a partir de relações de dependência pessoal —, associado a técnicas de controle social que dissimulem a existência da estrutura de classes e impeçam a sua livre explicitação.
O fracasso das elites econômicas de São Paulo, no momento da transição para o trabalho livre e quando se firma o primado das relações especificamente capitalistas, em realizar "por cima" a universalização da agenda da ordem social competitiva, em nome do cumprimento do programa liberal-radical de difundir o capitalismo como estilo de vida, teria como conseqüência destiná-la a uma construção "por baixo", cuja orientação estivesse voltada a derruir o padrão de heteronomia social prevalecente na sociedade brasileira, suposto da organização patrimonial. Tal construção, por isso mesmo, deveria ter como ponto de partida a afirmação dos interesses dos indivíduos expostos ao estatuto da dependência pessoal ou de cidadania precária do ponto de vista político e social. O nó górdio a ser cortado, a fim de se encontrar passagem para a ordem social competitiva, não estaria, então, no Estado nem no interesse em geral, mas sim em um certo tipo de interesse, que, ao ser livremente manifestado, fosse dotado da propriedade de conformar identidades autônomas, instância nova sem a qual não se poderia romper efetivamente com o legado da herança patrimonial.
Nesse novo caminho para a inquirição do caráter do patrimonialismo brasileiro, do qual resulta a troca de foco do Estado para a sociedade, a percepção da política e do Estado deveria ter o exclusivo agrário como ponto de partida, dado que somente aí se poderia surpreender, no contexto puro da dominação senhorial, a trama da sociabilidade que envolveria os indivíduos submetidos à situação de dependência pessoal, condição para se desvendar o modo particular de articulação entre a dimensão do público e a do privado e a do Estado com a sociedade, pondo-se a nu as conexões internas, vigentes na modelagem da ordem burguesa no país, entre o plano do racional-legal e o do patrimonial. Com essa perspectiva sociológica, que procura combinar analiticamente os micro e os macrofundamentos responsáveis pela formação do Estado, se joga uma nova luz sobre a dimensão do interesse, que deixa de ser percebido como o lugar da inovação e de resistência ao patrimonialismo, e sim da conservação do status quo.
Maria Silvia de Carvalho Franco, no seu clássico Homens livres na ordem escravocrata, ao utilizar o argumento de Weber sobre a singularidade da organização burocrática estatal no Ocidente moderno, demonstra empiricamente como, aqui, nas condições de escassez de recursos que pudesse suportar a ação do Estado, o processo de expropriação do servidor público dos meios materiais da administração teria sido apenas formal, na medida em que, na realidade, boa parte desses meios era financiada com recursos privados. Foi a pobreza da agência estatal, e não a sua natureza pretensamente quase oriental, que teria dado como resultado não desejado a fusão entre o público e o privado, permitindo, assim, que o exercício do poder originário do cargo público pudesse ser traduzido na busca de fins estritamente particulares (Franco, 1969:cap. III). Investigando as condições de funcionamento, no século passado, das Câmaras Municipais do Vale do Paraíba, a autora exprime, de modo exemplar, a versão weberiana que inscreve o patrimonialismo brasileiro como de caráter societal e de raiz agrária:
[...] na base do desenvolvimento da burocracia na administração pública, está um caráter essencial: o processo de expropriação do servidor público dos meios materiais da administração, separando-se com nitidez os recursos oficiais dos bens privados dos funcionários. Pelo que já ficou exposto, vê-se como esse processo de expropriação, no Brasil do século XIX, foi sustado pelo insuperável estado de penúria a que estavam sujeitos os órgãos públicos. Embora mantidos os gastos sempre dentro do imprescindível à preservação dos bens e à continuidade dos serviços do Estado, mesmo para esse mínimo, os recursos oficiais eram escassos, compensando-se essa falta pelas incursões aos bolsos dos cidadãos e das autoridades. E o resultado disto foi que, em lugar do funcionário público tornar-se cada vez mais um executivo que apenas gere os meios da administração, manteve-se preservada a situação em que ele detinha sua propriedade. Isto significa, evidentemente, que ele os podia controlar autonomamente, pois ele os possuía. Seu era o dinheiro com que pagava as obras; seu, o escravo cujos serviços cedia; sua, a casa onde exercia as funções públicas (idem:126, ênfases no original).
Distante, pois, da interpretação que caracteriza o Estado como uma instância radicalmente autônoma da sociedade, como na literatura que o compreende como patrimonial e responsável pelo atraso, a versão que identifica o patrimonialismo brasileiro como fenômeno societal, o percebe, em chave oposta: a imagem do Estado tutelar não passaria de uma simples aparência a dissimular a sua natureza efetiva de Estado instrumento. Embora moderno, na medida em que sua burocracia administrativa estaria referida aos princípios da ordem racional-legal, as suas ações seriam "corrigidas" no plano da vida local — os "pequenos reinos" dos senhores de terras —, sendo permanentemente "negado enquanto entidade autônoma e dotada de competência para agir segundo seus próprios fins", a vida privada prolongando-se para dentro da vida pública, "mantendo, também nesta, a dominação pessoal" (idem:135, 138 e 230).
O elemento retardatário teria a sua origem na sociedade civil, a partir da estruturação do modo de propriedade e das relações de trabalho nela prevalecentes, e não no Estado, impondo a este uma fórmula bifronte, combinando ambiguamente a dominação racional-legal com a tradicional, e àquela um amorfismo que lhe teria impedido de conhecer, quando da passagem para o trabalho livre, uma estrutura de classes de tipo capitalista, o poder pessoal interditando ao seu objeto — o "homem pobre" — a percepção de si como detentor de direitos e interesses próprios, e ao seu sujeito — os grupos dominantes — a identificação dos seus objetivos econômicos comuns a fim de agirem com unidade (idem:231). Dessa forma, para que a matriz do interesse viesse a produzir seres sociais dotados de autonomia e de identidade social definida, importaria, de um lado, erradicar as formas de patrimonialismo societal preservadas no processo de modernização da sociedade brasileira, e, de outro, por um fim na tradicional capacidade da esfera privada de invadir a esfera pública, convertendo-a em um instrumento seu.
O diagnóstico formulado por essa interpretação se fazia singularizar, entre outros motivos, pela compreensão de que atraso e moderno não se achavam, devido à forma de desenvolvimento desigual do capitalismo brasileiro, em contraposição agonística, mas combinados, levando à acomodação princípios antitéticos que se fundiriam de modo heteróclito no Estado, como acima se procurou explicar. Com esse argumento de fundo, o processo de modernização capitalista, com base em uma industrialização politicamente induzida, tal como teve curso a partir de 1930, intensificando-se nas duas décadas seguintes, vai ser entendido como uma confirmação, já em um contexto especificamente capitalista, do compósito em termos de princípios e de sistema da ordem que teria presidido a nossa formação, uma vez que ele se cumpriria sem liberar a manifestação da estrutura de classes e sem deslocar as elites tradicionais do interior do Estado.
O nacional-desenvolvimentismo consistiria na nova práxis burguesa por meio da qual se garantiria continuidade a essa velha solução brasileira, compatibilizando os ideais de modernização econômica das novas elites com a preservação do domínio das oligarquias tradicionais — que ainda reteriam grande parte da população do campo sob o estatuto da dependência pessoal. Por definição, de sustentação pluriclassista, o regime nacional-
É sobre esse assentamento conceitual que a chamada teoria do populismo, com uma influência weberiana mais velada do que explícita — também inspirada, em seus inícios, pela obra do importante sociólogo ítalo-argentino, Gino Germani [1] —, vai encontrar a sua base para a explicação do Brasil, na qual, ao contrário do eixo analítico que a inspira, além de se perder a fina conexão entre atraso e moderno, presente em Fernandes e Franco, a ênfase no macroestrutural vai ceder lugar ao tema da subjetividade, dimensão estratégica onde se radicaria a vontade do ator moderno, sem cuja vigorosa manifestação não se afastariam os constrangimentos estruturais que impediriam a construção de uma identidade autônoma de classe do operariado brasileiro moderno [2].
A teoria do populismo vai se tornar, a partir dos anos 60, particularmente depois do golpe militar de 1964, a linguagem comum dos que entendiam que a miséria brasileira se devia ao fato de a racionalidade ocidental estar, aqui, submersa e condicionada à ordem privada de estilo patrimonial, que se faria preservar nas coalizões pluriclassistas entre elites modernas e tradicionais e o sindicalismo jurisdicionado pela estrutura corporativa. O sindicalismo, como lugar de identificação e de agregação de interesses dos trabalhadores, seria a instância privilegiada de onde se poderia impor a ruptura com a forma heteróclita de Estado, cuja função manifesta consistiria em resguardar, no curso do processo de modernização, a conservação da tradição e os modos de controle social de caráter extra-econômico sobre a força de trabalho, isto é, não especificamente capitalistas.
O populismo resultaria da manipulação das massas trabalhadoras, em sua maioria com origem no mundo rural, mediatizada pela ação carismática de um líder, as quais seriam incorporadas ao sistema da ordem pelo duplo caminho de acesso aos direitos sociais e pelo uso de cursos simbólicos de integração, com o que se procurava levá-las à abdicação da autonomia enquanto classe e à perda de distinção dos seus interesses em favor dos interesses da coalizão de elites à testa do Estado. O carisma, no caso, não se comportaria como uma ação propiciatória ao encantamento do mundo e como um fiat do novo, cumprindo o seu papel em um processo de conservação com mudança controlada, pondo o interesse — e não apenas dos trabalhadores — sob a tutela da racionalização burocrática do Estado. O apelo ao carisma seria, então, um recurso do atraso, e contra ele se deveria insurgir o interesse do trabalhador, cuja racionalização nos sindicatos reclamaria o mercado como direção principal — e não o Estado, que negaria a construção da sua autonomia —, onde o moderno que lhe seria intrinsecamente constitutivo encontraria campo livre para estabelecer as raízes, ao longo do tempo e a partir "de baixo", de uma nova forma de Estado.
Como interpretação do Brasil e como ideologia orientada para a ação, a teoria do populismo nasce sob o registro do interesse moderno dos trabalhadores industriais e da necessidade da sua emancipação dos mecanismos de cooptação por parte do Estado. Nesse sentido, o seu paradigma é o mercado de São Paulo e a sua unidade estratégica de análise é o sindicalismo daquele estado da Federação. Centrada nos problemas da representação sindical e política dos trabalhadores industriais, essa teoria relega ao abandono o veio analítico da sociologia agrária e do movimento dos personagens sociais originários do campo, com o que induz a percepção doatraso como uma região social a ser colonizada por aqueles. Não à toa, muitas das correntes de opinião da esquerda, que, nos anos 70, acolheram a explicação da teoria do populismo, se voltaram, anacronicamente, para a experiência dos Conselhos Operários da época da juventude de Gramsci em Turim, na expectativa de mudar a sociedade e o Estado a partir das fábricas. Nesse particular, a teoria do populismo, inesperadamente, vinha reforçar o campo explicativo da versão weberiana de patrimonialismo de Estado, na medida em que, como ela, se limitava a contrapor à coalizão moderno-atraso, tradicionalmente prevalecente no sistema da ordem, a explicitação social do moderno, sem política e sem alianças com as classes retardatárias dos setores subalternos: o "operário" que emerge da teoria do populismo não está vocacionado, por definição, a se aliar ao camponês.
Essas versões weberianas na interpretação do Brasil, distantes entre si, como se tem procurado demonstrar, guardam, no entanto, algumas afinidades, sobretudo o paradigma paulista e a valorização da matriz do interesse como estratégicos para a democratização do país. Mais substantivamente, o diagnóstico da modernização operada em chave neopatrimonial, conforme a primeira versão aqui sumariada, e o da realizada, na segunda versão, sob o pacto nacional-populista, ambos indicando a necessidade de uma ruptura histórica com a tradição, apresentam elementos comuns, principalmente na indicação do papel negativo do Estado na formação da sociedade brasileira contemporânea. Entre tantas, a maior diferença que as distingue está na compreensão do tema estratégico do interesse, emancipatório em geral para uma, e, em particular, para a outra, e somente na medida em que está associado à questão da autonomia e da identidade de classe.
Essas versões fizeram fortuna — embora nem sempre estivesse visível, em especial em fins da década de 80 e no começo da de 90, o que as singularizava irredutivelmente —, e consistiram no suporte ideal das forças políticas que, após a promulgação da Constituição de 1988, se fizeram dominantes na opinião pública e nos segmentos organizados da sociedade, vindo, mais tarde, a assumir configuração partidária no PSDB e no PT, não por acaso originários do Estado de São Paulo (Barboza, 1995), o primeiro deles, como notório, ocupando a Presidência da República, e, o segundo, o lugar de maior partido de oposição do país. Contudo, a emancipação dos interesses da política dos do Estado não o tem feito virtuoso, assim como a desqualificação da idéia de República em favor da de mercado não tem produzido indivíduos dotados de direitos e gozando de iguais oportunidades na vida. O moderno interesse das elites econômicas de São Paulo, agora como antes, na Primeira República, somente se faz hegemônico no campo da política ao se coligar com as oligarquias — exemplar a aliança governamental entre o PSDB e o PFL —, as quais se utilizam do Estado e dos seus recursos a fim de reciclar e atualizar o seu domínio e identidade de classe. De outra parte, o moderno interesse dos trabalhadores industriais, apesar do vigor demonstrado nas grandes movimentações sociais dos anos 80 e da relativa força eleitoral do partido a que deu nascimento, ao dar as costas ao tema republicano e se tornar prisioneiro do seu interesse particular, não se vem revestindo de capacidade de universalização.
Sob o império do interesse, uma década depois de promulgada a mais democrática Carta constitucional que o país já conheceu, pode-se constatar, contra os melhores votos formulados pelas interpretações dominantes sobre o Brasil, que a ordem racional-legal não se faz acompanhar necessariamente de mais justiça — ademais, com o Executivo ultrapassando o Legislativo em matéria de legislação pelo uso das Medidas Provisórias, nem previsibilidade ela pode garantir —, assim como uma estrutura de classes sociologicamente "limpa" não erige automaticamente sobre si uma representação política que favoreça as maiorias. O moderno, pois, não veio a encantar o mundo dos brasileiros, pondo-os em um faroeste idílico propício à livre iniciativa e à realização de trajetórias individuais venturosas, mas a racionalizar a sua vida a partir de valores de mercado, como, aliás, seria de esperar de uma previsão weberiana.
As linhas principais dessas interpretações do Brasil se tornaram idéias-força e se encontraram com os atores que as conduziram à concretização — e, nisso, comprovaram o seu caráter não arbitrário —, mas o seu êxito intelectual e político está muito distante dos resultados práticos previstos nos seus diagnósticos: a malaise, se muda o cenário, é a mesma e se aprofunda nos níveis de exclusão e fragmentação social. Mais do que isso, o movimento novo que reanima a sociedade vem de um lugar insuspeitado: do atraso e da ralé de quatro séculos, onde o interesse é como se fosse virtual, uma expectativa e não um fato tangível, fora do mercado e do mundo dos direitos constituídos, dos trabalhadores sem terra. Esse movimento é, por natureza, republicano, na medida em que se dirige necessariamente ao Estado e à arena pública a fim de converter à cidadania indivíduos destituídos de direitos e até de interesses — salvo o natural de conservar a própria vida, uma vez que sequer fazem parte da força de trabalho, constituindo-se em "sobra" consolidada da população. Além disso, como o seu interesse não se reveste de materialidade, ao contrário do que ocorre com o campesinato clássico, para que ele venha à luz é indispensável a organização prévia e a concepção de uma adequada rede social que viabilize sua resistência nas invasões de terra e nos acampamentos. Dessa forma, ao menos para nascer, o seu interesse requer a virtude, intrínseca à sua manifestação a fórmula tocquevilliana do "interesse bem compreendido".
Nessa hora em que se esgotam as perspectivas de boa sociedade contidas nas promessas feitas pelas interpretações hegemônicas sobre o Brasil, em que cabia ao moderno, no "mercado" político e no mercado propriamente dito, dar passagem à liberdade e à igualdade, a relação entreatraso e República pode apontar para um recomeço. Em primeiro lugar, porque os seus temas de fundo são o da ampliação da cidadania e o da defesa da sociabilidade contra o que seria a naturalidade dos mecanismos de mercado em um mundo globalizado; e, em segundo, porque importa uma reabertura da avaliação da nossa história, e, com ela, do que foi a nossa Ibéria, certamente uma república de poucos, embora tenha se mostrado apta à incorporação dos setores emergentes na sociedade brasileira, como se verificava no imediato pré-64. Decerto que ela ficou para trás, como também ficou a idéia do Estado nacional como uma comunidade superposta aos interesses dos indivíduos que o compunham.
O interesse sem República, não importa quem seja o seu portador, vive a lógica do mercado, e a questão reside, então, na possibilidade de ela ser construída a partir de uma nova sociabilidade que se credencie a resolver a velha dissociação entre as esferas do público e do privado, para o que ainda são referências importantes as obras de Tocqueville e Gramsci, assim como o esforço da teoria contemporânea no sentido de fundamentar uma democracia deliberativa, com todas as suas implicações sobre uma reforma ético-moral — como a queria Gramsci, por exemplo — que venha a deslocar a questão da eticidade do plano do Estado para o da sociedade civil. A República é um espaço comunitário, em que os interesses também expressam valores e uma certa história comum; o grande desafio para uma nova interpretação do Brasil está em abrir o campo de indagações e possibilidades a fim de que a física moderna dos interesses "bem compreendidos" — vale dizer, do interesse dotado de capacidade de universalização na medida em que também venha a expressar valores públicos — se encontre com a metafísica brasileira [3], pondo-a sob a sua direção, e traduzindo para o plano da sociabilidade a tradição de valorização do público que a Ibéria praticou no interior do seu Estado, cumprindo assim o programa republicano de formar uma comunidade de cidadãos com iguais direitos à vida e à realização pessoal e que tenha a sua história como um dos sistemas de orientação que a projetem para a frente.
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Luiz Werneck Vianna é professor do Iuperj e autor, entre outros, de Liberalismo e sindicato no Brasil.
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Notas
[1] Particularmente influente foi a sua Sociología de la modernización (Germani, 1969).
[2] Sobre o ponto, ver, de F. Weffort, Sindicatos e política, obra de ampla recepção entre os cientistas sociais brasileiros dos anos 70 e 80 (Weffort, s/d).
[3] Sobre a metafísica brasileira e suas relações com o mundo dos interesses, ver A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil (Werneck Vianna, 1997) e O quinto século — André Rebouças e a construção do Brasil (Rezende de Carvalho, 1997).
Referências bibliográficas
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FAORO, Raimundo. (1975). Os donos do poder. Porto Alegre/São Paulo: Ed. Globo/Ed. da Universidade de São Paulo.
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FRANCO, Maria Silvia de Carvalho. (1969). Homens livres na ordem escravocrata. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros-USP.
GERMANI, Gino. (1969). Sociologia de la modernización. Buenos Aires:
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MELO, Manoel Palácios Cunha. (1997). As ciências sociais no Brasil. Tese de Doutorado, IUPERJ.
REZENDE DE CARVALHO, Maria Alice. (1997). O quinto século — André Rebouças e a construção do Brasil. Tese de Doutorado, IUPERJ.
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WEFFORT, Francisco C. (s/d). Sindicatos e política. Tese de Livre-Docência, USP.
WERNECK VIANNA, Luiz. (1997). A revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil. Rio de Janeiro: Revan.
Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil