COLUNA DO TIMM 

 

 


 EDITORIAL 28/3/2025

Exploração da Margem Equatorial renderia ao Brasil US$ 56 bilhões em investimentos e US$ 200 bilhões em arrecadação

Além disso, segundo estudo detalhado pelo Ministério de Minas e energia, a exploração geraria mais de 300 mil empregos 

Paulo Emilio

247 - O secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Pietro Mendes, detalhou um estudo que projeta US$ 56 bilhões em investimentos, geração de mais de 300 mil empregos e arrecadação governamental superior a US$ 200 bilhões com a liberação da exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira.

O estudo, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, defende a necessidade de emissão da licença ambiental pelo Ibama até abril de 2025 para que a Petrobras consiga realizar a perfuração do poço FZA-M-59 até outubro. O prazo é estratégico, uma vez que o contrato da sonda afretada da empresa Foresea, atualmente na Bacia de Campos e que será deslocada para o Amapá, expira no mesmo mês.

“O único ponto pendente do processo de licenciamento é o tempo de resposta a eventual fauna oleada, que está sendo equacionado pela Petrobras com a construção do novo Centro de Reabilitação de Despetrolização de Fauna (CRD)”, destacou Pietro Mendes, de acordo com a reportagem. A partir de 7 de abril, o CRD estará apto a receber vistorias, segundo a apresentação.

A expectativa no mercado é de que, após o retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de uma viagem oficial à Ásia, ocorra uma reunião com ministros e o presidente do Ibama para destravar o impasse ambiental. A liberação da licença pode impulsionar as ações da Petrobras, que enxerga na Margem Equatorial a alternativa mais viável para recompor suas reservas petrolíferas, em declínio projetado para a próxima década.

O estudo compara a região à faixa entre Guiana e Suriname, onde foram descobertas grandes jazidas de petróleo, e reforça que o poço FZA-M-59 foi arrematado em leilão governamental (11ª Rodada de Licitações), com participação da Petrobras (30%) e da BP (70%). Em 2021, porém, a empresa britânica decidiu abandonar a parceria devido à morosidade no processo de licenciamento ambiental.

Segundo Mendes, os investimentos já realizados pela Petrobras no projeto somam cerca de R$ 1 bilhão. O custo diário do aluguel da sonda é estimado em US$ 400 mil. A estrutura montada para atender às exigências ambientais supera, segundo o estudo, aquelas destinadas às bacias de Campos e Santos, onde foram perfurados centenas de poços: “É a maior estrutura de resposta do País”, afirma o documento.


Editorial 

VIVA A REPÚBLICA – Paulo Timm

 

Brasil se mobiliza pela prisão de Bolsonaro e contra anistia a golpistas. Veja os locais com atos marcados para o fim de semana  

 

O ex-mandatário e sete aliados se tornaram réus após decisão unânime dos cinco ministros da Primeira Turma do STF 

 

Leia 247 - Brasil se mobiliza pela prisão de Bolsonaro e contra anistia a golpistas. Veja os locais com atos marcados para o fim de semana | Brasil 247  

 

Discussão sobre tentativa de golpe e preparativos deve pautar julgamento de Bolsonaro - Blog da Julia Duailibi

Entenda quais são os próximos passos após o STF aceitar denúncia

Crimes atribuídos a Bolsonaro podem somar 39 anos de prisão    

 

Após virar réu, Bolsonaro diz que acusação de golpe é 'infundada' e repete ataques a urnas -g1 - Por unanimidade, Primeira Turma da Corte aceitou denúncia da PGR contra ex-presidente e sete aliados. Com a decisão, será aberta uma ação penal e grupo vai a julgamento pelo STF.    

 

Anistia que Bolsonaro defende é possível? Entenda o termo. Ver g1

 

 

Nesta semana, dois acontecimentos importantes e interligados, do ponto de vista da vida pública no Brasil: Aniversário, no dia 25 de março, da primeira Constituição, de 1824, e aceitação, no dia 27, da denúncia da Procuradoria Geral da República, com base em vasto inquérito da Policia Federal, contra o ex Presidente Bolsonaro e figuras do alto escalão do seu Governo, por tramarem contra o Estado de Direito Democrático. Doravante, são réus e se espera que todos os ritos processuais sejam garantidos, sobretudo no tocante à presunção de inocência dos mesmos e ampla garantia de sua defesa.

Onde a conexão, tão distante, deste dois fatos?

Na Constituição de 1824, consagrou-se, como resquício do Absolutismo, o PODER MODERADOR do Imperador. Foi uma excrescência autoritária que acabou se ramificando em anos posteriores. Na Proclamação da República, este Poder foi extinto, mas acabou sendo assumido pelas Forças Armadas, sobretudo o Exército, que ganhara desenvoltura e protagonismo na vida política do país depois da Guerra do Paraguai. Desde então militares tiveram papel preponderante no país, até o Governo Bolsonaro. Inclusive no período Vargas. Getúlio , em 30, venceu a Revolução com o apoio dos "tenentes", jovens oficiais que se rebelaram durante a década anterior (1920) contra a República Velha e se constituíram em lideranças estaduais sob o manto do Estado. Dividiram-se na Guerra Fria e acabaram intervindo em 1964, mantendo-se no Poder por 21 anos. Veja-se o filme “O dia que durou 21 anos”... Com a redemocratização, patrocinada pelo próprio regime, continuaram com alto poder de influência. Mesmo a Constituição de 88 , resultado do caráter liberal da redemocratização, os preservou e os manteve como eminência "farda" do Poder Republicano. Insatisfeitos com a condução de Dilma Roussef na “Comissão da Verdade”, que trouxe à público os crimes dos porões da ditadura, acabaram abraçando a eleição de Bolsonaro em 2018. Mas os tempos mudaram. A Sociedade Civil e as Instituições do Estado se fortaleceram muito nas quatro últimas décadas da redemocratização e resistiram à narrativa do retrocesso, das Redes Sociais manipuladas e do Gabinete do Ódio instalado no Palácio do Planalto. Esse extremismo de direita não convenceu os brasileiros e acabou derrotado em 2022. E felizmente , no dia 27 passado (março/2025), estamos consagrando o império da Toga, através do Judiciário, sobre a Espada. Bolsonaro e sete de seu alto staff, um primeiro conjunto de um total de 34, indiciados por conspiração contra a democracia, viraram réus diante da aceita pelo Supremo da denúncia apresentada pela pela PGR. De deverão, agora, se submeter a processo criminal grave. Dificilmente escaparão da cadeia. Uma lição, não só uma para todos aqueles que se insurgem com atos contra o Estado, com advertência à toda cidadania, mas, sobretudo, um novo marco na construção do regime republicano e no aprofundamento da democracia-entre-nós. Não foi uma vitória da esquerda, do Lula ou do PT. Foi uma vitória da democracia. E este processo, que se prolongará ainda por algumas semanas, não será o passo definitivo no rumo da estabilidade e equilíbrio entre os Poderes Republicanos. Ainda sofreremos sobressaltos, mas resistiremos. A utopia, no nosso caso, democrática, como dizia Galeano, não é um poste de luz ao qual se chega, mas uma luz no horizonte que nos guia rumo a um mundo melhor. Viva a República!

 

Anexo

Bolsonaro acabou? - Hélio Schwartsman - Folha de S. Paulo - Existe uma categoria de políticos carismáticos que podem dizer e fazer barbaridades sem perder o apoio dos eleitores mais fiéis

A essa altura, podemos dar como favas contadas que Jair Bolsonaro será condenado a uma longa pena de prisão. Sua carreira política acabou? Adoraria responder afirmativamente à pergunta, mas a experiência recomenda certa cautela.

Lula, que também parecia um caso perdido após ser preso, com condenação por corrupção em três instâncias, voltou e reassumiu a Presidência. Isso não é exclusividade brasileira. Napoleão Bonaparte, derrotado na Batalha de Leipzig e exilado em Elba, também deu um jeito de voltar.

A situação de Bolsonaro, porém, me parece mais difícil que a de Lula e Napoleão. Ao contrário do que ocorreu com o petista, o capitão reformado será julgado pelo STF, o que significa que não existe corte superior que possa depois anular tudo, como é padrão por aqui.

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Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 06:34:00 Nenhum comentário:  

 

 

Advogados adotam Lei de Murici e querem anular delação contra Bolsonaro - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense - Presidente da Primeira Turma, ministro Cristiano Zanin marcou para hoje a continuidade do julgamento, que deve apreciar o mérito da denúncia contra o ex-presidente da República e outros sete denunciados

Por se tratar de um julgamento inédito, seja porque o principal acusado de tentativa de golpe de Estado é um ex-presidente da República, seja por generais de quatro estrelas igualmente acusados serem julgados na Justiça civil, todos por intentar contra o regime democrático, vem ao caso o coronel Tamarindo, personagem histórico da Guerra de Canudos (1896-1897), no interior da Bahia. Como ele, as defesas de Jair Bolsonaro e dos demais acusados adotaram a Lei de Murici.

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Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 06:44:00 Nenhum comentário:  

 

 

A história em julgamento - Dora Kramer - Folha de S. Paulo - Os acusados de golpe são, sobretudo, traidores do pacto que resultou na anistia de 1979

Imperfeita, mas a possível para abrir caminho à transição democrática, a anistia de 1979 senta-se agora no Supremo Tribunal Federal na figura de familiares de Vladimir Herzog e Zuzu Angel, vítimas da ditadura militar, para assistir ao julgamento de pessoas acusadas de romper o pacto de quatro décadas atrás.

A peça que começou a ser examinada denuncia 34 pessoas por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado de Direito, organização criminosa armada, dano e deterioração do patrimônio público.

Um verdadeiro manual de traição à reconstrução de uma democracia que completa 40 anos. É muita coisa e, se comprovadas de modo bem consistente as acusações, não há que se falar em punições excessivas, muito menos em anistia. Esta foi pactuada lá atrás e vilipendiada por gente inconformada com o resultado de uma eleição.

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Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 06:32:00 Nenhum comentário:  

 

Batalha judicial está perdida para o bolsonarismo - César Felício - Valor Econômico -Sem alternativas, resta ao ex-presidente repetir a manobra de Lula em 2018

O julgamento da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a aceitação da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 24 pessoas por golpismo, que se iniciou na terça-feira (25), é um dos maiores jogos jogados da história recente do país, com efeitos já amplamente precificados há meses. Suas vítimas não conseguiram desviar-se do destino aparentemente inexorável.

A denúncia deverá ser aceita e a ação penal, uma vez aberta, deverá levar à condenação de Bolsonaro ainda neste ano. Sua prisão é um evento previsto para o último trimestre do ano. O próprio ex-presidente previu em entrevista ao “Financial Times” ser condenado a 28 anos. Fontes jurídicas que acompanham o julgamento, distantes de Bolsonaro, acham que o ex-presidente está certo.

Há uma certa dúvida sobre o placar e a conclusão do exame da questão esta semana, em função da presença do ministro Luiz Fux no colegiado. No exame das questões preliminares levantadas pelas defesas do primeiro núcleo dos acusados, Fux sinalizou ver com muita reserva a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que contou com mais de uma versão. Cristiano Zanin, Flávio Dino e Cármen Lúcia devem acompanhar o voto do relator, Alexandre de Moraes. A eventual falta de unanimidade, contudo, não muda o prognóstico.

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Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 08:27:00 Nenhum comentário:  

 

 

O batom de Bolsonaro - Marcelo Godoy - O Estado de S. Paulo - Atentar contra as liberdades é o pior dos crimes que alguém pode cometer em uma República

Marco Mânlio Capitolino aspirou à realeza e acabou precipitado da Rocha Tarpeia. É o que Tito Lívio conta no livro VI da História de Roma – Ab urbe condita libri. A República condenou Mânlio, apesar de suas ações nobres, porque – movidas pela “vergonhosa paixão de reinar” – deixavam de motivar recompensa e glória para se tornarem odiosas.

Bolsonaro, como os antigos acusados em Roma, compareceu ao fórum. Sua presença não constrangeu os ministros – Lula não esteve lá quando o STF definiu que os condenados em 2.ª instância deviam ir para o cárcere, antes do trânsito em julgado.

Bolsonaro sabe o significado de seu gesto. É de manipular as redes e de explorar meias-verdades que o bolsonarismo é sempre acusado pelos adversários.

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Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 08:20:00 Nenhum comentário: 


 

EDITORIAL 25/3/25

Adolescentes

Carmen Lícia Palazzo - FBook 24 março 25

Não vou discutir a série sobre a adolescência porque já sei que vão discordar de mim, no entanto acho exageradíssima, embora haja (e sempre houve, SEMPRE) muitos casos como aqueles, nos devidos contextos de cada época. 

De qualquer maneira, é muito mais a realidade inglesa do que a brasileira e as latinas em geral. E há toda uma discussão que os ingleses têm recém começado a fazer sobre seus internatos, maneira muiiiito "peculiar", aliás, (e põe peculiar nisso) das famílias tratarem seus jovens... Abusos em quantidade são varridos pra baixo do tapete de tais escolas, que são, a maior parte delas, britânicas, bem mais raras em outros países. E eles acham normalíssimos, os tais internatos). Mais aí já é outro debate. E cada cultura com a sua realidade, não os estou criticando em bloco, apenas mostrando o que muitas famílias por lá têm questionado, segundo me informam diversos amigos.

Da mesma maneira que, nos EUA, acham normal que quase todos façam a universidade longe de casa e que os laços com as famílias sejam muito esgarçados a partir dos 18 anos, quando grande parte dos jovens vai morar longe dos pais. Não é a realidade em muitíssimos outros países. É bom? É ruim? Não sei, apenas é diferente, portanto não há uma maneira única de viver a juventude, no mundo todo.

Sobre a adolescência, toda ela é trágica? Há barbaridades que acontecem e sempre aconteceram por todos os lados mas, como muitos estão dizendo, mais trágica atualmente? DISCORDO. Há milhões de jovens vivendo uma vida totalmente diferente do que mostra a série, há milhões de jovens focando no seu futuro.

E há milhões de jovens para os quais o trágico é a miséria, crianças em países em guerra, fome e ausência de toda e qualquer dignidade.

Não se assustem tanto com a série. Não demonizem tanto a adolescência. Não acreditem tanto que "o mundo atual está perdido" para a juventude que não vive em situação de miséria e de conflitos armados. Sou professora e não faço coro com os que agora comentam que até perderam o sono por causa da referida série.

E há pequenas coisas, nada pequenas, na verdade, mas que muitos não ligam e que devem ser implementadas de maneira efetiva: educação sexual nas escolas (existente sem dramas em alguns países europeus) para evitar a tristeza da gravidez precoce, não permitir que as religiões se imiscuam na necessidade de alertar a juventude, que OBVIAMENTE FAZ SEXO, para que tome os devidos cuidados para evitar doenças sexualmente transmissíveis e GRAVIDEZ. Isso é que deve ser MUITO alertado e discutido!

Não superestimem a importância da tal série, ela é bastante alarmista. E, como é bem feita, impressiona muito mais do que possam imaginar. Há uma juventude excelente, "se virando" para dar certo! 

Pronto, discordei da opinião generalizada sobre ela e, na verdade, não estou muito interessada, pois acho distorcida para efeitos de sucesso da tal série. E sou muito fã da juventude! 


Chris Hedges - 14 de março de 2025

Nós, estadunidenses, compartilhamos as patologias de todos os impérios moribundos, com sua mescla de bufonaria, corrupção rastejante, fiascos militares, colapso econômico e selvagem repressão estatal.

Os multimilionários, fascistas cristãos, estelionatários, psicopatas, imbecis, narcisistas e facínoras que tomaram o controle do Congresso, da Casa Branca e dos tribunais estão canibalizando a máquina do Estado. Essas feridas autoinfligidas, características de todos os impérios tardios, paralisarão e destruirão os tentáculos do poder. E então, como um castelo de cartas, o império cairá.

O governo de Trump e a destruição institucional

Cegos por sua arrogância e incapazes de compreender a redução do poder imperial, os mandarins da administração Trump refugiaram-se em um mundo de fantasia, onde fatos duros e indesejáveis já não têm peso. Cospem absurdas incoerências enquanto usurpam a Constituição e substituem a diplomacia, o multilateralismo e a política por ameaças e juramentos de lealdade. Agências e departamentos criados e financiados por leis do Congresso vão desaparecendo.

Eliminaram relatórios e dados governamentais sobre a mudança climática e se retiraram do Acordo Climático de Paris. Saíram da Organização Mundial da Saúde (OMS). Sancionaram funcionários que trabalham na Corte Penal Internacional (CPI), que emitiu ordem de prisão contra o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra em Gaza. Sugeriram que o Canadá se tornasse o 51º estado dos Estados Unidos. Formaram uma força especial para “erradicar os preconceitos anticristãos”. Pediram a anexação da Groenlândia e a tomada do Canal do Panamá. Propuseram construir resorts de luxo na costa de uma Gaza despovoada, sob supervisão dos EUA, controle que, se ocorresse, derrubaria os regimes árabes apoiados pelos Estados Unidos.

Os governantes de todos os impérios tardios, como os imperadores romanos Calígula e Nero ou Carlos I, último governante dos Habsburgo, são tão incoerentes quanto o Chapeleiro Louco [n. da t.: personagem de Alice no País das Maravilhas]: proferem comentários sem sentido, propõem enigmas sem resposta e recitam saladas de palavras cheias de incoerências. Eles, assim como Donald Trump, são um reflexo da podridão moral, intelectual e física que afeta uma sociedade enferma.

Passei dois anos pesquisando e escrevendo sobre as perversas ideologias daqueles que agora tomaram o poder. O resultado está em meu livro Fascistas estadunidenses: a direita cristã e a guerra contra os Estados Unidos (American Fascists: The Christian Right and the War on America).

Fascistas cristão e o ódio as democracias seculares

Esses fascistas cristãos, que determinam a ideologia central da administração Trump, não se envergonham de seu ódio às democracias pluralistas e seculares. Buscam, como detalham exaustivamente em inúmeros livros e documentos “cristãos” (como o Projeto 2025, da Heritage Foundation), deformar os poderes Judiciário e Legislativo do governo, além dos meios de comunicação e da academia, para transformá-los em apêndices de um Estado “cristianizado”, dirigido por um líder ungido pela divindade.

Admiram abertamente apologistas nazistas, como Rousas John Rushdoony, um partidário da eugenia que defende que a educação e os benefícios sociais sejam entregues às igrejas e que a Lei da Bíblia substitua o Código Jurídico secular. Também exaltam teóricos do Partido Nazista, como Carl Schmitt. São racistas, misóginos e homofóbicos declarados.

Adotam teorias conspiratórias bizarras, desde a teoria da substituição branca até um sombrio monstro que chamam de “woke”. Basta dizer que seus fundamentos não estão baseados em um universo realista.

Imperialismo e fanatismo religioso: a ascensão da teologia do Domínio

Os fascistas cristãos provêm de uma seita teocrática chamada Dominionismo (ou teologia do Domínio). Essa seita ensina que os cristãos estadunidenses receberam o mandato de transformar os Estados Unidos em um Estado cristão e representante de Deus. Os oponentes políticos e intelectuais desse “biblicanismo” militante são condenados como representantes de Satanás.

“Sob o domínio cristão, os Estados Unidos já não serão uma nação pecadora e decadente, mas uma em que os Dez Mandamentos formem a base de nosso sistema legal; o criacionismo e os ‘valores cristãos’ formem as bases de nosso sistema educativo; e onde os meios de comunicação e o governo proclamem as Boas Novas a todos e cada um”, transcrevi em meu livro. “Serão abolidos os sindicatos, as leis dos direitos civis e as escolas públicas. As mulheres serão retiradas da força de trabalho para ficar em casa, e será negada a cidadania a todos aqueles considerados insuficientemente cristãos. Além de seu mandato proselitista, o governo federal será reduzido à proteção da propriedade e à segurança ‘nacional’.”

Os fascistas cristãos e seus financiadores multimilionários, mostrei, falam em termos e frases que são familiares e reconfortantes para a maioria dos estadunidenses, mas já não usam as palavras para significar o que significavam no passado”.

Cometem logocídio, matando velhas definições e substituindo-as por outras novas. Palavras como verdade, sabedoria, morte, liberdade, vida e amor são desconstruídas e passam a ter significados diametralmente opostos. Vida e morte, por exemplo, significam “vida em Cristo” ou “morte para Cristo”, uma distinção entre crença e incredulidade. Sabedoria refere-se ao nível de compromisso e obediência à doutrina. Liberdade (liberty) não tem relação com liberdade (freedom), mas sim com a que advém de seguir Jesus Cristo e libertar-se dos ditames do secularismo. Amor é distorcido para significar obediência incondicional àqueles que, como Donald Trump, afirmam falar e agir em nome de Deus.

À medida que a espiral de morte se acelera, os inimigos fantasmas — nacionais e estrangeiros — serão responsabilizados pelo colapso e perseguidos e condenados até o aniquilamento. Quando o naufrágio se consumar, (resultando na pauperização da população e no colapso dos serviços públicos, gerando uma raiva incoerente) só restará o instrumento brutal da violência estatal. Muitas pessoas sofrerão, especialmente com a intensificação dos impactos da crise climática, que imporá um castigo letal cada vez maior.

O estertor da Pax Americana

O colapso quase total do sistema constitucional de separação de poderes ocorreu muito antes da chegada de Trump. Seu retorno ao poder representa o estertor da Pax Americana. Não está distante o dia em que, como o Senado romano em 27 a.C., o Congresso celebrará sua última votação significativa e entregará o poder a um ditador. O Partido Democrata, cuja estratégia parece ser não fazer nada e esperar que Trump exploda, já consentiu o inevitável.

A questão não é se cairemos, mas quantos milhões de inocentes levaremos conosco. Dada a violência industrial exercida pelo império, podem ser muitos — especialmente se os que estão no poder decidirem recorrer às armas nucleares.

O desmantelamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) — que Elon Musk afirma ser comandada por “um ninho de víboras marxistas de esquerda radical que odeiam os Estados Unidos” — é um exemplo de como esses piromaníacos não têm ideia de como funcionam os impérios.

Essa ajuda estrangeira não é benévola. É usada como arma para manter a primazia sobre as Nações Unidas (ONU) e eliminar governos que o império considera hostis. As nações que aceitam ajuda da ONU (e de outras organizações multilaterais que votam conforme as exigências do império) entregam sua soberania às corporações globais e ao Exército dos Estados Unidos, tornando-se elegíveis para receber assistência. Já as que não o fazem são excluídas.

O “instrumental” utilizado pela Usaid

Quando os Estados Unidos se ofereceram para construir um aeroporto em Porto Príncipe, capital do Haiti, segundo informa o jornalista investigativo Matt Kennard, exigiram que o Haiti se opusesse à admissão de Cuba na Organização dos Estados Americanos (OEA) — o que o país aceitou.

A ajuda estrangeira da Usaid) financia projetos de infraestrutura para que corporações possam operar oficinas clandestinas globais (maquiladoras) e, assim, extrair recursos. Além disso, destina verbas para “promover a democracia” e a “reforma judiciária”, iniciativas que desconstroem as aspirações de líderes políticos e governos que buscam se manter independentes das garras do império.

A Usaid, por exemplo, financiou um “projeto de reforma de partidos políticos” projetado como contrapeso ao “radical” Movimento ao Socialismo (MAS), da Bolívia, com o objetivo de impedir a eleição de socialistas como Evo Morales. Depois que Morales assumiu a presidência, a agência continuou investindo em organizações e iniciativas que enfraquecessem o poder do MAS, incluindo programas de capacitação para jovens bolivianos, orientados a práticas estadunidenses de negócios.

Kennard, em seu livro The Racket: A Rogue Reporter vs The American Empire, documenta como instituições estadunidenses, como a Fundação Nacional para a Democracia (National Endowment for Democracy, NED), o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Usaid e a Administração para o Controle de Drogas (DEA) trabalham em conjunto com o Pentágono e a Agência Central de Inteligência (CIA) para subjugar e oprimir o Sul Global.

Austeridade e retirada de direitos

Os Estados clientes que recebem ajuda devem dissolver sindicatos, impor medidas de austeridade, manter salários baixos e instalar governos títeres. Na Bolívia, os programas de ajuda, fortemente financiados e projetados para enfraquecer Morales, levaram o presidente a expulsar a USAID do país.

A mentira vendida ao público é que essa ajuda beneficia tanto os necessitados no exterior quanto a população dos Estados Unidos. No entanto, a desigualdade promovida por esses programas no Sul Global reflete a mesma desigualdade imposta dentro do próprio país. A riqueza extraída das nações periféricas não é distribuída equitativamente: termina nas mãos da classe multimilionária, muitas vezes escondida em contas bancárias no exterior para evitar impostos.

Enquanto isso, os impostos da população financiam desproporcionalmente as forças armadas, que são o punho de ferro que sustenta esse sistema de exploração. Os 30 milhões de estadunidenses que perderam seus empregos devido às demissões em massa e à desindustrialização viram suas vagas serem transferidas para trabalhadores de oficinas clandestinas no exterior. Como demonstra Kennard, tanto no âmbito nacional quanto no internacional, trata-se de uma enorme transferência de riqueza dos pobres para os ricos, em escala global e nacional.

“Os mesmos que inventam mitos sobre o que fazemos no exterior construíram também um sistema ideológico similar para legitimar o roubo dentro do país: o roubo dos mais pobres pelos mais ricos”, escreve Kennard. “Os pobres e trabalhadores do Harlem têm mais em comum com os pobres e trabalhadores do Haiti do que com suas elites, mas isso precisa ser ocultado para que o barraco funcione.”

Oficinas clandestinas ou “zonas econômicas especiais

A ajuda estrangeira mantém oficinas clandestinas ou “zonas econômicas especiais” (maquiladoras) para as corporações globais em países como o Haiti, onde trabalhadores são explorados por alguns centavos por hora, muitas vezes em condições precárias e inseguras.

“Uma das facetas das ‘zonas econômicas especiais’ e um dos incentivos para as corporações nos Estados Unidos é que essas zonas possuem menos regulamentações do que o Estado nacional em questões relacionadas à mão de obra, impostos e alfândega”, explicou Kennard em entrevista. “Você abre essas oficinas clandestinas nas ‘zonas econômicas especiais’, paga uma miséria aos trabalhadores e extrai todos os recursos sem precisar pagar alfândega ou impostos.

O Estado — seja no México, no Haiti ou em qualquer outro lugar onde há produção offshoring — não se beneficia em absolutamente nada. Isso é intencional. As arcas do Estado nunca aumentam. São as corporações que se beneficiam.”

As mesmas instituições e mecanismos de controle dos Estados Unidos, segundo Kennard, foram usados para sabotar a campanha eleitoral de Jeremy Corbyn, ferrenho crítico do império estadunidense e candidato ao cargo de primeiro-ministro do Reino Unido.

A crise econômica e o colapso do dólar

Os Estados Unidos desembolsaram quase US$ 72 bilhões em ajuda externa no ano fiscal de 2023. O montante financiou iniciativas de acesso à água potável, tratamentos contra HIV/Aids, segurança energética e combate à corrupção. Em 2024, o país foi responsável por 42% de toda a ajuda humanitária monitorada pelas Nações Unidas (ONU).

A ajuda humanitária, frequentemente descrita como “poder brando”, é projetada para mascarar o roubo de recursos do Sul Global por parte das corporações estadunidenses, a expansão da presença militar dos Estados Unidos, o controle rígido sobre governos estrangeiros, a devastação causada pela extração de combustíveis fósseis, o abuso sistemático de trabalhadores em oficinas clandestinas globais e o envenenamento de crianças trabalhadoras em países como o Congo, onde são exploradas na extração de lítio.

Duvido que Elon Musk e seu exército de jovens sequazes no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) — que, vale lembrar, não é um órgão oficial dentro do governo federal — tenham alguma ideia sobre as organizações que estão destruindo, os motivos de sua existência e o impacto de seu desaparecimento sobre o poder dos Estados Unidos.

O confisco de arquivos do governo e de material classificado, o esforço para rescindir contratos governamentais no valor de centenas de milhões de dólares — em sua maioria relacionados a Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) —, as tentativas de aquisição para “drenar o pântano” (incluindo a oferta de compra de toda a força de trabalho da Agência Central de Inteligência (CIA), temporariamente bloqueada por um juiz), a exoneração de 17 ou 18 inspetores gerais e fiscais federais, a suspensão de financiamento e subsídios governamentais… tudo isso faz parte do canibalismo político sobre o Leviatã que eles mesmos veneram.

Planejam desmantelar a Agência de Proteção Ambiental (EPA), o Departamento de Educação e o Serviço Postal dos Estados Unidos (USPS), todos parte essencial da estrutura interna do império. Quanto mais disfuncional se torna o Estado, mais oportunidades de negócios surgem para corporações predatórias e empresas de capital privado. Esses multimilionários farão uma fortuna “colhendo” os restos do império. No entanto, no fim das contas, estão matando a besta que gerou a riqueza e o poder estadunidenses.

Quando o dólar deixar de ser a moeda de reserva mundial, algo inevitável com o desmantelamento do império, os Estados Unidos não conseguirão mais pagar seu enorme déficit vendendo bônus do Tesouro. A economia entrará em uma depressão devastadora, provocando o colapso da sociedade civil, uma escalada vertiginosa nos preços (especialmente dos produtos importados), estagnação salarial e altas taxas de desemprego. Será impossível manter o financiamento das pelo menos 750 bases militares no exterior e do exército inchado. O império se contrairá instantaneamente, se transformando em uma sombra de si mesmo. O hipernacionalismo, impulsionado por uma raiva incipiente e um desespero generalizado, se converterá em um fascismo estadunidense repleto de ódio.

 “O desaparecimento dos Estados Unidos como principal potência mundial poderia chegar muito mais rápido do que se imagina”, escreve o historiador Alfred W. McCoy em seu livro In the Shadows of the American Century: The Rise and Decline of US Global Power (Nas sombras do século americano: a ascensão e queda do poder global estadunidense).

A fragilidade do Império

“Apesar da aura de onipotência que costumam projetar os impérios, a maioria é surpreendentemente frágil e carece da força inerente, até mesmo de um modesto Estado-nação. De fato, um olhar para sua história deveria recordar-nos que os maiores são suscetíveis de cair por diversas causas, sendo geralmente as pressões fiscais um fator primordial. Durante a maior parte de dois séculos, a segurança e a prosperidade da pátria foi o objetivo principal da maioria dos Estados estáveis, o que torna as aventuras estrangeiras, ou imperiais, uma opção prescindível, a que em geral se atribui não mais do que 5% do orçamento interno. Sem o financiamento, que surge quase organicamente no seio de uma nação soberana, os impérios notoriamente são predadores em sua incessante busca de saque ou lucro: basta ver o comércio de escravos no Atlântico, a paixão da Bélgica pela borracha no Congo, o comércio do ópio da Índia britânica, a violação da Europa por parte do Terceiro Reich ou a exploração soviética da Europa do Leste.”

Quando as receitas diminuem ou colapsam, afirma McCoy, “os impérios se tornam frágeis”. Tão delicada é sua ecologia de poder, que quando as coisas começam a ir realmente mal, os impérios desmoronam a uma velocidade ímpar: apenas um ano para Portugal, dois anos para a União Soviética, oito anos para a França, onze anos para os otomanos, dezessete para a Grã-Bretanha e, com toda probabilidade, apenas vinte e sete anos para os Estados Unidos, contando desde o crucial ano de 2003 (quando os EUA invadiram o Iraque)”, escreve Alfred W. McCoy em seu livro “In the Shadows of the American Century: The Rise and Decline of US Global Power”.

O arsenal de ferramentas utilizadas para o domínio global — vigilância em grande escala, desmembramento das liberdades civis (incluindo o devido processo legal), tortura, polícia militarizada, sistema penitenciário massivo, drones e satélites militarizados — será empregado contra uma população nervosa e enfurecida.

A ação de devorar o cadáver do império para alimentar a desmedida cobiça e os egos desses carniceiros é o presságio de uma nova era sombria. 


A POSSE DE NEJAR NA ACADEMIA RIOGRANDENSE DE LETRAS

 

Carlos Nejar com Gabriel Fernandes (dir) e Paulo Timm (esq)

Significativa e solene reunião da Academia Riograndense de Letras recebeu, no dia 19 deste mês, março de 2025, o grande Poeta Carlos Nejar em seu seio. Luís Carlos Verzoni Nejar, gaúcho, nascido em Porto Alegre em 1939, com vasta obra literária internacionalmente reconhecida, é membro da Academia Brasileira de Letras mas, pelo que ele próprio em seu discurso de posse admitiu, como certo “estranhamento”, estava ausente na própria terra. Faltava-lhe este reconhecimento do mais alto sodalício literário riograndense. Presente ao ato, como representante da Academia dos Escritores do Litoral Norte, ocupante da cadeira cujo Patrono é Ruy Rubem Ruschel, junto com o confrade Poeta Gabriel Fernandes, testemunhei, emocionado, este momento de encontro, sobretudo, de fidalguias. De um lado a Academia Riograndense de Letras batendo à porta do grande Poeta que nos representa no plano literário nacional, chamando-o ao amplexo com a terra natal; de outro, o consagrado imortal que desce do Olimpo das Letras nacionais para confraternizar com seus conterrâneos escritores. Longe do Rio Grande há muitos anos, Nejar na verdade, nunca se apartou das origens e disso deu conta em seus versos quando descrevia na visão das ondas do Espírito Santo as coxilhas do Pampa. Intérprete como poucos da alma pampeana, Nejar foi além da épica gauchesca, procurando no dedilhar de seus poemas, a transcendentalidade do Homem de todos os tempos e lugares. Assim o definiu Juremir Machado, em sua crônica “A conversão pela palavra”, publicada no livro A NOITE DOS CABARÉS, POA, 1991 – Ed. Pradense:

-”O poeta Carlos Nejar fala como se deixasse escapar da sua boca, a cada momento, a cada palavra, poesias. Os olhos brilham, a cabeça é jogada para trás, o verbo é buscado na alma.”

Recurvado pelos anos e pelas dores do poeta, Nejar, do alto de sua Poesia, saudado pelo acadêmico Roberto S. Prym, nos abraçou em versos e deixou o seu registro à posteridade, que transcrevo:

Senhores,

Quero, em primeiro lugar, louvar a Deus por este momento. E tomo posse, hoje, nesta Egrégia Academia Riograndense de Letras, como quem retorna para a sua terra. Dirá alguém que já não vou encontrar o mesmo tempo. ‘Mudam os tempo, mudam as vontades” – escreveu Camões. Não irei encontrar o tempo, porque é o tempo que me encontra. Não vou achar muitas pessoas que amei e conheci, o nome de ruas e avenidas terão mudado ou mesmo a rua, onde passei a meninice. Mas os sonhos amadureceram, mas não podem envelhecer conosco. Terão que continuar vivendo além de nós.

O que vi e vivi persistirá existindo na minha sombra, como as árvores do bosque. Minha infância, como a de todos não acabaca.

Lembro Erico Veríssimo, Mário Quinta, Guilhermino César, Manoelito de Ornellas, entre tantos. Não foram um tempo, estão no pampa da palavra, o pampa do universo.

Tenho morado longe do Rio Grande, como no exílio. E como diz Pessoas, “os rios daqui não são como os rios da minha aldeia. Que o digam “O campeador e o Vento”, que o saudoso Wilson Martins chamou de “Os Lusíadas do gaúcho”, generosamente. Ou “Canga”, ou “Miguel Pampa”, ou “República do Pampa”, ou meu romance “Riopampa e o Moinho das Tribulações”. Não parei de amar esta terra por ter-me amado primeiro. E a levo comigo, mesmo me tenha estranhado às vezes por seu acentuado barbarismo. Nos encontramos nas raízes e nos frutos.

Sei que a posse nesta nobre Academia, de tradição e de tantos valores, alguns aqui presentes, repito, é um retorno deste que vos fala. Fui Promotor de Justiça pelo interior, honrado de ser do Ministério Público, servindo a este povo. Vaguei por cidades e plagas. De Procurador de Justiça na capital, tornei-me procurador de almas nos romances que acumulei, com a certeza de que não inventamos as palavras, mas elas que nos inventam.

Portanto, assumo esta cadeira na Sodalício e este lugar como quem assume um sonho que não precisa acordar.

Escreveu Napoleão Bonaparte que após as batalhas, apreciava ver o rosto dos companheiros. Sem ser Napoleão, apenas um vivente, da “Terra dos Viventes”, agradecendo profundamente a todos os que votaram em mim e a todos que, aqui, me acolhem, fraternos, recobro a cidadania do coração do pampa e reconheço, por estar perto da terra para poder ser plantado, não no ar, ou na vaidade , ou orgulho. E reconheço o rosto dos companheiros, grato por esta honra, das maiores, por ser a da terra” – Carlos Nejar


A estratégia norte-americana de “destruição inovadora”

• Por JOSÉ LUÍS FIORI* - 18/03/2025 in A TERRA É REDONDA

Do ponto de vista geopolítico o projeto Trump pode estar apontando na direção de um grande acordo “imperial” tripartite, entre EUA, Rússia e China

 

Ao se completarem dois meses da nova administração perplexidade dos europeus criam uma impressão americana, o histrionismo de Donald Trump e a duplamente falsa com relação à Guerra da Ucrânia. Por um lado, o presidente americano se comporta como se os EUA fossem o “país ganhador”, exigindo uma “reparação de guerra” do país derrotado, a Ucrânia, que foi seu grande aliado até anteontem.

Por outro, os europeus, em estado de pânico, atribuem à traição de Trump e à sua decisão de acabar com a guerra, a responsabilidade por sua divisão e derrota eminente. Como se fosse possível fazer, desfazer e refazer a história real através apenas da manipulação de “narrativas” que são inventadas e repetidas incansavelmente pelas potências que se acostumaram a controlar o “imaginário coletivo” do sistema mundial.

Na verdade, o que estamos assistindo é o reconhecimento norte-americano de um fato consumado: a vitória da Rússia no campo de batalha contra as tropas da Ucrânia, e contra os armamentos da OTAN, mesmo que durem ainda a resistência e os ataques pontuais dos ucranianos. Neste momento, os EUA estão exigindo que seus vassalos se rendam, na forma inicial de um “cessar-fogo”, mas na verdade se trata de uma vitória russa sobre os próprios EUA, que forneceram a maior parte do equipamento bélico, base logística, apoio de inteligência, e financiamento, que permitiram aos ucranianos resistirem durante três anos, promovendo uma escalada militar que chegou às portas de uma guerra atômica, no final do governo de Joe Biden.

Neste momento, a situação ainda está muito confusa, mas mesmo assim já é possível reconstruir os caminhos e principais passos que levaram a essa guerra. Uma história que começou em 1941, com a assinatura da Carta do Atlântico, pelo presidente americano, Franklin Delano Roosevelt, e pelo primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, em Newfoundland, nas cercanias do Canadá. Carta Atlântica que se transformou na “pedra fundamental” da “aliança estratégica” entre EUA e Grã-Bretanha (GB), que foi vitoriosa na Segunda Guerra Mundial, e que foi em seguida sacramentada pelo bombardeio atômico norte-americano das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Uma aliança inquebrantável que durou 80 anos e que esteve na origem do projeto globalista de construção de um mundo unificado e tutelado pelos anglo-saxões, seguindo as regras e valores da “civilização ocidental”.

Esse projeto anglo-saxônico mudou de rumo, entretanto, depois do discurso de Winston Churchill, em Fulton, Missouri, EUA, em março de 1946, quando o ex-primeiro-ministro britânico propôs aos seus aliados norte-americanos a construção de uma barreira de contenção militar – que ele chamou de “cortina de ferro” – separando o “mundo ocidental” da zona de influência comunista da União Soviética. (!!!! – (MD) Uma política inglesa, de demonização e confronto permanente com a Rússia, que foi formulada pela primeira vez logo após o Congresso de Viena, em 1815, um século antes da Revolução Soviética.

A grande novidade desta proposta, portanto, foi o convencimento e mobilização do governo norteamericano de Harry Truman a favor dessa estratégia que deu início à Guerra Fria, em 1947, seguida pela formação de um bloco dos países do Atlântico Norte, consagrado pela criação da OTAN, em 1949, e pela inauguração da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, em 1951, embrião da União Europeia, que viria a ser formalizada em 1993.

Quarenta anos depois, no momento da queda do Muro de Berlim, em 1989, e da dissolução da União Soviética, em 1993, as duas grandes potências anglo-saxãs voltaram ao seu projeto de 1941. Foi quando se falou em “fim da história” e da vitória definitiva da democracia e do capitalismo liberal e anglo-saxônico, sobretudo depois da arrasadora vitória militar dos EUA na Guerra do Golfo, de 1991/2, quando os americanos expuseram ao mundo sua nova tecnologia de guerra teledirigida, equivalente às bombas de Hiroshima e Nagasaki, do ponto de vista do impacto sobre o sistema mundial.

A partir de então, os EUA se desfizeram do seu compromisso com as Nações Unidas, e com as regras de funcionamento do seu Conselho de Segurança, e transformaram a OTAN – progressivamente – no seu braço armado de intervenção nos Balcãs, no Oriente Médio, na Ásia Central e Europa do Leste”[i]. Primeiro foi a Bósnia, em 1995, e depois a Iugoslávia, em 1999, que foi bombardeada pela OTAN sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU. E o mesmo voltou a acontecer em 2003, quando EUA e GB invadiram e destruíram o Iraque, apesar do veto da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança das Nações Unidas, e da oposição de Alemanha, França e de vários outros aliados tradicionais dos anglo-saxões. Começaram ali as “guerras sem fim” dos EUA, da GB e da OTAN no Grande Oriente Médio, e se estenderam até sua e “retirada” do Afeganistão, em 30 de agosto de 2021.

E o mesmo aconteceu na Europa, onde a OTAN se expandiu de forma contínua, multiplicando suas bases militares na direção da Europa do Leste da fronteira ocidental da Rússia. Apesar da promessa do secretário de Estado norte-americano James Baker ao primeiro-ministro russo Mikhail Gorbachev, feita em 1991, logo após o fim da Guerra Fria, de que a OTAN não avançaria na direção da Europa do Leste, em 1994, o presidente Bill Clinton autorizou sua primeira expansão, e em 1999 a Otan começou sua “marcha para o Leste”, com a incorporação de Hungria, Polônia e República Tcheca.

E em 2004, a OTAN incorporou Estônia, Lituânia, Letônia, Bulgária, Eslovênia e Eslováquia, enquanto experimentava suas novas formas de intervenção através das chamadas “revoluções coloridas” contra governos desfavoráveis aos interesses americanos – como foi o caso da “revolução das rosas”, na Geórgia, em 2003; da “revolução laranja” na Ucrânia em 2004; da “revolução das tulipas” no Quirguistão, em 2005.

Por fim, em abril de 2008, na cidade de Bucareste, a OTAN anunciou seu xeque-mate, com a incorporação da Geórgia, e sobretudo da Ucrânia, que Zbigniew Brzezinski[ii] (o grande geopolítico do Partido Democrata norte-americano), considerava ser uma peça central da disputa dos EUA com a Rússia, pelo controle da Europa do Leste e de todo o continente eurasiano. Tão importante que Brzezinski chegou a propor que a Ucrânia fosse conquistada pelos EUA e pela OTAN, até no máximo 20151 – o que acabou acontecendo depois do golpe de Estado de 2014, que derrubou o governo eleito de Viktor Yanukovych, considerado hostil pelos EUA e pela OTAN.

A Rússia protestou inutilmente contra esses sucessivos avanços da OTAN sobre sua fronteira ocidental. E, em 2007, na Conferência de Segurança de Munique, o presidente russo, Vladimir Putin, advertiu pessoalmente as potências ocidentais de que a Rússia não toleraria os avanços da OTAN na Geórgia e na Ucrânia. Sua advertência foi ignorada uma vez mais e, no ano seguinte, a Rússia foi obrigada a fazer uma primeira intervenção militar direta na República Autônoma da Ossétia do Sul, para impedir sua incorporação à OTAN. E mais à frente, em 2015, a Rússia voltou a intervir diretamente contra o golpe de Estado apoiado pelos EUA e pela OTAN, ocupando e incorporando a Crimeia ao território russo.

Por fim, em 15 de dezembro de 2021, a Rússia entregou um memorando às autoridades americanas e da OTAN, e aos governantes da União Europeia, propondo a interrupção da expansão da OTAN, o afastamento de suas tropas das fronteiras russas e a desmilitarização da Ucrânia. Não houve resposta a esse memorando e o silêncio das “potências ocidentais” foi o estopim que deflagrou a invasão russa do território da Ucrânia, iniciando de fato uma “proxy-war” entre Rússia e EUA.[iii]

rês anos depois do início da guerra, já não cabe dúvida de que a Rússia venceu no campo de batalha, mas também no campo da competição tecnológico-militar com relação aos equipamentos fornecidos aos ucranianos pelos EUA e pelos países da OTAN. Além disso, a Rússia também venceu a guerra econômica contra as sanções que lhe foram impostas pelas potências ocidentais, e sua economia vem crescendo sistematicamente à frente dos demais países europeus.

Não há dúvida de que a vitória russa se acelerou e consolidou nos dois últimos meses: (i) com a saída dos EUA da guerra e a ruptura do seu “casamento estratégico” com a Grã-Bretanha; (ii) com a divisão interna da OTAN e a ameaça de saída dos EUA; (iii) com a fragilização da União Europeia, depois do seu afastamento dos EUA; (iv) e finalmente, com o desmonte do “bloco ocidental” e de sua hegemonia mundial exercida nos últimos 200 anos. Como consequência, o mais provável é que as negociações post-bellum entre Rússia e EUA se transformem no primeiro passo de uma nova “ordem mundial multipolar” e “pós-europeia”, a mais importante de todas as reivindicações e vitórias russas.

Notas

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[i] Victoria Nuland, a diplomata americana que ficou famosa por sua participação direta pessoal a favor do golpe de Estado na Ucrânia, em 2014, e que foi também Representante Permanente dos EUA na OTAN, de 2005 a 2008, declarou numa entrevista ao jornal Financial Times, em 2006, que “os EUA querem ter uma força com projeção global, para operar em todo o mundo, da África ao Oriente Médio e bem mais além, o Japão, como a Austrália tem vocação, igual que as nações da OTAN, para fazer parte desta força” (in Chauprade, A., Chronicque du Choc des Civilizations, Chronique Editions, Paris, 2013, p. 69).

[ii] Brzzezinski, Z, The Grand Chessboard. American Primacy and its Geostrategica Imperatives, Basic Books, New York, 1997

[iii] O novo secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, reconheceu recentemente que a Guerra da Ucrânia foi na verdade uma “guerra por procuração” entre Rússia e EUA., in UOL Noticias, noticias.uol.com.br -6 de março de 2025. 

Reagan e Trump e a “destruição inovadora” Por J.L. Fiori

“Toda situação hegemônica é transitória, e mais do que isto, é autodestrutiva, porque o próprio hegemon acaba se desfazendo das regras instituições que ajudou a criar para poder seguir se expandindo e acumulando mais poder do que seus liderados” (José Luís Fiori, O poder global e a nova geopolítica das nações)

Na década de 70 do século passado, os EUA sofreram uma série de reveses militares, econômicos e geopolíticos: foram derrotados na Guerra do Vietnã; uma série de reveses militares, econômicos e surpreendidos pela Guerra do Yom Kippur e pela criação da OPEP e a subida dos preços internacionais[iii] do petróleo; e foram surpreendidos uma vez mais pela Revolução do Aiatolá Khomeini, no Irã, em 1979; seguida pela “crise dos reféns” americanos que foram mantidos presos durante 444 dias na embaixada dos EUA em Teerã, culminando com a invasão soviética do Afeganistão, em dezembro de 1979.

Muitos analistas falaram naquele momento de uma “crise final da hegemonia americana”. Frente a essa situação de declínio relativo de poder, entretanto, os EUA destruíram a ordem mundial que haviam criado depois da Segunda Guerra Mundial e adotaram uma nova estratégia internacional, com o objetivo de manter sua primazia mundial. Primeiro, aceitaram a derrota, renderam-se e assinaram um acordo de paz com o Vietnã; ao mesmo tempo, abandonaram o padrão-dólar que haviam imposto ao mundo em Bretton Woods, em 1944; em seguida, pacificaram e reataram relações com a China; e enterraram definitivamente seu projeto econômico desenvolvimentista, impondo uma abertura e desregulação financeira da economia internacional, enquanto iniciavam uma nova corrida armamentista, conhecida como a 2ª. Guerra Fria, que culminou com a derrocada da União Soviética. Um verdadeiro tufão conservador e neoliberal, que começou no governo de Richard Nixon e alcançou sua plenitude durante o governo de Ronald Reagan, mudando radicalmente o mapa geopolítico do mundo e transformando de forma irreversível a face do capitalismo mundial.

Agora de novo, na segunda e terceira décadas do século XXI, os EUA vêm sofrendo novos e sucessivos reveses militares, econômicos e geopolíticos. Foram derrotados no Afeganistão e obrigados a uma retirada humilhante da cidade de Cabul, em agosto de 2021; estão sendo derrotados de forma inapelável na Ucrânia; sofreram uma perda significativa de credibilidade moral em todo mundo, depois do seu apoio ao massacre israelense dos palestinos da Faixa de Gaza; vêm sofrendo um processo acentuado de desindustrialização e sua moeda, o dólar vem sendo questionado por seu uso como arma de guerra contra países concorrentes ou considerados inimigos dos seus interesses; e por fim, os EUA têm perdido posições importantes na sua competição tecnológica-industrial e espacial com a China, e na sua disputa tecnológica-militar com a Rússia.

Neste momento, uma vez mais, o governo norte-americano de Donald Trump está se propondo refazer sua primazia através de uma nova mudança radical de sua estratégica internacional, combinando doses altíssimas de destruição, com algumas propostas disruptivas e inovadoras no campo geopolítico e econômico, partindo de uma posição de força e sem pretensões éticas ou missionárias, e orientando-se apenas pela bússola dos seus interesses nacionais.

A principal consigna de campanha de Donald Trump – “fazer a América grande de novo” – já é por si mesma, um reconhecimento tácito de que os EUA estão enfrentando uma situação de crise ou declínio que precisa ser revertida. E suas primeiras medidas são todas de natureza defensivas: seja no caso da sua política econômica mercantilista, seja no caso da “barreira balística” que ele está se propondo construir em torno do território americano. E o mesmo se pode dizer de suas agressões e ameaças verbais, que têm sido dirigidas contra seus vizinhos, aliados e vassalos mais próximos e incondicionais.

De qualquer maneira, o mais importante tem sido o ataque avassalador e destrutivo de Donald Trump e seus auxiliares mais próximos, contra as regras e instituições próprias da ordem internacional construída pelos EUA, como resposta à sua crise dos anos 70 do século passado. E contra os últimos vestígios da ordem mundial do pós-Segunda Guerra, como no caso das Nações Unidas e do seu Conselho de Segurança. Com ênfase particular no ataque e destruição americana do multilateralismo e do globalismo econômico que se transformaram na principal bandeira americana do pós-Guerra Fria. Neste capítulo das “destruições”, deve-se sublinhar também o ataque seletivo e estratégico do governo Donald Trump contra todas as peças de sustentação interna – dentro do próprio governo americano – do que eles chamam de deep state, a verdadeira base de sustentação e locus de planejamento das guerras norte-americanas.

No plano internacional, entretanto, a grande revolução – se prosperar – será efetivamente a mudança da relação entre os EUA e a Rússia, que vem sendo proposta pelo governo de Donald Trump. Uma inflexão muito profunda e radical, muito mais do que foi a reaproximação entre os EUA e a China, na primeira metade dos anos 1970. Porque, de fato, no século XX, os EUA herdaram uma inimizade, competição e polarização geopolítica construída pela Grã-Bretanha contra a Rússia, desde o momento em que se consagrou a vitória dos russos e dos ingleses contra a França de Napoleão Bonaparte, no Congresso de Viena, de 1815.

Desde então, os russos foram transformados pelos ingleses em seus “inimigos necessários”, e serviram como princípio organizador da estratégia imperial inglesa. Uma realidade histórica que foi depois consagrada pela teoria geopolítica do geógrafo inglês Halford Mackinder, segundo a qual o país que controlasse o coração da Eurásia, situado entre Moscou e Berlim, controlaria o poder mundial. Por isso, os ingleses lideraram a Guerra da Criméia, entre 1853 e 1856, contra os russos; e de novo lideraram a a invasão da Rússia depois do fim da Primeira Guerra Mundial; e cogitaram fazer o mesmo logo depois da Segunda Guerra. Uma obsessão de Winston Churchill que acabou cedendo lugar ao projeto de construção da “cortina de ferro” e da OTAN.

Essa obsessão inglesa foi repassada aos norte-americanos depois da Segunda Guerra Mundial e esteve na origem da Guerra Fria. A partir de então, os EUA e a GB (junto com seus aliados da OTAN), construíram uma gigantesca infraestrutura militar – material e humana – destinada a “conter os russos” e, se possível, derrotá-los estrategicamente. A última tentativa foi feita agora na Guerra da Ucrânia e fracassou uma vez mais. E se o projeto atual de Donald Trump de aproximação da Rússia prosperar, ele estará sucateando toda essa infraestrutura junto com todas as demais alianças americanas construídas a partir de 1947, com vistas a esta “guerra final” contra os russos. Não é pouca coisa, muito pelo contrário, e muitos líderes euro-atlânticos que tentaram romper essa barreira ficaram pelo caminho. Podendo-se prever, inclusive, a possibilidade de algum tipo de atentado ou auto-atentado, a partir do próprio mundo anglo-saxão, com o objetivo de barrar esta mudança de rumo norte-americana.

Sim, porque está sendo rompida e enterrada a aliança estratégica anglo-saxônica, que foi fundamental para a dominação ocidental do mundo, desde a Segunda Guerra Mundial, desmontando-se ao mesmo tempo, como um castelo de cartas, o projeto da OTAN, o G7, e talvez a própria União Europeia. Mas nada disto encerra a competição interestatal pelo poder global. O projeto de Donald Trump diminui a importância da Europa e diminui a importância da fronteira europeia da Rússia, deslocando as linhas de fratura da geopolítica mundial para o Ártico e para o Sul do Pacífico.

Mas a própria cobiça de Trump com relação ao Canadá e à Groenlândia explicita seu projeto de construção de uma grande massa territorial equivalente à russa, justo em frente à fronteira norte e ártica da própria Rússia. E ao mesmo tempo, o projeto de negócios conjuntos entre russos e norte-americanos, que vem sendo insistentemente anunciado, sobretudo na região do Polo Norte, aponta para um possível distanciamento futuro e “pelo mercado” da Rússia com relação à China, para não permitir que se consolide uma aliança estratégica inquebrantável entre Rússia e China, ou mesmo entre Rússia e Alemanha. Porque a China seguirá sendo no Século XXI, o principal competidor e adversário dos EUA, neste planeta e no espaço sideral.

A estratégia americana de “destruição inovadora” terá – desta vez – o mesmo sucesso que teve no século passado, com Richard Nixon e Ronald Reagan? É difícil de saber, porque não se sabe quanto tempo durará o projeto de poder de Donald Trump e seus seguidores. E em segundo lugar não se conhece o impacto mundial de uma política econômica mercantilista e defensiva, praticada pela maior economia do mundo. O nacionalismo econômico foi sempre uma arma dos países que se propõem “subir” na hierarquia internacional, e não de um país que não quer “descer”.

De qualquer maneira, do ponto de vista geopolítico o projeto Trump pode estar apontando na direção de um grande acordo “imperial” tripartite, entre EUA, Rússia e China, como também pode estar apontando para o nascimento de uma nova ordem multipolar que lembra, de certa forma, a história europeia do século XVIII. Com a grande diferença que agora o “equilíbrio de forças” do sistema envolveria uma competição entre potências atômicas de grande dimensão, quase impérios, como é o caso dos EUA, da China, da Rússia, da Índia, e da própria União Europeia, caso ela consiga se reorganizar e rearmar sob a liderança da Inglaterra ou da Alemanha. E, em menor escala, da Turquia, do Brasil, da Indonésia, do Irã, da Arábia Saudita e da África do Sul. Um mundo difícil de ser administrado, e um futuro impossível de ser previsto.

 

*José Luís Fiori é professor emérito da UFRJ. Autor, entre outros livros, de Uma teoria do poder global (Vozes) [https://amzn.to/3YBLfHb]

Publicado originalmente no Boletim no. 10 do Observatório Internacional do Século XXI. 


Editorial CULTURAL FM – Os 40 anos da redemocratização

Vivi intensamente o ano de 1966. Estava com 22 anos, passara pelo “Julinho”, já havia andado por várias experiências profissionais, tendo sido cadete na velha Escola da Redenção e vendedor no remoto interior do Paraná e Santa Catarina, e acabara de entrar no Curso de Ciências Sociais na URGS. Mergulhei, imediatamente, na política estudantil e me lembro das referências que os mais velhos faziam sobre a Constituição de 1946, para mim, um tempo tão remoto quanto o dos faraós. E tratava-se de um lapso de apenas 20 anos. Neste dia 15 de março diversas cerimônias e publicações saudaram os 40 anos da posse de Jose Sarney na abertura da Nova República, o mais longo tempo de vida democrática na História do país. Para mim, parece que foi ontem. Vivia em Brasília e acompanhei todos os passos daquele momento. Mas imagino que muitos brasileiros que, à época tinham 10 anos de idade, hoje com 50, pouco se lembrem como tudo aconteceu. Creio, pois, que cerca de 180 milhões de brasileiros com menos desta idade, pouco saibam como tudo aconteceu. Vale lembrá-los. Tarefa dos velhos...

O regime autoritário que destituiu o Presidente constitucional João Goulart iniciou-se em 1964 e perdurou por 21 anos, sem que o último General Presidente, João Figueiredo, se dignasse passar a faixa Presidencial ao sucessor civil no dia 15 de março de 1985. Ao longo do período militar sucederam-se várias etapas: Primeiro, a instauração do regime, através de um golpe/artifício parlamentar que “elegeu” o General Castelo Branco para completar o tempo de mandato do Presidente destituído, a saber até 1966. Grande parte da esquerda, aliás, exceção de Leonel Brizola, acreditava que isso ocorreria, à luz da baixa popularidade dos militares e das dificuldades da economia. Mas não aconteceu. Já em 1965 o regime acabaria os Partidos e aprofundava seu caráter autoritário com a eleição de um novo General Presidente, Artur da Costa e Silva, com uma particularidade: Mudava o Ministro da Economia, entronizando um “desenvolvimentista” , Delfim Neto, o que diferenciaria em profundidade a política econômica no Brasil de outras ditaduras do cone sul, francamente liberalizantes. Confrontada, porém, com o agravamento da crise e a perda das ilusões quanto à auto-contenção do regime, as oposições se mobilizam exigindo a redemocratização, o que culmina na deflagração de várias frentes de resistência: greves no ABC, mobilização estudantil, intensa resistência cultural e recurso à luta armada. Tudo em vão. O regime recrudesce e edita o Ato Institucional n. 5 no dia 13 de dezembro de 1968. O General Emílio Médici assume a Presidência, mergulhando a Nação nos “Anos de Chumbo”, mas recolhendo, entretanto, os benefícios da reorganização econômica promovida nos anos anteriores, com inédita performance no crescimento da economia. Tempos difíceis: prisões, tortura, mortes, desaparecimentos e muitos exilados em meio à cantorias do “Pra frente, Brasil” e “Noventa milhões em ação”, tudo desembocando na posse de um novo General, Ernesto Geisel, em 1974. O clima era favorável ao regime que parecia caminhar para sua eternização quando sobrevêm os efeitos da crise do petróleo do ano anterior - o preço do barril salta de US$ 2,5 o barril para US$15 - , provocando maior inflação, endividamento externo e insatisfação social, o que leva ao êxito da Oposição elegendo 18 senadores. Os ânimos, então, se exaltam e o Governo se vê na contingência de promover uma “lenta, segura e gradual” abertura até eleger outro general, João Batista Figueiredo, para um novo quinquênio, a saber, 1979/84. Já então a luta pela redemocratização se havia alastrado por todo o país, estimulada, como em 1968, pela movimentação estudantil, parlamentar, cultural e operária no ABC, onde despontava a figura de um novo líder: Lula. Nada mais resta, a tais alturas, senão decretar a Anistia, o que ocorre ao final de 1979, trazendo de volta exilados e libertando os últimos condenados pela Lei de Segurança, simultânea a liberação para a criação de novos Partidos e liberação das eleições para todos os níveis. Muitos prefeitos de esquerda são eleitos nas capitais e em 1982 vários governadores são eleitos pela Oposição: Brizola, no Rio; Franco Montoro, em S.Paulo; Tancredo Neves em MG. Cresce a mobilização popular, estimulada no ano de 1983 por multitudinários comícios pelas “Diretas Já” e aumenta a expectativa pela redemocratização. O regime, entretanto, ainda controla o Congresso e impede a aprovação da Emenda das Diretas para Presidente, transferindo a transição para o que o próprio Tancredo denominaria, uma “transação”, que se processaria de uma forma insólita, através da eleição indireta de um Presidente em 1985. Foi o que aconteceu. O candidato do sistema, Paulo Maluf, foi derrotada e a Oposição, que tinha Tancredo Neves como candidato a Presidente, por um Partido de centro recém criado por ele, o PFL, e José Sarney, Vice, pelo PMDB, partido ao qual aderira rompendo com o regime militar. Neste processo, tanto o PT como o PDT, se abstiveram, evitando participar do que consideravam farsa, apesar de que alguns de seus parlamentares, como Airton Soares, Bety Mendes do PT sufragassem Tancredo, merecendo, por isso, expulsão do Partido. 

Eleito Tancredo/ Sarney, era questão de tempo sua posse, a ser efetiva a 15 de março. Sarney, entretanto, adoece e não pode comparecer à posse, assumindo o Vice em seu lugar. Faleceria, enfim, a 21 de abril daquele ano vindo com isso, consagrar seu Vice como o Presidente civil da Transição. 

E já lá vão 40 anos... 

Anexos

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Olhos de ontem; olhos de sempre: 40 anos de democracia - Ana Dubeux - Correio Braziliense - Olhos de ontem, como disse Sarney em seu discurso de posse ouvido in loco por Liana Sabo, são os olhos de sempre. São eles que eternizam momentos históricos

Sentei ao computador para escrever este texto depois de ler o artigo impactante da nossa repórter de ouro, Liana Sabo. E agora estou aqui procurando as palavras certas para falar da importância deste dia histórico que não cobri como jornalista profissional. Neste sábado, 15 de março, são 40 anos de redemocratização do Brasil. Vejo este dia com os olhos de Liana; também com os olhos de José Sarney, aquele que assumiu como presidente da República no susto ou, como ele me disse, “levitando”.

Liana escreve às vésperas de completar 57 anos como repórter do Correio Braziliense. Descreve de maneira prodigiosa e com detalhes preservados na sua sempre excelente memória as horas que antecederam ao dia da posse de Sarney no lugar de Tancredo Neves. Na época, antes de se tornar uma jornalista de referência na área da gastronomia, Liana cobria o Itamaraty.

Reescrevo aqui o final do seu artigo, uma pérola: “Quando raiou o dia, a edição estava fechada. Fui pra casa, tomei um banho e um café forte e me vesti depressa para chegar cedo à posse no Palácio do Planalto. Quando José Sarney, do alto dos seus 55 anos, abriu o discurso, emocionado, dizendo ‘estou com os olhos de ontem’, eu comentei baixinho no quadrado de imprensa, frente às autoridades: ‘Eu também, presidente’. Assim, insone, eu vi renascer a democracia no Brasil”.

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Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 06:44:00 Nenhum comentário:   

 

Democracia viva e sob permanente vigilância - Eduarda Esposito e Vanilson Oliveira / Correio Braziliense - Ex-presidente José Sarney relembrou os desafios enfrentados na transição para a democracia, durante evento no Panteão, que contou com a presença de autoridades, acadêmicos e ex-chefes de Estado

A celebração dos 40 anos da redemocratização política do Brasil reuniu autoridades, acadêmicos e ex-chefes de Estado no coração de Brasília: o Panteão, na Praça dos Três Poderes. O evento Democracia 40 anos: Conquistas, Dívidas e Desafios, apoiado pelo Correio Braziliense, relembrou o passado e indicou perspectivas para o futuro.

O ex-presidente José Sarney, o principal homenageado, afirmou que é preciso vigilância permanente para garantir a continuidade do regime democrático. Primeiro presidente da Nova República, o maranhense, vice-presidente na chapa vencedora das eleições indiretas, tomou posse no lugar do presidente eleito, Tancredo Neves, internado no Hospital de Base, em 15 de março de 1985.

Com a morte de Tancredo, em 21 de abril, Sarney governou o Brasil durante os anos de mandato subsequentes, época fundamental para a elaboração da Constituição de 1988. No discurso, Sarney destacou os desafios enfrentados no período da transição da ditadura para a democracia e ressaltou o papel da Carta Magna como pilar fundamental da estabilidade política do país. "Ulysses Guimarães me disse: 'Sarney, podemos não ter Constituição'. Eu respondi: 'Sem Constituição, não há transição, porque é a Constituição que vai estabelecer a nova sociedade democrática do Brasil'", recordou o ex-presidente, ressaltando que a elaboração da Carta Magna foi essencial para consolidar o Estado democrático.

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Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 06:50:00 Nenhum comentário:   

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Posse de Sarney mostrou que nossa democracia não é para principiantes - Luiz Carlos Azedo-Correio Braziliense - Tanto os militares fracassaram no seu projeto autoritário, quanto os setores da oposição que imaginavam uma ruptura que se confundisse com a revolução

Como resistir ao chiste de Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom Jobim, sobre a complexidade da terra em que nascemos: “O Brasil não é para principiantes”? Esses 40 anos de redemocratização são uma prova disso. Alguns, mesmo hoje, por incompreensão política ou dogma ideológico, ainda torcem o nariz para o ex-presidente José Sarney, cuja posse, em 15 de março de 1985, marcou o fim da ditadura militar. Entretanto, foi o político que legalizou os partidos comunistas e convocou a Constituinte de 1985, sem a qual não teríamos as instituições capazes de barrar a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, cujo objetivo era destituir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ontem, comemorou-se a posse de Sarney como um marco inaugural da ordem democrática que temos hoje, num evento histórico realizado no Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes, pela Fundação Astrojildo Pereira e o Cidadania, com apoio do Correio Braziliense. Hoje, em Copacabana, haverá uma grande manifestação de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro e em defesa da anistia aos condenados por invadirem os prédios da Praça dos Três Poderes, vandalizando o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF).

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Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 08:05:00 Nenhum comentário:


Editorial 13/3/25

 O grande pampa chora pela Argentina

 

O Pampa não é apenas um bioma ou uma área territorial. Bioma, aliás, que vem sofrendo crescente devastação sem a atenção das autoridades e do grande público, sempre mais impressionado pela Amazônia. O Grande Pampa é a síntese histórica das gentes que o constituíram como vivências humanas e que se constituem em Patrimônio Latinoamericano, com o gaúcho como expressão simbólica destas façanhas: no Paraguai, nordeste da Argentina, Uruguai e as planícies do Rio Grande do Sul. O grande libertador uruguaio, José Gervasio Artigas (1764/1850), chegou a pensar em unificar tudo isso numa só “PATRIA LIVRE”, assim como Bolivar o intentou ao norte do continente. Não conseguiu. Cada uma das partes do Grande Pampa seguiu o curso dos respectivos países. Mas ficou para a História o legado guarani, no Paraguai e nas “Missões”, de um e outro lado do Uruguai, a tentativa do Presidente Jose Gaspar Rodrigues de Francia (1766/1840), do Paraguai, no século XIX de erigir na região uma sociedade avançada, lamentavelmente destroçada por interesses internacionais que se serviram da “Tríplice Aliança” na odiosa Guerra do Paraguai, como ficou também para a história a resistência indígena nas Guerras Guaraníticas no Rio Grande do Sul, em meados do século XVIII. Mesmo na Argentina, onde a área pampeana é relativamente pequena diante da imensidão territorial do país, é o gaúcho desta região que se apresenta como legítimo formador do país, olhando com desconfiança o “porteño” de Buenos Aires. (Guardam ressentimentos da obra “Facundo”, de Domingo Sarmiento, na qual os acusa como responsáveis pelo atraso do país, à qual responderam com “Martin Fierro”, de José Hernandez... ); No século XX duas grandes realizações históricas com origens no Pampa marcaram a América Latina. As realizações republicanas, inspiradas na região, à frente do Governo do Rio Grande do Sul, de 1891 a 1930, e que projetaram Getulio Vargas para a grande transformação do Brasil com a Revolução que comandou neste ano; e a Revolução Justicialista, protagonizada por Juan Domingo Perón na Argentina, outro grande marco continental: Ao final da II Guerra Mundial a Argentina era a segunda maior economia do mundo, depois dos Estados Unidos, detentora de petróleo, carne e trigo, além de vigorosa indústria aeronáutica que se perdeu pelo caminho e uma população altamente educada. Projetava-se como potência mundial. 

Hoje a Argentina está destroçada e vive sua agonia com um Presidente, J.Milei, mergulhado no escândalo das cripto moedas - https://www.youtube.com/watch?utm_campaign=boletim_diario_1203&utm_medium=email&utm_source=RD+Station&v=bkGiavOSDLs, cujo símbolo é uma serra elétrica. Lamentável imagem oferecendo-a ao bilionário Elon Musk em recente encontro da extrema direita dos Estados Unidos. À falta de um Plano de Desenvolvimento para o país que comanda, nada mais faz senão destruir, destruir, destruir..., começando pelos direitos dos trabalhadores e aposentados.

Ontem, mais um manifestação massiva de aposentados, que são 15% da população e recebem menos que o indispensável para a Cesta Básica, foi brutalmente reprimida pelas forças de segurança. Idosos protestam contra perda de direitos e declínio acentuado no valor das aposentadorias, em consequência das políticas ultraliberais de Javier Milei, que dobraram os preços de medicamentos e serviços essenciais. “O protesto – o mais violento no país desde que o do ultraliberal Javier Milei assumiu o governo, em dezembro de 2023 – foi o mais recente de uma série de atos públicos que ocorrem há anos todas as quartas-feiras contra em defesa dos direitos dos aposentados” - Entenda os protestos dos aposentados na Argentina,

O país já não suporta o arrocho a que está submetido pela ortodoxia de choque de Milei. Vai cada vez mais às ruas em protesto, na esperança de repetir o que outro Presidente, De La Rua, já protagonizou no passado: imediata renúncia. 

O Grande Pampa chora com toda a América Latina por ti Argentina


EDITORIAL 12/3/25 

A MÍDIA TE FAZ DE BOBO.

A Silvana Moura colocou esse texto do Chomsky como um comentário a uma postagem minha. Pela sua atualidade, acho que merece um destaque maior, então o copio aqui. 

Noam Chomsky sobre as 10 Estratégias de Manipulação Midiática:

1. A estratégia da distração. O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir que o público se interesse pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado; sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja com outros animais (citação do texto “Armas silenciosas para guerras tranquilas“).

2. Criar problemas e depois oferecer soluções. Esse método também é denominado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” precisa para causar certa reação no público a fim de que este seja o mandante das medidas que desejam sejam aceitas. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o demandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para forçar a aceitação, como um mal menor, do retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços púbicos.

3. A estratégia da gradualidade. Para fazer com que uma medida inaceitável passe a ser aceita basta aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, por anos consecutivos. Dessa maneira, condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990. Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

4. A estratégia de diferir. Outra maneira de forçar a aceitação de uma decisão impopular é a de apresentá-la como “dolorosa e desnecessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Logo, porque o público, a massa tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isso dá mais tempo ao público para acostumar-se à ideia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5. Dirigir-se ao público como se fossem menores de idade. A maior parte da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade mental, como se o espectador fosse uma pessoa menor de idade ou portador de distúrbios mentais. Quanto mais tentem enganar o espectador, mais tendem a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, em razão da sugestionabilidade, então, provavelmente, ela terá uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico” (vide “Armas silenciosas para guerras tranquilas”).

6. Utilizar o aspecto emocional mais do que a reflexão. Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional e, finalmente, ao sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar ideias, desejos, medos e temores, compulsões ou induzir comportamentos…

7. Manter o público na ignorância e na mediocridade. Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais menos favorecidas deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que planeja entre as classes menos favorecidas e as classes mais favorecidas seja e permaneça impossível de alcançar” (vide “Armas silenciosas para guerras tranquilas”).

8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade. Levar o público a crer que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto.

9. Reforçar a autoculpabilidade. Fazer as pessoas acreditarem que são culpadas por sua própria desgraça, devido à pouca inteligência, por falta de capacidade ou de esforços. Assim, em vez de rebelar-se contra o sistema econômico, o indivíduo se autodesvalida e se culpa, o que gera um estado depressivo, cujo um dos efeitos é a inibição de sua ação. E sem ação, não há revolução!

10. Conhecer os indivíduos melhor do que eles mesmos se conhecem. No transcurso dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência gerou uma brecha crescente entre os conhecimentos do público e os possuídos e utilizados pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento e avançado do ser humano, tanto no aspecto físico quanto no psicológico. O sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que ele a si mesmo. Isso significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos, maior do que o dos indivíduos sobre si mesmos.

Noam Chomsky é linguista, filósofo e ativista político estadunidense. Professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

Tradução: ADITAL. 


O OCIDENTE POR UM FIO

Paulo Timm – Publ. A FOLHA, Torres RS – 07 MARÇO 25

Ultimamente se tem falado muito sobre a crise do Ocidente, quase sempre traduzido como uma área do globo terrestre influenciada pela cultura judaico-cristã. Mas poucos se detêm a perguntar o que é este tal de Ocidente e em que consiste essa tal cultura judaico-cristã. A tarefa do filósofo é a de trazer estes assuntos à borda do tempo, submetendo-os à crítica da razão. É de um brasileiro, aliás, Roberto Gomes, autor de “A razão tupiniquim”, a melhor definição que já encontrei sobre a Filosofia: “ E´ uma razão que se expressa”. Pronto. O que seriam, pois, estes conceitos: Ocidente e cultura judaico cristã?

Comecemos pelo fim: Existe realmente um cultura judaico-cristã? E será ela o fundamento da civilização ocidental?

A base desta ideia é o fato de que judeus e cristãos têm por base de suas crenças a Bíblia, como livro sagrado que prega a existência de um só Deus, onipotente, misericordioso e criador de tudo o que há no mundo: O arquiteto do Universo. Os cristão, entretanto, mesmo tendo suas origens no judaísmo, dele se separaram, graças, sobretudo à visão de São Paulo, que pregou a ideia de que a “Boa Nova” de Cristo, com o advento do Perdão que do amor é feito, constante no Novo Testamente, não era exclusiva dos judeus, mas de toda a humanidade. A Era Cristã, portanto, tão celebrada no Ocidente, nada tem de judaica. Judeus, aliás, depois da destruição romana de seu Templo, foram caçados e perseguidos, acentuando-se este processo depois da cristianização do Império Romano, embora aqui e acolá fossem tolerados. 

O Ocidente, por sua vez, é sempre indicado, como na obra de Bertrand Russel, na sua “História do Pensamento Ocidental”, como o mundo das ideias geradas na Antiga Grécia, as quais mesclaram-se com a fé cristã herdada de Roma, animando as civilizações subsequentes na Europa, tanto ocidental, como oriental. Das projeções coloniais destes Estados, na Idade Moderna, o “Ocidente” ganhou foro universal, pretendendo-se, por soberba e inclinação etnocêntrica, exclusivo foco civilizatório. Já os antigos gregos chamavam todos os povos que não comungavam do ideal helênico, bárbaros. Aos poucos, estes bárbaros da Europa foram sendo incorporados à cultura ocidental e, inconscientemente, tratando todos os povos do resto mundo como “incivilizados”, os quais deveriam ser convertidos ao credo colonizador.

Na verdade, há três blocos civilizatórios na história da humanidade: O mais antigo, não é nem ocidental, nem oriental. É o africano, onde emergiu o homo-sapiens que povoará os quatro cantos do mundo, custando a expressar-se como Filosofia, mas nem por isso, desprezível. Os outros dois, o Oriental, com epicentro na China, consubstanciado-se, no século VI AC num conjunto de regras morais atribuídas principalmente a Confúcio; o Ocidental, como vimos, consubstancia-se na Grécia no século V AC, tendo como origem o vago conceito de indo-europa. Não por acaso, esta cultura impregna-se fortemente de preceitos religiosos, típicos de sua remota origem na India. O que denominamos, hoje, de Oriente Médio, com forte influência muçulmana é um fenômeno relativamente recente, resultado da expansão árabe no século VII DC. 

Pois bem, este Ocidente greco-romano-europeu não ficou estático. Tem se desdobrado em vários devires, um dos quais na Europa Oriental , hegemonizada pela Rússia desde o século XIX. A Rússia, aliás, não é uma Nação muito antiga. Esteve ocupada até o século XIV pelos mongóis, que tinham em Kiev um entreposto fiscal, simultâmea à ocupação viking pelo norte. Com a criação da URSS no século XX e sua forte projeção depois da II Guerra esta divisão tornou-se crítica. Os europeus ocidentais passaram a olhar os russos com desdém e até discriminação, chamando-os “negros do gelo’. Aliás, chamam, até hoje, os árabes de “negros da areia” e não pouparam os africanos do tráfico negreiro que alimentou seus negócios por mais de três séculos. Os americanos do norte herdaram essa cultura e sob a égide religiosa do “Destino Manifesto”, se autoproclamaram no século XX , Senhores da Civilização. Tudo muito místico.

Hoje este Círculo Ocidental que gira em torno do Oceano Atlântico está por um triz. O processo civilizatório se expandiu por todos os continentes, com epicentro no reerguimento da China e colocou em cheque a hegemonia do eixo Europa Ocidental-Estados Unidos. Durante um tempo, principalmente depois do fim da União Soviética, em 1991, os ocidentais acreditaram poder dominar sua expansão industrial em escala global, redefinindo suas cadeias de produção sobre países periféricos. Acreditavam poder manter hegemonia tecnológica, comercial e militar neste processo. Perderam-se e se encontram, hoje, virtualmente num pequeno círculo de países, cada vez mais desarticulado e incapaz de disputar a concorrência internacional. Já haviam se desencontrado com a América Latina. A China transformou-se na fábrica do mundo e é a maior compradora de cerca de 150 países cada vez mais atraídos pela sua gravidade potencial. Agora chegou a vez do desencontro com a Europa e já são visíveis as contrariedades com o Canadá. A África subsaariana já está fora do alcance americano há muito tempo. Tudo, enfim, está se desarticulando. Aos poucos vamos reconhecendo que não há um único polo civilizador. Mas diversos. A isso corresponde a luta pelo reconhecimento atual, aliás já percebido pelo Presidente Trump, da multipolaridade econômica e geopolítica. Oxalá, ocorra sem mais guerras....


Editorial de hoje 06/03:

A Europa na Era Pós-Atlantista – The Guardian

Box1_ENG DiEM25 DiEM25 Portugal Inglês Crise europeia Artigo de opinião O guardião Economia e política de Trump Ucrânia

21/02/2025 por Yanis Varoufakis - A Europa na era pós-atlântica - The Guardian - Yanis Varoufakis

JD Vance, o vice-presidente dos EUA, disse aos europeus que seus valores não são mais os valores da América. Pete Hegseth, secretário de Defesa dos EUA, acrescentou que os europeus "não podem presumir que a presença dos Estados Unidos durará para sempre". Keith Kellog, enviado especial de Trump para a Ucrânia e a Rússia, confirmou que a Europa não terá um assento à mesa quando o fim da guerra na Ucrânia for negociado.

Chocados, os líderes europeus estão presos no primeiro estágio do luto - a raiva. Enquanto estiver lá e não conseguir entender que o presidente Trump tem um plano econômico-geoestratégico racional (embora prejudicial aos interesses da Europa), a Europa permanece à deriva.

Começando com seu armamento econômico, os europeus precisam perceber que Trump não acredita ingenuamente que suas tarifas irão, magicamente, eliminar o déficit comercial dos EUA. Ele sabe que no curto prazo o dólar vai subir. Suas tarifas são uma ferramenta de negociação para fazer com que os estrangeiros eventualmente revalorizem suas moedas, troquem suas participações de curto prazo por dívidas americanas de longo prazo e magnetizem os conglomerados europeus de engenharia química e mecânica (por exemplo, BASF e Volkswagen) de uma Europa estagnada para uma América turbulenta.

Passando para a Ucrânia, a equipe de Trump deixou duas coisas claras. Primeiro, eles veem a Rússia como uma potência em declínio que nunca poderia ameaçar os países da OTAN, mas que recebeu um beijo temporário de vida pela transição para uma economia de guerra desencadeada pela expansão planejada da OTAN até a fronteira russa (através de áreas de língua russa na Geórgia e no leste da Ucrânia). Em segundo lugar, eles insultaram o entusiasmo com que a Europa ajudou a empurrar a Rússia para o abraço da China.

Sob essa luz, é mais fácil entender por que o governo Trump está cortando a Europa. E por que razão acrescenta um verniz ideológico a isto, criticando a Europa por trair os seus próprios valores, por exemplo, o direito à liberdade de expressão e o cancelamento das eleições na Roménia por motivos reconhecidamente instáveis. E agora? Uma opção que a Europa tem é continuar sozinha, tentando armar e financiar a tentativa da Ucrânia de empurrar Putin de volta. Isso levaria à falência uma Europa já insolvente, não ajudaria a Ucrânia e inevitavelmente forçaria uma Europa humilhada de volta ao controle dos Estados Unidos.

Uma segunda opção é superar Trump: minar Washington rejeitando qualquer acordo que doe os recursos da Ucrânia aos EUA, ao mesmo tempo em que sinaliza a Moscou a abertura da Europa a uma nova arquitetura de segurança que envolve uma Ucrânia soberana em um papel semelhante ao da Áustria durante a Guerra Fria. Isso equivaleria a transformar uma crise sombria numa oportunidade para a Europa se libertar e se reenergizar. Infelizmente, não consigo ver nossa atual safra de líderes aproveitando-o.

 

ANEXOS 

CHINA, GRANDE BENEFICIÁRIA DO CHOQUE TRUMP-ZELENSKI

CÉSAR FONSECA

Xi Jinping, o líder chinês, pode ser o grande beneficiado do grande escândalo internacional que foi o encontro entre Trump e Zelenski, no Salão Oval da Casa Branca.

Zelenski, humilhado, abandonou a conversa e voltou para a Ucrânia.

Não atendeu o que Trump queria: assinatura de acordo para entregar aos Estados Unidos terras raras ucranianas.

Elas corresponderiam à indenização de 500 bilhões de dólares que Trump está cobrando de Zelenski pelo gasto americano na guerra que financiou a Otan para usar a Ucrânia nazistificada por golpe de estado como cabeça de ponte para invadir e derrotar a Rússia.

A estratégia, armada pelo ex-presidente democrata Joe Biden, deu com os burros nágua.

O presidente americano, agora, para punir Zelenski, vai mandar soldados e empresas para explorar a riqueza mineral lá, sem o acordo que pretendia?

Entraria ou não em choque com o líder russo, Vladimir Putin, com o qual não quer briga, mas, também, acordo, que tem de ser bom para as duas partes?

Sem um acerto geral entre Rússia e Estados Unidos, dificilmente, isso seria possível.

A Europa, certamente, ficou satisfeita com o impasse provocado pela atitude de Zelenski, que desejava garantia americana de ter tropas dos Estados Unidos para proteger a Ucrânia de eventual invasão russa, contra a qual não teria forças para resistir.

Porém, os europeus, sem o apoio americano, não terão condições de obter o que pretendem: ter, igualmente, tropas europeias em território ucraniano, para participar do botim, isto é, meter a mão nas riquezas da Ucrânia, como querem Trump e Putin.

Quem, então, dispõe de cacife internacional para colocar as partes na mesa, Rússia, Estados Unidos e até União Europeia e Ucrânia, excluídas da conversa entre as duas potências por não disporem de força material para isso?

Só a China, a economia mais forte do mundo, que ultrapassou os Estados Unidos pelo critério de paridade de poder de compra, teria condições de ser interlocutora.

Essa é a opinião do diplomata, jornalista, cientista social e empresário esloveno, Stefan Bogdan Salej, representante da Eslovênia e da União Europeia para a América Latina e ex-presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais(Fiemg).

A China, segundo ele, pode, com sua diplomacia da paciência, colocar todos para negociar, inclusive, os excluídos por Trump, Ucrânia e União Europeia.

A Rússia sem o apoio chinês não tem recursos para continuar o conflito, como a Ucrânia sem apoio dos Estados Unidos.

Fazendo isso, os Estados Unidos podem vir a reboque.

A União Europeia fica fortalecida, Rússia resolve o conflito e ganha território que queria, China, da mesma forma, ganha os minerais que seriam dos Estados Unidos, e estes não precisam mais de despender dinheiro na Ucrânia.

Em resumo, o lobo está com barriga cheia e a ovelha está viva, diz Stefan.

A China se coloca como importante player na política internacional, jogando com proverbial calma chinesa.

Mais uma vez, argumenta o diplomata esloveno, fica comprovado, que jogar xadrez requer mente fria, lembrando, Spasky, que faleceu esses dias, e Bobby Fisher, enxadristas russo e americano, respectivamente.

Mas, mesmo quando se quer usar o taco de baseball – diz, dando uma estocada no brutamontes Trump – é mais eficiente fazer isso com mente controlada.

ESPETÁCULO DIPLOMÁTICO

O sofisticado diplomata europeu, que exercitou a arte empresarial em Minas Gerais, para onde estaria novamente voltando, destaca que Trump se deu mal em passar por cima da arte diplomática.

“A tradição diplomática diz que você só vai com visitante perante público com assuntos resolvidos e que as divergências se resolvem em privado.

“Trump quis mostrar em público com ajuda de seu vice Vance que é dealmaker: acordo de acesso às reservas minerais da Ucrânia e fim do conflito com Rússia seria uma grande vitória.”

Deu errado.

Um espetáculo inesquecível para história diplomática.

Feliz ficou a China, que permitiu a Rússia continuar o conflito, e estava vendo essa manobra de Putin com Trump com desconfiança, aliás um fator permanente nas relações entre os dois países.

A atitude anti-diplomática de Trump, enfrentando, com armas poderosas um adversário fraco, para tentar humilhá-lo, produziu o que o líder republicano jamais gostaria que acontecesse: a abertura para a China entrar como protagonista na negociação Estados Unidos-Rússia.

Afinal, Trump desperdiçou a oportunidade de ser discreto, preferindo fazer exibição de força, que colocou suas chances mais distantes para serem alcançadas ou, mesmo, inalcançáveis.

A trajetória de Volodymyr Zelensky chega ao seu capítulo final da pior forma possível: isolado, desacreditado e prestes a ser descartado por aqueles que antes o usaram como peça em um jogo geopolítico perigoso. 

Durante anos, o presidente ucraniano apostou cegamente na escalada militar e rejeitou qualquer tentativa de diálogo, incluindo as propostas sensatas e equilibradas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a construção da paz. O resultado? Um país devastado, centenas de milhares de vidas perdidas e a certeza de que sua liderança será lembrada como um fracasso histórico.

 

 

 

Vamos olhar para dentro, again

Paulo Roberto de Almeida 

Trump está anunciando o maior programa de introversão umbilical da história dos EUA, ever. Não sei se vai conseguir nos próximos 3,5 anos, mas é possível que consiga entravar os EUA por anos à frente.

Xi Jinping e toda a China agradecem a facilitação desse trabalho no sentido de “make China great again”. 

Três séculos atrás, um Imperador idiota, aconselhado por mandarins talvez “republicanos”, resolveu fechar os portos da China aos contatos estrangeiros, expulsar os “imigrantes” e passar a viver na excelência de suas realizações anteriores, excelentes até ali.

Em consequência, a China passou em branco pela primeira revolução industrial, pela segunda, e na terceira, estava imersa no Grande Salto para a Frente e na Revolução Cultural do maoísmo demencial, e conseguiu recuar o gigante asiático da primeira economia do mundo (1/3 do PIB global) até o século XVIII, para menos de 5% do PIB total sob Mao.

Deng, com certo esforço, logrou colar a China à 4a. revolução industrial, e ela já está a caminho da 5a. e possivelmente já está na 6a., com distinção.

Trump quer recuar os EUA abaixo da 3a. revolução industrial, para o fordismo da 2a., a do motor à explosão e do petróleo.

Os chineses só observam, satisfeitos, mas silenciosos. 

Como diria Napoleão, nunca interrompa seu inimigo quando ele estiver fazendo alguma bobagem. Keep quiet China!

Trump está ajudando a fazer a China great again, e ela agradece, mas só silenciosamente, para não interromper esse magnífico processo de retrocesso programado, deliberado e voluntário.

Arnold Toynbee e Carlo Maria Cipolla, estudiosos da sucessão e da decadência dos impérios, já faleceram, pois teriam excelente material empírico para continuar A Study of History e The Economic Decline of Empires em novas bases, nunca antes vistas na História.

Trump merece todo o crédito pela obra grandiosa, aplaudido freneticamente pelos republicanos amestrados.

Confesso que eu nunca esperei ter uma exposição completa de um painel inteiro do desenvolvimento histórico num único discurso alucinante no Congresso americano. Thanks Donald: como diria Keynes, teremos consequências economicas de Mister Trump.

Encerro, deplorando o espetáculo.

Paulo Roberto Almeida = Brasília, 5 de março de 2025 -www.pralmeida.org

 

 

 

The Ezra Klein Show

The Dark Heart of Trump’s Foreign Policy

https://www.nytimes.com/2025/03/01/opinion/ezra-klein-podcast-fareed-zakaria.html 

Essa conversa do Ezra Klein com o Fareed Zakaria é iluminadora. 

Tratam da “doutrina Trump” e apresentam o cenário de abuso da força e flerte com a guerra, como o novo normal propositivo do império. 

Como consequência marginal, devem passar por cima do modelo multilateral da ONU e de tudo que se relaciona às instituições do pós-guerra. 

Mas será essa parte pior do problema?

O coração da tal doutrina tem uma lógica transacional, um instinto aquisitivo, pecuniário, que despreza a estabilidade no mundo e sinaliza zero hesitação em regredir à era de conflitos que pululavam antes da grande guerra.

Trump quer revisar bilateralmente todos os acordos dos EUA e, em cada um, usando a alavancagem financeira e militar americana, extrair benefícios para si, como foi a chantagem que impôs à Ucrânia para a apropriação dos minerais daquele país. Não houve nenhum constrangimento em posicionar os EUA como um mediador mercenário e imediatista, ignorando os privilégios de ser o grande beneficiário da ordem capitalista.

Pelo contrário, mais do que fazer o que fez, ele trouxe a discussão geopolítica para um reality show vagabundo. E tinha que ser assim, by design, muzzle velocity.

Trump é bizarro, errático, amoral… tudo isso é verdade. E tudo isso torna o risco pelo qual passa o planeta ainda mais grave do que se observa no circo do Salão Oval.

Convém lembrar do ‘maldito’ H.L. Mencken – “A principal função da política é manter as massas entretidas enquanto os verdadeiros negócios acontecem.”

No caso do atual governo americano, isso está muito claro. Há lógica na desordem.

O conflito de interesses está extinto. Trump ganha dinheiro com cripto lançada de dentro da Casa Branca. Seu filho assessora outros Estados. Musk é sócio de inúmeros empreendimentos estatais. A devassidão, mostrada no vídeo sobre como pretendem sepultar a história palestina em Gaza, é destacada como sinal de virtude, símbolo estético e fortaleza moral dos novos donos do mundo.

Nesse ambiente, a extinção de instituições é caminho crítico e preliminar para ele, tanto quanto parece ser o menor dos nossos problemas.

Há mudança mira em algo muito mais tenebroso e corrupto, e tem a ver com a disrupção do nosso jeito de viver e amar, com nosso padrão de constituição das autoridades que escolhemos, pela supressão da parcimônia iluminista no uso da força “for the sake of itself”.

 

Os acordos que Trump faz não são o que deve nos tirar o sono, mas sim o que subjaz de malignidade.

Na série Zero Day, onde De Niro interpreta o ex-presidente Mullen, ele enfrenta um terrorista libertário à quem diz: “Freedom is what allows people like you to do whatever you want. Liberty is what protects the rest of us from people like you.”

“Freedom é o que permite pessoas como você fazerem o que querem. Liberty é o que protege o resto de nós de pessoas como você.”

Em português, só temos liberdade para traduzir as duas palavras do inglês. Teremos que decidir qual sentido lhe atribuímos, se o da fúria libertaria, ou a que teve força para nos tirar da opressão medieval.

 

 

 

1.  

 

Conselho de Segurança Nacional do governo Trump propõe o fim do governo Zelensky. “NÃO É NORMAL A EXISTÊNCIA DE UM MUNDO UNIPOLAR, COM UMA ÚNICA POTÊNCIA DOMINANTE. ISSO FOI UMA ANOMALIA, APÓS O FINAL DA GUERRA FRIA. 

     “EVENTUALMENTE, VOCÊ VOLTARIA A UMA SITUAÇÃO EM QUE VOCÊ TEM UM MUNDO MULTIPOLAR, COM VÁRIAS GRANDES POTÊNCIAS, EM DIFERENTES PARTES DO MUNDO.

     "NÓS ENFRENTAMOS ISSO AGORA COM A CHINA E, EM CERTA MEDIDA, A RÚSSIA. E VOCÊ AINDA TEM ESTADOS DESONESTOS COMO O IRÃ E A COREIA DO NORTE.

     “AGORA, VOCÊ TEM QUE LIDAR COM ISSO, MAIS DO QUE NUNCA.

     “PRECISAMOS LEMBRAR QUE A POLÍTICA EXTERNA DEVE TRATAR SEMPRE DE PROMOVER O INTERESSE NACIONAL DOS ESTADOS UNIDO E FAZER ISSO, NA MEDIDA DO POSSÍVEL, EVITANDO GUERRAS E CONFLITOS ARMADOS.”

 

https://substack.com/@slkanthan/note/c-90374026?r=1liyv1

 

Mike Waltz afirma que Washington busca um líder em Kiev capaz de negociar com a Rússia e encerrar o conflito

 

A verdadeira face imperial yanque

Eliminou-se todas as pretensões da promoção da suposta lógica democrática norte-americana ao redor do mundo

28 de fevereiro de 2025, 20:19 h

18Partilhas

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Bandeira dos Estados Unidos hasteada na Base Naval dos EUA na Baía de Guantánamo, Cuba. Sob Trump, EUA planejam enviar voos diários com imigrantes irregulares para o local, conhecido por aplicar punições severas, inclusive violando dos direitos humanos (Foto: Lucas Jackson/Reuters)

O nacionalismo depende de mitologias para poder existir. No caso dos EUA, seu mito fundador sempre foi o do seu excepcionalismo. Seriam eles a nação fundada no sonho da busca da liberdade e, posteriormente, da democracia; um país tão excepcional que, a fim de poder se preservar, obrigaria seus governantes ‘a promoção do seu modelo ao redor do mundo.

 

E assim, embora uma das teses fundamentais da política externa norte-americana seja o discuro de despedida de George Washington onde urge seus seguidores a se manterem distantes dos problemas do mundo, ao longo dos anos, os EUA assumiriam, de forma gradual, mas consistente, um projeto expansionista e interventor ao redor do mundo.

 

 

Se na sua expansão inicial ao longo do continente americano, os EUA se valeriam da lógica missionária do Destino Manifesto, de uma maneira geral, diferentemente das potências neocoloniais européias do final do século XIX, onde uma superioridade cultural (ou civilizatória, no linguajar da época) era presumida, o imperialismo yanque para além da América do Norte, apresentava uma lógica mais decentralizada e um viés mais mercantil.

 

É evidente que em ambos os casos, as teses eugênicas sobre a superioridade racial branca foram também fundamentais. A expansão dos EUA, em primeiro lugar no Caribe e América Central, em seguida no resto do hemisfério, e depois, por todo o globo, tendia, contudo, a ocorrer mais por meios de empresários econômicos e religiosos (pastores e missionários), cuja presença, posteriormente, requereria que o poderoso estado norte-americano viesse em sua defesa, de forma mais ou menos explícita.

 

Seria, assim, que, na medida que o país se consolidava como grande potência industrial, a auto-proclamada “terra da liberdade” viria a constituir para si arranjos imperiais informais, seja na forma de protetorados ou no controle alfandegário da Diplomacia do Dolar por quase todo o Caribe e América Central nas primeiras décadas do século XX. Claro que por vezes o envolvimento direto da coordenação estatal seria mais evidente, como seria o caso de Porto Rico, Filipinas e Panamá.

 

Mas, em geral, o foco era o de apoio ‘as atividades internacionais de suas empresas, algo que, muitas vezes requeria o desembarque dos Marines, mas sem que a bandeira listrada e estrelada (Star Spangled Banner) viesse a substituir de vez símbolos nacionais locais.

 

Ao assumir a posição de maior potência militar e econômica global, no imediato pós-Segunda Guerra, o imperialismo norte-americano – envergonhado até então e sempre camuflado na tese de que, diferentemente do imperialismo europeu, as intervenções gringas era sempre transitórias e bem-intencionadas – desenvolveria novas formas, mais sofisticadas e complexas, de exercer sua hegemonia global. Indo além do que antes tinha proposto, mas não implementado, com a Liga das Nações, os EUA constituiriam uma nova forma de coordenar suas ações ao redor do mundo por meio de arranjos, em tese universais e igualitários – embora sempre desiguais e comprometidos pelas dinâmicas da Guerra Fria – que garantiriam (ou, pelo menos, pretenderiam garantir) que os desígnios do mundo, portanto relevantes a todos, necessitavam da participação (ainda que não equânime) de todos estados nacionais assim constituídos.

 

Mesmo que instrumento dos interesses norte-americanos, em especial da lógica econômica do seu capitalismo liberal, o que viria a ser conhecido como o Sistema ONU representava algo único, construído nos escombros do maior conflito de todos os tempos, por permitir que a noção da representação nacional com bases formalmente isonômicas se expandisse por todos os cantos do planeta.

 

Seria, assim, que, ao longo dos anos 1960 e 1970, atores do hoje chamado Sul Global conseguiria se articular de forma coordenada a fim de promover teses não previamente vislumbradas pelos seus criadores, como, por exemplo, a da cooperação para o desenvolvimento, transferência de tecnologica, e mesmo da busca da promoção de uma nova ordem econômica global.

 

E ainda que tais demandas nunca tenham se efetivado, o simples fato de que era possível que elas fossem incluídas na agenda representava algo novo e potencialmente transformador. E é exatamente isso que agora Donald Trump vai estruturalmente impedir, de forma violenta, se necessário.

 

De maneira concreta, eliminando recursos para a promoção de ações de diplomacia ao redor do mundo, prometendo recuperar antigas, ou adquirir novas, possessões coloniais, rompendo acordos e tratados e, especialmente, prometendo resolver problemas por meio da força e da coerção do mais forte, Donald Trump não só dá um cavalo de pau na forma de funcionamento da hegemonia norte-americana dos últimos 80 anos, como reestalece padrões diplomáticos imperiais do século XIX, onde, em bom português brasileiro, “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.

 

Eliminam-se, assim, todas as pretensôes da promoção da suposta lógica democrática norte-americana ao redor do mundo, e escancaram-se os traços mais explíticos da verdadeira face imperial yanque.

 

Tal desdobramento é duplamente trágico por diminuir os espaços de negociação e dialógo multilateral em um momento quando estes seriam mais que nunca necessários a fim de tentar dar conta da urgência da crise climática, assim como da desigualdade e polarização política crescentes.

 

Que Estados chave, como o Brasil, consigam coordenar esforços com pares democráticos do Sul a fim de conter a disseminação da lógica agressiva e propotente explicitada pelo neo-fascismo norte-americano que nega de vez a tese do seu excepcionalismo civilizatório e diplomático.

 

*Rafael R. Ioris é professor do Departamento de História da Universidade de Denver (EUA).

 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.


Editorial de ontem 05/03:

REFLEXOS DO “AINDO ESTOU AQUI” – Carta de uma jovem ao Pai, político de esquerda, Constituinte de 88

Eu cresci numa casa onde a política era a vida da minha família. Meu pai já era político antes de se entender como tal, quando discursava para os parreirais aos 3 anos. Meu pai sempre tem orgulho de contar a trajetória dele, de como um menino da colônia italiana que nem falava português se tornou líder da confederação mundial dos professores e constituinte do Brasil. Mas eu tenho orgulho mesmo são das histórias de como ele e minha mãe enfrentaram a ditadura. Eles sofrem pelo menos 4 atentados. Eram constantemente vigiados. Carros que passavam pelo lugar onde moravam, pneu do carro que aparecia cortado, porta de casa arrombada, ligações constantes sem ninguém falar nada. Presos políticos algumas vezes no Brasil, mas também fora dele. Eles sempre contam como foi chegar em Honduras e ser preso direto na aeroporto e conseguir falar com a TV nacional para minha saber o que estava acontecendo e tirar ele de lá. O Oscar de melhor filme internacional para Ainda estou aqui é um marco. Para famílias que foram tão afetadas pela ditadura e que os impactos reverberam até hoje, a premiação é quase uma reparação histórica. Mas, mais que isso, para o estado social que o Brasil se encontra, é quase um levantar de bandeira branca, é um olhar crítico e gentil para nossa história, é um olhar emocional para a importância do estabelecer da nossa constituição e do estabelecimento do processo democrático de direito que nos confere liberdade para escolhermos nossos caminhos. Confesso que por muito tempo me senti confortável em falar o que quisesse sobre politica. Atualmente, tenho sentido medo e evito me envolver em algo que natural e familiar pra mim. Meu pai sempre fala que a constituição não é um fim, mas uma caixa de ferramentas para construirmos o Brasil que queremos. Espero que sejamos, mais que corajosos, unidos e respeitosos. Ontem eu vi nosso povo gritar junto de novo, celebrando nossa cultura. Eu desejo que o Brasil saiba se reconhecer de novo na sua imensa história e nas suas brasilidades cotidianas. E que a gente volte a ser aquele povo que vibra junto por ainda estar aqui.

Dedico esse Oscar a você, pai! Um beijo da popa, Tainá Zaneti. 


 

Editorial 28/02/2025

Tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos

Paulo Timm – Publ. A FOLHA,Torres 28 II – (edição revisada para publicação em livro)

Desde o primeiro dia da volta de Donald Trump ao Governo dos Estados Unidos, as autoridades brasileiras estão de sobreaviso quanto à eventuais investidas do Governo americano contra o Brasil. O destempero, para dizer o mínimo, de Trump é por demais conhecido. Já sobretaxou nosso aço. Mas ultimamente está surpreendendo os mais avisados. Na semana em curso estarreceu o mundo civilizado com um vídeo confeccionado com inteligência artificial sobre o futuro Resort Trump Gaza, nesta faixa onde se trava uma tragédia que já ceifou quase 50 mil almas, principalmente mulheres e crianças. Alheio a este sofrimento e de olho em eventuais negócios imobiliários de sua família, cuja fortuna cresceu em 30 dias US 400 milhões, dizendo que irá tomar (roubar!) esta região, Trump compartilhou esta produção de mau gosto em suas redes. Um verdadeiro horror ético, político e comercial. Já avisou que vai tomar a Groenlândia, que faz parte de Dinamarca, país da União Europeia, e quer retomar o Canal do Panamá. Não é impossível que, mais dia, menos dia, diga que irá tomar para os Estados Unidos a Amazônia, alegando que ela é vital para a humanidade e que o Brasil não está cuidando devidamente dela. Assim sendo, espera-se, em Brasília, dardos e flexas envenenadas, colocando em risco uma relação histórica do Brasil com Estados Unidos. Desde a Proclamação da República, em 1889, sob o condão do Barão do Rio Branco, o Brasil, para espanto dos velhos aristocratas do Império, como Paulo Prado, autor de “A Ilusão Americana”, guiou-se pelo modelo constitucional e até mesmo cultural do Grande Irmão do Norte, acarretando isso, aliás, contestações de setores da vida pública do país, os quais asseveram sermos uma experiência social distinta. Um grande brasilianista, Richard Morse (1922/2001(, até escreveu um livro – “O espelho de Próspero” - , evidenciando as diferenças da matriz cultural do Brasil, latina, e dos Estados Unidos, anglo-saxônica, chegando a afirmando a impossibilidade do diálogo entre eles. Apesar disso, os Estados Unidos não só se ofereceram como um modelo a ser seguido pelos republicanos brasileiros, alinhando-se, inclusive, com as Forças Aliados na luta contra o nazismo na II Guerra Mundial, como mantendo sólidos laços com o governo americano. Houve, no passado, momentos de tensão, sob o clima da Guerra Fria, nos Governos Vargas e João Goulart e que levaram os americanos a intervirem no curso da nosso vida política, como o fizeram em várias partes do mundo. Mas, no geral, subsistiu um clima de cordialidade em nossas relações diplomáticas. 

Nesta semana, porém, sobreveio o petardo, lançado pelo Departamento de Estado. Absorvendo um contencioso entre as Big Techs, principalmente a “X”, de Musk e uma tal Rumble, ligada, também a Trump e o Supremo Tribunal Federal, o Governo Americano admoestou severamente o Brasil por práticas anti-democráticas. Ora, logo “este” governo de Trump, notoriamente autoritário, pontilhado em sua Administração com bilionários dispostos a impor sua própria visão aos destinos do mundo, a pondo de ser visto como o maior risco à democracia ocidental. Edição desta semana da Revista ECONOMIST chega a dizer que Trump está inaugurando uma Nova Ordem Mundial “mafiosa”... Na nota denuncia o Brasil por "bloquear acesso à informação" ou impor multas a empresas dos EUA, prática "incompatível com liberdade de expressão". 

O Itamaraty, órgão correspondente ao Departamento de Estado nos EUA, respondeu com firmeza, numa linguagem até excepcional para a Casa de Rio Branco. 

Leia a íntegra da nota do Itamaraty

“O governo brasileiro recebe, com surpresa, a manifestação veiculada hoje pelo Departamento de Estado norte-americano a respeito de ação judicial movida por empresas privadas daquele país para eximirem-se do cumprimento de decisões da Suprema Corte brasileira.

O governo brasileiro rejeita, com firmeza, qualquer tentativa de politizar decisões judiciais e ressalta a importância do respeito ao princípio republicano da independência dos poderes, contemplado na Constituição Federal brasileira de 1988.

A manifestação do Departamento de Estado distorce o sentido das decisões do Supremo Tribunal Federal, cujos efeitos destinam-se a assegurar a aplicação, no território nacional, da legislação brasileira pertinente, inclusive a exigência da constituição de representantes legais a todas as empresas que atuam no Brasil.

A liberdade de expressão, direito fundamental consagrado no sistema jurídico brasileiro, deve ser exercida, no Brasil, em consonância com os demais preceitos legais vigentes, sobretudo os de natureza criminal.

O Estado brasileiro e suas instituições republicanas foram alvo de uma orquestração antidemocrática baseada na desinformação em massa, divulgada em mídias sociais. Os fatos envolvendo a tentativa de golpe contra a soberania popular, após as eleições presidenciais de 2022, são objeto de ação em curso no Poder Judiciário brasileiro.”

Anexo

AS COISAS LÁ DO NORTE – Por amigo do FBook-Larlov@gmail.com>

 

Uma das vantagens não reconhecidas da era horrenda em que entramos é que ela revelou para todos verem as conexões pútridas entre grande riqueza e grande poder. Os oligarcas estão totalmente expostos e são desafiadores. É como apertar a tecla “revelar códigos” em computadores mais antigos que permitem que você veja tudo.

Hoje, Jeff Bezos, a segunda pessoa mais rica da América, que comprou o Washington Post em 2013, anunciou que a seção de opinião do jornal se concentraria doravante em defender “liberdades pessoais e mercados livres”. Qualquer coisa inconsistente com essa visão não seria publicada. “Pontos de vista opostos a esses pilares serão deixados para serem publicados por outros.” (Declaração completa aqui .)

O editor de opinião do Post , David Shipley, renunciou prontamente, como deveria.

Você deve se lembrar que Bezos impediu o Post de apoiar Kamala Harris nas últimas semanas da eleição de 2024. Posteriormente, o jornal não publicou o desenho de seu cartunista mostrando Bezos e outros oligarcas se curvando a Trump, levando o cartunista a renunciar.

Elon Musk, a pessoa mais rica do mundo, comprou o Twitter em 2022, demitiu todos que filtravam lixo de ódio, renomeou-o para X e o transformou em uma fossa de mentiras em apoio a Trump.

Mark Zuckerberg, a terceira pessoa mais rica, seguiu o exemplo, permitindo que o Facebook emitisse mentiras, ódio e intolerância em apoio às mentiras, ódio e intolerância de Trump.

Todos esses três homens estavam na primeira fila na posse de Trump. Eles, e outros bilionários, agora se expuseram como são.

Eles são a oligarquia. Eles estão sugando a riqueza da nação. Eles estão apoiando um tirano que está prometendo a eles cortes de impostos e reversões regulatórias que os tornarão ainda mais ricos.

Quando bilionários assumem o controle de nossos canais de comunicação, não é uma vitória para a liberdade de expressão. É uma vitória para o balbucio bilionário.

Quando falam de “liberdades pessoais e mercados livres”, eles querem dizer suas próprias liberdades de se tornarem ainda mais ricos e poderosos, enquanto o resto da América desliza para uma maior insegurança econômica e medo.

Quando falam de “liberdade”, o que realmente buscam é liberdade de responsabilização.

Este momento de “revelar o código” é, de certa forma, uma bênção. Ele nos permite ver para onde o dinheiro e o poder foram.

É um pré-requisito para o longo e difícil, mas necessário processo de criação de uma economia e democracia para muitos e não para poucos.

 


Editorial 27/2/25

Tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos

Itamaraty rebate Estados Unidos por críticas a decisões do STF

Governo diz que norte-americanos distorcem e tentam politizar decisões

Agência Brasil - Publicado em 26/02/2025 - 19:41

© Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil/Arquivo

Versão em áudio

O governo brasileiro divulgou nota nesta quarta-feira (26) em que critica posicionamento dos Estados Unidos contra decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu redes sociais norte-americanos no Brasil. 

Mais cedo, o Departamento de Estado norte-americano divulgou mensagem alertando que "bloquear acesso à informação" ou impor multas a empresas dos EUA é "incompatível com liberdade de expressão". 

Na nota, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil diz que o governo recebeu "com surpresa" a manifestação e rejeita, "com firmeza, qualquer tentativa de politizar decisões judiciais e ressalta a importância do respeito ao princípio republicano da independência dos poderes, contemplado na Constituição Federal brasileira de 1988". 

"A manifestação do Departamento de Estado distorce o sentido das decisões do Supremo Tribunal Federal, cujos efeitos destinam-se a assegurar a aplicação, no território nacional, da legislação brasileira pertinente, inclusive a exigência da constituição de representantes legais a todas as empresas que atuam no Brasil. A liberdade de expressão, direito fundamental consagrado no sistema jurídico brasileiro, deve ser exercida, no Brasil, em consonância com os demais preceitos legais vigentes, sobretudo os de natureza criminal", diz a nota do Itamaraty. 

O ministério ainda cita que o "Estado brasileiro e suas instituições republicanas foram alvo de uma orquestração antidemocrática baseada na desinformação em massa, divulgada em mídias sociais".

"Os fatos envolvendo a tentativa de golpe contra a soberania popular, após as eleições presidenciais de 2022, são objeto de ação em curso no Poder Judiciário brasileiro", completa. 

Entenda

Em postagem na rede social X, o Departamento de Estado dos EUA argumenta que bloquear o acesso à informação ou impor multas a empresas norte-americanas é "incompatível" com liberdade de expressão. 

"O respeito à soberania é uma via de mão dupla com todos os parceiros dos EUA, incluindo o Brasil. Bloquear o acesso à informação e impor multas a empresas sediadas nos EUA por se recusarem a censurar indivíduos que lá vivem é incompatível com os valores democráticos, incluindo a liberdade de expressão", diz a mensagem, reproduzida pelo perfil da Embaixada dos EUA no Brasil. 

No último dia 21, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão da rede social norte-americana Rumble no Brasil. A decisão foi tomada após o ministro constatar que a empresa está sem representante no país.

A suspensão foi feita no processo no qual foi determinada a prisão e a extradição do blogueiro Allan dos Santos, acusado de disseminar ataques aos ministros da Corte. Atualmente, ele mora nos Estados Unidos.

Segundo Moraes, apesar da determinação da suspensão dos perfis nas redes sociais, Allan continua criando novas páginas para continuar o "cometimento de crimes".

A Rumble e a empresa Trump Media entraram com recurso em uma tribunal da Flórida em que acusaram Moraes de "censurar" as plataformas e suspender contas de usuários. A Justiça dos Estados Unidos negou a liminar. 

A Comissão Judiciária da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos (EUA) aprovou, nesta quarta-feira (26), um projeto de lei para proibir a entrada no país, além de permitir a deportação, de autoridades estrangeiras que supostamente violem a primeira emenda da Constituição norte-americana, que proíbe limitar a liberdade de expressão.

Entre os motivos para justificar a aprovação da medida, estão a atuação da União Europeia (UE) contra a desinformação nas redes socais, e o trabalho do ministro Alexandre de Moraes, por determinar a suspensão de contas investigadas por crimes nas redes sociais.

Na prática, a lei pode barrar a entrada de Moraes nos EUA e, inclusive, deportá-lo. 

Xxxxxxxxxxx

Leia a íntegra da nota do Itamaraty

O governo brasileiro recebe, com surpresa, a manifestação veiculada hoje pelo Departamento de Estado norte-americano a respeito de ação judicial movida por empresas privadas daquele país para eximirem-se do cumprimento de decisões da Suprema Corte brasileira.

O governo brasileiro rejeita, com firmeza, qualquer tentativa de politizar decisões judiciais e ressalta a importância do respeito ao princípio republicano da independência dos poderes, contemplado na Constituição Federal brasileira de 1988.

A manifestação do Departamento de Estado distorce o sentido das decisões do Supremo Tribunal Federal, cujos efeitos destinam-se a assegurar a aplicação, no território nacional, da legislação brasileira pertinente, inclusive a exigência da constituição de representantes legais a todas as empresas que atuam no Brasil.

 

A liberdade de expressão, direito fundamental consagrado no sistema jurídico brasileiro, deve ser exercida, no Brasil, em consonância com os demais preceitos legais vigentes, sobretudo os de natureza criminal.

 

O Estado brasileiro e suas instituições republicanas foram alvo de uma orquestração antidemocrática baseada na desinformação em massa, divulgada em mídias sociais. Os fatos envolvendo a tentativa de golpe contra a soberania popular, após as eleições presidenciais de 2022, são objeto de ação em curso no Poder Judiciário brasileiro.

Anexo

AS COISAS LÁ DO NORTE – Por amigo do FBook-Larlov@gmail.com>

 

Uma das vantagens não reconhecidas da era horrenda em que entramos é que ela revelou para todos verem as conexões pútridas entre grande riqueza e grande poder. Os oligarcas estão totalmente expostos e são desafiadores. É como apertar a tecla “revelar códigos” em computadores mais antigos que permitem que você veja tudo.

Hoje, Jeff Bezos, a segunda pessoa mais rica da América, que comprou o Washington Post em 2013, anunciou que a seção de opinião do jornal se concentraria doravante em defender “liberdades pessoais e mercados livres”. Qualquer coisa inconsistente com essa visão não seria publicada. “Pontos de vista opostos a esses pilares serão deixados para serem publicados por outros.” (Declaração completa aqui .)

O editor de opinião do Post , David Shipley, renunciou prontamente, como deveria.

Você deve se lembrar que Bezos impediu o Post de apoiar Kamala Harris nas últimas semanas da eleição de 2024. Posteriormente, o jornal não publicou o desenho de seu cartunista mostrando Bezos e outros oligarcas se curvando a Trump, levando o cartunista a renunciar.

Elon Musk, a pessoa mais rica do mundo, comprou o Twitter em 2022, demitiu todos que filtravam lixo de ódio, renomeou-o para X e o transformou em uma fossa de mentiras em apoio a Trump.

Mark Zuckerberg, a terceira pessoa mais rica, seguiu o exemplo, permitindo que o Facebook emitisse mentiras, ódio e intolerância em apoio às mentiras, ódio e intolerância de Trump.

Todos esses três homens estavam na primeira fila na posse de Trump. Eles, e outros bilionários, agora se expuseram como são.

Eles são a oligarquia. Eles estão sugando a riqueza da nação. Eles estão apoiando um tirano que está prometendo a eles cortes de impostos e reversões regulatórias que os tornarão ainda mais ricos.

Quando bilionários assumem o controle de nossos canais de comunicação, não é uma vitória para a liberdade de expressão. É uma vitória para o balbucio bilionário.

Quando falam de “liberdades pessoais e mercados livres”, eles querem dizer suas próprias liberdades de se tornarem ainda mais ricos e poderosos, enquanto o resto da América desliza para uma maior insegurança econômica e medo.

Quando falam de “liberdade”, o que realmente buscam é liberdade de responsabilização.

Este momento de “revelar o código” é, de certa forma, uma bênção. Ele nos permite ver para onde o dinheiro e o poder foram.

É um pré-requisito para o longo e difícil, mas necessário processo de criação de uma economia e democracia para muitos e não para poucos.


 Editorial 

[25/02,

O Pampa é uma região natural e pastoril de planícies com coxilhas cobertas por campos localizada no sul da América do Sul. Geograficamente abrange a metade meridional do estado brasileiro do Rio Grande do Sul (ocupando cerca de 69% do território do estado),[1][2][3] o Uruguai e as províncias argentinas de Buenos Aires, La Pampa, Santa Fé, Córdoba, Entre Ríos e Corrientes.

No âmbito brasileiro, os pampas podem ser designados com o termo regionalista campanha gaúcha. Quando em conjunto com os campos do planalto meridional (abrangendo regiões do norte do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, incluindo os Campos de Cima da Serra e os Campos Gerais do Paraná), são chamados campos do sul[4] ou campos sulinos.[5]

Etimologia e conceito

"Pampa" originou-se do vocábulo pampa, de origem aimará e quéchua, que significa "planície".[6][7] "Campos" é oriundo do termo latino campv, campus.[8] "Campanha" é oriundo do termo latino tardio campania,[9] que possui também o significado de planície.[10]

A terminologia relacionada à região dos campos sulinos do Brasil varia entre diferentes autores.[11]

Na classificação dos "biomas" (mais propriamente, domínios) brasileiros pelo IBGE (2004), tal região está subdividida entre os biomas Mata Atlântica (planalto meridional, ou planalto das araucárias, do Paraná ao Rio Grande do Sul) e Pampa (sul do Rio Grande do Sul).[12][11][13]

Fitogeograficamente, para Cabrera & Willink (1973, 1980), os campos sulinos estão dentro da Região Neotropical, subdivididos entre a Província Paranaense (no Domínio Amazônico) e a Província Pampeana (no Domínio Chaqueno).[11][14] O IBGE (2012) denomina estas duas regiões florísticas como região dos campos do planalto meridional e região da campanha gaúcha.[15]

Em termos de tipo de vegetação, no Projeto Radambrasil (Veloso & Góes-Filho, 1982), precursor dos esquemas de vegetação do IBGE, os campos gerais do planalto meridional, são descritos como um tipo de savana, enquanto os campos da campanha gaúcha são descritos como um tipo de estepe.[16]

Posteriormente, os sistemas do IBGE (2012) aplicariam o termo estepe a ambos os campos.[15][17] Entretanto, alguns autores consideram o uso do termo "estepe" para descrever o tipo de vegetação da região dos campos sulinos em desacordo com o uso na literatura internacional de tal expressão, preferindo usar o termo tradicional "campos".[11]

Caracterização

 Pampas no Rio Grande do Sul, Brasil. Entardecer no pampa gaúcho Imagem aérea dos pampas ao redor de um autódromo em Junín, Argentina. Campos pampeanos em Pigüé, Argentina. Pampas argentinos nas Província de Buenos Aires.

Flora e fauna

Os Pampas, juntamente com a Mata de Araucárias, correspondem à província fitogeográfica das Napaeae de Martius (1858).[18]

Ecologicamente, é um bioma[nota 1] caracterizado por vegetação composta principalmente por gramíneas, plantas rasteiras e algumas árvores e arbustos encontrados próximos a cursos d'água, que não são abundantes. E o principal motivo para essa característica curiosa da vegetação, são as queimadas naturais vindas do Cerrado, que fazem com que o Pampa não seja capaz de ser coberto por árvores de grande porte.

Na parte brasileira do bioma, existem cerca de 3.000 espécies de plantas vasculares, sendo que aproximadamente quatrocentas são gramíneas, como o capim-mimoso (veja mais em Flora dos campos no Brasil).

Quanto aos animais, há, no Pampa, 102 espécies diferentes de mamíferos, como guaraxains, veados e tatus, 476 tipos de aves, como pica-paus, caturritas e anum-pretos e 50 de peixes[19].

Solo e seu uso

O solo é, por sua parte, arenoso, devido à sua origem em rochas sedimentares e, por ser feito desse tipo de material, ele é bem frágil e suscetível a erosões hídricas e eólicas[20].

As plantas precisam ser bem adaptadas, o que justifica também, o porquê de a vegetação ser principalmente herbácea, já que as árvores de grande porte precisam de um solo muito rico e nutritivo que é capaz de sustentar florestas densas.

Por conta do Pampa ser composto principalmente por planícies, isso torna muito conveniente a utilização delas para a pecuária extensiva, que é uma das principais atividades econômicas hoje em dia no Pampa, em que se cria especialmente ovelhas e bois.

A pecuária extensiva, tratando dela mais detalhadamente, desde o período do Brasil Colonial, a região do Pampa já era utilizada para a esta ampla criação de gado, e a partir do século XIX a agricultura foi introduzida começou a se desenvolver. Porém a pressão sobre o solo aumentou drasticamente, já que havia a prática de queimadas propositais (e ainda há) para eliminar as pastagens secas, e desta forma o solo se tornou bem mais vulnerável. O Pampa é caracterizado por suas chuvas periódicas, mas com o solo desprotegido sem a vegetação, ele pode perder muito dos seus nutrientes.[carece de fontes]

No Pampa há também a presença da agricultura. Existe principalmente cultivo de: arroz, trigo, uva, milho e soja. Contudo, esta atividade econômica tem contribuído diretamente para o desmatamento na região sul. O plantio de arroz e de soja, especificamente, são os protagonistas nessa questão, lembrando que mais da metade do bioma original foi desmatado em função da agricultura. E a soja, por ser cultivada em várias partes do país, influenciou a agricultura sulina, ela acabou substituindo em grande parte cultivo do milho. As monoculturas como um todo, são a principal causa de desmatamento, não apenas no Pampa, mas no país inteiro.

Clima

O clima da região é o temperado,[21] do tipo subtropical, que caracteriza-se por grande variação sazonal, com verões quentes e invernos bastante rigorosos, com a ocorrência de geada e precipitação eventual de neve.[22][23] Possui ainda as quatro estações do ano bem definidas.[24] As temperaturas médias variam entre 15 e 18 °C, com mínimas de até -10 °C[25] e máximas de 38 °C. A latitude reforça as influências das massas de ar oriundas da região polar e da área tropical continental e Atlântica. A movimentação e os encontros destas massas definem muitas de suas características climáticas. O solo, em geral, é fértil, sendo bastante utilizado para a agropecuária.

Tempestades muito intensas são comuns na primavera e no verão, e tem entre os relâmpagos mais frequentes e os mais altos topos de nuvens convectivas do mundo.[26][27] As tempestades severas produzem intensas tempestades de granizo, inundações, bem como a região mais consistentemente ativa de tornados fora dos Estados Unidos central e sudeste.[28][29]

Problematização e Soluções

Obstáculos e consequências

A respeito dos obstáculos, há primeiramente o desmatamento, em que as monoculturas de soja e arroz tem um importante papel nisso. O Pampa é o segundo bioma com maior índice de desmatamento no país, tendo percentual entre 43,7% e 54%. Em que aqui ao lado pode-se observar um gráfico do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, mostrando na coloração amarela a área de desmatamento do bioma no Brasil[30].

Sobre quais seriam as suas consequências para o funcionamento do ecossistema local, como um todo, as principais são: o aumento do processo de arenização do solo (que é um processo natural onde a areia retira a vegetação matando-a e impedindo o nascimento de uma nova), só que nesse caso, apesar dela ser natural ela decorre dessas ações indevidas.  

Outra questão é a da extinção de espécies nativas e a invasão de espécies que levam ao desiquilíbrio do ecossistema. O que leva a um outro obstáculo, a introdução digamos que “artificial” de espécies. Em que esta introdução de exemplares exóticos, pode se dar tanto em relação a espécies vegetais, quanto a espécies animais. A monocultura de eucaliptos, em função da produção de papel, por exemplo, é considerada uma das principais causas de risco ambiental. Neste caso, há o desmatamento da vegetação nativa, para a introdução de uma espécie exótica. E essa forma de "reflorestamento" pode trazer consigo novas espécies não pertencentes ao ecossistema. Estas são, inicialmente, consideradas como exóticas, que quando passa-se certo tempo, passam a ser chamadas de invasoras. E essas espécies invasoras vão consequentemente, quando adaptadas ao ambiente, serem chamadas de naturalizadas. Como resultado, há a desestabilização do ecossistema e das cadeias e teias alimentares presentes no bioma.

Avanços tecnológicos

Sobre avanços tecnológicos, foram criados vários aplicativos para auxiliar famílias com produções rurais com agronegócio e foi criada a ideia de um parque tecnológico. Além disso, existem alguns programas de incentivo a esse avanço, tendo um produto que foi criado como consequência desse incentivo, um tipo de plástico biodegradável[31][32].

 

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Editorial  24-02-2025

Memórias do cárcere - Milton Saldanha, Jornalista – São Paulo FB

 

A incontrolável desolação de Mauro Cid, no vídeo, quando recebe a declaração de sua detenção, me obriga a um comparativo com os presos políticos que eu vi dentro do Doi-Codi, do Ustra, em 1970. 

 

Na cela havia inscrições nas paredes, feitas com o cabo da colher que se recebia nas refeições. 

 

Eram muitas. Pensadas para levantar o moral da turma. Lembro-me de uma que dizia: "Eu volto para fazer a revolução brasileira". 

 

Notem o alcance disso: o cara naquele inferno e demonstrando disposição de continuar na luta.

 

Outra: "Aguenta o pau. Dá para aguentar. Não fala".

 

Os gritos dos torturados nunca mais sairam da minha memória. Não havia tratamento acústico, a intenção era que todos lá dentro ouvissem a barbárie. Vazava inclusive para a rua. Muita gente se mudou dali por não suportar. 

 

Não fui torturado, mas passei todo o tempo me preparando para a possibilidade desse momento. Minha concentração era em não perder minha dignidade. Não me acovardar. Resistir.

 

Felizmente saí fisicamente ileso. Mas com trauma que durou mais de um ano, lembrava todos os dias.

 

Nunca fui herói de nada. Politicamente eu não tinha a menor relevância. Sequer era de alguma organização. Nâo fui processado. 

 

Heróis foram aqueles guerreiros capazes de enfrentar o pior sem baixar a cabeça. 

 

Voltavam para suas celas triturados mas não abriam o que os torturadores queriam saber.

 

Que diferença, senhor Cid. 

 

Poderia, pelo menos, ter disfarçado.


EDITORIAL  21-02-2025

Mazzucato: “Salvemos a IA das Big Techs”

 

Assim como capturaram a internet, megacorporações querem submeter a inteligência artificial a seus negócios. Em contra-ataque, Estados e sociedades devem definir o que querem da nova tecnologia – antes que o mercado o faça…

 

Publicado 18/02/2025 -Mazzucato: "Salvemos a IA das Big Techs" - Outras Palavras

 

 Por Mariana Mazzucato | Tradução: Antonio Martins

 

A Cúpula de Ação em Inteligência Artificial (IA) em Paris, no início deste mês, ocorreu em um momento crítico no desenvolvimento IA. A questão não é se a Europa pode competir com a China e os Estados Unidos em uma corrida armamentista em torno desta tecnologia; é se os europeus podem abrir uma abordagem diferente, que coloque o valor público no centro do desenvolvimento tecnológico e da governança. A tarefa é se afastar do feudalismo digital, termo que criei em 2019 para descrever o modelo de extração de renta das plataformas digitais dominantes.

 

A IA não é simplesmente mais um setor. É uma tecnologia de propósito geral que moldará todos os setores da economia. Ela pode gerar benefícios tremendos ou causar enormes danos. Embora muitos comentaristas falem sobre a IA como se fosse uma tecnologia neutra, isso subestima seu poder econômico fundamental. Mesmo que a construção da IA não tivesse custos, ela precisaria ser alimentada e implantada, o que requer acesso às plataformas de computação em nuvem dos gatekeepers, como Amazon Web Services, Microsoft Azure e Google Cloud.

Essa dependência torna mais urgente do que nunca direcionar o desenvolvimento da tecnologia para o bem comum. A verdadeira questão não é se devemos regular a IA, mas como moldar os mercados para a inovação em IA. Em vez de regular ou tributar o setor apenas após os fatos, precisamos criar um ecossistema de inovação descentralizado que sirva ao bem público.

A história da inovação tecnológica mostra o que está em jogo. Como argumentei em meu livro O Estado Empreendedor, muitas das tecnologias que usamos todos os dias surgiram como resultado de investimentos públicos coletivos.

 

O que seria o Google sem a internet financiada pelo Darpa1? O que seria o Uber sem o GPS financiado pela Marinha dos EUA? O que seria a Apple sem a tecnologia de tela sensível ao toque financiada pela CIA e a Siri financiada pela Darpa?

 

Embora frequentemente evitem contribuir com impostos, as empresas que lucraram com esses investimentos públicos agora usam suas rentas excessivas para drenar talentos das próprias instituições públicas que tornaram seu sucesso possível. Esse parasitismo é melhor exemplificado pelo “Departamento de Eficiência do Governo” (DOGE) de Elon Musk, que defende cortes nos mesmos programas de financiamento governamental que permitiram à Tesla se beneficiar de 4,9 bilhões de dólares em subsídios governamentais.

 

A falta de capacidade do Estado tornará cada vez mais difícil regular novas tecnologias no interesse público. O Estado já foi esvaziado de expertise, devido aos salários mais altos do setor privado e décadas de terceirização para consultores privados (o que Rosie Collington e eu chamamos de O Grande Golpe).

 

O que acontece quando a maior parte do conhecimento técnico se concentra em cinco empresas privadas? 

 

 

 

Em vez de esperar para descobrir, devemos intervir agora para regular a IA de forma dinâmica e adaptável, enquanto a tecnologia de IA e os diversos mecanismos de sua monetização ainda estão evoluindo.

 

Em um projeto de pesquisa recente no Instituto de Inovação e Propósito Público da Univertity College de Londres, meus colegas e eu revisitamos o feudalismo digital e a necessidade de diferenciar entre criação e extração de valor na IA – o que chamamos de “renta de algoritmos”. Mostramos que plataformas como Facebook e Google evoluíram de maneiras que focam em “rentas de atenção”. À medida que a experiência do usuário é manipulada para maximizar os lucros, seus feeds são entupidos de anúncios e conteúdos “recomendados” viciantes, em um processo que o jornalista canadense Cory Doctorow descreveu de forma colorida como “emerdificação”.

 

Rolagem infinita, notificações incessantes e algoritmos projetados para maximizar o “engajamento” exibindo conteúdo prejudicial e atividades limítrofes à ilegalidade tornaram-se a norma.

 

Os sistemas de IA podem seguir o mesmo caminho extrativo e potencializar esse comportamento de busca por renta, como exigir pagamento para acesso a informações essenciais, privacidade de dados, segurança online, exclusão de publicidade ou serviços básicas para pequenas empresas em buscas globais de informações. Como as plataformas atualmente escondem seus algoritmos e mecanismos de alocação de atenção (as fontes de suas “rentas de atenção algorítmica”), a chave para regular o setor, assim como no enfrentamento das mudanças climáticas, é forçar os gigantes digitais a divulgar como seus algoritmos estão sendo usados. Essas informações devem então ser integradas aos padrões de relatórios para todas as plataformas digitais.

 

Desenvolvedores de IA como OpenAI e Anthropic escondem, entre outras coisas, as fontes de seus dados de treinamento; quais salvaguardas colocaram em seus modelos; como aplicam seus termos de serviço; os danos posteriores de seus produtos (como uso viciante e acesso de menores de idade); e até que ponto suas plataformas estão sendo usadas para monetizar a atenção global por meio de publicidade direcionada. O grande e crescente impacto ambiental da IA adiciona mais uma camada de urgência ao desafio. As emissões das principais empresas de IA dispararam, levando a Agência Internacional de Energia (AIE) a alertar que o “consumo global de eletricidade de data centers, IA e o setor de criptomoedas pode dobrar até 2026”.

 

Felizmente, desenvolvimentos recentes sugerem que caminhos alternativos são possíveis.

 

A DeepSeek, empresa chinesa de IA que fez muitas ações de tecnologia dos EUA sofreram perdas abruptas no final de janeiro, parece ter demonstrado que um desempenho comparável pode ser alcançado com significativamente menos poder de computação e consumo de energia.

 

Abordagens mais eficientes para o desenvolvimento de IA poderiam ajudar a quebrar o domínio que as principais empresas de computação em nuvem estabeleceram por meio de seu controle sobre vastos recursos de computação?

 

Embora seja cedo para dizer se o avanço da DeepSeek levará a uma reestruturação do setor, isso nos lembra que a inovação no nível de software continua viável e necessária para abordar o impacto ambiental da IA.

 

Como Gabriela Ramos da UNESCO e eu argumentamos, a IA pode melhorar nossas vidas de muitas maneiras, desde melhorar a produção de alimentos até aumentar a resiliência contra desastres naturais. Governantes europeus, de Mario Draghi a Ursula von der Leyen e Christine Lagarde, consideram a IA crucial para reviver a produtividade europeia. Mas, a menos que abordem a natureza do feudalismo digital, o comportamento extrativo que sustenta o desenvolvimento de modelos de IA e a atual falta de capacidade regulatória no setor público, qualquer tentativa de estimular um crescimento mais robusto e sustentável se chocará contra as rochas de novas e mais profundas desigualdades.

 

Não se trata de escolher entre inovação e regulamentação, nem se trata de gerenciar o desenvolvimento tecnológico de cima para baixo. Trata-se de criar incentivos e condições para direcionar os mercados a entregar os resultados que desejamos como sociedade. Devemos reivindicar a IA para que ela forneça valor público, em vez de se tornar outra máquina de extração de renda. A Cúpula de Paris oferece uma oportunidade para mostrar essa visão alternativa.

 

Agência para Projetos de Pesquisa Avançada em Defesa (DARPA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. Criada no contexto da guerra fria (em 1958), para disputa da corrida nuclear, acabou desenvolvendo os protocolos que levariam à criação da internet 

 

Mariana Mazzucato- é uma economista italiana, professora da cátedra RM Phillips de Ciência e Tecnologia da Universidade de Sussex.

 

Leia Também em Outras Palavras:

IA e a hipocrisia das democracias liberais - Ocidente usa pretextos bizarros para frear o desenvolvimento tecnológico chinês. Visões de ex-executivo da OpenIA, que defende sabotagens a Pequim, são reveladoras. Mas pode ser tiro no pé, estimulando inovações criativas e a tecnodiversidade no Sul global. 

Tecnologia em Disputa | por Raul Campos Nascimento

Big Techs: O necessário contra-ataque da sociedade - Mudanças na Meta, que eliminou a checagem, dão mais poder à ultradireita, é claro. Campo progressista, porém, assiste passivamente às fábricas de fake news das corporações. Mobilizar a sociedade e criar mecanismos de respostas rápidas ao ataques são cruciais

Por uma “política digital não alinhada”- Com Trump, Big Techs querem blindar-se do escrutínio público e avançar seus projetos de colonialismo digital. Surge nova questão para as esquerdas: como criar alternativas criativas ao poder tecno-feudal que ultrapassa fronteiras, desestabilizando democracias? - Por Cédric Durand, no A Terra é Redond


Editorial  20-02-2025

Não em meu nome - Wilson Gomes - Folha de S. Paulo

 

Identitários estão confortáveis para dar justificativa biológica a seus atos de revanche - Democracia Política e novo Reformismo: Não em meu nome - Wilson Gomes

 

Nas últimas semanas, tivemos uma amostra impressionante do que significa "dobrar a aposta" quando se trata das estratégias de assédio identitário. De costas quentes, agora que uma corte de Justiça afirmou que o racismo é o único crime exclusivo de uma raça –uma vez que só os brancos podem cometê-lo–, militantes identitários começam a se sentir confortáveis para dar uma justificativa biológica e genética à sua glorificação do ressentimento e aos seus atos de revanche.

Primeiro, veio o caso de Maria Rita Kehl, atacada por fazer uma crítica progressista ao peculiar gosto identitário pelo monopólio da fala autorizada, sobretudo quando se trata de veredictos e libelos de condenação. Foi desqualificada por associação genética. A conclusão da turba que a linchou foi que ela carrega um pecado imperdoável: um antepassado. Diferentemente do pecado original religioso, esse nunca será redimido; sua biologia a condena à condição perpétua de penitente.

Na semana seguinte, foi a vez de Walter Salles Jr., denunciado e condenado pelo pecado de nascer branco, portanto, pertencente à linhagem dos escravocratas. Quem o disse com todas as letras foi uma coluna publicada no jornal Estado de Minas. O artigo é um exercício explícito de racialização e essencialização moral. A autora sustenta que, ao olhar para o rosto do cineasta, enxerga apenas "a descendência dos que torturaram, estupraram, açoitaram, mantiveram em cárcere" seus próprios ascendentes.

A lógica subjacente é a de que a moralidade e o caráter de um indivíduo podem ser inferidos de sua linhagem racial ou ancestral, estabelecendo uma equivalência automática entre a cor da pele de Salles, seus antepassados e uma culpa histórica impagável que, por isso mesmo, lhe pertence integralmente. Isso confere à autora o direito imediato e irrevogável de desprezá-lo.

A autora não vê um ser humano, mas um "herdeiro direto da desgraça", um representante não apenas dos escravocratas históricos, mas de toda uma raça e classe social beneficiária do racismo. A responsabilidade pela dor da autora não recai sobre sistemas e estruturas, mas sobre a identidade racial daquele indivíduo singular. Em outras palavras, a descendência biológica de uma pessoa se torna critério suficiente para julgá-la moralmente –exatamente o princípio que fundamenta todo pensamento racista.

Se tomarmos esse artigo como um exemplo do que o identitarismo tem produzido, identificamos claramente algumas de suas consequências mais problemáticas. Primeiro, a atribuição hereditária de culpa e moralidade. O artigo não julga indivíduos por suas ações, mas por suas origens raciais; lógica que historicamente foi utilizada para justificar discriminação e perseguição. Segundo, a demonização de um grupo com base na cor da pele. O indivíduo se resume aos seus traços fenotípicos e à sua ascendência, o que valida o princípio que sustentou a desumanização de grupos raciais no passado. Terceiro, o reforço de um binarismo racial que essencializa todos os conflitos sociais. O artigo apresenta um mundo rigidamente dividido entre opressores e oprimidos, fixos e organizados por raça, onde os indivíduos não valem pelo que fazem, mas pela linhagem racial a que pertencem.

Temos aqui uma versão da teoria da "raça infecta" ou "raça maldita". Salles seria um exemplar dessa raça moralmente degradada em todos os seus ascendentes e descendentes, merecedor, portanto, de todo o nojo, rancor e ressentimento. Cada indivíduo pertencente a essa raça exala o horrível odor da depravação moral de sua estirpe. Kehl e Salles são exemplares de uma raça, não pessoas.

O radicalismo, por mais nocivo que seja, tem uma característica notável em qualquer sociedade onde aparece e prospera: ele precisa ser alimentado. Primeiro, pela condescendência de quem tem legitimidade social, não é radical, mas simpatiza com "alguma coisa" que considera positiva no movimento. Depois, por quem pavimenta o caminho, justificando seus atos e, por fim, legalizando-o. E, nesse papel, professores, jornalistas e intelectuais têm se esmerado.

Tivesse recebido reprovação social em vez de justificativas, complacência e incentivos, dificilmente esse radicalismo teria chegado ao estágio de brutalidade social que, cedo ou tarde, todo extremismo costuma alcançar. Já passou da hora de cada democrata, progressista, pessoa que acredita em direitos humanos e respeito dizer que esse não é o caminho para construir uma sociedade aceitável.

E de afirmar, com todas as letras: "não em meu nome".

Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 06:32:00


Editorial 

Golpe de 8 de janeiro era a última esperança da organização criminosa liderada por Bolsonaro, diz PGR

A denúncia da PGR contra Bolsonaro e sua organização criminosa reforça derrota da trama golpista

19 de fevereiro de 2025, 03:34 h

 

247 - A Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou, nesta segunda-feira (18), uma denúncia formal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 33 aliados, acusando-os de compor uma organização criminosa com o objetivo de desestabilizar o Estado Democrático de Direito e instaurar um regime ditatorial no Brasil.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que os atos de 8 de janeiro de 2023 representaram a "última esperança" do grupo para concretizar seus planos golpistas, numa tentativa de reverter os resultados da eleição presidencial de 2022, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com a PGR, os acusados incitaram e organizaram manifestações antidemocráticas, incluindo bloqueios de rodovias e acampamentos em frente a unidades militares, onde exigiam intervenção das Forças Armadas, ressalta reportagem do jornal Valor Econômico.

A denúncia ainda aponta que Bolsonaro tinha conhecimento de planos para eliminar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Esses planos, segundo as investigações, estavam inseridos na chamada "Operação Punhal Verde Amarelo", que buscava desestabilizar as instituições e facilitar a tomada de poder por meios ilegais.

A denúncia da PGR representa um passo significativo na consolidação da democracia brasileira, demonstrando que tentativas de ruptura institucional não ficarão impunes. Com o caso agora sob análise do STF, o Brasil reforça seu compromisso com a justiça e com os princípios democráticos, evidenciando a derrota contundente de um projeto autoritário que ameaçava a estabilidade do país.

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Confira a lista completa dos denunciados pela PGR

Bolsonaro se reúne com senadores da oposição para traçar estratégias sobre anistia

STF espera receber denúncia contra golpistas até esta quarta-feira 


Editorial CULTURAL FM .
Lorena Holzmann^: CACÁ DIEGUES
Quem foi Cacá
Diegues - Bing Vídeos
 Assistindo agora, um documentário sobre Cacá Diegues e sua obra. Um cineasta que
fez a "leitura" da sociedade brasileira. Do Rio de Janeiro para cima. O Sul não entra
nas considerações da intelectualidade com raízes em outras regiões. Até Chico ignora
parte do Brasil na formação da brasilidade e de sua história familiar (O Meu pai era

paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô mineiro, meu tataravô baiano. Vou na
estrada há muitos anos. Sou um artista brasileiro). Já li livros de historiadores(as) de
grande prestígio que interpretam o Brasil e generalizam os processos econômicos,
socias e políticos a partir dos processos constatados no sudeste/nordeste. Deixei de
considera-los(as) referências relevantes. Ignorar a contribuição do Sul para a
formação dessa brasilidade (Tão diversa e complexa) é simplificar e ignorar processos
históricos decisivos, assim como a participação também decisiva de figuras históricas
sulinas. Quem pode ignorar Getúlio Vargas (sem precisar ser um(a) grtulista de
carteirunha, apenas detendo´se em elemento fáticos) na formação do Brasil moderno,
industrial? Ou de Brizola e sua capacidade de resistência e seu compromisso com um
país melhor? Há também o negativo. Porque o Sul (RS) forneceu ao país très dos
presidentes-generais-ditadores do pós 1964? E antes disso, a fixação de fronteiras, a
resistência à invasão das tropas paraguaias no sudoeste do RGS (sem qualquer
simpatia ou oposição à guerra da Tríplice Aliança). Não é a primeira vez que me
manifesto a respeito. Mas deixar de considerar os fato históricos deslocados do eixo
sudeste-nordeste é minimizar a leitura do país e deformar a compreensão de sua
formação. A formação da brasilidade incorpora uma massa de população de origem
europeia branca no sul do país (quais suas consequências na formação de uma
população atual com determinadas características políticas?) , convivendo e
misturando-se com populações indígenas nativas, africanos escravizados (e a teoria
da democracia racial existente no sul, tão mascaradora de uma sociedade desigual e
violenta). Sertanejos merecem espaços em programas de alcance nacional, mas o que
é do Sul é de interesse e consumo estritamente regional (quanto os próprios sulistas
são envergonhados de suas origens?). Como é preciso ampliar a compreensão da
formação histórica do BRASIL , sua riqueza e complexidade. Olhem para o sul do
mapa e levem em conta o que aconteceu e continua acontecendo nesse lugar, parte
inportante da formação da BRASILIDADE.
Anexo
Filmes de Cacá Diegues

Filmes
Quilombo Bye Bye Brasil O Grande Circo Místico Tieta do Agreste Orfeu
Deus É Brasileiro
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 EDITORIAL 

 Revés nas pesquisas pressiona governo, mas Lula tem margem para recuperação. O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, minimizou a repercussão negativa da pesquisa e afirmou que Lula tem condição de reagir.

Revés nas pesquisas pressiona governo, mas Lula tem margem para recuperação | Brasil 247

247 - A recente pesquisa do instituto Datafolha, divulgada na sexta-feira (14) acendeu um sinal de alerta no Palácio do Planalto. O resultado reforçou a pressão para uma reforma ministerial mais ampla e rápida, principalmente por parte do Centrão.

Lideranças do bloco argumentam que a queda na popularidade deve servir como estímulo para ajustes imediatos na equipe ministerial. A expectativa é que Lula acelere as mudanças, buscando reequilibrar a base aliada e fortalecer o governo para enfrentar os desafios do ano, aponta reportagem do jornal Valor Ecnômico.

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O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, minimizou a repercussão negativa da pesquisa e afirmou que o presidente tem plena condição de reagir e promover ajustes necessários. "Lula tem força para reagir e mexer no que for preciso", declarou Padilha, reforçando que o governo está atento às demandas do Congresso e da sociedade.

Além da pressão do Centrão, partidos como PSB e PDT também cobram maior participação no governo. Ambos argumentam que têm sido mais fiéis ao Planalto em votações cruciais e, por isso, merecem um espaço ampliado no ministério. Esse fator pode tornar a reforma ministerial ainda mais complexa, exigindo habilidade de articulação por parte de Lula para evitar descontentamentos dentro da base.

Apesar do atual revés, analistas apontam que o governo ainda tem margem para recuperar popularidade. O programa de investimentos do Novo PAC, a retomada de políticas sociais e um possível reaquecimento da economia podem reverter a tendência negativa. A estratégia do governo deve passar por uma comunicação mais eficaz sobre suas realizações e uma reaproximação com setores que demonstraram insatisfação.

A a queda na aprovação reflete, em parte, o desgaste natural de um governo diante de expectativas elevadas. No entanto, Lula possui um histórico de recuperação política e sua capacidade de negociação segue como um trunfo. Com uma base de apoio ainda relativamente ampla e o reconhecimento internacional de sua liderança, o presidente pode usar esse momento como um ponto de inflexão para consolidar sua gestão. 

A próxima fase do governo será decisiva. Se conseguir implementar ajustes eficazes e garantir uma agenda positiva, Lula pode reverter a curva descendente e reforçar seu protagonismo político. O jogo ainda está longe de ser definido, e a margem para reação permanece aberta.

 

ANEXOS

 

E se o problema de Lula não for apenas a inflação? - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense - domingo, 16 de fevereiro de 2025

Com menos de 50 dias de governo, ainda sob o impacto da tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023, já era possível diagnosticar que o presidente Lula era prisioneiro de uma "jaula de cristal”

Com menos de 50 dias de governo, ainda sob o impacto da tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023, já era possível diagnosticar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva era prisioneiro de uma "jaula de cristal", embora houvesse uma mudança da água para o vinho na situação política do país com sua chegada ao poder. A parábola do ex-ministro do Planejamento chileno Carlos Matus, na obra O líder sem Estado-Maior, descreve "os imponentes e frágeis" gabi



 
 


 
DEBATES E ENTREVISTAS